sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Do cúmulo

E então que meus pais vieram me contar que iríamos viajar. Fiquei feliz. É difícil eles quererem sair de casa. Que bom. Me perguntaram uma sugestão de lugar pra ir, eu prontamente lembrei de uma das melhores viagens da minha vida. Angra dos Reis, sugeri. Eu ainda me lembro de como aquele lugar era lindo. Com tantas flores coloridas margeando a água límpida. Eles prontamente aceitaram. Eu fui procurar o contato da melhor guia turístico da região, que eu já conhecia por causa da outra vez que fui pra lá. Dirce. Ou Dulce, não importa. O que importa é que eu me lembrava da boa companhia que ela era, sempre feliz e empolgada, nos mostrando os melhores lugares para se conhecer e explicando o porque de tudo lá ser tão lindo. E fomos. Eu e meus pais. Chegando lá, reparei no quanto Dirce havia envelhecido. Engordado. E com os cabelos mais grisalhos e menos arrumados, ela tentava já sem a empolgação anterior nos dizer que os encantos do lugar ainda permaneciam iguais aos que eu havia conhecido anos antes. Que bom, falei. Deixei meus pais conversando um pouco mais com Dulce e fui me aventurar pelas águas límpidas. Meio desconfiada, eu analisava o lugar e imaginava se mais tarde meus pais também ficariam tão felizes e satisfeitos em estar em um lugar tão mágico como eu estive anos antes. Reparava em cada flor colorida nas margens de todos os lagos, pra ver se ainda estavam todas lá. E mergulhava, de biquíni, na água tão azul e tão límpida, me deliciando com a temperatura e pensando que apesar de algumas mudanças e alguma deterioração causada pelo tempo, sim. Aquele lugar ainda continuava sendo o paraíso.

Foi então que no meio do meu mergulho e em meio a meus pensamentos, avistei ali há pouco mais de 1 metro de mim, dentro da água mesmo, uma ratazana. Enorme, devia ter uns 40, 50 centímetros. Morta, boiando na água. E fiquei horrorizada como fico quando me deparo com qualquer tipo de rato no meu caminho. Chocada por estar nadando na mesma água que aquele cadáver, mas satisfeita por ela estar morta. E então eu me lembrei. Lembrei que anos antes, apesar de não ter me deparado com esse fato, Dirce havia nos orientado a respeito das ratazanas. Que se fingiam de mortas na água, para enganar outros animais, até que chegassem perto e elas os abocanhassem. E que apesar de denotarem certo ar de sujeira e má conservação, eram nativas do lugar e faziam parte da cadeia alimentar da fauna local. Ainda assim, as pessoas responsáveis pela conservação do parque eram orientadas a se livrar delas, para que não causassem má impressão aos visitantes.

Lembrei de tudo isso e pensei que avistar ali uma ratazana se fingindo de morta infelizmente era mais um indício de que o lugar já não era tão lindo como antes. E, pensando nisso, observei que ela já não estava mais imóvel. Agora ela nadava. Na minha direção. E não, ela realmente não ia me comer, tamanha desproporção de quantidade de alimento eu daria. Mas nada a impediria de me dar algumas mordidas. Eu em meio à solidariedade de não querer matar um animal nativo e ao nojo pelo fato de sequer imaginar fazê-lo estando nós dois mergulhados no mesmo lago e com tamanha proximidade. Eu já estava com nojo do animal vivo, imagina morto e com entranhas boiando. Não. A ratazana nadava em minha direção e eu, calmamente, com o pé, a empurrava levemente para trás. E então ela investia novamente e nadava ferozmente na minha direção. E eu, de novo, a empurrava com o pé pra trás.

Deu-se uma meia dúzia de tentativas minhas de afastá-la, inutilmente, porque ela continuava nadando em minha direção. Até que decidi tomar uma atitude mais radical. Levantei o pé e a chutei bruscamente e com toda a minha força para longe.













E foi assim que, essa noite, eu chutei a parede. Putaqueopariu, doeu horrores. Meu dedão está ainda aqui latejando e vermelho como se não houvesse amanhã. Meu Deus, cúmulo da burrice chutar a parede durante um sonho. Nunca pensei que um dia eu fosse chegar nessa situação. Ave Maria.


Com certeza, aquele animal está rindo da minha cara até agora. fdp.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Manifestação sobre manifestações

O assunto da semana é o dia do orgulho hetero. Han.

