Não tenho tempo pra mais nada, e é por isso que eu não venho mais aqui. Não que isso seja uma reclamação, porque não é. Eu sempre quis não ter tempo pra mais nada. Eu sempre quis me envolver em algo que eu gostasse, que ocupasse meus dias e que tivesse a finalidade de me fazer crescer como profissional e ser humano. Sempre quis ser uma pessoa ocupada na maior parte do tempo, para que meus momentos com os amigos fossem aproveitados ao máximo por serem únicos. Sempre quis ter muita coisa pra contar. Sempre quis conhecer lugares. Não só esse negócio de viajar e tal, mas também esses lugares que a gente pode conhecer na nossa rua. Aquela portinha aberta ali, que você passa todos os dias na frente, mas que nunca parou pra reparar do que se trata. Eu sempre quis almoçar cada dia em um lugar. Saber que aqui eu posso almoçar na balada, que ali mais à frente tem o japonês dos doces e, mais adiante, um dos melhores brigadeiros que eu já comi na vida. Sempre quis conhecer gente nova. Não só isso, mas gente nova que sabe conversar. Gente inteligente, gente crítica, gente que ensina e com as quais se aprende. Gente diferente. Gente que me faz rir junto, gente que me faz chorar junto, gente que chega 7 horas da manhã com pão e mortadela e atiça as minhas lombrigas a ponto de eu ter que ir lá e comprar um pão com mortadela pra mim. Sempre quis trabalhar bastante. Sempre quis aprender coisas novas e receber presente de maior produtividade logo no primeiro mês. E no segundo. E no terceiro. E no quarto. Sempre quis ganhar presente e parabéns pelo trabalho a ponto de não ser mais novidade. A ponto de ler o e-mail e pensar "ah tá, já sei". Sempre quis ser melhor que a melhor pessoa do setor. Sempre quis ver a vida acontecer. E participar dela. Sempre quis minha casa, minha vida, minhas pessoas. Sentir que eu tenho um porquê de existir. Me sentir útil. Me sentir viva. Me sentir melhor. Sempre quis não ver o tempo passar. Sempre quis pular de um final de semana para o outro, porque durante a semana foi tão corrido, mas saber que se foi corrido é porque foi bom. Porque tempo ruim demora a passar. O tempo aqui passa rápido. Do trânsito, do metrô, do caminhar por duas quadras, do passar pela catraca, da minha mesa, do chocolate da máquina, do banheiro, do coleguismo, das histórias, das risadas, do trabalho divertido, das outras risadas, do almoço, do resto das risadas, do elevador, da catraca, do caminhar por duas quadras, do metrô, do trânsito. E da hora que eu abro a porta. A porta anda rangendo, eu preciso colocar óleo. Mas a hora que eu abro e que ela faz nhééééé sai a cabecinha da criatura mais fofucha do mundo todo. Pretinha. Gordinha. Filhinha. Pandorinha sai no hall todos os dias, a fim de fazer festinha na hora que eu chego. Quem foi que disse que gatos não fazem festinha? Meu bebê faz. No caminhar elegante e rebolativo, mostra em meio ao rabo curvilíneo e dobradinho na ponta, a saudade que sentiu enquanto eu estive fora. Ronrona assim que eu abro a porta, como se por trás dela estivesse parada esperando durante todo o dia. Se joga, desajeitada, pelo chão, com a barriga pra cima, como se dissesse "mamãe, que saudades que eu tive". Pandora, meu bebê. Que faz, entre julho/agosto, um ano de vida. Não sei ao certo quando, mas sei que da próxima vez que eu for comprar ração pra ela vai ter que ser a que está escrito "adulto" no pacote. Minha cheirosa. Vai fazer um ano e eu não me lembro de ter reparado se algum dia ela ficou diferente por ter entrado no cio. Talvez não tenha entrado ainda. Ou talvez tenha, mas por ser tão linda, não teve todas aquelas reações que todo mundo recrimina quando gatas entram no cio. Um ano, Pandora. E parece que foi ontem. Que eu levei aquele gatinho cinza pra casa, com medo de morrer de rinite, e passei uma semana sem conseguir dormir porque ela pulava na minha cabeça. Hoje, mesmo gata de responsa, totalmente preta e com cara de séria, ela ainda pula na minha cabeça durante a noite se eu deixar. E enfia os bigodes dentro do meu nariz. E morde meus dedinhos do pé que por acaso saiam do edredon durante a noite. E então eu sento no sofá e a assisto subir no meu colo. Olhar bem dentro do meu olho. Ronronado que a minha intuição me diz que significa algo do tipo "sou feliz". E então ela deita, com as patinhas pra frente, pra ganhar carinho. Põe a cabeça no meu peito como se, realmente, fosse um bebê. E, apesar da ração de adulto, ela é. Um gatinho bebê. E é bem aí, nesse momento, que o meu dia pode ter sido corrido, que eu posso ter pego trânsito, que eu desejei que o motorista do caminhão morresse, que o infeliz no metrô tenha empacado na catraca na minha frente, que tenha chovido e que eu tenha molhado o pé no esgoto, que eu esteja cansada e com calor e precisando dormir cedo pra acordar 4 horas da manhã no dia seguinte. É nesse momento em que eu estou com Pandora no meu colo, ronronando e fechando os olhinhos de satisfação pelo carinho da mamãe que eu penso: Pandora, o gatinho que Deus colocou na minha porta. A caixa dela é azul.
