Mostrando postagens com marcador paciência de búfalo. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador paciência de búfalo. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Da superficialidade da astúcia

Dia desses eu fui no show do Foo Fighters. Eu não podia deixar de escrever sobre isso, e não vou deixar mesmo. 

Vou começar dizendo que eu não passei a noite na fila, porque isso eu nunca fiz mesmo. Também não passei o dia na fila, porque isso eu realmente não tenho mais idade de fazer mesmo. Aliás, depois daquela briga com o cara no show do Bon Jovi eu meio que perdi o tesão de ir em show no meio da muvuca. Dessa vez eu cheguei quase 19h, três horas depois de o portão ter aberto, fui na pista normal mesmo (e não na VIP como há alguns anos), e fiquei lá atrás. Vi Dave pequenininho, paciência. Mas nada paga o meu sossego.

Aos 35 anos na cara, a vibe foi ir sozinha (ir em show de rock sozinha não tem preço!), ficar lá atrás, de boa, em um lugar que eu conseguia ver muito bem o telão e ouvir muito bem a voz do cara. Ah, o meu amor por homens que gritam. Cheguei quietinha, no meio da multidão, andando pelo meio das pessoas e procurando onde estaria esse bom lugar. Dei uma olhada geral, daqui e dali, e o lugar escolhido foi encostada em uma das grades que circundam aquelas grandes coisas que ficam bem no meio dos estádios em ocasião de shows. E aí é onde começa o que eu realmente quero falar nesse post.

Eu não faço a menor ideia do que são aquelas grandes coisas. É claro que caixas de som e iluminação é meio óbvio, mas de uns tempos pra cá há vários cercados com grandes coisas no meio. Sei lá, caixas d'água. Pra que ter caixas d'água no meio de um estádio em um show? Pra onde vai essa água? No show do Foo Fighters, bem na frente do palco e bem no meio do gramado, havia TENDAS com teto e laterais cobertos de lona branca. Fiquei sabendo lá que eram câmeras de televisão, porque o show ia passar, sei lá, no Multishow. Vocês conseguiram processar a conclusão do que eu disse? Tendas com lona em cima e nas laterais bem na frente do palco, ou seja, NINGUÉM CONSEGUIA FICAR ATRÁS DESSES TROÇOS E ENXERGAR O PALCO. Gente. No meio do estádio, sabe? Eu paguei caro por esse show. E não consegui assisti-lo porque tinha tendas com câmera de televisão na minha frente. Conclusão: neste show, ou você era VIP e ficava muvucado apanhando das pessoas no gargarejo, ali bem pertinho do palco, ou você era um simples filho da puta do inferno, que tinha que assistir o show nas laterais do campo, perto dos banheiros, com visão ínfima e torcendo por aquele momento em que o vocalista da banda chega na lateral do palco e diz "oi para o lado direito/esquerdo da arquibancada do estádio!" (Dave traduziu bem isso em inglês e com o literal "fucking whatever" muito bem colocado em suas frases). 

Fudido. É tudo isso aí o que a gente é. Paguei caro, porque eu amo a banda e acho que eles merecem demais o meu dinheiro para se sustentar. Mas quase a metade de tudo o que eu paguei foi pra essa gente que bota uma taxa de conveniência equivalente ao diâmetro da circunferência anal de cada um deles. Pra que eu paguei isso? Pra assistir um show vendo metade da metade da metade de um palco, onde o cara vocalista da banda, que é foda, parecia uma reles pulga, tamanha a distância que todo mundo foi obrigado a ficar do palco, por conta que, aqueles mesmos caras da circunferência anal, já não bastando ganharem muito do meu dinheiro, ainda precisavam filmar o show pra ganhar sei lá como e sei lá porquê a audiência de uma galera que nem pagou nada (além do preço absurdo de uma tv paga), mas que talvez assistisse pela tv.

Isso é o que? É gente bosta oferecendo serviço de bosta a preço de ouro e às custas de alguém que oferece um serviço ouro. O problema é, sabe o que? O intermediário. Exemplo: eu faço compras no Ceagesp. Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo. Mas esse negócio, caso você não saiba, tem em toda cidade. Se não com esse nome, com algum outro nome parecido. O que é isso: um grande centro de distribuição de comida fresca. Ou seja, uma grande feira. Acontece que o produtor, sei lá, digamos que ele tenha um sítio simpático e plante batata. Planta batata em uma escala considerável e resolve vender no atacado. E então ele precisa de um lugar para estocar a batata dele e vender para feiras de rua e mercados. E então ele aluga um box, no Ceagesp, onde vende as batatas dele para varejistas. Ta tudo muito bom, ta tudo muito bem, mas pode melhorar: o Ceagesp, três vezes por semana, vende no varejo. E é aí que entra a Renata, com seu carrinho de feira, podendo comprar dois quilos de batata pra fazer assada com requeijão, direto do produtor. Aquela batata simpática, redondinha, saborosa e barata. Porque o cara que está ali na barraca me vendendo é o mesmo que colheu essa batata no início daquela semana.

Essa é a vida linda de se ver. É a vida da Renata, que preza pela comida bem feita e pela boa batata a preço justo. Que tem tempo, paciência e carro, pra poder ir lá no Ceagesp de tempos em tempos, fazer a feira, porque por acaso, por milagre de Deus e hábito familiar, o Ceagesp fica relativamente perto da minha casa. Mas essa não é a vida de quase todo o resto da população. Quase todo o resto da população pode ser encontrado no Extra, quase na esquina da minha casa, no meio dia do primeiro sábado do mês, logo depois do pagamento. Naquele demonstrativo do inferno, das enormes filas no caixa, das crianças gritando, das senhoras enfiando o carrinho nos calcanhares alheios, e o locutor do Extra informando no microfone que "agora começou a promoção da televisão e quem chegar agora aqui no corredor do eletrônico leva". 

Lá, na fila do Extra na esquina de casa, ao meio dia do primeiro sábado do mês e logo após o pagamento, os carrinhos estão cheios de batata. Da batata comprada no mercado, que é a mesma batata comprada em qualquer mercado, grande ou pequeno, na feira de rua ou na quitanda. Essa batata é a mesma que está lá à venda há 1 mês. Essa batata saiu do mesmo Ceagesp que a Renata faz compras, só que antes de chegar na mesa da dona Terezinha, mãe da Priscila, passou por uma meia dúzia de caras que carregaram e revenderam a pobre da batata. Essa batata, em uma mesma curva, superfaturou e despencou de qualidade em sabor e durabilidade. Ou seja, a dona Terezinha, mãe da Priscila, vai comprar a batata, pagar o olho da cara, carregar até em casa morro acima, e em uma semana essa batata estará podre. Por causa de quem? Dos intermediários, claro.

Os intermediários do show do Foo Fighters (e de todos os outros shows internacionais no Brasil) são grandes filhos da puta. E já sabendo disso, eu, ali encostadinha na grade de alguma grande coisa que algum grande filho da puta resolveu colocar no meio do estádio, me consolei ao ver o Dave só pelo telão. Aquela barba. Aquele cabelo. Aquele humor. Aqueles diálogos incríveis. Aquela inteligência, que fez com que, de repente, ele aparecesse atrás das barracas de lona dos filhos da puta da tv. Ou seja, ali, bem pertinho de mim. E aqui vai o meu salve para os produtores do show, que colocaram uma passarela para o cara andar além do palco, mesmo nesse país de filhos da puta.

Vai dar piti pela minha última frase, porque você é brasileiro e não desiste de ser filho da puta nunca? Pois eu ainda não acabei o meu post: eu lá, na grade, me consolei por ver um show por um telão, lá longe, de boa, curtindo minha música, dançando e cantando sozinha. Eu, na minha bolha de paz. Sabia cantar todas as músicas do show, até as menos famosas. No lugar que escolhi pra ficar permaneci até o fim do show. Do lado do bombeiro, camarada de boa. E o mundo seria um lugar bem melhor se todo mundo estivesse se comportando igual eu e ele. MAS NÃO. As pessoas andam o show inteiro. Se você não está lá no gargarejo, no meio da muvuca, morrendo de sede, com o braço suado e enrolando nos cabelos da menina que está na sua frente que insiste em deixá-los soltos, encostando nos outros braços suados das pessoas que estão dos seus lados, sentindo a pessoa de trás te encoxando e sendo levada pra todos os lados e torcendo apenas pra não cair e não ser pisoteada, você está lá atrás. E se está lá atrás, tem gente andando pra lá e pra cá, o tempo todo, em todas as direções aos seus lados e, pode parecer incrível, mas a sensação é a de que você está sempre no caminho de todo mundo.

Agora me fala: pra que, inferno? PRA QUE? Por que vocês não fazem igual à pobre infeliz aqui, que escolhe um lugar pra ficar E FICA até o show acabar? Por que? Você tem incontinência urinária? Passou o dia na fila e precisa ir ao banheiro? Quantas vezes você vai ao banheiro por show? Ah, precisa comer? Porra, mas não passou o dia inteiro na fila fazendo nada além de comer? É bebida o que você quer? Não tem as tiazinhas passando no meio da multidão com aquele isopor bem na minha cara logo quando eu consegui um espaço ridículo entre duas cabeçonas pra enxergar o show?

