segunda-feira, 27 de junho de 2011

RIP Mc Donald's

Eu tinha uns 5, 6 anos. Meu avô trabalhava de segurança no primeiro Mc Donalds de São Paulo (acho), o da Henrique Shaumman. O Mc fechava meia noite e o meu avô chegava em casa pra lá desse horário, trazendo saquinhos de lanche pra nós (eu, tia e tio). Lanche esse que só comeríamos no dia seguinte, muitas vezes no café da manhã mesmo. Mesmo aquele cheeseburguer murcho e aquelas batatas esturricadas, nós comíamos de lamber os dedos. Eu, criança que quase não comia, inclusive. Era uma felicidade saber que às vezes teríamos um lanche do Mc Donald's pra comer e que, às vezes, vinham até com brinde! Naquela época (nos idos de 1985) ainda não existia Mc Lanche Feliz mas mesmo assim já havia uma prévia de lembranças e brinquedos para crianças. Claro que nada muito elaborado, nada muito caro, na maioria das vezes tinha era um estojo de plástico pra montar e lápis e borrachas com emblemas do Mc. Mesmo assim, era feliz.

Mc Donalds se instalou no Brasil no ano que eu nasci, e confesso que cresci com ele. Mc Donalds esteve ali presente na minha infância, no saquinho de papel que meu avô trazia de madrugada. Mais tarde, Mc Donalds pra mim era sinônimo de festa. Quando me perguntavam o que eu queria fazer no meu aniversário, eu dizia sem hesitar: "comer no Mc Donalds!". Eu tenho várias fotos comendo, feliz, um cheeseburguer que pra mim dava e enchia como se fosse um Big Mac. Cheeseburguer tem pra mim gosto de infância. Até hoje.

O tempo passou, Mc esteve presente nas minhas idas ao shopping e ao cinema com as amigas, nas minhas datas de prova de vestibular, nas minhas muitas refeições com namorados. Mc era sinônimo de felicidade. Aquilo que a gente vai comer antes de fazer aquela coisa chata, pra pelo menos poder fazer aquela coisa chata de maneira mais feliz. Mc era aquilo que a gente comia depois de fazer uma coisa legal. Pra fechar o evento, o encontro, o dia, com chave de ouro.

Em todos esses 31 anos (meu e do Mc Donalds em SP) nessa indústria vital, comigo tendo experimentado lanches deles em quase todos os pontos da zona sul e oeste de São Paulo e podendo dizer pra vocês que, apesar de ser uma franquia e que deveria ter tudo padronizado - SIM: os lanches têm gostos diferentes dependendo dos lugares que você come. E te digo sem dúvida alguma: o meu lanche preferido, de todos, sempre foi o do Mc da Henrique Shaumman. O lanche lá tinha gosto de tardes preguiçosas de sol, sabe? A Coca era sempre perfeita, na temperatura perfeita, com o gás perfeito. E a batata era sempre na textura que deveria ser, com o sal que deveria ter. Sanduíche com gosto de infância. De brincadeiras no quintal. De carinho.

Ir ao Mc da Henrique Shaumman foi sempre um evento pra mim. Até esses dias, saber que eu ia passar em algum lugar lá pela Paulista ou Centro, podia ter inúmeros Mc Donalds por ali, mas eu sempre ia querer passar no Mc da Henrique Shaumman na volta. Sentar naqueles sofazinhos com cara de almofadados e com aquela estampa que estava ali há 30 anos. Aquela decoração sempre cheia de desenhos em cima da cozinha, aquela escada que dividia os dois andares de mesas e eu, SEMPRE escolhia o andar de cima. E sempre do lado da esquina da rua, na janela. Sentar ali e poder comer vendo o entardecer da Rebouças com a Av. Brasil. Paisagem bonita, um dos meus lugares preferidos de São Paulo.


Sábado retrasado eu fui novamente, depois de algum tempo, no Mc Donalds da Henrique Shaumman. E me deparei com um restaurante totalmente diferente. De arquitetura nova, eles descaracterizaram toda a minha lanchonete de infância. Desde o telhadinho, passando pela troca dos sofás para cadeiras desconfortáveis e pilares no meio do caminho, até o cúmulo de fechar a linda vista das janelas para o cruzamento da Av. Brasil. E então eu fiquei chocada. Entrei em um lugar diferente, que não era aquele que fez parte da minha vida em tantos momentos. Era um lugar estranho. Não era mais parte de mim.

Aos 31 anos e muitos lanches de Mc Donalds de vida, devo dizer que faz alguns meses já que passo mal depois de comer lanche lá. Meu estômago não está mais curtindo. Mesmo assim, até sábado retrasado, quando havia a hipótese de comer no Mc da Henrique Shaumman, eu ia. Teimosa. Passava mal depois, mas ia. Só pra lembrar um pouquinho da minha infância. Daquelas batatinhas esturricadas que eu amava comer. Sentadinha ali, no sofá antigo.

Venho por meio deste dizer que a modernidade matou um pedaço da minha infância. E que, agora, nada mais me anima a comer nesse lugar. Porque se o meu problema é apego ao passado, ao telhadinho de casa de boneca e ao sofá pra sentar....... agora estarei no Outback. Até eles resolverem tirar os jacarés e cangurus das paredes, pelo menos. E o sabonete cheiroso do banheiro, claro.


R.I.P. Mc Donald's da minha infância. Adeus.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Sobre a minha vibe

Eu sempre fui na minha. Quieta, por incrível que pareça (porque eu sou mulher). Pode acontecer de ter uma rodinha conversando ali na academia sobre a Paula Fernandes que entrou no fim do rodeio depois do Vítor e Léo, que a galera tava toda no esquema e aí chegou a fulana 4 horas da manhã e sentou no balanço. E todo mundo foi embora. Como eu ia dizendo, pode acontecer de ter uma rodinha perto de mim conversando sobre uma coisa assim, banal. São raras as vezes que eu vou pegar a voz da palavra e dizer alguma coisa. Ah, sei lá. Prefiro evitar a fadiga.

