quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Sobre minha primeira vez

Ontem. Quarta-feira. Aproximadamente 18h. Cheguei em casa, estacionei o carro, peguei minhas coisas. Era um início de resfriado e eu tinha um lenço de papel na mão. Prestei atenção no pessoal da academia. Pensei em tomar banho. Não podia esquecer um Benegrip. Grande coisa, Benegrip é um dos piores comprimidos pra resfriado. Mas era o único que eu tinha.

Apertei o botão do elevador e torci pra ele vir logo, antes que os passos de sapato chegassem perto de mim. Eu sempre corro pra pegar o elevador e sempre torço pra ninguém entrar comigo. Fecha-fecha-fecha, porta. Antes de alguém chegar. Ah, consegui. Quando o visor do elevador mostra que estou no primeiro andar é uma satisfação saber que ninguém mais vai entrar. E vou poder ficar sozinha, até meus longos vinte e dois andares. Ah, satisfação. Agora é só procurar a chave da porta. E então o elevador parou.

Parou, assim. Sem mais nem menos. E então eu pensei que vixe, ninguém começa a subir andares depois do térreo. Ninguém pega o elevador no quarto andar pra subir. Todo mundo só pega no térreo. Estranho. Olhei no visor pra saber o andar. E dei de cara com dois tracinhos. Adivinha.

Eu fiquei presa no elevador.

Ah, que bom. E isso nunca tinha acontecido nessa minha vida. Há trinta e um anos dessa indústria vital, eu nunca tinha ficado presa num elevador. Mas desde que eu me mudei pra esse prédio, ouço a sirene do elevador tocar. Já até acordei com ela e liguei pra portaria pra avisar que alguém estava preso. Todo mundo tem histórias de gente presa no elevador. Menos eu. E no fundo no fundo eu sabia que um dia esse dia ia chegar. Ou não, vai saber. Sou tão privilegiada em tantas coisas. Eu podia muito bem morar 50 e tantos anos no mesmo prédio sem nunca ficar presa nesse elevador. Mas isso não aconteceu. Vinte e três de fevereiro de 2011. Foi o dia que eu fiquei presa num elevador.

Daí tem lá um botãozinho com desenho de sino. Apertei. E então oi, que sirene tem que ser uma coisa pra que todo mundo ouça. Afinal é uma emergência. Só que esqueceram de avisar que quem tá preso no elevador ouve a sirene ali bem do seu lado. Bem dentro do ouvido. Beleza, pensei. Morro sufocada no elevador e ainda surda. Que bom. Fato é que eu não gosto de chamar a atenção, sei lá, eu não sou do tipo que pendura a melancia na cabeça. Mas eu tava presa, tinha que tocar a sirene. E enquanto eu ouvia aquele barulho ensurdecedor na minha orelha e fazia careta para a câmera, eu pensava. Que situação. Eu ali presa no elevador.

Devo dizer que eu não sou uma pessoa medrosa não. Eu sempre soube que não daria escândalo numa hora dessas. Nem tenho claustrofobia nem nada. Mas gente. Um elevador parado BALANÇA. Para os lados. E você tem a nítida sensação que de repente ele vai se soltar e cair de uma vez. É, porque enquanto você está lá preso, começa a lembrar que está só dentro de uma caixinha pendente por uns cabos. Simples assim. E então começa a pensar em todos os filmes de terror que remetem a elevadores presos. Daqueles que as portas abrem entre dois andares e na hora das pessoas saírem o elevador resolve cair, arrancando as pernas de todo mundo. Lembrei também de Gremlins, que eu sei que nem é da época de vocês, mas tem uma cena inesquecível que o elevador cai e as gosmas verdes pulam assim nas pessoas. E então passei a pensar no que eu deveria fazer caso o elevador resolvesse cair. Deitar no chão, acredito. Não que fosse melhorar alguma coisa num elevador que ia cair 24 andares. Mas né. Podiam ser minhas últimas horas de vida. Pelo menos pra não estragar o enterro, vai saber.

Finalmente alguém atendeu a sirene. Com uma voz do além, de repente a parede do elevador falava comigo "Oi?" disse ela. Eu, com vontade de responder 'oi, tou ligando pra saber como você está' respondi obviamente "oi, tou presa do elevador", como se fosse preciso avisar. Pensei mesmo se alguém liga do elevador só pra bater papo, porque do jeito que o cara atendeu, parecia que eu ia mesmo contar o último capítulo da novela. "Tá, onde você está?" Vontade de responder 'no elevador, dãã!', eu fui sensata. Mantive a calma e dei as coordenadas "bloco B, lado 1, elevador social" "HAN?" "BLOCO BÊ LADO UM ELEVADOR SOCIAL". "Ah, certo. Então, você vai ter que esperar, porque agora eu tou sozinho aqui e não posso ir aí, tá?". "Ta." Não sei ainda porque não xinguei. Não sei porque não mandei o cara para o inferno. Talvez porque eu precisasse dele. Ou porque a força do meu ódio ia pesar mais num elevador já pendente e balançando. Sei que fiquei quietinha e esperei.