Fica aquele bando de gente, andando pra lá e pra cá, sem prestar o mínimo de atenção no show, atrapalhando quem pagou e quer VER a banda tocar. Só isso que eu quero, gente. Ver e ouvir o cara cantar. E então, quando a pessoa abstrai porque não dá pra colar Super Bonder na cadeira igual faziam na escola e resolve que não, não é um bando de baratas tontas passando em todas as direções que vai estragar o meu show, de repente a pessoa que está na sua frente vai lá e LEVANTA A MÃO COM CELULAR PRA FILMAR O SHOW BEM NA SUA CARA E TAMPA TODA A SUA VISÃO.

Sério. O povo paga um show internacional pra ficar zanzando pra lá e pra cá. Paga pra ficar filmando. Paga pra não dançar nem cantar porque... será que eles sabem? Ou será que alguém falou "pô, cara, vou no show do Foo Fighters" e o cara pensou "Full Faiters, não sei o que é isso, mas se é o point vou também". A impressão que eu tenho é que todo mundo vai em tudo, sabe de tudo, passa horas na madrugada pra ver o Castelo Rá-Tim-Bum ou debaixo de sol pra ver as esculturas lá de cabeção, mas sem prestar atenção em nada, sem pensar sobre nada, nem se gostam ou não. A impressão que eu tenho é que todo mundo vai em tudo, paga tudo, fica na fila de tudo... pra tirar selfie. Pra postar no Facebook. Pra dar check-in e dizer pra todo mundo que foi. Ah, você foi em tudo, meu filho? Foi na maior exposição do momento, foi no show do ano, foi no melhor restaurante e assistiu ao filme mais falado? E sobre o que era o filme mais falado? O que você achou do prato que experimentou no melhor restaurante? O que foi que Dave Grohl falou entre suas músicas? E quais músicas cantou, além de Everlong, Best of you e Learn to Fly? Até Dave, o melhor capricorniano que conheço além de babybrother, tirou sarro da galera que só sabia cantar o ôôô de Best of you. E você, reparou que o cara tava tirando sarro da sua cara? Ou você estava ocupado tirando uma selfie bem na cara da Renata, que foi ao show somente, olha que absurdo, pra ver e ouvir o cara cantar?

Os intermediários são sim filhos da puta. Mas o resto da população também é. E aí eu penso, minha gente, que apesar da dona Terezinha, mãe da Priscila, comprar a batata semi-podre no Extra no sábado na hora do almoço primeiro do mês e logo depois do pagamento, não ir ao show do Foo Fighters, tem muita gente que faz a feira do mês no Extra e vai ao show. E pra esse povo, a batata semi-podre é mais que o suficiente.





segunda-feira, 23 de setembro de 2013

22 de setembro de 2013

Eu perdi o Rock in Rio do Bruce Springsteen pra dormir, mas tudo o que veio depois compensou isso. Coloquei o celular pra despertar às 4h da manhã e quando contei isso para as pessoas todo mundo me achou meio maluca. Mas eu não sei porque eu posso ser maluca ao acordar 4h pra fazer alguma coisa que eu vou gostar muito, mas não sou maluca quando acordo 4h da manhã pra trabalhar todos os dias, o que é fato. Ah, esse povo não sabe de nada. Calem suas bocas.

Acordei 4h da manhã feliz da vida, mas diferente do que foi da outra vez. Em 2010 eu não estava cabendo em mim em pensar no sonho que realizaria naquele dia. Mas ontem foi uma alegria mais contida, mais sã. Estava feliz, mas não estava ansiosa. Tomei meu café, escovei meus dentes, coloquei minha camiseta que tinha cortado no dia anterior e fui ao banheiro sabendo que essa seria a última vez por horas que eu podia fazer isso naquele dia.

Saí ainda com o céu escuro. Desci a rua como quem não pensa em nada além do vento no rosto e na ilusão de despreocupação. Peguei o ônibus, desci, andei pela rua deserta. E cheguei na fila que eu já sabia me esperar. Dessa vez mesmo tendo chegado mais cedo a fila estava maior que em 2010. E ainda ficaria muito mais. Concluo que o poder aquisitivo do brasileiro cresceu em 3 anos, porque a quantidade de pessoas na fila da pista premium do show era bem umas 3 vezes maior agora do que era antes. E é por isso que as pessoas pagam o absurdo de quase mil reais por um show. Porque pagam. E quem ganha com taxas de conveniência... ah como esse dinheiro chega fácil.

Já cheguei puxando assunto e sendo simpática com as meninas que estavam no fim da fila, porque é assim que a gente tem que ser quando sabe que vai passar o resto do dia ao lado daquela pessoa que antes era desconhecida. E o mesmo fez quem chegou depois de mim. E em menos de 10 minutos já éramos amigas de longos anos. E então, na alegria e na tristeza, na riqueza e na pobreza, na dificuldade e na necessidade, no fim das contas já estava todo mundo dividindo seus lanches, suas garrafas de água e a minha maçã, enquanto filosofávamos loucamente sobre as vidas dos integrantes da nossa paixão em comum, compartilhávamos experiências e conhecimento e a opinião sobre a beleza do namorado de uma, sobre a profissão da outra e sobre como o pai de alguém parecia o Patrick Swayze. Isso sem contar a amizade que a gente fez com o menino que estava organizando a nossa fila (que era bem bonitinho, mas quando perguntamos se ele pegava muita mulher com essa profissão de organizador de eventos ele respondeu que "elas só se aproximam de mim por interesse". Own, fofo.) e as VÁRIAS vezes que falamos mal da mulher que Jon beijou na boca no Rock in Rio. Rosana, vulgo Maria Bethânea (apelido que todas as fãs de Bon Jovi deram a ela) estava lá, claro, passeando pra lá e pra cá e aproveitando de ter se tornado uma sub-sub-sub-celebridade. A nós restava, além do recalque e da zoeira cada vez que ela passava (eu gritei pra ela ir arrumar o que fazer e lavar uma louça) as especulações de quem seria a próxima felizarda a subir no palco e o que jogaríamos em Bethânea caso Jon a chamasse de novo.

Após 10 horas de muita dor na bunda por termos passado tanto tempo sentadas (dor essa que permanece mesmo eu estando agora sentada no meu sofazinho confortável), 2 reais a menos que eu paguei pra ir no banheiro, um São Pedro hipocondríaco que brincava conosco mandando chuva ou sol ou chuva e sol de 5 em 5 minutos (e a gente fez um exercício danado no esquema abre e fecha e abre guardachuvas), chegou nossa hora de ver os portões do estádio se abrirem e o nosso desespero de entrar correndo loucamente por um bom lugar. Achado isso, mais algumas horas sentada (dessa vez naquelas placas de plástico com furinhos que colocam pra proteger a grama do estádio - juro que minha bunda ficou com calo, mas isso são ossos do ofício que todo fã de shows sabe que é necessário passar. Uma vez em pé, nunca mais na vida você vai conseguir sentar).

De repente todo mundo que estava sentado levantou e eu quase fui pisoteada porque demorei um pouco mais pra entender o que estava acontecendo. Todo mundo correu pra chegar na grade. E aí, mano. Mano. MANO. Não deu pra respirar. Eu nunca fiquei naquela situação na vida. Nunca. NUNCA. Da outra vez o negócio foi que a gente não conseguia levantar ou abaixar os braços, mas dessa vez ficou BEM pior. Porque as pessoas não conseguiam respirar, sabe? E então, Deus, eu agradeci. Agradeci todos os meus 1,72m de altura que quando eu estava na adolescência odiava. É lindo ser alta. É divino. É lindo poder conseguir respirar no meio da multidão enquanto alguém enfia a barriga quase dentro da sua bunda de tão encostado e a criatura da frente enfia os cabelos na sua cara. Mas a gente consegue respirar. Nossa, que máximo.

Assim ficamos, em uma luta sem fim com quem empurrava de um lado para outro e para frente. Uma multidão de pessoas, como um mar infinito. E eu lá, uma reles gota d'água. Enquanto esperávamos o início do show tocou Welcome to the Jungle, Guns 'n Roses. E então eu eu achei a música bem propícia para o momento. Conversas daqui, brigas dali, quase não demorou pro Nickelback entrar e dar um show. Nem sou fã da banda, mas gosto de algumas músicas. E todo mundo amou, porque até os holdies são bonitos, gente. Que gente linda. E aquele guitarrista de meu Deus? Enfim: Nickelback é uma banda que antes eu achava bonitinha, mas agora assistindo o cara cantar ao vivo, a tamanha empolgação não só de quem é da banda mas também do pessoal da organização e a vontade de fazer uma coisa bacana imperou e me surpreendeu bastante para o lado bom. E agora eu vou gostar mais deles ainda. "Vocês estão bem? Vocês estão curtindo a nossa música? Mentira, vai. Vocês vieram aqui pra ver o Bon Jovi!". Ô dó.

Depois de músicas lindas, um show de simpatia e disposição e uma performance incrível de Ryan Peake (eu sou esperta, já procurei o belezinha), quando Nickelback acabou de cantar só restou a nós a reclamação pelo espaço que ainda estava difícil até de respirar. Mas não demorou muito para o mais lindo de todos os lindos da face da terra entrar no palco.