Oi, eu sou uma pessoa heterossexual (e não tenho dúvidas disso) e não tenho nada a ver com qual sexo todas as outras pessoas do mundo se relacionam. Eu já disse aqui que só acho que aquele amasso forte língua-a-língua dado no meio da rua pra quem quer que seja passar e ver é desagradável. Tanto para homossexuais, quanto para heteros. Mas enfim.

Daí que alguém lá (que eu não quero saber quem porque não me interessa) inventou que tem que ter o dia do orgulho hetero. E eu não concordo nem discordo. Eu acho que assim como há dia das mulheres há muitos anos (e todas ganham uma flor no trabalho), esse ano inventaram o dia dos homens (se preparem, ano que vem receberão um cacto!). Assim como há Caminhada do Medida Certa do Fantástico para incentivar a boa forma, há campeonatos de quem come mais hambúrguer em menos tempo. E assim como há a Parada Gay.... porque não, ter a Parada Hetero? Mas daí é o seguinte: é preconceito ter dia do orgulho hetero. Sei. Por que? Não se pode ter orgulho do que você é? Não se pode ter orgulho de ser bonita, como a Rafa twittou? Não se pode ter orgulho de ter saído debaixo do edredon de manhã cedo com sensação térmica de -3º C em Curitiba, como disse a Analu? Não se pode ter orgulho de colocar na agenda em todos os dias para o resto da vida uma hora e meia de academia e conseguir cumprir a meta, como eu penso a respeito de mim mesma? Por que não se ter orgulho de ser hetero, tanto quanto os gays têm orgulho em serem gays? Por que usar uma camiseta escrito "100% branco" é discriminação racial, quando usar uma "100% negro" é orgulho?

Eu explico: hoje em dia há manifestação pra tudo. Manifestação dos sem terra. Dos que têm terra invadidas pelos sem terra. Dos deficientes que necessitam de mais acessibilidade. Dos pedreiros que são migrantes de outros estados e vivem em condições sub-humanas por um trabalho quase escravo. Dos que querem legalizar maconha. Dos que querem melhor educação. Dos presidiários que vivem em regime de superlotação. Dos motoristas de ônibus. Dos motoqueiros. Dos bombeiros. Dos médicos. Das empregadas domésticas. Dos comerciantes. TUDO hoje em dia é razão pra manifestação. Não há mais um foco, como foi por exemplo na época da ditadura ou quando houve o impeachment do Collor. Não há mais essa coisa de todo mundo se juntar para uma causa maior. Todo mundo tem uma indignação em coisa diferente pra querer fazer manifestação, e jajá eu vou estar lá fora levantando cartazes a favor da volta da moda das polainas porque hoje fez 6 graus aqui em São Paulo e eu tive frio na canela. Sabe foco? Ninguém tem mais. A liberdade de expressão fez com que fosse possível se dizer tudo o que pensa e isso foi ótimo, mas eu já acho que as pessoas estão indo ALÉM e inventando coisas pra protestar, quaisquer que sejam, só para não ficar pra trás daquele ali que resolveu sair a favor dos direitos do que quer que seja. Hoje a coisa é uma tremenda competição de quem manifesta mais e jajá eu tou vendo sair na rua ladrão e assassino manifestando por seus direitos de roubar em paz e matar pai de família quando impede que ele faça o trabalho. E eu vi ontem em um pedaço de uma novela qualquer por aí que um dia o filho vai chegar para o pai apreensivo de levar bronca e dizer gaguejando "pai, sou hetero", e o pai vai reclamar. Era uma cena de comédia na tv. Mas eu concordei que do jeito que o mundo anda, é bem capaz.

Tá fora de moda ficar quieto. Viver sua vida. Não se manifestar. Você é uma pessoa que se isola se fizer isso. Você tem é que sair comentando absurdamente quando fica sabendo que a Sandy deu os fundos, e não importa muito se você está contra ou a favor - o que importa é comentar. Brigar, xingar, erguer plaquinhas "o fundo é da Sandy e ela dá se quiser" ou "Sandy entrou mesmo no papel de devassa". Não dá mais pra ser imparcial.

Pra mim, o ideal seria tudo preto no branco (e sem metáforas). É orgulho ser 100% preto, assim como é orgulho ser 100% branco, 100% amarelo, 100% vermelho, 100% azul, 100% verde ou 100% misturado. É orgulho ter cabelo loiro, preto, ruivo, grisalho, liso, enrolado, ondulado. É orgulho ser gay, é orgulho ser hetero. Porque a gente tem que ter orgulho de quem a gente é, independente de como seja. Independente do que a gente gosta. Pra mim tinha que acabar essa coisa de SUPER-ORGULHAR alguma coisa. Porque é isso que me parece quando negros dizem que é preconceito sair com a camisa 100% branco, ou quando gays dizem que é preconceito ter orgulho hetero. E a partir do momento que você se acha superior a algo ou a alguém, está diretamente menosprezando quem é diferente. Brancos têm preconceito com negros e heteros têm preconceito com gays. Mas negros também menosprezam brancos e gays também menosprezam heteros.