Eu fico quieta na minha se não estou a fim de falar. Com as amigas eu até me expresso mais, mas sempre fui mais do tipo que ouve muito e fala pouco. Meu jeito. Eu sempre sei da vida de todo mundo porque as pessoas se aproveitam do fato de eu falar pouco e desatam a rezar o terço do meu lado. SEMPRE. Quando eu vou a lugares do tipo salão de cabeleireira, que eu sei que o negócio é falar pra se enturmar, eu sempre levo alguém comigo que goste de falar. Porque daí a pessoa se enturma lá, fala pelos cotovelos e as pessoas se esquecem um pouco de mim. Eu acho um pé no saco ter que ficar falando sobre assuntos que eu não quero, que quase sempre, são sobre o marido da fulana que pegou a ciclana ou o desempenho sexual do beltrano que deixa a desejar, mas que o fulano, namorado da beltrana, dá bem mais no couro. Ai, canseira. Já quando eu faço festas, já levanto de manhã, boto a minha máscara da simpatia e vou receber os convidados. Mas eu me preparo pra isso. Tipo atleta que se prepara para maratona. Eu sei que se estou dando uma festa é porque preciso ser sociável naquele dia. E então eu desempenho esse papel da melhor maneira possível e todo mundo sai da festa dizendo "Nossa, que moça amor. Eu ouvi alguém dizer que ela era meio mau humorada, mas mentira! Que intriga da oposição, ela é ótima!" Enfim, eu consigo. Consigo ser linda, simpática e conversadeira, se eu quiser. Depois eu vou ter uma leve dor de garganta, pela falta de costume, mas eu consigo.................... só que isso não sou eu.

Eu prefiro só ouvir. Pouca gente sabe das minhas opiniões sobre os assuntos. Na verdade os que me conhecem bem até devem saber, porque apesar de quieta eu sou meio transparente. Fica meio que escrito na minha testa o que eu penso, por mais que queira disfarçar. Mas eu não tenho culpa do fato da sinceridade me dominar, e ao menos me reservo o direito de ser quieta. Ninguém sabe da minha vida. Do que eu ando fazendo. Dos meus relacionamentos, dos meus pensamentos íntimos. Claro que aquela coisa do levantei-trabalhei-fiz mercado-limpei a casa, todo mundo sabe. Mesmo porque eu tenho que ter argumentos e coisas pra contar nas poucas vezes que estou querendo compartilhar da minha vida com alguém. Mesmo assim, são coisas superficiais.

Hoje, e só hoje, tem uma pessoa que tá sabendo o que tá rolando. Só uma. Tá sabendo o que eu estou pensando, tá sabendo o que eu estou sentindo. E parece estar comigo. Parece que eu não estou sozinha. De um lugar que eu não esperava, de repente saiu uma pessoa que parece me entender. Talvez eu me arrependa disso mais pra frente, mas talvez não. Hoje tem uma pessoa na minha vibe. E, por enquanto, está sendo bom.


Achei no Google: VIBE = Vibrações Inteligentes Beneficiando a Existência. Pegou?

terça-feira, 21 de junho de 2011

Voltem para suas casas!

Então que São Paulo é, aparentemente, o point. Aparentemente espalham por aí que aqui tudo tem. Que a culinária é esplêndida e que a noite é supimpa. Que tudo o que você quiser fazer, aqui você pode. Que aqui não é Amsterdã, mas que se você for esperto, consegue um sexo explícito ali no Parque do Ibirapuera mesmo. Que aqui não é Itália, mas a nossa pizza é melhor (eu ainda preciso provar a italiana, mas concordo plenamente que a paulistana é melhor mesmo antes disso). Que aqui não é Portugal mas você consegue na boa um bom vinho do porto pra acompanhar aquele bacalhau da Noruega supimpa que você vai comprar na boa ali no Mercado Municipal. Tem tudo em São Paulo. São Paulo é comparada às maiores metrópoles do mundo, assim-assim com Nova Iorque e Tóquio. Pois bem.

Se você passou da idade da balada (porque o público é de 18 anos e eu, sinto muito, não convivo no mesmo ambiente), não bebe até cair (público frequente dos bares e eu, sinto muito, acho mico), está de saco cheio de ir ao shopping (eu me recuso a frequentá-los em quartas, sextas, sábados e domingos) e não curte um samba (tá na moda, toca em todo lugar, mas desculpe, eu tenho ouvido bom) fica meio restrito sempre às mesmas opções. Então um belo dia você decide inovar e, ôpa que é junho, resolve ir a uma quermesse. Quermesse, festa de igreja. Quermesse, meio que um programa de índio. Quermesse, que você vai só pra comer e mesmo assim paga 3 reais por um mísero pinhão sendo que com esse valor você pode comprar mais que um quilo deles em um sacolão qualquer. Quermesse, cheia de comidas de índio, nada muito chique, nada muito bistrô. Quermesse, nem cerveja tem. Quermesse, cheia de crianças vestidas à caráter e quando você passa da idade, nem graça tem.

Pois bem. Eu gosto de quermesses. Acho diferente. Pra mim é diferente. Pra mim, que nasci em São Paulo, no coração dessa cidade cinza e cheia de poluição que tinge há mais de 30 anos meus lindos pulmões de cinza. Pra mim é diferente. Pra mim é um passeio à parte, com aproveitamento do ar livre, coisa tão rara nesse lugar que eu moro desde que nasci. Quermesse, uma coisa tão diferente na cidade, que tive que procurar na internet onde tinha uma. E mesmo assim só encontrei a que eu já havia ido no ano passado e já a conhecia.