E nossa, como está lindo. Como continua lindo. E felizmente dessa vez, apesar do aperto e do empurra-empurra eu pude ficar novamente bem de pertinho. Que olhos azuis. Que pele branquinha. Que biquinho. Coisa linda. Ele entrou cantando as mesmas músicas que cantou no Rock in Rio, mas depois de três ou quatro músicas ele parou. E contemplou. E amou. Todo mundo juntinho batendo palmas e balançando as mãos como ele pedia. Todo mundo participando e gritando e cantando e levando bexigas e confete e vários cartazes com escritos do tipo "eu sei cantar as músicas" com referência à Bethânea, tão nossa conhecida, que subiu no palco mas não soube cantar a música que Jon tocava no momento. Então Jon comentou que isso sim é o que ele queria. Que São Paulo é melhor que o Rio. E aí pronto. Morumbi veio abaixo e a alegria toda foi mútua. Jon se transformou na criatura agradável e participativa que é na maioria dos shows e cantou feliz e animado e LINDO todas as músicas do set list.

Lindeza à parte, nem tudo foram flores. Estava eu aos pés de Jon, tremendo empurra-empurra e com dificuldade de respirar, já disse. Do meu lado, um cara com a mulher. Que de repente resolveu que ia me bater.

O retardado resolveu brigar porque estava todo mundo empurrando. Mas não resolveu brigar com todo mundo, ele quis brigar COMIGO por isso. Porque segundo ele eu estava deixando as pessoas passarem pra frente, o que tirava ele e seus pés de gay do lugar onde ele gostaria de ficar. E me empurrava de um lado, enquanto uma mina franzina tentava se enfiar EM MIM pelo outro lado. Mas com gente franzina eu já estou acostumada e nem me preocupo. Elas são tipo igual mosca rodeando sopa, você tampa a sopa pra ela não pular e pronto. Mas ficou um de cada lado me empurrando até o momento que eu me enchi e virei O Incrível Hulk e com cada braço eu empurrei os dois um pra cada lado gritando pra que deixassem de ser retardados e parassem com isso. E o cara, com ar de deboche: "eu estou morrendo de medo dos seus gritos" para o qual eu respondi "mas da minha mão na sua cara você está, né?" E então foi nessa hora ou pouco depois que ele disse que ia acabar com o meu show e eu levei uma cotovelada na costela. O cara me empurrou absurdamente como se eu fosse a prostituta da mãe dele. E aí, mundo, não prestou. Do mesmo jeito que ele me empurrou eu fiz exatamente a mesma coisa com ele. Só que com o agravante de eu ter descoberto nesse momento que sou mais forte que aquele cara. Ah, o que um babybrother de 2 metros de altura e que pesa 100 kg não faz? Anos de treino! Eu empurrei o cara e junto com ele foram a mulher e as vagabundas todas que estavam com ele. E então eu olhei bem pra cara dele e falei que ele deveria ir no show do Metallica, porque é um covarde que vai no show do Bon Jovi pra bater em mulher. E a mulherada ao meu redor começou a se manifestar e a gritar e chamamos a segurança que mandou ele sair. A vaca da mulher dele defendeu o imbecil e eu olhei bem pra cara dela dizendo que o cara tinha me dado uma cotovelada na costela, questionei se foi mesmo com esse covarde que ela resolveu casar e se ele faz isso com ela em casa também. E então eu, as meninas ao meu redor e a segurança calamos a boca do casal esdrúxulo, que se afastou de nós e agora espero que estejam se fodendo na puta que os pariram. (desculpem pelo absurdo de palavreado desse parágrafo, mas eu estou realmente revoltada até agora com essa situação).

Sabe. Quando eu era pequena e minha mãe ia me buscar na escola ela sempre me ensinou que se alguém me batesse era pra eu revidar. Que não era pra passar de boba. E que se chegasse em casa machucada ainda ia apanhar. E eu a agradeço por isso. Eu posso ser rabugenta e briguenta, mas pra eu sair na mão com alguém tem que ter alguma coisa muito extrema. Mas é só alguém mexer comigo pra eu entrar na porrada e não sair mais até ter matado o energúmeno ignorante. Aquele cara ouviu tanto, porque eu gritei pro estádio inteiro ouvir que ele era um covarde imbecil que bate em mulher porque estava nervosinho pelo empurra que se ele tiver o mínimo de consciência e tiver prestado atenção no que eu falei não deve nem ter dormido à noite. E depois que acabou o show eu saí gritando e apontando pra ele e dizendo pra todo mundo que passava que aquilo ali era covarde que batia em mulher. Mas mesmo assim toda a raiva que eu senti por esse idiota ainda está aqui tão presente que eu tenho até vontade de stalkear todo mundo que comenta no facebook sobre o show só pra achar onde o cara mora e esperar ele na rua pra esfregar a cara do filho da puta no asfalto. Porque eu fiquei puta. Eu bati na mesma proporção, mas se eu tivesse uma arma era ali e nele que eu ia usar. Não tenham dúvidas.

Mas ódio doentio pelo imbecil à parte, devo dizer que o show foi lindo. Que os fãs paulistas tiveram a decência de não questionar a falta de Richie na banda enquanto Jon se apresentava, e pra ele isso aliado à toda a participação e alegria do público teve muito valor. Jon abusou de sorrisos e gracinhas e comentou várias vezes o quanto estava feliz com tudo. Agora ele pode finalmente provar a Richie que ele, Jon, consegue sim, sozinho, sustentar um estádio de mais de 60 mil pessoas. Mesmo no subdesenvolvimento e desorganização brasileiras.

O show foi lindo e extremamente emocionante, mesmo que dessa vez eu não tenha chorado. Jon continuou cantando só as músicas mais novas, acredito mesmo que pela falta de Richie em fazer os solos e a segunda voz que é mais presente nas canções antigas. David, bonzinho como sempre, em seus ótimos teclados e sustentando felizinho todas as decisões de Jon.

Livin 'on a Prayer, a última música tocada na noite, foi regada a um temporal que caiu sobre nossas cabeças e nos ensopou de tal forma que eu não sabia se conseguiria chegar em casa sem um barco. E na imensidão do estádio do Morumbi andamos ainda todos juntos e sem fôlego, mas agora com capas de chuva rasgadas e vestidas porcamente rumo à saída.


Conclusões da noite:
1 - Bon Jovi é e sempre será uma das bandas favoritas da minha vida.
2 - Jon Bon Jovi sempre será meu modelo número 1 de beleza masculina, não importa qual idade e corte de cabelo ele tenha.
3 - O show foi lindo, mas não emocionante. O que prova que talvez os melhores dias da vida da gente só existam uma única vez. Não dá mesmo pra tentar repetir, nada nunca vai sair tão perfeito como da primeira vez.
4 - O Brasil é lindo e eu sou super patriota, mas os brasileiros são uma população de merda. Nunca terão educação. Nunca poderão se comparar aos europeus ou americanos no quesito respeito com o próximo.
5 - Talvez esse seja meu último show visto tão de perto. E talvez tenha sido a última vez que eu tenha visto Jon Bon Jovi pessoalmente. :~


Em tempo: nem tudo aqui nesse fim de post é melancolia. Das amizades que eu fiz na fila, uma das meninas me avisou pra procurar um certo vídeo no youtube. Eu procurei, encontrei, e achei tão bonitinho que decidi compartilhar com vocês. Assistam! O vídeo é de outubro de 2007 e diz muita coisa sobre o meu ídolo tão antigo e tão amado.


domingo, 3 de fevereiro de 2013

Talent Management

Daí que lá na empresa tem esse bagulho. Quem já estudou em alguma área administrativa ou quem já trabalhou em uma empresa grande sabe mais ou menos o que é. É um bagulho aí que como vários outros tem um nome bonito só pra ocultar o real significado: é a hora que alguém vai dizer o que acha de você.

Sabe jogo da verdade? Então, isso aí. Só que sem a garrafa. E sem a roda de amigos. E sem você poder questionar o que estão te dizendo, sem brigas, sem risada, sem enfiar a mão na cara de ninguém. Porque quem estará falando as verdades a seu respeito é seu chefe. E você tem que ouvir e sorrir.

Pois é, teve esse negócio aí essa semana. Lá na empresa. E acontece com todo mundo, não dá simplesmente pra sair pelos fundos e dizer "amanhã eu faço". Não. Tem hora marcada. Tem sala marcada. E aí vai um por um, cada um na sua vez. E você fica nervoso esperando a sua vez chegar. Eu fiquei.

Chegou a minha vez e eu sentei lá na cadeirinha de frente pra chefe e no canto da sala que eu não sei se tinha temperatura de 5 graus negativos ou se eu tremia era de nervoso mesmo. Mas tava um frio do caramba. Talvez fora, talvez dentro de mim. E foram duas horas seguidas que eu conversei com a chefe sem nem reparar em quem passava por trás da parede de vidro, lá fora. Me concentrei de tal maneira que tudo ao meu redor meio que sumiu.

