segunda-feira, 30 de julho de 2012

Minha vida no Playcenter

É com muito pesar que, acabada de chegar no trabalho, 6h da manhã, leio que o Playcenter fechou ontem pra sempre.

Dezembro de 1987. Eu estava fazendo oito anos. Lembro de estar com o vestido xadrez que vovó fez pra mim. E de maria-chiquinhas, que minha mãe insistia em arrancar metade dos meus cabelos enquanto fazia. As crianças de 8 anos eram crianças naquela época. Filha única. Meus pais me levaram no Mc Donald's, que eu amava. Comi um cheeseburguer, de um Mc Lanche Feliz que ainda nem existia. Mas era o que eu aguentava comer. Big Mac pra mim era algo muito além do meu apetite. Umas 30 vezes além. 
Lembro de ter comido e pensado que o dia estava feliz. Eu tinha comido o que eu mais gostava, meu aniversário havia sido feliz. Estava pronta pra ir pra casa e começar mais um ano de vida, me preparando para a terceira série que começaria dali a um mês. Mas o carro demorou pra chegar em casa. E eu me vi em uma rua muito movimentada, em que dali mesmo eu via ao vivo a primeira montanha russa da minha vida. E eu sabia que estava no Playcenter. Que eu só via na tv. E que apesar de meus primos me contarem que iam sempre a cada quinzena, eu nunca tinha ido. Lembro até hoje do frio na barriga de emoção que senti assim que meu pai estacionou o carro.
Era meio dia e eu pensava que já tinha perdido muito tempo de vida ali fora esperando meu pai comprar os ingressos. E ele demorou bem umas duas horas na fila, debaixo de um sol escaldante. Hoje pensar nisso me dá um pouco de dó. Mas naquela época ele tinha 30 anos. Dois anos a menos do que eu tenho hoje. E dava bem pra ele ficar 2 horas na fila de um parque de diversões com um monte de adolescentes gritando em volta, vai. Ou não.
Eu, sentada com a minha mãe na calçada, pensava durante esse tempo em tudo que eu ia poder aproveitar lá dentro. Porque eu já tinha ido nesses parquinhos de shopping. No único shopping que devia ter em São Paulo naquela época. Sei lá. Enfim, eu ia às vezes. E achava extremamente monótono. Ai que carrossel monótono. Ai que brinquedinho das xícaras monótono. Eu queria era ir num brinquedo alto, que subia e descia uns 3 metros de altura, sei lá. Devia ser uma nave espacial. Sei que era alto e ninguém nunca me deixava ir. Mas um dia, com a graça divina, alguém me deixou ir. E então a minha vida mudou pra sempre. E então eu passei a amar a altura. E nem sonhava que muitos anos depois eu ia querer um apartamento no vigésimo segundo andar. Mas foi ali que meu gosto e minha mania por grandeza se formou.
A minha primeira vez no Playcenter foi um dos melhores aniversários da minha vida, senão o melhor. E graças às fotos que eu tenho, posso lembrar e ter flashes de memória de como foi o dia. Lembro do meu frio na barriga infinito de andar no teleférico, que era realmente muito, muito alto. E ia devagar. E tinha uma trava xexelenta. E eu pensava o tempo todo que ainda bem que eu era uma criança quieta, porque um capeta com certeza cairia dali. Eu lá olhando o horizonte e pensando "meu Deus, mas é impossível que ninguém nunca tenha caído daqui" e "melhor eu me segurar, porque se depender do meu pai que é meio lerdo eu tou perdida". Naquela época meu pai já tinha me afogado na praia bem umas trezentas vezes. Imagina.
Lembro de ter ficado com medo de ir no tobogã, e na verdade eu não sei se fui. Acho que sim. Ou talvez não. Não tem foto do tobogã pra comprovar. Lembro de ter ido no trem fantasma (que eu achei a decoração do lado de fora enorme e linda, e por isso insisti pra ir) com a minha mãe, e não saber direito se as caveiras que levantavam do chão ou roçavam no meu cabelo eram de verdade ou não. Eu só lembro que tive muito-muito-muito medo. E a minha mãe me dizia pra fechar os olhos. E eu não entendia como assim eu ia no negócio e ia fechar os olhos. Qual a graça de ir com os olhos fechados? Eu tava mesmo morrendo de medo. E lembro da minha mãe dizendo constantemente "é de mentirinha, é de mentirinha. AAAAAAHHHH. É de mentirinha." Ela tinha 27 anos. 
E o Super Jet. Ah, o Super Jet. Aquele brinquedo que tinha a maior fila. Devia ser a primeira montanha russa do Brasil. E eu queria ir. Mas depois do medo que passei no trem fantasma, meus pais conseguiram me segurar pra não querer ir lá. Em compensação eu fui no Chapéu Mexicano. Era literalmente meio que um chapéu, com carrinhos em volta. Ou aviõezinhos, sei lá. Ou chapeuzinhos. Sei que era um negócio grande e que rodava. Pra cima e pra baixo, pra cima e pra baixo. E rodava. E era rápido. E hoje eu penso que, se no meu lugar, estivesse o irmão que naquela época eu nem sonhava que ia ter, ele tinha vomitado geral na nação bem naquele estilo O Pestinha. Mas eu não. Eu nunca fui de passar mal em brinquedo de parque de diversão. Eu achei foi bem supimpa. E gargalhei todo o percurso, porque sentia frio na barriga. Uma das melhores sensações da minha vida naquela época. Minha mãe lá, do meu lado, com medo. E eu gargalhando. 
