sábado, 9 de novembro de 2013

Sobre pertencer. Ou não.

Novembro. Eu sempre gostei desse mês. Não pelo mês em si nem por todos os escorpianos que ele traz, nem pelo calor de quase verão (que felizmente ainda não demonstrou as caras esse ano) nem pelo final do ano que se aproxima e lá vem aquele povo botar aqueles pisca-piscas HORROROSOS azuis nas sacadas do apartamento e que eu sou obrigada a ver quando olho das minhas janelas. Eu gosto do final do ano, mas especificamente da última semana de dezembro, e só. Odeio os preparativos, odeio as ruas cheias de gente, odeio esse povo gastando o dinheiro que não tem pra dar presente para os outros e odeio a muvuca toda. Odeio, inclusive, o amigo secreto do trabalho que nunca teve desde que eu entrei mas que agora eu já prevejo que tenha só por conta dos caciques novos que entraram e são, teoricamente, "festeiros" (mentira, eles querem só se enturmar pra conhecer as pessoas com intenções duvidosas). 

Eu gosto de novembro pela sonoridade da palavra. Acho novembro um mês pomposo. Chique. Menos coxinha que dezembro. Menos preguiçoso que fevereiro. Menos absorto que julho. Novembro é um mês, mas se fosse uma pessoa seria daquelas pessoas altas e magras. Mulher de cabelo joãozinho e que usa vestido estampado longo ou macacão de malha esvoaçante. Novembro é um mês longilíneo. 

E eu aqui, em novembro, do alto da minha vida cheia de afazeres e com o pensamento de gente velha que diz que precisava de um dia com umas 50 horas, mulher de futuros 34 anos, no sofá da minha casa iluminada e tranquila, com meu notebook e minha caneca de café. Tudo o que eu sempre imaginei ser quando tinha por volta de 10 anos. Estou aqui, vida. Como eu sempre soube que estaria um dia. Cansada, com a casa "extremamente organizada porque, para compensar, meus pensamentos são extremamente bagunçados". Aparentemente tranquila, mas absorta em minhas próprias paranóias e teorias da conspiração (att. Anna Vitória).

Dia desses fui pega pela tia, a me hipnotizar questionando coisas e descobrindo através de minhas respostas questões íntimas minhas que quase sempre não quero mostrar. Em uma delas, descobri mais palpavelmente que ainda não cheguei nem perto de tudo o que eu quero fazer na vida. E então passei a planejar fazer. Pra isso, nem preciso do feng chui pra saber que, se eu quero comprar roupas novas, eu preciso me livrar de algumas que eu já tenho no armário e não uso tanto assim, pra poder sobrar lugar pra guardar as novas. Preciso me livrar dos livros antigos da minha estante, mas sem antes reler as histórias que eu não lembro para então saber com certeza quais livros ocupam meu espaço por estarem esquecidos e quais ocupam por fazerem parte da minha vida de alguma forma e eu só não lembro exatamente como. Da mesma forma, preciso me livrar dos pensamentos que só ocupam espaço no meu cérebro e me fazem mal lembrar, pra sobrar espaço para novos e felizes pensamentos. Preciso limpar os armários. A mente. A vida.

Em uma conversa com a amiga, ela também me fez pensar nos grupos dos quais faço parte. Os que me fazem bem e são interessantes e valem a pena o meu esforço para mantê-los. E os que não. Os que não são uma via de mão dupla, não no sentido de "se eu te dou um presente, você me devolve o presente", mas no sentido de: será que essa pessoa que eu dedico atenção tem o mesmo afeto por mim? Talvez eu conclua que não. Será que eu pertenço mesmo a este ou a aquele grupo, ou será que neste tempo dedicado por mim a eles não seria melhor se eu estivesse cuidando de mim mesma? Pertenço ou não pertenço a esta situação, a este momento, a esta discussão ou a esta festa?

Se não me convidaram pra essa festa pobre talvez seja porque eu nem sou pobre nem gosto de festas. E aí eles têm mesmo total razão em não ter me convidado.