Conversa vai, conversa vem (mais da parte dela do que da minha, claro), a chefe é canceriana e, de acordo com a amiga, esse é o signo que por estar exatamente no oposto ao meu no mapa astral, é o que me completa. Talvez por isso essa chefe goste de mim. Talvez seja só porque todos as chefes mulheres que eu tive até hoje gostavam de mim, por mais carrascas que fossem. Chefes homens não. Eu não suporto homem mandando em mim. Mas a chefe falou muitas coisas bem bonitinhas a meu respeito. Muitas mesmo. Me senti muito envaidecida com tudo. Entre tantas, ela me comparou com a diretora da nossa área da empresa. Bem legal.

Mas né, nada no mundo é perfeito e a minha imperfeição faz com que eu me apegue mais às críticas que aos elogios. E no decorrer de duas horas de conversa eu só tive duas críticas. Só duas, em milhares de itens avaliados. E são elas: 

1) "Você tem paciência e espera as pessoas falarem sem fazer cara de desdém, mesmo que não concorde com a opinião que elas dão, mas ao dizer a sua opinião você REPRIME as pessoas à sua volta, que se sentem obrigadas a seguir o que você diz."

2) "A linha entre seu autocontrole e sua explosão é muito tênue."


Então. Oi.        xD

Ai, gente, sério. O segundo item eu concordo plenamente que talvez seja desfavorável à minha pessoa, sabe, porque ela associou isso a uma situação específica: uma reunião em que uma pessoa específica questionava a qualidade do meu trabalho, já que eu sou a funcionária mais produtiva da área em grau absurdamente mais elevado que os demais. Daí, a criatura falava na reunião em tom de desprezo e sem mencionar em nenhum momento o meu nome, mas ÓBVIO que era pra mim, que "tem que ver a qualidade do trabalho dessa pessoa que faz muito mais que os demais, porque isso é impossível". Eu, queimando por dentro (porque você pode me xingar, mas questionar a qualidade do meu trabalho pode dar em morte), fiquei quieta. Quase botei um silver tape na boca pra me obrigar a ficar quieta. E a chefe percebeu, claro, porque eu fiquei quieta, mas sou tão transparente que estava escrito na minha testa que eu queria voar no pescoço da pessoa e esfregar a cara dela no asfalto. Mas eu me contive. A duras penas, mas me contive. Mas realmente: foi por pouco. Foi por muito pouco MESMO. Enfim, depois desse episódio eu já conversei não só com a chefe, mas com outras pessoas que me deram uma luz e me fizeram enxergar que eu tenho que reagir a certas situações de maneira diferente porque provavelmente o real objetivo da pessoa era o de justamente me tirar do sério e mostrar exatamente aí o fato de que eu não sou melhor que os outros, muito pelo contrário. 

Mas o primeiro item, gente. O primeiro item, sabe? Oi, mundo, eu sou mandona. Minha família é mandona. O sangue italiano que corre por entre minhas veias é mandão. E nem é de propósito, eu nem falo tanto no sentido de mandar assim em alguém. Falo no sentido de tentar convencer. Só que eu quero convencer no grito. Hoje nós vamos almoçar em tal lugar, e ponto final. Daí todo mundo vai. Mas sabe, minha mãe que me ensinou a ser assim. Ela mencionou milhares de vezes durante a minha vida uma situação específica que aconteceu quando eu era criança:

Um dia, em uma festa de família, uma tia colocava os refrigerantes para as crianças e olhou pra mim: "Renata, você quer Coca Cola ou guaraná?" eu respondi "Tanto faz, tia.". E pronto. Minha mãe estava bem ali ao meu lado no momento e aquela foi uma situação que ela fez com que eu nunca mais esquecesse na vida, tantas foram as vezes que ela repetiu na minha mente o acontecido (e ainda repete se precisar). O argumento da minha mãe é que eu não posso ser uma pessoa do "tanto faz". "Que tanto faz? QUE TANTO FAZ, RENATA? Você tem que ter uma decisão na vida, sempre! Você tem SEMPRE que optar por um ou por outro, mesmo que tanto faça dentro de você. Você nunca pode ser uma pessoa indecisa, alguém que os outros pensem 'ah, pra Renata tanto faz, qualquer coisa pra ela está bom'. Não, você não será uma pessoa do tanto faz. Você será uma pessoa da Coca Cola ou do guaraná. Será sempre uma pessoa de opinião." E daí é por isso que eu tenho opinião sobre tudo nessa vida.

Meu trabalho trata-se de um setor em que tudo é questionado constantemente. A necessidade das coisas, o porquê dos processos. Tudo. E por isso é que eu me identifiquei tanto com tudo lá. Mas em uma equipe de quase 40 pessoas existe gente de tudo quanto é tipo e os mandões nem são a maioria. Tem muita gente omissa. Do tipo que tem opinião, mas que fala baixinho. Sabe? "ah, eu acho que talvez quem sabe um dia se...". E não, gente, não. Ou você é Coca Cola, ou você é guaraná. E eu espero todo mundo falar, a gente faz reuniões absurdas que todo mundo quase sai no tapa, mas quando a discussão não chega em um meio termo, eu sempre digo a minha opinião assim no finalzinho e junto com ela eu já digo todos os prós e contras e tudo o que pode dar de certo e errado caso adotarmos a minha opinião sobre o assunto. E então milagrosamente a discussão cessa. Gente, tem que ser Coca Cola, porque ela é viciante, porque depois de comermos o sanduíche de mortadela do Mercadão nada mais pode ser tão seguro e libertador do que a Coca Cola que vai ajudar a acomodar melhor a gordura da mortadela no organismo e trazer melhor saciedade e a sensação desengordurante de que tudo foi perfeito. Guaraná é doce demais, leve demais, gasoso demais, tem maior probabilidade de te deixar enjoado depois e a propaganda do guaraná com a pizza pode nem ter sido tão perfeita assim, visto que a propaganda da Coca Cola com os ursos polares e o caminhão do Papai Noel vem tornando há anos a marca muito mais rentável apesar de seu poder viciante e que as más línguas digam que é um ótimo desentupidor de pia. Ou seja, faz mal mas mesmo assim o mundo inteiro ama. E fim.

E então todo mundo bebe a Coca Cola feliz e certo de que foi a melhor escolha. E gente, desculpa. Se ainda tinha alguém que pensou que o guaraná era melhor e não continuou defendendo a sua opinião, é bunda. É, porque foi omisso. Porque só porque eu falei melhor e mais alto, ficou com medo. Ah, gente. Veja se isso é jeito de viver! Deixando as coisas pra lá e pensando no tanto faz! Não. Eu sou a favor de gente que discute, que leva suas opiniões a diante, que tem opiniões. Porque se a pessoa fizesse isso, talvez me convenceria mais pra frente que não, guaraná é um produto nacional, mais saudável, mais barato, mais bonito e com poderes medicinais, que fosse. Eu falo melhor e mais alto, mas nem por isso sou do tipo que não muda de opinião. Eu mudo sim, basta me convencer de que o seu ponto de vista é melhor.

Brigada mãe, desculpa chefe. Eu sou uma pessoa de opinião e acho que quem enfia o rabinho entre as pernas e aceita a opinião dos outros mesmo sem achar que é a melhor merece morrer.


Os Menudos apoiariam minha dica pra vida: não se reprima.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Sobre o fim do mundo

O fim do mundo está próximo. E já não era sem tempo. Diante de tal fato, eu gostaria de sugerir aos deuses uma ordem de extinção da raça humana. Nada muito complexo, seria só pra ficar uma coisa mais organizada. Porque Deus talvez tenha a lua em virgem e, sabe como é, esse povo gosta de tudo bem planejado. Lá vai:

- Gente que devia morrer primeiro: esse povo que fala "perca". Sério, Deus, por favor, vai?

- Segundo lugar: gente que encosta na gente em ônibus/metrô. Não, não é necessário encostar em alguém, mesmo que o transporte público esteja lotado. EU não encosto em ninguém. Por que alguém tem que encostar em mim?

- Terceiro lugar: gente que ouve funk. Fala sério, Deus. Esse povo merece morrer, não merece não?

- Quarto lugar: gente que não sabe se vai ou se fica. Sabe aquele povo que, enquanto você está andando em direção reta e apressada pela rua (pode ser a pé ou dirigindo), e então, de repente, chega uma criatura do além e INVADE seu caminho, feito barata tonta, não sabe se foi ou se vai, e você tem que parar no meio da rua pra esperar a criatura decidir, mas só porque você é educada, porque a vontade mesmo é passar em cima? Então. Esse povo aí.

- Quinto lugar: o garçom que tira seu suco/prato de comida/fim do milkshake que PARECIA, mas só parecia mesmo, PORQUE VOCÊ AINDA NÃO TINHA ACABADO DE COMER, e puts, justamente, estava ali naquele recipiente exatamente o finzinho do que quer que seja que você estava consumindo, mas tinha guardado o restinho MAIS GOSTOSO DE TODA A REFEIÇÃO e daí vem o ABENÇOADO e eficiente e, sem perguntar LEVA o bagulho que você ainda ia terminar de comer/beber.

- Sexto lugar: gente que escreve "menssagem" "derrepente" "com migo" "útel" e "aifone" (juro pra vocês que esses dois últimos eu vi no trabalho esses dias).

- Sétimo lugar: motoqueiros, taxistas e motoristas de ônibus, nessa ordem. Se você dirige, sabe o porquê.


