quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Minha noite com Pandora

Eu sou mãe. Sou uma mãe muito dedicada. Levanto da cama todos os dias e, religiosamente, depois de escovar os dentes e tomar café, encho o potinho de ração da Pandora. Troco a água. Limpo a areia. Todos os dias, depois do trabalho, assim que abro a porta, pego Pandora no colo. E eu já tentei até lavar as mãos antes ou tirar o sapato, mas ela não deixa. Se joga desesperadamente aos meus pés, com a barriga pra cima e ronronando, à procura do ato diário de ganhar um afago quando chego em casa. Não importa quantas vezes por dia eu chegue em casa. É preciso, SEMPRE e antes de qualquer coisa, pegá-la no colo e afagar seu pescoço. Levamos uma vida feliz, eu e Pandora, Pandora e eu. Mas, a partir de amanhã, eu sairei mais cedo e chegarei mais tarde em casa. Pandora ainda não sabe disso, apesar de eu ter certeza que, sendo ela minha filha, bastará uma conversa para que ela entenda. Saiu inteligente feito a mãe. Mas eu, mãe dedicada e carinhosa, estou preocupada em deixá-la mais tempo sozinha em casa. E por isso eu decidi que preciso acostumar a deixar a porta do quarto aberta à noite. Pra que possamos, ao menos, dormir juntas, já que os afagos da noite passarão a ser bem mais curtos. Essa noite eu deixei a porta aberta.

Pandora passou a noite em cima da cama, claro. Mas ela não é um gato persa. Não é um gato qualquer de pelo longo e que passa 24 horas por dia deitado dormindo em algum canto. Pandora é uma mini-pantera, já disse tio Edgar. Mini-pantera essa que gosta de brincar.

Essa noite eu acordei bem umas trezentas vezes. Com Pandora brincando de cama elástica na minha bunda. Brincando de esconder entre as minhas pernas. Brincando de escorregar no meio das minhas costas. Pandora duvidou que eu estava dormindo por tantas horas. Chegou inúmeras vezes bem pertinho da minha cara pra constatar. Encostou a patinha gelada na minha bochecha. Não satisfeita com isso, enfiou os pelos do bigode no meu nariz. Na minha orelha. Encostou o nariz gelado no meio da minha testa e, nos únicos minutos em que dormiu durante toda a noite, foi exatamente encostando muito em toda a minha barriga, de maneira que eu não pudesse nem me virar sem que ela acordasse ou que fosse esmagada. E quando eu cansei de ficar espremida em um canto pequeno que equivalia a 10% de toda a extensão da minha cama queen size e resolvi mudar de posição, ela acordou e retomou sua rotina de exercícios pulando na minha bunda.

Pandora deu conta de cada dedo do meu pé por fora do edredon. Pandora descobriu o mundo maravilhoso do incrível túnel que se forma entre o edredon de alguém e a cama. Um verdadeiro Hopi Hari, em que ela trouxe sua linda coleção de filhos ratinhos de brinquedo pra passear. Todas as vezes que eu mudava de posição na cama durante a noite, achava um. Embaixo de mim. Embaixo do travesseiro. Embaixo da camiseta. Na perna da calça. Pandora nunca tinha tido uma noite tão feliz.

Já de manhã, resolvi colocar Pandora pra fora do quarto por meia hora antes que eu tivesse que levantar para mais um dia. E depois que essa meia hora passou, mais rápido que a velocidade da luz, e eu acordei com a cara amassada, cabeça pesada e mau humorada, abri a porta e dei de cara com um gatinho se jogando no chão com a barriga pra cima e pedindo carinho. Peguei ela no colo e pensei no quanto a amo.

Filhos.