Eu fui no elefantinho. Era meio que um brinquedo que subia e descia também, porém bem mais retardado. Pra criança mesmo. Ia devagar. Monótono. Ai que sono. Mas eu lembro que quando eu fui entrar no brinquedo, que tinha vários Dumbos que a gente sentava de duplinha, na hora que eu fui subir tinha um imbecil de um menino no caminho. Que não me dava passagem pra subir. Meninos, sempre retardados. Ele não queria sentar do outro lado porque, sei lá, onde ele estava devia ter um volante. E a criatura empacou ali bem no meu caminho e não saiu. E eu lembro da minha mãe dizendo então pra eu pular e sentar do lado dele. Eu fui. E fiz questão de sentar nele antes, pisar no pé dele, enfiar o cotovelo na cara dele. E da minha mãe reclamando que eu estava de saia, que isso não eram modos, que eu passei a bunda na cara dele, que isso não pode, que ele é menino, que eu tinha que tomar cuidado. Ah, pro meio da beirada. Criatura lerda, pelo menos eu me vinguei. Até parece que eu tava preocupada em mostrar a calcinha. Eu tava era querendo mostrar pra criatura o quanto ele estava empacando o meu caminho. Ah, como eu já era eu aos 8 anos de vida.
Achei o elefantinho a coisa mais monótona do mundo todo. Mas da Montanha Encantada eu gostei. Porque tinha a emoção de ser na água. E eu estava mais preocupada se o barquinho ia afundar com a gente em cima, do que com os bonequinhos mexendo em si. Mas só de lembrar desse dia eu até consigo ouvir a musiquinha: "Na montanha. Encantada. Você. Vai ser. Feliz!"
Na fila da Montanha Encantada eu lembro de ter passado bem umas duas horas. E da minha mãe, arrumando o meu cabelo, todo em um rabo de cavalo. Porque eu estava suada. E lembro do fato porque ela tirou uma foto minha nesse momento, com a cara brilhando, o pouco cabelo repuxado pra trás. Minhas olheiras características, minha testa avantajada. Mas com um dos sorrisos mais felizes da minha vida.
Parece que eu fui na Maria Fumaça. Mas não lembro direito. Não lembro se não deu a hora de ir. Não lembro se a gente perdeu o último horário. Não lembro. Só lembro que ela passava por um lugar arborizado. E que o Playcenter era muito, muito grande. E que eu achava cansativo ir de um lado a outro, não que reclamasse de cansaço, mas que eu estava sempre olhando em volta e sempre era diferente. Demorava horas pra irmos de um lado a outro do parque. Também não sei se eu fui no Carrossel não. Esses brinquedos monótonos não ficaram na memória.
Lembro que a gente foi num show. Que eu não sabia que era um show, pra mim era um evento normal. Que tinha uma piscina enorme no meio, e arquibancadas em toda a volta. E a gente chegou e meus pais disseram "nossa, que supimpa, tem lugar na frente!" e a gente sentou. Eu olhava em volta e via as pessoas sentadas bem lá mais pra trás. E eu achei estranho. Sei lá, vai que aquele lugar que meus pais resolveram sentar era mais caro. Eu fiquei sentada ali, mas com o pé meio atrás. O show começou e eram baleias, golfinhos e eu senti toda a emoção da vida de ver orcas dançando e fazendo malabarismos. Coisa mais linda. Mãe, quero uma orca pra levar pra casa. Mas minha filha, ela é a baleia assassina! É nada mãe, olha que bonitinha. Olha que barriga branquinha, ela até vira com a barriga pra cima para o moço fazer carinho! E no primeiro pulo que a orca deu na água, descobrimos porque é que tinha lugar na frente na arquibancada. E porque é que todo mundo estava lá atrás. Nós saímos ensopados. E eu achei foi bem legal, já que na Montanha Encantada eu tinha visto que todo mundo que ia saía ensopado e eu não saí. Mas a minha mãe não gostou nada, e começou naquela neura de tem que secar ó meu deus vai ficar resfriada e com dor de garganta. Enfim, neurose infinita da minha mãe naquela época.
Lembro da noite chegando. Lembro de entrarmos em um lugar com lona e cheio de gente. Lembro de meu pai me colocar nos ombros, pra eu ver melhor. Lembro da mulher que fez alguma coisa no palco. Lembro de ter visto a galera. Lembro de terem prendido ela na jaula. Lembro de ter acabado a luz. E lembro de ter saído a Monga. E foi um dos maiores desesperos da minha vida. Lembro que eu fiquei MESMO com um medo infinito. Lembro de ter gritado e chorado e desesperado e esperneado. Eu tava mesmo com muito medo. E meu pai me pegava e falava que era de mentira, que a mulher tinha vestido roupa de macaco, que era só um show e que era pra eu parar de frescura. Mas não teve jeito. O meu susto foi tão grande que tiveram que me tirar dali. Onde já se viu. Apaga a luz e de repente tinha um macaco rugindo e todo mundo gritava desesperadamente. Desculpa, isso não era pra mim. Me bota na montanha russa, please.