Sábado passado eu fui à quermesse da Igreja do Calvário, em Pinheiros. Ou melhor: os planos eram ir até lá. E nós fomos. Fomos, porque quando a gente viu o trânsito no meio do caminho, nem sonhou que era pra entrar em uma mísera quermesse. Fomos porque a gente achou que o trânsito era um acidente qualquer, uma entrada de balada qualquer, um imbecil fazendo uma conversão proibida qualquer. Fomos. E encontramos TODOS os estacionamentos nas ruas ao redor lotados. Fomos e demos de cara com uma fila pra entrar que dobrava o quarteirão. Entre nós, só rolou uma exclamação: "é show de quem?". De ninguém, caros leitores. NINGUÉM. Tem sim uma bandinha lá que toca ao vivo na quermesse, mas eu digo pra vocês que nada justifica aquele povaréu. Eu juro que pra quem olhava de fora parecia show tipo do U2. Ou aquelas filas que as lojas têm em dias de liquidação relâmpago ou de agarre o que puder. Ou fila de emprego. E era aí que eu queria chegar.

A quermesse (aquele programa de índio para muitos) estava cheia porque o shopping já estava lotado. Porque as baladas já estavam entupidas e os bares com gente saltando pelo ladrão. E eu aposto que nas principais ruas pra chegar nesses lugares, estava tudo congestionado também, assim como estava um trânsito do além pra chegar em uma simples quermesse. E eu posso garantir pra vocês que os restaurantes também estavam cheios. E aquele Mc Donalds que eu fui também estava um absurdo de lotado. E com certeza todos os ingressos de cinemas e de teatro também estavam esgotados, e eu como sei que isso é normal aqui na minha cidade estou querendo comprar agora um ingresso pra ver um espetáculo no Teatro Municipal que vai rolar só em dezembro. Porque aqui é assim. E daí eu te pergunto:

Por que INFERNOS a minha cidade está lotada assim? Quiquié que aqui tem mais gente que nos outros lugares? Vai me dizer que a poluição faz a galera ser mais fértil e sai todo mundo por aí tendo filhos em penca que depois saem pelas ruas no frio de 5º C com mini-short e vestidos que mostram o estômago quando se espirra, porque São Paulo está superpopulosa e qualquer jeito de chamar a atenção é válido? Não. Para o seu governo, aqui todo mundo trabalha muito. E que pode até ser que tenha um ou outro casal que supera as expectativas tendo três filhos, mas São Paulo é cheia de casais sem filhos e pessoas solteiras que não têm tempo de trabalhar o dia todo, passar 4 horas no trânsito e ainda cuidar de filhos. Então, ómeudeusdocéu, que p#rra é essa que anda acontecendo?


Imagina você lá, caboclo, vida no campo, falta de água, coisa difícil, meia dúzia de filhos pra criar, Josicleiton não entrou na escola porque não tem vaga e Jovelmira deixou de estudar pra cortar cana. Um belo dia chega luz elétrica na casa do patrão e enquanto Josivaldo almoça o arroz e feijão sofrido, assiste que em Sum Paulo tem a festa de Nossa Senhora de Achiropita. Então de repente começa o jornal e Josivaldo, já nem querendo mais arroz e feijão, entende que aqui há muitas vagas na construção civil e pouca mão de obra qualificada. Então ele pensa que empilhar tijolo deve ser igual a cuidar ali da fazenda, coisa que talvez ele seja o melhor na mão de obra, mas a insatisfação toma conta da pessoa. Ah, vontade de ver os prédios. Ô que em Sum Paulo tem salsicha. Josivaldo então decide que a vida vai melhorar, que os empregos vão pipocar, que ele vai encher a cara de picanha e que vai ficar rico. Aqui, na minha cidade.

A quermesse do Calvário estava cheia de Josivaldos. E Josilaines. Pra eles, uma festa comum, já que a maioria dos migrantes deve vir de lugares onde as festas ao ar livre são muito mais frequentes que nos lugares fechados. Josivaldo paga 5 reais num milho verde que comeria de graça de sua horta lá na sua cidade natal. Josilaine senta atrás de mim no cinema ainda admirada com a tela enorme e comemorando aquele momento tão à vontade que acaba lendo a legenda em voz alta para sua amiga, Jocilmara. Mas a aparente prosperidade dos migrantes nem sempre é a real: Jocilmara ajuda no salão de cabeleireiro da esquina e Josivaldo vende pipoca no farol. Porque apesar de, quem sabe, talvez, eles terem qualificação profissional para ocupar bons cargos nas empresas de São Paulo, ainda assim elas (as empresas) preferem pessoas mais jovens e que estudem em certas universidades (paulistanas, claro), inacessíveis por este ou aquele motivo. E então a fila de emprego em qualquer vaga de pedreiro pra qualquer construção de qualquer estádio de qualquer time por aí...... é um evento cujas pessoas se organizam a ponto de dobrar vários quarteirões.