E não, eu não estou dizendo que eu acho certo a camisa 100% branco ou o dia do orgulho hetero não. Eu só acho que NÃO DEVERIA ter a camisa 100% negro e o dia do orgulho gay. Porque se as pessoas são iguais, se os direitos são iguais, ou temos tudo ou não temos nada. E se eu já disse ali em cima que estou achando o mundo uma bagunça de manifestações desenfreadas... sou a favor que cada um fique na sua. Não precisa sair esfregando na cara do outro que você é melhor ou pior no que quer que seja. Não precisa parar uma avenida principal inteira, em um dia inteiro, carregando balões coloridos pra esfregar na cara do outro ali que você é gay e tem muito orgulho disso. E não precisa parar MAIS UM DIA inteiro a mesma avenida inteira carregando balões sem cor pra esfregar na cara de alguém ali que você é hetero (tou prevendo a Parada do Dia do Orgulho Hetero no ano que vem) e tem muito orgulho disso. Não precisa sair dando cotas para negros em universidades, já que o requisito para entrar em toda e qualquer faculdade é passar no vestibular e isso não tem nada a ver com cor de pele. Não precisa pegar a senha de portador de necessidades especiais se você tem Síndrome de Down e até onde eu sei isso não é uma doença que te impeça de esperar na fila como os demais - e tá cheio de gente por aí dizendo que portadores de necessidades especiais são pessoas comuns que devem trabalhar e viver normalmente como qualquer outra pessoa. Por que senha especial então, porra?

Não entendo, sabe? O mundo se contradiz. As pessoas se contradizem. E na ânsia de querer mostrar ser melhor, o orgulho escorre pelos dedos. E então chegamos somente em Rafinha Bastos, uma pessoa inteligente, mas que na vontade de inovar e manifestar a respeito do exagero da vida politicamente correta, tornou-se apenas uma pessoa que invade a privacidade alheia com muito desrespeito e falta de educação.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Sobre envelhecer

Foi dia desses que eu vi/li/ouvi em algum lugar. Alguém falando sobre a morte de Amy Winehouse, dizia que os 27 anos são a nova idade da transição. A nova idade pra gente avaliar se quer amadurecer ou se quer continuar sendo adolescente. Os 27 anos são os novos 18. E a partir dos 27 é que as pessoas repensam sobre crescer ou não. A pessoa que disse isso concluiu que não. Amy Winehouse não quis crescer. E eu fiquei ali pensando.

Tenho 31. E se a nova idade da escolha sobre crescer ou não mudou dos 18 para os 27, eu não passei tanto assim dessa fase. Quatro anos só. Que, comparando com os anteriores 13 anos (da diferença 18-31), até que eu posso dizer que fiz uma escolha recente nesse negócio de amadurecer ou não. Os 27 estavam aí, bem ali atrás, quase um dia desses. Aos 27 eu já tinha o trabalho que tenho, não morava sozinha mas estava em vias de. Já pensava quase as mesmas coisas que penso hoje e já tinha a visão da vida que tenho hoje. Os 18, há muitos anos atrás (quase todos) nem parece mais que foi essa vida. Era tudo tão diferente. Eu pensava diferente. Via o mundo diferente, tinha tudo pela frente. Aos 18 anos eu aprendi a andar de metrô (e considerando o fato de morar em São Paulo desde sempre, essa é uma informação quase inacreditável), eu entrei na faculdade, comecei a estudar longe de casa, tive o primeiro namoro sério. Meus 18 anos estavam ali pertinho dos 17, quando eu sentava na escadinha do pátio do colégio e assistia as meninas da minha classe brincando de pula-cela (eu nunca tive dom para brincadeiras do tipo) e pensava que, mesmo ali sentadinha olhando, esse seria o último resquício de infantilidade na minha vida. Eu pensava que de repente eu ia entrar na porta da faculdade adentro e depois dali tudo seria um túnel para a idade adulta e sem volta. E foi. Em partes.

Os 27 foram muito importantes para a minha vida, e parece mesmo que alguém colocou no meu caminho pedras suficientes para que eu me decidisse meio que de supetão a respeito dessa coisa de amadurecer ou não. Eu amadureci sim. Porque pedrada na cabeça empurra pra frente. Mas amadureci onde não tinha como não ser. Como se eu estivesse ali, feito Amy Winehouse à beira do abismo, mas que diferente dela eu tivesse já há algum tempo construindo uma ponte para atravessá-lo. Aos 27 anos eu escolhi continuar.