Ah, que dia inesquecível. 

Eu voltaria para o Playcenter em só em 1995, depois de milhares de excursões da escola que a minha mãe não me deixaria ir. Eu até já sabia da resposta quando ia perguntar, mas me surpreendi quando foi a do primeiro colegial. "Esse ano eu vou deixar, você já tem 15 anos, se comporte, olhe lá, estou te dando um voto de confiança, não apronte, não tome gelado, leve a blusa, vê se não vai se machucar pra me dar trabalho depois, se você tomar sorvete e voltar com dor de garganta eu te arrebento". Eu nem dormi na noite anterior, de ansiedade. Quinze anos. E naquela época eu era só uma adolescente, recém aposentado minhas bonecas, achando esse negócio de TER QUE gostar de um menino uma merda. E pensar que hoje as meninas de 15 anos já são experts em sexo. Naquela época ainda demoraria muito pra existir máquinas de foto digitais, então não tenho foto pra lembrar dos pequenos momentos. Porque as máquinas de foto eram caras, porque os pais não davam esses negócios nas nossas mãos. Mas lembro de ter ido no ônibus, na maior bagunça, de ter ficado o tempo todo de joelhos no banco conversando com as amigas atrás no maior clima "olha como eu sou radical e descolada, ando no banco do ônibus de joelhos e virada pra trás". Não, naquele tempo o cinto de segurança não era obrigatório. Lembro de, agora sim, ter ido no Super Jet. E no Tornado, que cabia seis pessoas e era bem mais rápido. E no Barco Viking, no meio, segurando muito e morrendo de medo do negócio dar um looping. E no La Bamba, que era um brinquedo novo e uma das maiores sensações do parque na época. Lembro que o pessoal não se segurava direito e depois ficava pulando no meio do círculo. E no Tobogã, que agora sim eu lembro de ter ido. Nossa, como era alto. Nossa, que frio na barriga. Lembro de ficar na fila de sei lá qual brinquedo, mas naquela época tocava dance music nas filas. Uma música em cada fila diferente. Era o auge do La Bouche, e eu amava. Porque o menino que eu gostava era promotor (ainda não existia essa coisa de "promoter") do Resumo da Ópera. Eu amei. Eu tomei sorvete. Eu fui na Montanha Encantada e saí ensopada porque tudo o que a gente fazia era jogar água uns nos outros. E eu passei o resto do tempo no parque e no sol rezando pra minha roupa secar antes que eu chegasse em casa. E, quando secou, nós fomos no Splash. E eu saí mais ensopada ainda. E, quando cheguei em casa, roupa molhada, minha mãe comentou e eu falei "não mãe, tou seca, são seus olhos". No ano seguinte teve de novo a excursão para o Playcenter, mas dessa vez minha mãe não me deixou ir. "Você já foi ano passado, pode botar esse rabinho entre as pernas e estudar, ano que vem você tem vestibular!". Mas não teve problema não. Porque todo mundo foi, mas eu não. E eu não estudei. Fiz coisa melhor. 