E gente, peloamordedeus. Alguém precisa ir fazer palestra nas cidades do interior e nos outros estados pra dizer que não. Aqui não tá sobrando emprego. Que mal tem emprego pra nós, que nascemos aqui. E que não, aqui ninguém fica rico. E que a pizza pode até ser a melhor do mundo, mas se você tiver 30 reais pra pagar num mero brotinho de 4 queijos. Do contrário, pizza de 10 reais dá pra fazer em qualquer lugar do mundo com qualquer tomate e mussarela da mais barata por aí. Alguém precisa dizer pra esse pessoal que não, aqui não tem mais lugar pra morar. Que não tem mais onde construir casas, que um barraco na favela tá custando pra lá de 5 mil reais e que debaixo da ponte tem fila de espera pra morar. Que não adianta chegar aqui e ter o sonho de comprar um carro, se você não vai conseguir sair da garagem porque o trânsito bate na sua porta e se por acaso você conseguir dirigir por dois metros, vai ganhar uma multa por excesso de velocidade. Alguém precisa dizer pra eles que São Paulo está inabitável e que, se continuar nesse ritmo, aqui vai ter tudo menos paulistano. Porque as amigas paulistanas que eu tenho estão indo morar no nordeste. E mandam notícia dizendo que, nossa, aqui não existe trânsito. Os nordestinos estão todos em São Paulo.

Eu, se mandasse em alguma coisa nesse mundo, ia mandar todo mundo cada um para o seu estado de origem. Não vem que não tem, não adianta ir pra Sum Paulo que a cidade lá já expirou. Vou mandar fazer indústrias e comércios lá em Rio Branco. E espere uma nova unidade de Cinemark em Palmas. Vou botar Mc Donalds em cada palafita no leito do rio Amazonas e eu prometo mandar bandas de rock pra tocar no Pará (eu aposto que eles não aguentam mais Calypso).




É o cúmulo que o pessoal saia do nordeste (o berço das quermesses!) pra vir aqui superlotar a minha reles quermesse em Pinheiros. O cúmulo.




E minha vó: "mas filha! Eu sou mineira! Se você for fazer todo mundo voltar para suas casas, eu vou ter que morar lá!" Vai, vó. Mas eu mando fazer um Outback em São Lourenço pra eu comer lá toda vez que for te visitar. Que tal?

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Final Feliz

Tou cansada. Cansada de todo mundo dizer que a vida é uma merda. Não que eu não concorde com isso. Eu concordo plenamente e assino embaixo. Só acho que a gente não precisa sair falando. A vida de todo mundo é uma merda. Se não aqui, acolá. A grama do vizinho também não é tão verde assim, vai por mim. E você só está vendo tudo verde por lá porque ele comprou uma daquelas luzes noturnas. Aquelas que deixam até os caules das árvores verdes. Não, a grama dele está mais pra acinzentada. Aposto.

A vida é uma merda mas a gente não precisa bater na mesma tecla. Não precisa ficar passando e repassando a limpo aqueles mesmos erros. Não precisa ficar vivendo e remoendo tudo de novo. Admita que a merda está ali. Você pisou, saiu fedendo, deu uma respingada na barra da calça. Mas levante a cabeça e vamos partir pra outra. Não precisa ficar lembrando o dia inteiro que você está com a barra da calça respingada de merda. Dá pra viver sem olhar pra baixo, vai.

Faz um tempo já que eu decidi que só vou assistir filmes que tenham finais felizes. Vocês que assistiram meu vídeo dos dvds devem ter ouvido. Não que eu não ache bons filmes como Doce Novembro. Ou Um Amor Para Recordar. Eu acho sim, gostei de assisti-los. Mas eu não preciso sair do cinema depressiva. Não preciso sair achando que no final tudo vai dar errado. Não preciso sair chorando porque eu pisei na merda logo cedo e daí respingou na barra da calça e então agora no fim do dia eu lembrei disso e fiquei descontroladamente histérica.

Eu entendo que muita gente sai assistindo só filmes que todo mundo morre no final, ou que nada dá certo. Ou aquele tipo de filme de romance que o amor é impossível e eles ainda esfregam na sua cara que é impossível mesmo e que você é uma idiota em acreditar que alguma vez pudesse ter deixado um milésimo de ser impossível. Eu sei que o mundo está cheio de desilusões. De desafetos. De desapegos. E que a mínima vontade de querer ser feliz pode ser ridícula. Mas eu já acho que a vida é tão difícil, que a gente fica aqui se envolvendo e se enrolando em coisas tão ínfimas e que nos fazem sofrer tanto. E que nossa, como a gente consegue enumerar melhor nossos fracassos e tristezas do que nossas alegrias. E eu entendo que a grande maioria da população já tá nadando na merda mesmo e prefere continuar ali mesmo nas horas que deveriam ser válvulas de escape. E que preferem assistir os noticiários da tv toda noite cheio de tragédias e ver filmes e saber de histórias cheias de dissabores, pra não dar nenhuma vontade de melhora na vida, que é sempre tão traiçoeira.

Não concordo não. Eu acho que dá muito bem pra esquecer da vida assistindo 2 horas de um filme que me transporte pra lá. Pra que eu saia do cinema pensando que dá sim pra fazer uma forcinha pra vida real melhorar também. Que tudo vai ter jeito. Que tudo vai dar certo. Esperança é a palavra.

Ontem eu fui ver um filme que teve final feliz. E saí assim.


... e se até eu, que ouço gente me pedindo pra ser mais boazinha com os outros (e preciso sair mendigando por candidatos para levar as alças do meu caixão quando eu morrer), consigo gostar de filmes com finais felizes e sair da sala do cinema apaixonada... por que você não?