Acho que é isso. Sete primeiras categorias de gente que deve ter prioridade pra morrer, assim como os sete mandamentos e os sete pecados capitais. Porque 7 é o número preferido de Deus. E eu quero agradar.

Não se esqueçam: caso dê tempo, quero um travesseiro bem confortável no meu caixão. Caso não dê tempo (tipo se eu ficar presa embaixo dos escombros e tals), que eu fique perto de uma antena da Vivo e com o meu iPhone (porque eu quero ficar sabendo das últimas notícias do fim do mundo. E, claro, com um travesseiro bem confortável, meu edredon e Pandora.

Beijos, bom fim do mundo pra vocês. Valeuzão.

(pra vocês verem que desde sempre o bagulho que sempre dominou foi a hora do almoço)

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Sobre Individualidade

Então que eu vim escrever a pedidos. Porque sim, o meu blog, em todos esses anos de existência, às vezes passa por alguns hiatos. O que é normal. Eu nunca pensei em abandonar o blog, ou fechar, ou sumir, como quase todo mundo faz. Mas eu preciso de hiatos. Tem sempre aquele tempo que acontece determinado fato que eu preciso parar pra pensar a respeito. E que, muitas vezes, até gostaria de compartilhar com vocês no blog, mas nem sempre dá pra colocar em palavras o que eu penso ou sinto. Nem dentro de mim, muito menos em um blog.

Os hiatos acontecem nesse tempo em que eu estou tentando processar os fatos. Colocar minha vida nos eixos novamente, limpar minhas energias e refazer minhas defesas depois de um ponto final em alguma coisa qualquer. Porque eu sou assim. Tenho o ascendente em virgem. Preciso começar e terminar tudo. Preciso fazer planilhas de acontecimentos. Preciso registrar. E preciso que no balancete final dos fatos, o crédito e o débito sejam compatíveis.

Acontece que eu ainda estou aqui pensando na individualidade. Na minha, na dos outros. Pensando em como é que a maioria das pessoas consegue abdicar da própria individualidade só pra ter alguém do lado. Só pra sair falando que tem. Gente que de repente sai andando de mãos dadas no shopping e compra presente de dia dos namorados, sem nem gostar da outra pessoa. Sem nem poder dizer que o tempo que passa com aquele indivíduo é agradável. Só pelo simples prazer de sair mostrando para a sociedade que olha, agora eu tenho um namorado. Oi vó, então, você cobrava tanto, agora eu arrumei um namorado. Não importa muito quem é, o que importa é que eu arrumei. A sociedade cobra que as pessoas se relacionem. E escrevam aí o que eu vou dizer: depois da ditadura da magreza, virá a ditadura do relacionamento. Porque eu coloco no mesmo patamar aquela menina pálida e magra que olha com tristeza o pedaço de bolo na vitrine do Amor aos Pedaços e olha pra atendente e pede uma água, com a pessoa que cata qualquer um que nem conhece ali na rua só pra dizer pra todo mundo que namora. A que preço?

A preço de perder a paz. E a tranquilidade. E de ter alguém te ligando de meia em meia hora, te cobrando presença. Alguém te que obriga a ir em lugares que você não gosta ou não quer. E a conviver com pessoas quando tudo o que você quer é ficar em casa vendo um filme. A preço de ter ao seu lado gente que não se preocupa com você, mas com o que você está fazendo que não ligou ainda. Que não respondeu o sms. Que nossa, que absurdo que você está no hospital e não pode me fazer aquele favor que eu precisava agora. Gente que te usa. Gente que invade a sua vida. E que fala dela por aí sem que você permita. Invade a sua individualidade, sua privacidade. Que passa por cima do que você quer, do que você pensa, do que você acha. Que te obriga a fazer o que você não quer. Estar onde não quer. Que preço alto esse a pagar quando se namora sem gostar. Eu não me permito passar por isso, mas vejo muita gente fazendo por aí.

A propósito: oi, vó. Não, não estou namorando. Sim, eu ainda estou solteira. É, porque eu quero. Eu sei, traste disponível pra namorar é o que não falta. Não, não quero. E sim, vou continuar solteira até quando eu quiser. Sim, sou feliz assim. E é, eu sei que não existe príncipe encantado e que é preciso conviver com os defeitos alheios e ceder, mas eu só vou fazer isso quando achar que devo. E diferente do resto da população mundial, eu me recuso a me relacionar só por relacionar. Continuo com a minha opinião de que eu só vou namorar com alguém que, no mínimo, esteja perdidamente apaixonado por mim.

Ah, a paz. Ah que celular silencioso... só troco isso por quem for valer a pena. Mas oras, se for valer a pena, será uma pessoa que, além de me trazer felicidade, não vai perturbar a minha paz. Não é?



sexta-feira, 16 de setembro de 2011

... foi por causa do imbecil que não soube remar ♪

Então que a Ana Lu entrou no meu carro falando do mundo maravilhoso da Livraria Cultura. Segundo ela, um local mágico para toda a galerinha, cheio de altas aventuras e ação para a turminha do barulho aprontar muita confusão.

Hm. Ana Lu. Sai de Curitiba, a terra do frio congelante e chuva que eu vejo todo dia na previsão do tempo no mapa pintado de azul. Ana Lu saiu de lá, pra chegar aqui na minha terra da garoa e das 4 estações em um dia só e com sua população cheia de problemas respiratórios. Ela veio aqui, DO LADO da minha casa, pra mergulhar em toda a curtição da Livraria Cultura do Shopping Villa Lobos. Que tipo assim, fica há uns 5 quilômetros da minha casa. E que em todo esse tempo nessa indústria vital, desde que fizeram esse shopping há, sei lá, uns 20 anos, eu devo ter entrado nessa livraria umas 5 vezes, no máximo.

Ana Lu saiu de lá da casa dela pra chegar aqui no meu shopping e me contar que entrou no mundo mágico e maravilhoso da Livraria Cultura. Com toda a empolgação que só Ana Lu sabe ter. E me fez pensar em todas aquelas coisas que eu sempre penso quando alguém faz uma coisa desse tipo: eu tou aqui, DO LADO do negócio, e não sei aproveitar. Cara, as pessoas precisam sair da pqp pra chegar aqui e me contar que esse lugar aqui, que fica exatamente do lado da minha casa, é fantástico. Pra que eu possa levantar a bunda da minha cadeira e enfrentar trânsito e poluição e macacos motorizados pra conseguir chegar ali e aproveitar também desse lugar que sempre esteve aqui, mas que eu nunca tive a empolgação merecedora para tal ato. E que, mesmo amando livros e tendo entrado outras vezes nessa e em todas as outras livrarias da zona sul da cidade, só agora, depois de ouvir tamanho relato empolgante saído da boca da Ana Lu, eu consegui entrar naquela livraria já querida mas nem tanto AMADA e me deliciar TANTO com as preciosidades que encontrei por lá.

Ontem eu fui na Livraria Cultura e fali. Fali e fali bonito. E só não fali mais bonito ainda porque uma das coleções de livros que eu queria não estava completa lá. E mais: me controlei muito. MUITO mesmo. Pra não pagar os olhos da cara em séries de tv completas e históricas que têm lá, só lá, e em mais nenhum outro lugar dessa cidade. Força interior, não tem outra explicação.

E então que, eu lá, enfiada nos corredores mais escuros e mais escondidinhos, atolada de livros nos braços e sorriso no rosto, uma hora sentei pra descansar. Do lado da amiga que, como sempre, carregava os livros mais bizarros que alguém pode encontrar. Já quase no finalzinho do horário pra loja fechar, chega ela com um livro chamado Como fazer alguém se apaixonar por você em até 90 minutos. Eu, curiosa a respeito do que exatamente estava escrito sobre isso no livro (imaginei algo tipo maconha+cocaína), peguei para folhear. E eis aqui o trecho que, me desculpem, eu até tirei foto pra poder depois escrever aqui e compartilhá-lo com vocês:

"Imagine que você terá de passar o resto de sua vida em um barco a remo. É um barco grande, portanto é necessário que duas pessoas remem para que ele continue se movimentando. Você e o outro remador devem decidir qual direção seguir, devem remar com o mesmo ritmo e a mesma velocidade e se contentar em ficar cada um do seu lado do barco - caso contrário, andarão em círculos até enlouquecerem."

Daí que o xis da questão no livro era dizer a respeito da importância de se escolher bem alguém para um relacionamento amoroso. Eu, claro, me imaginei na situação. Eu lá, bonita, barco limpinho, envernizei meu remo, coloquei galochas pra não molhar o pé, prendi o cabelo em um rabo de cavalo pra não atrapalhar, levei lancheira, lenço de papel, protetor solar, palavra cruzada e lixa de unha. E então eu estou toda lá preparada pra remar e chega, infelizmente, o meu parceiro de remo. E então eu, que me conheço, até já sei. Vou olhar pra criatura e pensar 'ih, não vai saber'. Ou 'ih, é fraquinho, não vai conseguir'. Ou 'ih, esse aí não conseguiu nem limpar o nariz, será que ele sabe o que é um remo?'