Playcenter de novo pra mim foi de novo com os pais. Porque eu pedi um aniversário de 18 anos no Playcenter. Não, eu não queria na balada (e não reclamem, porque meu aniversário de 20 anos foi no Parque da Mônica). Mas, no aniversário de 18 anos, eu quis um plus: os dois tios, com idades próximas à minha. 
Eu nem lembro muito dos brinquedos que fomos dessa vez, mas lembro que foi a minha primeira vez no Evolution. Que eu fiz tanta força, mas tanta força pra me segurar SENTADA na cadeira, que passei depois 1 mês com dor nos braços. E lembro que foi um dos dias mais aterrorizantes, porém mais engraçados da minha vida. Foi o dia que eu fui no Castelo dos Horrores.
Meus pais, meu irmão com 7 anos. O tio com 15, a tia e eu com 18. A construção do Castelo dos Horrores era linda, eu sempre achei. E eu não me lembro muito bem como foi que decidimos entrar lá. Só lembro da ordem da fila. Meu pai ia na frente. Pai de família. Corajoso. Homem. Meu irmão, logo atrás, porque ia entre ele e minha mãe, já que perder uma criança de 7 anos no escuro não devia ser bacana. O tio, atrás da minha mãe. Eu em seguida, porque quis ficar no meio da fila. Eu não queria de forma nenhuma ser a última. A tia atrás de mim. Pra eu ficar bem protegida por trás. E um casal desconhecido atrás da gente, pra garantir que nenhum de nós fosse o último da fila. A entrada do Castelo era aquela coisa emocionante. O homem do cajado. Que gritava, mandava todo mundo encostar na parede e parar de respirar. Eu, como o via, tive um leve frio na barriga, mas não cheguei a ficar com medo. A tia não foi tão feliz. Amarelou. Logo de cara. Disse que não queria mais ir. O cara do cajado: "fique aqui então, vou te botar no caixãozinho lá atrás". E ela ficou. E meu pai preocupado. E minha mãe: deixa, essa já morreu, vamos cuidar dos vivos. E logo em seguida eu ia descobrir que esse era realmente o espírito dentro do Castelo. O espírito de sobrevivência. Do salve-se quem puder. 
Eu tinha perdido uma das pessoas que me seguravam pela traseira, mas ainda tinha um casal desconhecido atrás de mim. Meu pai, na frente, andando bem devagar. "Ooolha, que bonitinho". "Ooolha isso aqui, que legal". "Ooolha que vampiro, que simpático." "Olha a moça, tá dormindo!". Meu pai, como ia na frente, maior breu, ia devagar pra não cair. Ia devagar porque estava achando tudo lindo, porque ele era o primeiro e, quando passava, os monstros estavam todos imóveis. E tinha uma criança. Conclusão: os monstros só levantavam e começavam a correr atrás da gente quando estava mais ou menos na metade da fila. Só levantavam e começavam a correr atrás da gente quando EU passava. Foi lindo. Meu pai lá no "ooolha o degrauzinho" e eu correndo feito desesperada lá atrás. Porque eu, que tava crente que não era a última, uma hora olhei pra trás e o casal já tava lá na frente. Na frente do meu pai ainda. Porque eles queriam correr. E eu, olhando pra trás, vi todos os monstros atrás de mim de uma vez. E meu pai lá na frente "caaalma, vai acordar a moça". Mano. Eu nunca vou esquecer daquela sensação. Eu ia morrer. Eu tinha atrás de mim todo um cemitério, era vampiro, era menina do exorcista, era lobisomem, era tanto monstro que eu perdi a conta. E eu não tinha pra onde correr. 
Se eu tivesse que desmaiar nessa vida, tinha sido ali. 
Sei que uma hora eu tava olhando pra frente, rezando pra acabar logo o fim da tormenta, de repente todo mundo andando em frente e meu tio resolveu virar à esquerda. Eu vi. Não falei nada. Segui em frente e pensei "mais um que se vai". Depois ele nos contou que acabou batendo numa velha que saiu com a vassoura atrás dele, mas mais um pouco lá pra frente ele conseguiu nos encontrar. Bem no Jason e sua serra elétrica. E o tio dessa vez perdeu o tênis. E eu lembro que todo mundo saiu do castelo, ficamos só eu e o tio lá trocando ideia com o Jason e sua serra elétrica. Ele com a serra na gente ZZZZZZZZZZZ e a gente "mas moço, perdemos um tênis!!!".
Passado tanto medo e tanto susto, até hoje, quando a gente comenta daquele dia, é só risada. Foi mesmo um aniversário inesquecível.
Eu voltaria ao Playcenter e, mais especificamente, ao Castelo dos Horrores em 2002. Desta vez, com o namorado da época e o primo dele, dentro do Castelo foi emocionante tanto quanto e eu trocaria ideia novamente com o Jason e sua serra elétrica. Porque ali eu caí. E o namorado, tão me amava, tão era apaixonado por mim... que saiu correndo castelo afora e nem quis saber se eu tinha morrido pelo caminho. O primo, atrás de mim (porque apesar dos 22 anos eu continuei querendo ir protegida na frente e atrás - e o fui falando na orelha do namorado, primeiro da fila, pra andar logo porque atrás vinha gente), tentava me levantar, sem sucesso, porque ele me puxava por trás e não me deixava apoio pra tentar levantar. Ele nem me levantava, nem me deixava levantar sozinha. E ainda tirava a minha roupa, porque na tentativa de me levantar foi subindo a minha blusa. Conclusão: eu, caída, pelada. E o Jason com a serra elétrica na minha orelha, que eu até senti o ventinho. Esse Jason deve mesmo ter tido muitas histórias pra contar em todos esses anos de Playcenter. Este ano eu quis ir porque apesar de ter quase morrido de medo algumas vezes na Hora do Horror do Hopi Hari, eu nunca tinha ido nas Noites do Terror do Playcenter. E achei infinitamente menos elaborado. Sem tema específico. Meio bagunçado. E com as maquiagens dos monstros mal feitas. 