PS: Para os possíveis perguntadeiros, fui assistir Qualquer gato vira-lata. Sem aventuras, sem efeitos especiais, sem ação, sem ficção, sem grande fotografia, sem grande figurino. Apenas simples. E feliz. :)





... mesmo com música de Mallu Magalhães e Marcelo Camelo de plano de fundo.

terça-feira, 14 de junho de 2011

O que os homens falam

Daí que não é segredo pra ninguém (mas nem por isso eu saio contando sobre isso, porque antes eu achava um porre quem contava pra mim), faz um tempo que estou fazendo academia. E se você acha que eu tenho toda essa disposição pra arrumar malinha, sair de casa, pegar trânsito, chegar em academia, suar horrores, pegar malinha, trocar de roupa, chegar no carro, pegar trânsito, chegar em casa... está enganado. Porque tudo bem que eu fazia tudo isso quando ia pra natação, mas natação eu gostava então eram outros quinhentos. Eu nunca tinha feito academia antes e meu treinador achou o cúmulo quando eu falei isso. Acontece que é a academia do condomínio. E eu só tenho que vestir a roupa e descer, que o elevador me deixa lá na porta. Simples assim. Porque se fosse mais complicado que isso, certamente eu não iria. Pra ser mais precisa, se eu morasse no bloco A eu não iria na academia que fica no bloco B. Ah, frio pra caramba sair lá fora e tals. Enfim. Eu, diferente do resto da população do mundo (e talvez por ser de capricórnio com ascendente em virgem), tudo que me comprometo a fazer, eu faço. Regularmente, se for o caso. Então essa coisa que o mundo inteiro sai falando "ah, porque eu faço academia!" e se você for lá ver, a pessoa somente PAGA a academia, ir que é bom não vai - não funciona comigo. Eu acho mesmo que as academias só têm nome e enriquecem seus donos por conta dessas pessoas que pagam aquele valor absurdo e não vão. Na verdade eu tenho certeza disso. Porque era assim quando eu fazia natação. Trocentos neguinhos matriculados no mesmo horário que eu, chegava lá e só tinha eu na piscina inteira. Mas daí um belo dia, fazia aquele calor de 40 graus, chegava lá e tinha disputa a tapas por uma reles metade de raia. Muitas vezes eu dividi uma raia com mais 3 pessoas. Os visitantes. Os que pagavam uma fortuna de natação e não iam nunca. Um belo dia, puf. Todo mundo lá feito piscinão de Ramos em uma reles piscina semi-olímpica. Não era fácil não. Fato é que eu acho que os donos de academia acham desperdício ter aquele número de quantidade limite de alunos matriculados ali. Porque mais de 80%, só pagam, não vão. Então, tamanho tempo ocioso de equipamentos, resolve extrapolar o número de alunos limite. Mais dinheiro no bolso. Até o dia que vai todo mundo e pronto.

Daí que eu sou administradora e acabo levando o assunto pra outro lado sendo que não era isso que eu estava falando. Eu dizia que eu sou uma pessoa que faz o que se submete a fazer. E se alguém pretende viver do meu dinheiro gratuito sem fazer o que se propôs desde o início, caiu do cavalo. Eu não falto. No que quer que seja que eu esteja pagando.

No caso da academia, é levemente diferente. Porque eu pago 8 reais. Embutidos no meu boleto de pagamento do condomínio, eu frequentando a academia ou não. Oito reais. E eu nem me cadastrei pra isso. Oito reais. Reles oito reais, que somados entre todos os condôminos, dá uma boa grana. Oito reais. Na minha conta pra pagar. Um belo dia eu cansei de só ver os oito reais na conta e decidi ir atrás do que era meu. São oito reais, oras! E foi assim que eu resolvi fazer a academia. Mas também não era sobre isso que eu queria falar.

Eu dizia que agora eu vou na academia. Todos os dias. Às 6 horas da manhã. É, eu sou uma vencedora.

Acontece que mulher nenhuma consegue levantar 6 horas da manhã pra ir para a academia. Eu vejo sim, várias, indo trabalhar nesse horário. Mas academia, em todo esse tempo nessa indústria vital que estou frequentando academia....... nenhuma. Só tem eu de mulher lá. E eu confesso que isso foi premeditado. Porque quando eu saía pra trabalhar de manhã, sempre via o pessoal do bíceps lá fazendo pose. E quando chegava à tarde, sempre via as tiazinhas gordas sofrendo na esteira. Eu não sou boba nem nada, vai. Imagina que eu ia escolher o grupo da tarde. Pois bem.

Daí que eu vou pra academia todo dia 6 horas da manhã e fico lá na minha fazendo meus exercícios. Prestando atenção no meu tempo. Analisando minha força. Respirando corretamente. E ouvindo o que os caras falam. Porque eu não sou surda nem nada.


Então eu resolvi contar pra vocês que eles não falam de futebol. Não falam da gostosa que passou ali. Não falam de problema no trabalho. Não falam nem sobre a malhação em si. Eles falam que na briga de ontem com a mulher, jogaram um pacote de algodão nela. E que ontem a mulher chegou e não estacionou o carro direito e por isso agora ele tem que se incomodar em arrumar. E que a mulher ontem não fez a janta e o cara saiu pra comer fora e depois ela falou na orelha dele 3 horas antes de dormir. E que aquela fdp da mulher resolveu comprar um poodle e agora o cara tem que sair pra passear com aquilo. E que no fim de semana a mulher pegou o cartão de crédito e comprou tudo e agora o cara aguarda o absurdo da compra que ela fez de vingança só porque tinham brigado antes. Falam que a mulher enche o saco. Fala demais. Gasta muito. Não sabe cozinhar. E enche o saco. E não param de falar. E não sabem dirigir. E enchem o saco.

Eu acho que eles esquecem da minha presença. Na verdade não, porque eles começam a falar baixo. Mas depois, no calor do momento, aumentam a voz. E sinceramente esperava mais que isso dos homens. Eu realmente esperava que eles falassem sobre qualquer dessas coisas sem importância que eu comentei no início do parágrafo anterior. Mas não. Eles continuam falando sobre coisas sem importância, mas desta vez, feito mulheres. Feito mulheres que comentam que ontem o Zé Carlos, aquele cretino, chegou da rua e nem tomou banho, foi se esfregar sem cueca no sofá branco.


