domingo, 3 de fevereiro de 2013

Talent Management

Daí que lá na empresa tem esse bagulho. Quem já estudou em alguma área administrativa ou quem já trabalhou em uma empresa grande sabe mais ou menos o que é. É um bagulho aí que como vários outros tem um nome bonito só pra ocultar o real significado: é a hora que alguém vai dizer o que acha de você.

Sabe jogo da verdade? Então, isso aí. Só que sem a garrafa. E sem a roda de amigos. E sem você poder questionar o que estão te dizendo, sem brigas, sem risada, sem enfiar a mão na cara de ninguém. Porque quem estará falando as verdades a seu respeito é seu chefe. E você tem que ouvir e sorrir.

Pois é, teve esse negócio aí essa semana. Lá na empresa. E acontece com todo mundo, não dá simplesmente pra sair pelos fundos e dizer "amanhã eu faço". Não. Tem hora marcada. Tem sala marcada. E aí vai um por um, cada um na sua vez. E você fica nervoso esperando a sua vez chegar. Eu fiquei.

Chegou a minha vez e eu sentei lá na cadeirinha de frente pra chefe e no canto da sala que eu não sei se tinha temperatura de 5 graus negativos ou se eu tremia era de nervoso mesmo. Mas tava um frio do caramba. Talvez fora, talvez dentro de mim. E foram duas horas seguidas que eu conversei com a chefe sem nem reparar em quem passava por trás da parede de vidro, lá fora. Me concentrei de tal maneira que tudo ao meu redor meio que sumiu.

Conversa vai, conversa vem (mais da parte dela do que da minha, claro), a chefe é canceriana e, de acordo com a amiga, esse é o signo que por estar exatamente no oposto ao meu no mapa astral, é o que me completa. Talvez por isso essa chefe goste de mim. Talvez seja só porque todos as chefes mulheres que eu tive até hoje gostavam de mim, por mais carrascas que fossem. Chefes homens não. Eu não suporto homem mandando em mim. Mas a chefe falou muitas coisas bem bonitinhas a meu respeito. Muitas mesmo. Me senti muito envaidecida com tudo. Entre tantas, ela me comparou com a diretora da nossa área da empresa. Bem legal.

Mas né, nada no mundo é perfeito e a minha imperfeição faz com que eu me apegue mais às críticas que aos elogios. E no decorrer de duas horas de conversa eu só tive duas críticas. Só duas, em milhares de itens avaliados. E são elas: 

1) "Você tem paciência e espera as pessoas falarem sem fazer cara de desdém, mesmo que não concorde com a opinião que elas dão, mas ao dizer a sua opinião você REPRIME as pessoas à sua volta, que se sentem obrigadas a seguir o que você diz."

2) "A linha entre seu autocontrole e sua explosão é muito tênue."


Então. Oi.        xD

Ai, gente, sério. O segundo item eu concordo plenamente que talvez seja desfavorável à minha pessoa, sabe, porque ela associou isso a uma situação específica: uma reunião em que uma pessoa específica questionava a qualidade do meu trabalho, já que eu sou a funcionária mais produtiva da área em grau absurdamente mais elevado que os demais. Daí, a criatura falava na reunião em tom de desprezo e sem mencionar em nenhum momento o meu nome, mas ÓBVIO que era pra mim, que "tem que ver a qualidade do trabalho dessa pessoa que faz muito mais que os demais, porque isso é impossível". Eu, queimando por dentro (porque você pode me xingar, mas questionar a qualidade do meu trabalho pode dar em morte), fiquei quieta. Quase botei um silver tape na boca pra me obrigar a ficar quieta. E a chefe percebeu, claro, porque eu fiquei quieta, mas sou tão transparente que estava escrito na minha testa que eu queria voar no pescoço da pessoa e esfregar a cara dela no asfalto. Mas eu me contive. A duras penas, mas me contive. Mas realmente: foi por pouco. Foi por muito pouco MESMO. Enfim, depois desse episódio eu já conversei não só com a chefe, mas com outras pessoas que me deram uma luz e me fizeram enxergar que eu tenho que reagir a certas situações de maneira diferente porque provavelmente o real objetivo da pessoa era o de justamente me tirar do sério e mostrar exatamente aí o fato de que eu não sou melhor que os outros, muito pelo contrário. 