Mas tá, que o livro dizia que o barco tinha que ser remado por dois (e infelizmente eu com certeza já haveria tentado remar sozinha e vi que apesar de todo o meu esforço não tinha saído do lugar), então eu teria que dar uma chance à criatura. 'Remar você sabe, né?' já me imagino perguntando a ele. "Ôpa, claro, sou maravilhoso nisso", coisa que todo homem diz, mesmo sem saber quanto é dois mais dois. 'Tá, vamo lá então, pega aê seu remo', eu finjo que acredito na afirmação dele, não sem antes dar as minhas coordenadas sobre como remar e pra onde. "Xá comigo, gata", ele vai dizer. Eu com certeza sentarei no meu lugar respondendo 'AHAM', com misto de sarcasmo e incredulidade, olhando-o de cima a baixo.

E então consigo claramente me imaginar, alguns segundos depois, olhando para o indivíduo cheio de empolgação e vontade, e imaginando que porra é essa que ele tá fazendo que nós, além de não sairmos do lugar, ainda estamos girando. Até enlouquecermos, como disse o livro. Ou até que EU enlouqueça, visto que não há como provar que essa criatura que os céus selecionaram pra me ajudar a remar tem, realmente, um cérebro que possa enlouquecer. E então nesse momento eu me lembro que as regras do livro foram claras e disseram que cada um deve ficar no seu lugar, do seu lado do barco. Lógico, já que os dois de um lado só fariam mais peso que resultaria no bagulho todo virado e nós dois na água abaixo. Então, infelizmente, eu não posso ir lá e dar uns tapas no infeliz pra ver se acorda. Mas o livro nada disse a respeito de sobre o que falar.

E então, meus amigos, eu estou cá a imaginar a cena. Eu lá, toda pomposa, calça jeans e blusa de florzinha. O boca-aberta do meu parceiro de remo cá, babando, fazendo tudo errado e ainda jogando água em mim, o que felizmente é só água porque eu esperta já teria me esquivado várias vezes do remo que com certeza já teria vindo bem perto da minha linda cara. A minha grande vontade seria mesmo levantar aqui do meu lugar e ir lá enfiar um pedala na cabeça dele pra ver se fica esperto. Mas além de não poder, vejo daqui que ele baba no remo e que com certeza nem assim o indivíduo se daria conta da situação em que estaríamos. E então, nobres senhores, primeiro eu vou analisar a situação como um todo. Objetivo: remar pra sair do lugar. Alguém falou alguma coisa a respeito de pescar? Não. Isso quer dizer que se eu gritar e espantar os peixes, isso nada tem a ver com minha meta a alcançar, certo? Certo. Ok.

Vou recapitular pra vocês lembrarem da situação toda: "Imagine que você terá de passar o resto de sua vida em um barco a remo. É um barco grande, portanto é necessário que duas pessoas remem para que ele continue se movimentando. Você e o outro remador devem decidir qual direção seguir, devem remar com o mesmo ritmo e a mesma velocidade e se contentar em ficar cada um do seu lado do barco - caso contrário, andarão em círculos até enlouquecerem."

E então, minha gente, devo dizer pra vocês que enquanto eu lia esse trecho do livro e minha mente já imaginava tudo isso que relatei aqui pra vocês, no fim do parágrafo eu já tinha no meu imaginário toda a resposta a respeito da atitude que eu tomaria. E eu preciso deixar aqui registrado pra vocês algumas das minhas opções de conversa civilizada que com certeza eu teria com esse energúmeno que botaram pra ser meu parceiro de remo:

1 - Anda logo, sua anta, não tá vendo que o negócio tá rodando?

2 - Tô ficando tonta e vou vomitar em você.

3 - Eu tenho o dia todo, viu?

4 - É pedra aí onde você tá batendo o remo, museu. Não te disseram que quem rema, rema na água? Isso aqui não é jo ken po.

5 - No lugar que você fez curso de remo estava escrito 'aula de voo para patos'?

6 - Da próxima vez que você me jogar água com esse remo, eu aviso que o meu vai escapar da minha mão e que, acidentalmente vai acertar bem para o meio dessa sua cara.

7 - Se você deixar o barco virar, já sabe onde que eu vou enfiar esse remo, né?

8 - Você limpa a bunda com essa mesma eficiência?

9 - Você já pensou na possibilidade de morrer afogado?

10 - TCHIBUM! (todas as opções descritas ou ocultas resultariam nessa onomatopéia)


A canoa virou por deixá-la virar...

Por essas e outras que eu não passo perto da prateleira de livros de autoajuda. Porque se eu levasse um papo com qualquer um desses autores desse tipo de livros os encontraria depois, com certeza, com a pedra amarrada no pescoço e prestes a se jogar do Rio Pinheiros. E ainda daria um empurrãozinho.


Sou mesmo uma flor.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Morre Diabo

Eu gosto dessa expressão. Porque no Solitários (reality show do Silvio Santos pra combater o BBB) do ano passado tinha o Cadu, roqueiro (isso sim é um roqueiro, não aquele frufru do Mau Mau do BBB11), que fazia tudo ao contrário do que deveria fazer. Eu gosto de gente doida, já falei. Enfim, Cadu, diferente do comportamento submisso dos outros participantes, expressava seu ódio com relação às tarefas com um "morre, diabo!". Eu, aqui do outro lado da tv, ria. Daí que a expressão foi mais uma que entrou para a minha lista de favoritas, bem ali do ladinho do carimbo de "Morra!" (que é até uma tag aqui), idéia da fofa da Pri.

Vamos ao post: estava eu ontem chegando em casa, quando no elevador (estou acumulando histórias de "no elevador") acabei subindo com uma moça que devia ter mais ou menos a minha idade e sua mãe. As duas conversavam assim empolgadamente sobre as coisas do universo e tudo o mais quando a moça começou a dizer para a mãe que está com alergia nas mãos. A mãe comentou que tinha que ver o que ela fez, qual produto pegou. "Lavei louça ontem", disse a filha. Eu, cá com meus botões, reparando que o ato de lavar a louça deve ser um evento raro pra ela, tamanha intensidade de efeito isolado que deixou transparecer quando disse a frase. Rá que eu lavo louça todo dia há bem uns 25 anos de vida. E odeio (já fiz um post sobre lavar louça, eu sei). Mesmo assim acho o cúmulo quem acha que lavar louça é uma coisa assim do outro mundo. Enfim. "Você não lava a louça em casa e vai lavar na casa dos outros?" perguntou a mãe. "É que a fulana foi varrer a casa porque eu não podia por causa da dor nas costas. E então a siclana foi lavar o banheiro e eu não podia por causa do cheiro do produto de limpeza..." e saiu do elevador enumerando o tanto de tarefas feitas por pessoas que deveriam estar dividindo uma casa no carnaval, que ela não podia fazer por esse ou aquele problema. Sobrou lavar a louça. E daí deu alergia nas mãos.

Então eu lembrei do vídeo do prefeito amazonense que mandou a mulher morrer. E aí eu penso que beleza, ele é uma figura política, com salários pagos pela população, que não deveria dizer esse tipo de coisa porque o dever dele é justamente achar meios para que a sociedade viva melhor. Mas lá no fundo no fundo eu também tenho vontade de mandar o pessoal morrer às vezes, sabe. Pô. Não quer desocupar a casa que vai desabar? Morra. Não sabe ser útil pra ajudar em alguma coisa? Morra. Eu juro que se tivesse dividido uma casa com essa menina eu ia olhar bem pra cara dela e dizer "fulana, não precisa fazer nada não. Senta aí e morre." Por isso que eu não sou prefeita, sabe. Nem tenho nenhum cargo público. E aí eu sei que o prefeito não devia ter feito isso e blablabla mas no fundo no fundo eu soltei foi uma bela gargalhada quando vi o vídeo. Admirei a coragem do cara de dizer o que pensa, sabe? Porque ninguém gosta de ouvir verdades, muito menos as verdades que todo mundo pensa, mas ninguém fala porque tem que ser "político". E veja bem que coincidência o encaixe dessa palavra no contexto do meu texto - político é alguém que bota panos quentes nas coisas pra se dar bem com todo mundo e dá um sorrisinho engolindo o próprio pensamento polêmico. Mas muitas vezes dá mesmo vontade de falar o que a gente tá pensando, ô se dá. "Ah, minha senhora. Então morre."

Prefeito amazonense, cara. Sou sua fã.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Ctrl + c Ctrl + v (mas muito bem feito)

E aí que estava eu meio que com preguiça de ser eu mesma, de me revoltar e querer esfolar a cara das pessoas no asfalto, ao mesmo tempo achando um absurdo que pra ser uma pessoa melhor é preciso ser lorpa. Daí dei uma olhada nos meus links. E achei um texto que cabe EXATAMENTE em tudo o que eu queria dizer. Segue aí o post do Gustavo Rezende, pessoa pensante que eu fiquei sabendo da existência através da Anna Vitória, garota pensante. Ainda há cérebros no mundo. Poucos, muito poucos. Mas há.

Gosto só é gosto pra quem tem mau gosto


O mundo é um lugar bem mais legal quando se tem um blog com comentários. Eu falo uma bobagenzinha exagerada qualquer e algumas galëres se revoltam por pouco, daí abrem a janelinha, marcam a opção anônimo e xingam, xingam muito-muito-muito no Blogspot. Tem sido assim em praticamente todo blog que já tive.