Enfim, eles estão se depilando. Fazendo as unhas. Usando cosméticos. Tirando a sobrancelha. Reclamando que pegaram a mina e ela bagunçou o cabelo dele. E que 'não aperta muito senão vai amassar a minha roupa'. Que mais eu podia esperar das conversas que eles têm enquanto não estamos perto?


quarta-feira, 8 de junho de 2011

DVDshelf Tour

Atendendo a pedidos de incorporação em um post, minha estante de livros (em 3 partes). :)





* Pra quem ainda não viu e quiser ver a minha estante de livros, postei no dia 24/04/2011. ;)

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Bye, Bye, Brasil

Eu hoje, à caminho do trabalho. Tocou Chico no rádio e isso é raro. Uma música que eu já ouvi milhares de vezes nessa vida, mas pela primeira vez prestei atenção na letra. Resolvi compartilhar minhas impressões:

Bye, Bye, Brasil - Chico Buarque. Minha interpretação.


Oi, coração (oi)
Não dá pra falar muito não (tá)
Espera passar o avião (tá no aeroporto?)
Assim que o inverno passar
Eu acho que vou te buscar (mas por que raios tem que me buscar só depois do inverno?)
Aqui tá fazendo calor (ué, não tava inverno?)
Deu pane no ventilador (sei)
Já tem fliperama em Macau (¬¬)
Tomei a costeira em Belém do Pará (tava indo pra onde?)
Puseram uma usina no mar
Talvez fique ruim pra pescar (desde quando você pesca?)
Meu amor (oi?)

No Tocantins
O chefe dos parintintins
Vidrou na minha calça Lee (sujeito gay hein?)
Eu vi uns patins pra você (PRA MIM????? ta me chamando de gorda???)
Eu vi um Brasil na tevê (achei que se você não tem tv à cabo, tudo que passa na tv é Brasil)
Capaz de cair um toró (esse realmente é um assunto importante)
Estou me sentindo tão só (e mesmo assim vai me buscar só depois do inverno?)
Oh, tenha dó de mim (por que, safado? se tá me buscando só depois do inverno é pq tá com outra aí)
Pintou uma chance legal (PINTOU, Chico?)
Um lance lá na capital (LANCE, Chico?)
Nem tem que ter ginasial (GINASIAL, Chico? De que tempo são essas gírias?)
Meu amor (que?)

No Tabariz
O som é que nem os Bee Gees (tava na gandaia dançando Bee Gees, safado?)
Dancei com uma dona infeliz (é com essa dona que você tá aí no inverno né? Confessa!)
Que tem um tufão nos quadris (além de dançar olhou pra bunda dela tanto assim?)
Tem um japonês trás de mim (japonês é paciente, ele espera)
Eu vou dar um pulo em Manaus (fazer o que lá?)
Aqui tá quarenta e dois graus (ISSO TUDO É INVERNO?)
O sol nunca mais vai se pôr (larga a mão de reclamar. já tomou banho hoje?)
Eu tenho saudades da nossa canção (eu canto pra você!)
Saudades de roça e sertão (mas é um caipira mesmo)
Bom mesmo é ter um caminhão (realmente é um bom plano para o futuro ¬¬)
Meu amor (QUIÉ??)

Baby, bye bye
Abraços na mãe e no pai (puxa saco)
Eu acho que vou desligar (eu ACHO? então não precisa?)
As fichas já vão terminar (ah tá. compra um celular, seu pobre)
Eu vou me mandar de trenó (trenó? você bebeu quantas?)
Pra Rua do Sol, Maceió (sei. reparar nos quadris das mulheres de biquíni?)
Peguei uma doença em Ilhéus (mas é um doente mesmo)
Mas já tô quase bom (eu não perguntei se vc tava bom. quero saber o que você foi fazer em Ilhéus.)
Em março vou pro Ceará (mas que vida boa essa sua!)
Com a benção do meu orixá
Eu acho bauxita por lá (vai fumar?)
Meu amor

Bye bye, Brasil
A última ficha caiu (compra mais, ficha é barato! não existe orelhão de cartão aí?)
Eu penso em vocês night and day (duvido)
Explica que tá tudo okay (não sou sua empregada)
Eu só ando dentro da lei (sei)
Eu quero voltar, podes crer (aham)
Eu vi um Brasil na tevê (de novo essa história?)
Peguei uma doença em Belém (mas OUTRA doença? você tem qual problema?)
Agora já tá tudo bem (acho que se morrer logo vai dar mais lucro, hein)
Mas a ligação tá no fim (desliga logo então, inferno!)
Tem um japonês trás de mim (já sei, já falou, seu bêbado)
Aquela aquarela mudou (qual?)
Na estrada peguei uma cor (no braço? tá bonito então hein? com marca de camisa, tá beleza)
Capaz de cair um toró (de novo?)
Estou me sentindo um jiló (amargo, verde e gosmento?)
Eu tenho tesão é no mar (tarado)
Assim que o inverno passar (que inverno, seu louco? não pegou até cor na estrada?)
Bateu uma saudade de ti (duvido, você tá me usando)
Tô a fim de encarar um siri (por isso que fica doente todo dia)
Com a benção de Nosso Senhor (isso não vai te livrar do piriri)
O sol nunca mais vai se pôr (muda pra Patagônia!)