Do alto da minha sanidade, tudo passou pela minha cabeça. Mandei uma mensagem para o celular do babybrother, pensando que mesmo que ali dentro do elevador não tivesse sinal, a hora que me tirassem de lá ele ia receber. E então caso eu passasse vários dias desaparecida, ele ia saber que tudo começou comigo presa no elevador. Já ia dar pra processar a empresa e tals. Muitas horas depois e nenhum sinal de preocupação do babybrother, lembrei: ele jogou o iphone numa privada qualquer e ele (o celular) morreu. Conclusão: se dependesse do meu irmão eu tava presa no elevador até agora.

Tentando pensar em coisas mais agradáveis enquanto eu estava presa (porque tudo que eu pensava é que ia morrer ali assim, gripada, nariz vermelho, despenteada - e nem tinha dado tempo de fazer depilação pra autópsia e tals), de repente a luz apagou. Ótimo. Como se eu já não tivesse visto coisas suspeitas nos corredores sem luz do prédio. Então minhas lembranças cinematográficas passaram de Premonição para Os Fantasmas Contra-Atacam, de 1988. Não é da época de vocês, mas eu conto: o fantasma do Natal passado é a morte. Que pega elevador com Bill Murray tranquilamente. Pra baixo, claro. (é um dos meus filmes preferidos da vida toda, juro!)

Então, já que eu já estava lá, no escuro, tasquei o dedo na sirene e fiquei. Pensando no pior. E então, depois de vários minutos, o elevador começou a descer devagarzinho. Eu, sem saber o que estava acontecendo, me encolhi no canto da parede e esperei. E então de repente abriram a porta e do outro lado eu vi uns 10 caras todos vestidos com roupa de manutenção. Todos olhando pra minha cara com ar de deboche. Todos pensando que eu tava lá descabelada, gritando e chorando, coisa que todo mundo deve fazer nessas situações. Eu dei mesmo graças a Deus de ter ficado presa sozinha. Já pensou eu e uma véia puxando assunto? Eu e alguém claustrofóbico desesperado? Eu e uma criança querendo fazer xixi? Mas eu não. Eu estava bem, do alto de meu autocontrole. Olhei pra cara deles como se fossem extraterrestres. Eles, rindo, falavam no rádio "já, já soltei, já, saiu, não, tá bem". Eu, pensando que NUNCA que eu ia subir 22 andares de escada. Entrei no elevador do lado, eles me olharam. E disseram que aquele também estava parando, que era pra eu pegar os elevadores do outro lado. Eu corri. Meio atordoada, meio aliviada. Meio pensando que não é ocasião pra pânico, meio pensando que dá mesmo um certo medo. Mas na minha mente, o tempo inteiro, só passava um videozinho que alguém um dia me mostrou na internet. E eu fiz questão de querer vir aqui pra mostrar pra vocês.




6 comentários:

  1. Já detesto elevador se eu passasse por uma situação dessas subiria os 22 andares pela escada todos os dias, ou me mudaria para o térreo!

    beijos

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  2. Graças a Deus nunca fiquei presa no elevador, mas com certeza eu ia surtar, chorar, gritar e etc! Nossa....que medão! Rs!
    Beijos

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  3. Ei Rê!
    Nossa, eu acho que me desesperaria mais se ficasse presa sozinha. Uma vez eu fiquei presa, e a situação foi a seguinte, imagine.
    Eu (pronta para ir a uma festa), minha mãe, minha vizinha, o filho de 3 anos, a filha de 1 ano, e a minha faxineira! IMAGINE. O elevador parou e ABRIU a porta, na PAREDE sinistra entre um andar e outro. Minha mãe entrou em pânico, eu comecei a chorar, as crianças começaram a chorar, e a minha vizinha e a minha faxineira começaram a rir. Aí minha vizinha pegou o interfone e ligou pro porteiro, mandando ele dar um jeito de liberar logo um bando de mulher e 2 crianças dentro do elevador, e em menos de 3 minutos, eu acho, o elevador se moveu, hahahaha.
    Mas foi épico!
    Beijos!

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  4. Faço minhas as palavras de Rúvila! Morro de medo de elevador, mas ando ok. Só que, se ficasse presa em algum específico NUNCA NA VIDA que andaria nele de novo. FATÃO.


    Vídeo do mal esse, hein? Tadinho do cara!


    Beijos!

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  5. Olha, eu também não tenho problemas com elevadores. Já fiquei presa antes, mais de uma vez, mas não estava sozinha.
    Agora, o vídeo. Sério que fiquei sem saber se ria ou chorava.

    Beijo

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  6. Há trinta e dois anos dessa indústria vital nunca fiquei presa no elevador. Mas já vi no trabalho 13 pessoas presas no mesmo elevador por quase 1 hora. Deve ter sido horrível!!! Sorte sua estar só.
    O vídeo é tosco! rs.
    Bjs.

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