Depois dessa vez eu devo ter ido mais umas duas vezes no Playcenter, acho que ambas com as colegas de trabalho. Uma delas, de ônibus e metrô. E dessa vez nós fomos, porque as Noites do Terror tiveram um tema diferente, que eu nem lembro qual. Mas lembro de ter ido naquele brinquedo maior, que também molha as pessoas. E naquele outro, da torre. Mas, nessa época, eu já tinha ido muitas e muitas vezes no Hopi Hari. Tantas, a ponto de enjoar. Eu tive carteirinha anual do parque bem por uns 3 anos seguidos. E matei toda a minha vontade de parques de diversão brasileiros. 

Das últimas vezes que eu fui no Playcenter foi triste. Foi decepcionante. Porque eu olhava tudo de cima e sentia a diferença de quando eu era pequena. De quanto o parque diminuiu. De quanto foi depredado. De quanto o nível do público caiu. De quanto era perigoso se machucar por falta de manutenção. 

Playcenter, foi grandioso assistir e acompanhar seu crescimento e auge. Mas foi igualmente triste e decepcionante a sua decadência e fim. 

Sentirei saudades. 



quinta-feira, 5 de julho de 2012

A latinha azul de Pandora

Não tenho tempo pra mais nada, e é por isso que eu não venho mais aqui. Não que isso seja uma reclamação, porque não é. Eu sempre quis não ter tempo pra mais nada. Eu sempre quis me envolver em algo que eu gostasse, que ocupasse meus dias e que tivesse a finalidade de me fazer crescer como profissional e ser humano. Sempre quis ser uma pessoa ocupada na maior parte do tempo, para que meus momentos com os amigos fossem aproveitados ao máximo por serem únicos. Sempre quis ter muita coisa pra contar. Sempre quis conhecer lugares. Não só esse negócio de viajar e tal, mas também esses lugares que a gente pode conhecer na nossa rua. Aquela portinha aberta ali, que você passa todos os dias na frente, mas que nunca parou pra reparar do que se trata. Eu sempre quis almoçar cada dia em um lugar. Saber que aqui eu posso almoçar na balada, que ali mais à frente tem o japonês dos doces e, mais adiante, um dos melhores brigadeiros que eu já comi na vida. Sempre quis conhecer gente nova. Não só isso, mas gente nova que sabe conversar. Gente inteligente, gente crítica, gente que ensina e com as quais se aprende. Gente diferente. Gente que me faz rir junto, gente que me faz chorar junto, gente que chega 7 horas da manhã com pão e mortadela e atiça as minhas lombrigas a ponto de eu ter que ir lá e comprar um pão com mortadela pra mim. Sempre quis trabalhar bastante. Sempre quis aprender coisas novas e receber presente de maior produtividade logo no primeiro mês. E no segundo. E no terceiro. E no quarto. Sempre quis ganhar presente e parabéns pelo trabalho a ponto de não ser mais novidade. A ponto de ler o e-mail e pensar "ah tá, já sei". Sempre quis ser melhor que a melhor pessoa do setor. Sempre quis ver a vida acontecer. E participar dela. Sempre quis minha casa, minha vida, minhas pessoas. Sentir que eu tenho um porquê de existir. Me sentir útil. Me sentir viva. Me sentir melhor. Sempre quis não ver o tempo passar. Sempre quis pular de um final de semana para o outro, porque durante a semana foi tão corrido, mas saber