Pra quem não conhece a música (em que planeta você vive??) aqui.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Sobre o que você passa no pão

Faz um tempo já que venho pensando nesse fato simples da vida. Simples para a maioria das pessoas, porque eu aposto que todo mundo passa qualquer coisa no pão sem nem prestar atenção no que está fazendo. Pra mim não. Pra mim, pensar o que vou passar no pão é uma questão não-automática. Eu presto atenção no que eu vou passar no pão. Eu penso nisso. Eu imagino calmamente cada opção que tenho pra depois chegar à melhor conclusão sobre o que passarei no pão hoje. O que vai me fazer mais feliz. O que vai me dar mais prazer em comer se eu agregar àquela massa fofinha de um pão francês maravilhoso. Porque o pão francês é o melhor, não é preciso discutir isso. No mundo inteiro, eu aposto: o pão francês reina soberano no meu paladar restrito. Pão francês é a glória. Pão francês é vida. Então não será necessário questionarmos, nesse post, o pão. Questionemos então o que vem levemente por cima dele. Ou no meio, se desejarem.

Eu penso que quem prefere passar manteiga no pão é uma pessoa sem grandes horizontes. É, porque manteiga no pão é o tradicional. Simples. Comum. Singelo. Humilde. Passar manteiga no pão é o maior clichê. Como colocar leite no café. Ou arroz no feijão. Mesmo assim, há uma tremenda diferença no simples ato de passar manteiga no pão: eu aposto que você passa margarina. E margarina, veja bem, é uma coisa insossa. Tudo bem, é o prático, é a vida moderna, é a globalização, é a história de comerciais de famílias felizes que se sentam à mesa tranquilamente e todos juntos no raiar do sol e................. passam margarina no pão. Eu entendo. Você cresceu assistindo que passar margarina no pão traz felicidade e isso entrou no seu subconsciente e você acha que margarina é a melhor coisa da face da Terra pra se passar no pão. Certo. Talvez eu até concorde. Se o pão estiver saindo quentinho da padaria e se você for pegá-lo nas mãos e passar a margarina e no momento que levá-lo à boca ainda estiver quente. Porque eu acho legal que as margarinas derretam. E eu acho mesmo que sinônimo de felicidade é margarina derretida em cima de pão francês quentinho. Ou do bolo quentinho. Margarina derretida é vida. Mas se você não tiver a felicidade de depois de esperar na fila da padaria a próxima fornada de pães e morar relativamente perto da mesma para que no momento em que for comer ainda poder saborear o pão quente com a manteiga lindamente derretida em cima..... você ainda tem uma opção maravilhosa: pode fazer o famoso pão na chapa. Pão na chapa com café é o que eu vou querer comer no meu último dia de vida, se eu souber que é meu último dia de vida. Vou acordar assim "ôpa, hoje é meu último dia de vida, vou começá-lo então com um lindo pão na chapa e café." Coisa boa que é pão com margarina na chapa.

Meu irmão quando era pequeno costumava comer pão com margarina e queijo ralado. E com tanta insistência dele, eu acabei entrando na onda. Tem dia que me dá vontade de passar margarina no pão e botar queijo ralado. Mas tomem cuidado. Da última vez que eu fiz isso, enquanto carregava o prato com o pão cheio do queijo ralado, tropecei no tapete e voou queijo ralado para os lugares mais inusitados. No dia seguinte eu achei vários farelos de queijo ralado no sutiã. Mas enfim. É uma boa opção para quem deseja inovar e ter altas aventuras no pão com margarina de todo dia. Porque convenhamos: eu já falei que o pão francês é único e insubstituível na minha vida. Mas vai que chega um dia que só tem pão de forma? Eu acho o cúmulo passar margarina no pão de forma. Coisa mais sem graça. Fica tudo sem gosto! Mas pra tudo há uma solução: um dia alguém inventou a torradeira. E aí na hora que você tira o pão de forma xoxo da torradeira, ele está quente! Conclusão: voltamos à teoria que passar manteiga em pão / bolo quente é vida.

Sei que manteiga me lembra roça. Porque lá em Minas vende manteiga da roça na padaria. E a manteiga lá não tem esse gosto desses tabletes de manteiga industrializada que vendem aqui no mundo civilizado não. Lá a manteiga da roça tem gosto de fazenda. É a pura manteiga da vaca do campo. E aí você passa assim no pão quentinho (porque lá o pão SEMPRE está quentinho) e não. A manteiga da roça não derrete. A vaca é vitaminada. Imagina se vai fazer uma manteiga que derrete. Não. Lá a manteiga tem sustância. E é boa mesmo assim. Mas lá eu gosto de passar a manteiga no biscoito. É, biscoito, daqueles de polvilho. Que lá são enormes. Que a gente tira assim um pedaço do biscoito enorme e passa manteiga por dentro, no oco do biscoito. E come com café. Tá, que o café eu preferia o daqui. Mas esse post não é sobre café. É sobre coisas de passar no pão.

Um dia eu queria ter o prazer de parabenizar o sujeito que inventou o requeijão. Esse sim foi um cara memorável. Que inventor do telefone? Que inventor da luz elétrica? Eu quero é apertar a mão do cara que inventou o requeijão! Pessoa inteligente viu. Aposto que inventou por acaso. Um belo dia a receita do leite passou do ponto e daí saiu aquela melequinha pastosa dos deuses. Aquele negócio que fica bom com tudo. Com a batata assada. Com o macarrão. Com o pão de forma. E com o bolo quentinho. Já ouvi dizer de gente que passa requeijão até no panetone. Mas eu não gosto de panetone e não quero estragar esse post falando disso. Quero dizer que requeijão é uma coisa tão linda que pouco importa se você está passando no pão quente ou frio. O importante é passar uma quantidade suficiente pra quando você for comer, pingar por baixo. Ah, requeijão. Meros 3 reais de puro prazer. Requeijão no pão é coisa sensacional. E já era, simplesmente assim, sendo só requeijão. Mas alguém quis fazer firula, foi lá e inventou o cream cheese. Daí meu mundo caiu. Eu sou uma pessoa de queijos, sabe? Queijo pra mim é sinônimo de felicidade. E aí qualquer coisa entre requeijão / cream cheese / polenguinho dentro do meu pão é sinal de que o dia só pode ser bom.