Não dou a mínima pra latido de vileno, senão não escreveria o que escrevo. As pessoas são politicamente corretas em demasia, e cobram que você também seja. Qualquer colocação que fuja do círculo do politicamente correto já é confrontada sob a égide do comportamento padrão e do bom-mocismo.

Por exemplo: toda vez que eu falo mal de algum estilo musical, sempre, absolutamente sempre pipocam uns comentários do tipo "VOSE NAUM RESPEIAT OS GOSTO DAS PESOAS EH UN ABSURDO KDA UM GOSTA DO Q KISEEE1.!11.;" ou, ainda, o obelisco da argumentação boba e sem inteligência, o famoso "GOSTO EH Q NEM CU KDA UM TEM O SEOOO!.1.;"

Beleza. O mundo sempre foi assim, as pessoas sempre gostaram de repetir argumentos-padrão como se fossem um apontamento filosófico genial. Mas, na minha opinião, falta ousadia. Ousadia de pensar diferente, de não ter medo de defender a sua opinião, de usar a cabeça para chegar a argumentos seus, pensados por você. De poder dizer que não gosta daquilo/daquele sem medo de contrariar. De ter a consciência de que você pode assumir uma posição contrária a alguém, sem precisar magoar essa pessoa. E de não se magoar quando discordam veementemente de uma opinião sua.

As pessoas são fortes, elas aguentam. Ninguém vai morrer se você discordar dele.

Todo mundo está querendo ser agradável, o tempo todo. Todo mundo concorda com tudo, o tempo todo. Neste país, discordar de uma pessoa equivale a ofendê-la. Antes sermos estúpidos que concordam entre si, como bois e vacas, do que indivíduos (vem de individual) que debatem, sem medo de emitir uma opinião fora do que é cunhado como politicamente correto.

Me recuso. Pra mim, sertanejo universitário é uma bosta e quem gosta de pagode é fedido. Não respeito mesmo. Acho tudo coisa de paquiderme. Não é como o jazz, por exemplo. Eu odeio jazz, mas respeito quem gosta, pois sei que ali existe, no mínimo, história e bagagem.

Quer fazer o teste? Vamos lá:

1) Vá a uma associação de cientistas, ou de grandes artistas, ou de executivos bem-sucedidos e pergunte: "E AE GALËRE BATUTA, QUEM AÍ CURTE O SOM DO JORGE E MATHEUS?" Anote o resultado.
2) Agora vá ao presídio mais próximo, à Uniesquina mais famosa ou à Associação Mineira de Repetentes Escolares e faça a mesma pergunta. Anote o resultado. Nesse caso, leve duas canetas. Você vai precisar.

Igualzinho aqueles maconheiros safados que faziam Ciências Sociais comigo. O cara tinha preguiça de pelo menos TENTAR fazer as provas, daí ficava o dia inteiro fumando erva e fazendo artesanato, que batizava de "arte". O cara desenhava, tipo, ISSO AQUI [abre em outra janela] e dizia: "É uma obra que expõe toda a dicotomia entre o desenvolvimento capitalista, representado pelos tijolos da construção civil, e a consciência ecológica, representada pela naturezaZZZZzzzzZzzz..."

Não, NÃO é uma "obra". E não, não representa porra nenhuma, rastafari fedorento. É só um desenho songamonga numa tela. "Ih cara, você que não interpretou direito, eu fiz uma abordagem diferentPOW. Som de um tiro na cara."

Jackson Pollock tinha uma abordagem diferente. Pablo Picasso tinha uma abordagem diferente. Você só é preguiçoso. Arte NÃO é gosto e interpretação, somente. É por causa desse argumento politicamente correto que as artes plásticas caíram na mesmice, a música pop é a mesma desde os anos 80 e o rock perdeu a ousadia e atrevimento de caras como os Rolling Stones ou o Led Zeppelin. Hoje, o rock'n'roll dessas bandas novas e com o selo de "independentes" (tão independentes quanto uma adolescente de 13 anos num shopping com a mãe) é bonitinho e engraçadinho, mas não tem ousadia nenhuma. Não se ouve mais falar em arranjos, em técnica, em ataque. O rock'n'roll virou rockinho. Não é ruim, mas não é rock. O rock tinha alma; hoje, virou mera repetição incessante de melodias tacanhas e bobinhas. O sujeito sequer precisa aprender a tocar guitarra mais. A delicadeza de novela das 7 do Kings of Leon só vai ser rock'n'roll no dia em que o Luan Santana conseguir focar um objeto de perto.

A curiosidade foi substituída pela preguiça de pensar. Vende o que é palatável, facilmente digerível, geral. Hoje, ouve-se Use Somebody e Meteoro da Paixão; ontem, ouvia-se Hey Jude e You Can't Always Get What You Want [tudo abre em nova janela]. Milhões de pessoas fazem do BBB um fenômeno nacional sob o argumento de que "chego em casa cansado, não quero pensar", como se diversão boa fosse sinônimo de diversão lixo. Como se, para se divertir, você tenha que se transformar em um debilóide.

Engraçado, pois somos seres humanos, mesmo que alguns se esqueçam disso. A curiosidade e desejo de inovação dos nossos ancestrais fez com que eles desafiassem o senso comum e construíssem pontes, inventassem aviões, fossem ao espaço. E hoje, no tão aguardado século XXI, a humanidade é formada por gente cagona e acomodada, que tem medo de ter opinião. Gente que foge do embate, que se esconde atrás da máscara da mesmice, e que consome qualquer tipo de porcaria sem questionar sua qualidade, sob o conveniente argumento de que "gosto é gosto".


A humanidade não está somente se emburrecendo. Está se acovardando também.


_________________________________
Obs.: Sim, fui eu quem desenhou a casinha.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Sobre presentes de Natal

Um dia babybrother cresceu levemente e resolveu que a partir daí ele ia comprar seus próprios presentes. E passou a me dar pentes e escovas de cabelo. Anos a fio. Natal, aniversário. Eu fui guardando, porque querendo ou não era o presente dado com amor pelo irmãozinho (eu era inocente essa época, nem pensava que ele me zoava feio desde cedo). E nunca usei. Nenhum deles. Porque meu cabelo é fino e liso e eu só uso um único pente de madeira, mesmo assim só de vez em quando. Mas se você for ver eu tenho uma coleção de pentes e escovas de todos os tipos, pra fazer qualquer cabeleireira babar.

Se você faz parte das pessoas que dizem que "Renata tem um armário enorme e lotado de coisas", releve. Tem muita coisa lá que eu guardo por ter sido presente de alguém que eu acreditei que me amava e tive dó de jogar fora. TIVE. Porque 2011 será o ano do desapego. Já falei pra mim mesma. E se eu vou vender todos os pentes e escovas pra alguém que tenha o cabelo todo duro, imagine qualquer outro presente que qualquer outra pessoa tenha me dado. Rá.

Decidido isso, estava eu aqui pensando. Não sei, de uns tempos pra cá o pessoal acha que dar cosméticos de presente é bacana. Tá. Depois que os Natais passam eu fico mesmo um tempão sem precisar comprar sabonete no mercado e fico toda cheirosa usando aqueles de marca chique com sementes disso e daquilo. É bacana, eu curto. Só que faz uns anos já que o pessoal tem me dado hidratante. E gente, o bagulho sempre acumulou lá no banheiro. Porque eu não sabia a utilidade real do negócio (dãã, eu sei que hidrata, só não sentia diferença nenhuma) até assistir uma entrevista da Sandy dizendo que o dermatologista dela manda passar duas vezes por dia. Então que eu continuo sem sentir muita diferença ao passar hidratante, mas se o dermatologista da Sandy manda é porque deve ter algum saldo positivo no resultado final. Além do fato que se eu passar todos os dias duas vezes por dia o meu estoque de hidratantes de presente de Natal vai acabar e eu vou poder finalmente ver meu armário do banheiro mais vazio.

O Natal de 2010 não foi diferente. Algumas semanas antes, a recém-tia recém enfiada na família me perguntou por diversas vezes o que eu achava do cheiro de carambola. De pitanga. De jabuticaba. Eu, sacando a dela (e Grinch que sou) respondi logo "me dá de morango que tá bom". É, porque pelas perguntas dela, jajá ia chegar na jaca. E andar por aí com cheiro de jaca não rola. Mesmo assim eu tive fé, sabe? Não, ela não vai me dar OUTRO hidratante. Vai ser qualquer outra coisa. E mesmo que seja frustrante abrir um embrulho de presente e dar de cara com um 'aaah, é um sabonete, que legal', mesmo assim eu até preferia. Porque sabonete pelo menos eu economizo no mercado depois. E me sinto a Xuxa tomando banho com sabonete de macadâmia com sementes de abacate e tals. Até rolava, sabe. Mas eu não compro hidratante no mercado. E no meu banheiro deve ter bem uns 20 frascos. Todos cheios. Todos presentes de alguém.

Quando ela me deu o pacote, eu já sabia. Um pote de hidratante de morango, que deve ter uns 300 litros. E olhei pra ela e disse "poxa, brigadão, que lindo, era tudo que eu queria" (repare no sorriso amarelo). E agora eu tenho vontade de passar tudo e sair toda branca na rua. Não porque eu queira ser hidratada. Não porque eu ache supimpa. Mas porque eu queria que acabasse logo.