Mas o primeiro item, gente. O primeiro item, sabe? Oi, mundo, eu sou mandona. Minha família é mandona. O sangue italiano que corre por entre minhas veias é mandão. E nem é de propósito, eu nem falo tanto no sentido de mandar assim em alguém. Falo no sentido de tentar convencer. Só que eu quero convencer no grito. Hoje nós vamos almoçar em tal lugar, e ponto final. Daí todo mundo vai. Mas sabe, minha mãe que me ensinou a ser assim. Ela mencionou milhares de vezes durante a minha vida uma situação específica que aconteceu quando eu era criança:

Um dia, em uma festa de família, uma tia colocava os refrigerantes para as crianças e olhou pra mim: "Renata, você quer Coca Cola ou guaraná?" eu respondi "Tanto faz, tia.". E pronto. Minha mãe estava bem ali ao meu lado no momento e aquela foi uma situação que ela fez com que eu nunca mais esquecesse na vida, tantas foram as vezes que ela repetiu na minha mente o acontecido (e ainda repete se precisar). O argumento da minha mãe é que eu não posso ser uma pessoa do "tanto faz". "Que tanto faz? QUE TANTO FAZ, RENATA? Você tem que ter uma decisão na vida, sempre! Você tem SEMPRE que optar por um ou por outro, mesmo que tanto faça dentro de você. Você nunca pode ser uma pessoa indecisa, alguém que os outros pensem 'ah, pra Renata tanto faz, qualquer coisa pra ela está bom'. Não, você não será uma pessoa do tanto faz. Você será uma pessoa da Coca Cola ou do guaraná. Será sempre uma pessoa de opinião." E daí é por isso que eu tenho opinião sobre tudo nessa vida.

Meu trabalho trata-se de um setor em que tudo é questionado constantemente. A necessidade das coisas, o porquê dos processos. Tudo. E por isso é que eu me identifiquei tanto com tudo lá. Mas em uma equipe de quase 40 pessoas existe gente de tudo quanto é tipo e os mandões nem são a maioria. Tem muita gente omissa. Do tipo que tem opinião, mas que fala baixinho. Sabe? "ah, eu acho que talvez quem sabe um dia se...". E não, gente, não. Ou você é Coca Cola, ou você é guaraná. E eu espero todo mundo falar, a gente faz reuniões absurdas que todo mundo quase sai no tapa, mas quando a discussão não chega em um meio termo, eu sempre digo a minha opinião assim no finalzinho e junto com ela eu já digo todos os prós e contras e tudo o que pode dar de certo e errado caso adotarmos a minha opinião sobre o assunto. E então milagrosamente a discussão cessa. Gente, tem que ser Coca Cola, porque ela é viciante, porque depois de comermos o sanduíche de mortadela do Mercadão nada mais pode ser tão seguro e libertador do que a Coca Cola que vai ajudar a acomodar melhor a gordura da mortadela no organismo e trazer melhor saciedade e a sensação desengordurante de que tudo foi perfeito. Guaraná é doce demais, leve demais, gasoso demais, tem maior probabilidade de te deixar enjoado depois e a propaganda do guaraná com a pizza pode nem ter sido tão perfeita assim, visto que a propaganda da Coca Cola com os ursos polares e o caminhão do Papai Noel vem tornando há anos a marca muito mais rentável apesar de seu poder viciante e que as más línguas digam que é um ótimo desentupidor de pia. Ou seja, faz mal mas mesmo assim o mundo inteiro ama. E fim.