Mas não acho legal quem come pão com queijo. Simples assim. Uma fatia de mussarela ou queijo prato, que a gente cansa de ver nos comerciais da tv como sinônimo de refeição saudável. Eu aposto que quem fez aquele comercial do Marcelo Adnet da Telefônica (acho), que ele liga pro colega de trabalho pra dizer que o cara pegou a mulher da chefe na festa.......... não come pão com queijo. É, porque durante todo o comercial, eu só consigo pensar naquele pão com queijo em cima da mesa. Coisa seca, gente! Pão com queijo é a coisa mais seca desse mundo! É uma pessoa completamente sem paladar e sem vontade de comer que inventou isso! Pelamordedeus alguém passe uma coisa molhadinha nesse pão!

Já ajuda a vida se você puser um presunto. Presunto também é uma coisa legal. Mas eu acho que só o presunto e queijo, assim, frios, dentro do pão... fica meio que faltando. Eu já sou radical: boto tudo na sanduicheira e transformo em misto quente. Aí sim, hein? Aí sim é um recheio de pão de responsa! Mas tem gente que bota peito de peru no pão. Rosbife. E todos esses outros frios que não fazem parte da minha vida porque eu sou uma pessoa de queijo-presunto-salame-mortadela. Desconheço todo e qualquer embutido que foge à essa regra. Mas quando alguém me fala que 'nossa, comi um pão com peito de peru supimpa hoje' eu penso. Penso que primeiro: duvido que aquelas rodelinhas brancas de um negócio branco tenham um sabor favorável. Segundo: pão com peito de peru está para alimento seco tanto quanto pão com queijo. E terceiro: eu sempre acho que a pessoa que come peito de peru deve achar horrível, mas sai comendo e anunciando porque ACHA que é light. Prestenção, minha filha: todo o light que TALVEZ possa ter num peito de peru comparado com um presunto, por exemplo, você dá com os burros n'água exatamente ali. NO PÃO. Então não adianta minha nega. Pode comer pão com alface que não vai ser saudável. Desiste.

Continuando na linha dos embutidos, eu acho que mortadela no pão é legal. E só. É que mortadela é meio pobre. Sei lá, coisa de pobre comer pão com mortadela. Quando a galera pega ônibus todo dia de manhã cedo e vai em pé no trânsito do ônibus lotado e acaba chegando tarde na "firma", pra vocês que andam só de carro e que nunca pegaram ônibus na vida, eu conto: a marmita da galera cheira a mortadela. E acreditem: dá a maior fome de sentir esse cheiro quando você está há horas num ônibus lotado que não chega nunca porque está no trânsito da cidade. Mas de vez em quando, pão com mortadela e Coca Cola é legal. Porque Coca limpa aquele seu bafo de mortadela logo em seguida. E eu não quero ter o desprazer de sentir o cheiro de alguém arrotando mortadela do meu lado.

Por outro lado, salame eu já acho mais delicado. Salame é um negócio bonitinho. Pequeno. Gostosinho. Mas se você for colocar só isso no pão, chegaremos novamente naquele quesito coisa seca de comer. Salame no pão é bom. Mas falta alguma coisa. E é aí que eu queria chegar.

Maionese é uma coisa dos deuses. Não qualquer uma, porque eu sou fiel à marcas. E a minha é SEMPRE Hellman's. E eu te digo: se você tem um pão seco com salame, acrescente maionese pra você ver como a vida muda. Maionese no pão é uma coisa maravilhosa. É para pessoas inovadoras, que querem sair da rotina do pão com manteiga. Maionese não deixa que nada fique seco no seu pão. De um simples pão francês aos grandes hambúrgueres famosos de todas as hamburguerias, lanchonetes e fast foods. Pergunte-se qual o ingrediente principal do famoso e lendário molho especial do Big Mac. Maionese é sensibilidade. Maionese é suavidade. E eu tenho um ponto a ressaltar: a Hellman's anda querendo inovar e está fazendo comercial de receitas com maionese. Bote maionese no seu bife acebolado. O caramba! Maionese é no pão. Philadelphia no molho de tomate? Isso é o cúmulo! Lugar disso é no pão! Esse pessoal não tem nada que inventar moda para os ingredientes de passar no pão!

Tudo bem que tem as modas que o pessoal inventa também e que não tem nada a ver. Tou pra ver coisa mais sem graça que passar patê no pão. Tudo bem que se for aquelas coisas chiques de grão de bico e blablabla eu até deixo passar porque é da culinária árabe e eu acho bom. Mas patê de presunto, gente? Crie vergonha na cara e vá você na padaria pedir o próprio presunto! Crie vergonha na cara e abra a sua própria lata de atum, a sua própria maionese e misture tudo dentro do seu pão, ao invés de comprar um patê de atum. Garanto que fica bem mais legal. E se você é melhor abastado nesse mundo, sinto dizer: foie gras é uma das coisas que eu nunca comi na vida e nem quero. Prefiro comprar todo esse dinheiro em muito cream cheese pra passar no meu pão!

Enfim, por último e exatamente por isso sem importância: se você passa geléia no pão, é infantil e muito provavelmente vai morrer de diabetes nessa vida. Se passa mel, você é um sujeito sem grande imaginação, mas ainda assim poderia ser meu amigo. E se passa Nutella... você é um assassino.