que se foi corrido é porque foi bom. Porque tempo ruim demora a passar. O tempo aqui passa rápido. Do trânsito, do metrô, do caminhar por duas quadras, do passar pela catraca, da minha mesa, do chocolate da máquina, do banheiro, do coleguismo, das histórias, das risadas, do trabalho divertido, das outras risadas, do almoço, do resto das risadas, do elevador, da catraca, do caminhar por duas quadras, do metrô, do trânsito. E da hora que eu abro a porta. A porta anda rangendo, eu preciso colocar óleo. Mas a hora que eu abro e que ela faz nhééééé sai a cabecinha da criatura mais fofucha do mundo todo. Pretinha. Gordinha. Filhinha. Pandorinha sai no hall todos os dias, a fim de fazer festinha na hora que eu chego. Quem foi que disse que gatos não fazem festinha? Meu bebê faz. No caminhar elegante e rebolativo, mostra em meio ao rabo curvilíneo e dobradinho na ponta, a saudade que sentiu enquanto eu estive fora. Ronrona assim que eu abro a porta, como se por trás dela  estivesse parada esperando durante todo o dia. Se joga, desajeitada, pelo chão, com a barriga pra cima, como se dissesse "mamãe, que saudades que eu tive". Pandora, meu bebê. Que faz, entre julho/agosto, um ano de vida. Não sei ao certo quando, mas sei que da próxima vez que eu for comprar ração pra ela vai ter que ser a que está escrito "adulto" no pacote. Minha cheirosa. Vai fazer um ano e eu não me lembro de ter reparado se algum dia ela ficou diferente por ter entrado no cio. Talvez não tenha entrado ainda. Ou talvez tenha, mas por ser tão linda, não teve todas aquelas reações que todo mundo recrimina quando gatas entram no cio. Um ano, Pandora. E parece que foi ontem. Que eu levei aquele gatinho cinza pra casa, com medo de morrer de rinite, e passei uma semana sem conseguir dormir porque ela pulava na minha cabeça. Hoje, mesmo gata de responsa, totalmente preta e com cara de séria, ela ainda pula na minha cabeça durante a noite se eu deixar. E enfia os bigodes dentro do meu nariz. E morde meus dedinhos do pé que por acaso saiam do edredon durante a noite. E então eu sento no sofá e a assisto subir no meu colo. Olhar bem dentro do meu olho. Ronronado que a minha intuição me diz que significa algo do tipo "sou feliz". E então ela deita, com as patinhas pra frente, pra ganhar carinho. Põe a cabeça no meu peito como se, realmente, fosse um bebê. E, apesar da ração de adulto, ela é. Um gatinho bebê. E é bem aí, nesse momento, que o meu dia pode ter sido corrido, que eu posso ter pego trânsito, que eu desejei que o motorista do caminhão morresse, que o infeliz no metrô tenha empacado na catraca na minha frente, que tenha chovido e que eu tenha molhado o pé no esgoto, que eu esteja cansada e com calor e precisando dormir cedo pra acordar 4 horas da manhã no dia seguinte. É nesse momento em que eu estou com Pandora no meu colo, ronronando e fechando os olhinhos de satisfação pelo carinho da mamãe que eu penso: Pandora, o gatinho que Deus colocou na minha porta. A caixa dela é azul. 



Ah, o título era "latinha azul", né? Não, mas de vira-lata o meu bebê não tem nada. 

E pô, não tinha foto na lata azul. Serve na sacola amarela?