E então todo mundo bebe a Coca Cola feliz e certo de que foi a melhor escolha. E gente, desculpa. Se ainda tinha alguém que pensou que o guaraná era melhor e não continuou defendendo a sua opinião, é bunda. É, porque foi omisso. Porque só porque eu falei melhor e mais alto, ficou com medo. Ah, gente. Veja se isso é jeito de viver! Deixando as coisas pra lá e pensando no tanto faz! Não. Eu sou a favor de gente que discute, que leva suas opiniões a diante, que tem opiniões. Porque se a pessoa fizesse isso, talvez me convenceria mais pra frente que não, guaraná é um produto nacional, mais saudável, mais barato, mais bonito e com poderes medicinais, que fosse. Eu falo melhor e mais alto, mas nem por isso sou do tipo que não muda de opinião. Eu mudo sim, basta me convencer de que o seu ponto de vista é melhor.

Brigada mãe, desculpa chefe. Eu sou uma pessoa de opinião e acho que quem enfia o rabinho entre as pernas e aceita a opinião dos outros mesmo sem achar que é a melhor merece morrer.


Os Menudos apoiariam minha dica pra vida: não se reprima.

4 comentários:

  1. Adorei o texto e me vi em muitos paragrafos... Já fui a muitas reuniões de "360 graus" que é como chamamos esses babados pelas bandas onde eu andei. Poucas vezes era eu no centro da mesa - na maioria das vezes era eu dando feedback.
    E Renata, o que a sua chefe fez, é uma estratégia muito conhecida e muito util, chamada sanduíche de merda. Você coloca um pao bem rechonchudo, massudo, cheio de qualidades. Ai escolhe no maximo três ( preferencialmente dois) recheios pro sanduba - e coloca os defeitos de forma delicada, fazendo o outro achar que é uma boa idéia "trabalhar" para melhorar esses aspectos. Ai vem mais pão massudo, quentinho, amis qualidades prá você sair dali motivada, feliz.
    Mas o que pega mesmo é o bendito recheio. Pq elogio a gente eaquece rápido, mas crítica, essa fica te infernizando eternidade afora!
    E eu devo ter ouvido a mesma coisa da minha mãe qdo criança por que embora eu nao me lembre da conversa, eu tenho opinião sobre tudo. E fico histérica quando qualquer um toma uma decisão sem me consultar.
    Meus chefes sempres ouberam: pergunta pra Inaie, por que se a gente decidir sem ela, amanhã, quando ela chegar a casa cai...

    Mas eu sou guaraná. Coca cola só mesmo prá desentupir a pia.

    :-)

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  2. Sabe que eu morro de preguiça quando alguém fala como crítica pra mim que eu sou mandona. Gente, claro que sou. E quem não gostaria de conseguir com que seus desejos fossem realizados? Dou ordem sim, mas se consigo convencer as pessoas a cumprí-las é porque tenho carisma e argumentos. Minha professora uma vez disse que eu devia ser advogada, porque consigo convencer todo mundo do que eu quero. Porque eu sei defender o que eu quero. E isso de forma alguma significa que eu não vou ouvir o outro e deixar que ele me convença. Não é vergonha nenhuma ser convencido, ora essa. Tô com você, Rê. E sou Coca-Cola, na maioria das vezes, apesar de saber que, com o folhado da cantina da Mira, o Guaraná combina bem mais! ;)
    Beijo! <3

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  3. Eu sou assim em trabalhos em grupo, Rê. Lembro direitinho de um que fiz semestre passado, que ninguém dava opinião sobre o tema, sempre que surgia um tópico a galera fica meio "ah então legal, mas sei lá, é que, pode ser..." e blablabla até que eu fui lá, escolhi o tema que eu queria e fiz o trabalho.
    E claro que teve gente que veio reclamar depois, que o assunto era isso, que o procedimento era aquilo, que se fosse de outro jeito seria muito melhor e... Acho que nem preciso concluir, né?
    Beijos

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  4. Primeiro quero dizer que: Eu sei, você me ama (canceriana ótima que sou)! Por isso você faz tanta maionese pra mim e por isso você me aguenta, invariavelmente, no seu aniversário e na sua casa. Também te amo!
    Em segundo lugar quero dizer que tem hora que não adianta falar porque tem gente que simplesmente não quer ouvir... e eu não tenho paciência mais pra discutir com gente idiota. E se o idiota é o cara que paga meu salário e não quer ouvir minha opinião, azar o dele que sai perdendo.
    bjoksss

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