Então deixei o hidratante pra lá e terminei de abrir meus presentes. Já tinha passado mesmo, eu já meio que sabia que seria assim. Não adiantava mais chorar o hidratante derramado. Nada mais seria pior.

Foi então que eu abri o presente da minha avó. E era uma caneca. Com inscrições de "ESTIVE EM PENEDO E ME LEMBREI DE VOCÊ."


- Tá, minha vó avacalhou de propósito. Porque deu um vuco-vuco geral aqui que acabei não levando ela pra fazer compras de Natal. Mas a culpa não foi minha. Mesmo assim, ela descontou em mim. E ainda me mandou dizer que era pra abrir o pacote e dizer "ai que lindo".

- Não, não é difícil me dar presente. Se você TÁ MESMO A FIM de me fazer feliz quando me der alguma coisa, vá em qualquer livraria na seção de Literatura Estrangeira. E me traz um. Passe longe de literaturas técnicas e autoajuda. Simples assim. 90% de certeza que eu vou gostar. Mas se você realmente quer que eu te peça em casamento pode me dar um macbook...

domingo, 26 de dezembro de 2010

31



Porque eu aposto que vou passar por isso hoje. E é exatamente assim que eu me sinto.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Sobre Sarna pra se Coçar

Tá se sentindo sozinho? Abandonado? Ninguém te liga? Ninguém te dá atenção? Tédio? Pouca coisa com o que se ocupar? Pois eu tenho a solução: VENDA PRODUTOS NO MERCADO LIVRE.

É. Porque de repente você vai receber milhares de ligações, até o Papa te ligando pra querer pechinchar e marcar lugar pra vc entregar as coisas. Você cansou de receber milhares de spams e power points cuti-cutis do inferno no seu e-mail? Pois venda produtos no Mercado Livre, porque vc começará a receber milhares de e-mails perguntando qual é o número da sua conta pra depositarem dinheiro! É ou não é uma maravilha?

Em partes. Porque realmente alguém vai te ligar de 5 em 5 minutos durante o dia. Enquanto você está comendo. Enquanto está dirigindo. Enquanto está na aula de dança. E claro que você vai ter que ser gentil. Florzinha. Pessoa amor. Eu sou, sabe? Fiz curso de pessoa amor. Ainda mais que a minha conta no banco está ficando gordinha. Até o Grinch fica pessoa amor nessas condições. E que amanhã eu vou fazer mercado e parar de olhar aquelas 3 salsichas fazendo eco na geladeira (porque o melão passado eu já comi).

Daí que a minha vida agora é responder florzinha às ligações. É responder florzinha os e-mails. É tirar foto das minhas coisas, é medir embalagem. É empacotar. É ir ao correio. De novo. E de novo. E aí que eu já tou ficando conhecida no correio. Ontem o rapaz perguntou 'o que é isso, um quadro?' E eu fiquei perguntando se devia responder 'não, são Smurfs'. Smurfs muito dos valiosos, por sinal. Porque antes de colocar preço, eu pesquisei. E vi lá pra vender uma casa de Smurfs igual à minha, só que cabiam só 6. E não incluía os Smurfs. Por 250 reais. Já eu, com uma casa de família Smurf, incluindo todos os 23 Smurfs, vendi por 290. Assim que eu anunciei, vendeu. Eu sei que poderia ter anunciado por 500 reais que venderia, comparando à oferta que eu vi. Mas sabe... olhando eu praquilo... não pagaria mais que 50 reais. Enfim... acho que fiz um bom negócio (eu nem acredito que vendi Smurfs por 300 reais mais o dinheiro da postagem). E aí que eu acho mesmo que tou dando uma grana preta aos Correios, e que eles deveriam me pagar comissão. Vida de carregar pacote pra lá e pra cá. Marcar encontro no metrô. Na faculdade. Na rua, na chuva, na fazenda, ou numa casinha de sapé. O que a gente não faz pra vender alguma coisa.

Mas tá legal, viu? Além da conta gordinha, é bom saber que vão aproveitar as minhas coisas. Aquelas, que eu guardei por tanto tempo porque nunca fui pessoa de desapegar e queria uma pirâmide para ser embalsamada e levar todos os meus pertences depois que morrer. Mas não, no caixão não tem nem gavetinha e dessa vida nada se leva. Negócio então é vender. Porque dar dói mais, não tem a compensação da conta gorda depois. E já pensou que aqueles Smurfs vão virar uma linda cama box de casal pra eu dormir na diagonal? Vontade de sair pegando de volta tudo o que eu já dei até hoje pra vender. 'CRIANÇA! Me dá logo aí aquele piano meu que a minha mãe te deu, porque eu vou vender no Mercado Livre e ganhar uma grana fenomenal por ele!' 'Criança! Devolve aquela casa de Barbie e todas as outras coisas que eu te dei porque isso vale horrores lá no Mercado Livre e você nem me deu nada por eu ter te dado isso'.

É bom saber que aqueles ursinhos Puff que eu ganhei com tanto amor agora enfeitam um quarto de bebê no Cuiabá. E que aquele Timão do Rei Leão, tão amado, tá todo de cachecol lá em Porto Alegre nesse momento. E que os dados de pelúcia rosa vão pra uma namorada que 'estava doida por um desses' e serão um ato fofo de namorado para namorada como já foram um dia, antes de ficarem guardados lá por tantos anos. E que Mickey, Minnie e Bisonho... bom, esses vão passear de metrô em São Paulo mesmo, mas vão alegrar alguma festinha infantil e depois serão dados ao aniversariante, provavelmente um bebê que vai amá-los demais. E que, veja bem que supimpa, a essa hora meus 23 Smurfs estão chegando lá em João Pessoa, naquele céu azul, sol, mar e calor que faz naquela praia linda. Já recomendei que todos fossem de sunguinha pra morar naquele paraíso. E sabe? Vai ter mais um Mc Donalds em Osasco. Não de verdade, mas o meu, de briquedo, das antigas. Alguém lá vai fritar hamburgueres de mentirinha e vai ter uma infância tão cheia de criatividade como foi a minha.



PS: Para a pessoa descrente e pessimista (eu já consegui fazer, tá?) e pra mais quem quiser ver, segue aí o vídeo do bolero. Parece fácil? Até uma égua manca faria? Ôpa. Te vejo lá na fila dos descoordenados depois tá?

Postado por Renata às 11:08



Sabe que até deu vontade de ter alguma coisa pra vender? mas aí­ veio meu prof de cálculo contar as tretas que jah passou por causa do mercado livre.
Já o quesito dançar nem opino, uma vez q simplesmente desconheço!
kelly | Homepage | 09.07.09 - 9:45 pm

Smurfs, meu Deus! Se eu tivesse dinheiro sobrando eu juro que comprava, era doida por eles quando era criança. Tinha todos eles de louça, um amor. Foi quebrando um por um.

Tá virando uma comerciante de mão-cheia, hein? haha
beijos
Anna | Homepage | 09.07.09 - 5:16 pm

Renata do céu!

Entrei no seu mercado livre e vc está vendendo seu pense bem! Eu tenho um e não me desapego nem a pau! Ele e o Pre-Computer. Vou guardar para meus filhos e sobrinhos. Sei que corro um risco enooorme de acharem totalmente antigos, mas vou guardar, rs...
Bjos
Sabrina | 09.07.09 - 2:37 pm

Eu devia ter conhecido seu blog antes! Acho que todas as tralhas que eu tinha foram doadas. Se bem que, em alguns casos, doar é gratificante, mesmo que a conta no banco não fique gordinha! Mas...de qualquer modo, vou dar uma olhadinha no meu baú de bugigangas pra ver se ainda acho algo assim "de valor"! Beijos

Lilica | Homepage | 09.06.09 - 12:51 am

Eu sei a dificuldade que é dança de salão,eu já vi de perto!Que bom que teus negócios no Mercado Livre estão prosperando.Os meus afundaram ¬¬

Erica | Homepage | 09.05.09 - 2:07 am

Que bom que deu certo o negócio todo. Só fiquei curiosa para ver essa coleção dos Smurfs.

Bjitos!
*Lusinha* | Homepage | 09.04.09 - 4:53 pm

Lucrar 300 pilas em Smurfs vai contra todas as leis da economia mundial. Você é um fenômeno, já disse. E pensar que poderia ter lucrado ainda mais...

Complicado mesmo essa parada de dançar bolero. Só agora entendo a sua dificuldade INICIAL. Mais difícil ainda deve ser não cair no sono dançando esse negócio. Sei lá, viu.
Bjo pra ti.. :D
Edgar | 09.04.09 - 4:20 pm

Tai, vou catar de dar um jeito de fazer esse trem, pq se vc ganhou 290 nos smurfs, eu vou ficar rica, com as minhas traalhas!! Acho que vou vender tudo no mercado livre!!!!!

Só preciso descobrir como!
Beijos (saudades de vc - de novo, e só eu)
Jana | Homepage | 09.04.09 - 2:27 pm

Seu post sobre o mercado livre foi demais, estou ate interessada em me empenhar e conhecer melhor sobre como vender meus terecoteco pela internet.

Se tiver algumas dicas e puder me passar,a saideborracha.blogspot.com agradece!
Bjk
Drika | Homepage | 09.04.09 - 1:31 pm