Ah, o título era "latinha azul", né? Não, mas de vira-lata o meu bebê não tem nada.
E pô, não tinha foto na lata azul. Serve na sacola amarela?
Rê, primeiro de tudo, mesmo com você desaparecida de mim, fico feliz demais por saber que você está tão feliz. Você é dedicada, competente e bacana, e não merece nada menos que e-mail de parabéns e presentes pelo bom trabalho todo santo fim de mês. E merece também se sentir importante, ver que a vida faz sentido, etc. Porque faz sentido e porque você é importante.
ResponderExcluirSegundo de tudo (!), sua descrição dos momentos com a Pandorinha fizeram com que eu pensasse automaticamente no meu Chiquinho, que chega a gemer de amor quando eu chego em casa, que pula todo faceiro e vem me trazer a bolinha e o gato de pelúcia, que pula na cama comigo mesmo sem eu chamar e se enrosca em mim até quando eu não quero. Eu gosto de abraçar e ele gosta de ser abraçado, apertado... Poderia existir par mais perfeito?
Um beijo enorme e cheio de saudade, pra você, pra Pandorinha e pra latinha azul dela. (risos)
beijos
Como é bom saber que você está feliz, Rê! Muito, muito! É pensar em como tudo isso que hoje te deixa realizada te angustiava ano passado! Adoro quando as coisas dão certo! (Mesmo que eu seja obrigada a sentir muita, muita saudade, pois nessa sua vida nova, me cabe muito menos...)
ResponderExcluirTe amo! <3
AAAhhh que texto lindoo!!! Eu acho tão fofa a sua relação com a Pandora que nem sei direito o que dizer e achei o máximo essa sua vontade de não ter tempo pra nada, sou o oposto, completamente, embora ache o máximo o jeito que vc sempre quis viver! hahah <3
ResponderExcluirNHAI, que amor Rê! :)
ResponderExcluirÉ tão gostoso quando os nossos bichinhos mimam a gente, né? A gente que deveria mimar, mas eles mimam a gente muito mais do que qualquer outra coisa, haha. Viva Pandora e sua sacola amarela! ;)
Beijos.
Calma, mulher! A gente já percebeu que você anda sem tempo, logo você que escreve tão bem e está fazendo uma falta danada, viu. Ficaremos no aguardo da tua volta. Eu ficarei, pelo menos. Beijão. Linda sua gatinha, tive uma assim, ai que saudade.
ResponderExcluirGatinha linda! =)
ResponderExcluirEngraçado que a maioria dos blogs que eu comeco a ler sem parar tem sempre um gato (ou mais) relacionados.
eu tenho 3 gatos, a Mimi ficou morando com minha mae no Brasil, ela tem 20 anos.
O Curie eu adotei ano passado. Veio de uma casa em que o povo jurava que amava bichos, dai chegou em casa muito abaixo do peso e cheio de pulgas, a veterinária assustou e me fez enchê-lo de comida. Hoje ele tem 1 ano e meio e eh lindo e enorme.
Dai veio a Tesla, que foi jogada junto com os irmãozinhos dentro de uma saco de lixo num terreno baldio. Alguém os achou a tempo e eu consegui a minha menininha. Ela tem 8 meses e ja não come ração de adulto, porque cresceu muito.