Hoje aqui aos 31 eu não sei bem dizer se eu me vejo como adulta. Como essa transição que a pessoa comentou que a gente tem, agora aos 27, mas foi lá aos 17 que eu achei que ia ter. Não sei ainda dizer, se alguém me perguntar, se eu sou mais menina ou mais mulher. Mas analisando assim pelo mundo que me cerca, hoje eu tenho um blog. E antes de ter um blog, eu tive milhares de outros afazeres "infantis" do tipo. Eu tive um cartão anual do Hopi Hari porque eu ia duas vezes por semana, sabe. E quando não foi Hopi Hari, foi kart. Foi paintball. Foi esqui. Foram shows, muitos shows. E parques aquáticos. E tudo o mais de afazeres divertidos e "não-adultos" que você pode imaginar.

No meu blog, tenho leitoras de 16/17/18/19 anos. Mas também tenho as de 30/31/32/33/34. E eu passo meus dias tirando fotos, montando quebra cabeças, ouvindo música, conversando sobre futilidades. Mas também cozinho, faço tricô/crochê/bordado, cuido das plantas, pago todas as minhas contas sozinha, cuido da minha casa, roupas, faço compras e atualmente a minha mais nova superação foi incluir na minha lista de tarefas uma hora e meia de academia todos os dias. Eu sou inclusa em todas as redes sociais e só não deleto o Orkut porque tenho comunidades bizarras do tipo "eu nunca andei de girafa". Mas considero fundamental olhar pessoas olho-no-olho quando a conversa faz-se necessária - atitude imprescindível para alguém que se acha "adulto". Eu passo os dias de tênis, jeans e camiseta e pinto as unhas de todas as cores menos azul/verde claro e tons fluorescentes. Mas acho chique e pretendo ser, um dia, essas mulheres que combinam tudo com tudo e saem de casa todos os dias de manhã como se tivessem sido vestidas por um Esquadrão da Moda. Um dia, eu disse. Quando tiver coragem de pagar 500 reais em uma calça.

Quando eu tinha 5 anos, tudo o que eu queria era ter o cabelo comprido. Quando eu tinha 18, pensava que me restariam só mais uns 10 anos para manter a cabeleira. Quando eu fiz 29 tentei aproveitar os últimos minutos de cabelão antes que eu fizesse 30. Aos 30, fingi que eu tinha 29. Esses dias, chacoalhando o cabelo com comprimento na cintura em um barzinho de rock, comentei quase chorando com a amiga que "preciso cortar esse cabelo, já fiz 31!". E ela me respondeu "precisa nada! Mulher só tem que cortar o cabelo aos 30 quando é feio e mal cuidado! O seu cabelo é lindo e se você cortar eu te bato!".

Ontem eu assisti no Superbonita (eu gosto tá? Que que tem? GNT é um ótimo canal, só não é melhor que Discovery Home & Health) uma atriz madura lindíssima, com fartos cabelos, dizendo que acha um absurdo que as mulheres pensem que precisam cortar os cabelos aos 40 (oi? A idade pra crescer mudou de 18 para 27 e a de cortar os cabelos mudou de 30 pra 40? Ótimo). E completava dizendo que o que importa é a mulher se sentir linda e feliz, independente do tamanho de cabelo que tem. E então eu olhei pra mim. Cabelão, unhas pintadas de cores sem ser Renda, jeans, tênis. Ouvindo música, jogando joguinhos no celular, comendo hambúrguer, pensando em escrever no blog. Pensando bem, eu nem quero deixar de continuar fazendo as coisas que gosto só porque alguém acha que eu devo. Eu não quero deixar de assistir desenho animado quando me der na telha. E não quero deixar de comer pizza com Coca-Cola quando eu estiver a fim. E não quero deixar de ter amigos de 15/20/30 anos, se eu continuar me dando bem por igual com todas as pessoas de idades diferentes. E eu posso não ter mais paciência pra ficar em filas de Hopi Hari, mas eu ainda vou experimentar todos os parques de diversões com todas as maiores montanhas-russas do mundo. E no dia que eu mais sofri nessa vida sem banheiro, sem comida, debaixo de sol de 35 graus e quase 20 horas em uma fila, foi o dia mais feliz da minha vida. E eu faria tudo de novo.

Aos 31, eu amadureci. Mas ainda não cresci. E nem tou querendo não, viu?