terça-feira, 12 de julho de 2011

Sobre a tia Beth

Eu tenho somente 6 tias nessa vida. Tia Sandra, tia Solange, tia Lurdinha, tia Sissi, tia Ariane e tia Kelen, que apesar das mudanças da vida vai continuar sendo minha tia pra sempre. Reparem na frase que eu acabei de dizer e no título do post e assinalem o erro. Acontece que apesar de ter minha meia dúzia de tias, três porque casaram com meus tios e as três S de sangue, são todas tias minhas. Porque eu não sou desse tipo de gente que só chama de parente os que realmente têm o mesmo sangue. Não. Gente que casa com meu sangue é do sangue também, se fizer por merecer. Se me tratar como sobrinha. Se me amar como tem que ser. Se for igual à tia Lurdinha, que fizer almoço árabe pra mim (porque ela tem descendência libanesa) sempre que eu pedir. Ou como a tia Kelen, que não vai deixar nunca de ser minha tia, porque eu sempre vou lembrar de quando ela virava a esquina lááá longe da escola, com aquela cabeleira cacheada e ruiva, indo me buscar. E ela passava a tarde brincando de jogo da memória comigo. E apesar da descendência alemã, até esses dias fazia sopa de ervilha de aniversário pra mim. Ou como a tia Ariane, que é minha tia só há 1 ano (ou 2, não sei, eu tenho problema de memória pré-idosa) e apesar de ter ganhado todas as partidas de War e de eu ter expulsado ela de casa por isso em pleno Natal, ela é uma flor. E faz pizza pra mim.

Mas apesar de considerar total as semi-tias como tias verdadeiras, não é qualquer um que eu chamo de tia. Tem que ter todo um embasamento. Não é igual à tia da cantina, ou a tia Dores, motorista da perua escolar que eu esperei por tantos anos. Eu não sou de chamar ninguém de tia e talvez esses dois sejam os únicos exemplos que tive nessa vida sobre isso. Eu tenho amiga barbada, 30 anos nas costas, que chama a mãe das outras de tia. E então eu me pego aqui pensando como seria se, caso a minha mãe fosse uma pessoa sociável (eu tenho a quem puxar), se algum reles mortal chamasse ela de tia (porque ela só considera duas pessoas nessa vida como sobrinhos - e os sobrinhos do meu pai não contam), o tanto que ela ia fuzilar até que o indivíduo virasse pó bem diante de seus olhos. E não é nem pela posição "tia", não. É pela intimidade que a pessoa acha que tem quando diz isso. E eu nem julgo ela não, sabe. Não posso. Porque eu quis fatiar bem fininho a menina de 13 anos que me chamou de tia no dia que eu fui ver o Pânico 4 no cinema com a Lilica. Mas passada a época da cantina e da perua escolar, eu só chamo de tia quem realmente o é. Porque pra chamar as outras pessoas eu tenho outros meios, vide o gordinho da locadora. Ou o gordinho da pizzaria. Ou a robótica da avícola.


Tia Beth foi minha tia. Com os cabelos loiros e cacheadinhos, morava no apartamento simples com o marido e os três filhos. Do mais velho, fui madrinha de casamento. E ele foi meu melhor amigo por muitos anos. E junto com as duas mais novas, eram os três primos agregados mais primos que eu tive, muito próximo da minha relação com os meus próprios primos. No tempo em que foi minha tia, tia Beth arrumou a casa e comprou lindos sofás com tecido florido pra decorar a sala. E foi a tia Beth a única pessoa que leu minha coleção de livros preferida de todas, as Memórias de Cleópatra. Porque eu emprestei, e vocês sabem o quanto isso é difícil pra mim. Emprestei pra tia Sandra também, mas essa é sangue-muito-do-meu-sangue-e-somos-infinitamente-parecidas-de-corpo-e-alma e daí não doeu tanto emprestar. Mas pra tia Beth doeu. E ela me surpreendeu quando devolveu rápido e em perfeitas condições. Tia Beth ganhou minha admiração por isso. Mas não foi aí que ela me conquistou.

Um belo dia, tia Beth comprou um creme de leite fresco pra bater chantilly. E um pacote de suspiros. E uma caixa de morangos. E fez um dos doces mais saborosos de toda essa vida. E então eu fui apresentada ao merengue. Apresentada, coisa difícil. Porque a minha mãe e minhas avós são excelentes cozinheiras. Difícil coisa simples assim que eu ainda não tenha comido. Porque pato não é simples. E eu não pretendo comer pato nessa vida.

Negócio é que eu nunca tinha comido merengue. E quando a tia Beth fez pra mim, foi amor à primeira vista. Em grande parte pelo sabor do doce, mas muito mais por ela ter feito PRA MIM. Tia Beth foi ali minha tia também. Por seis longos anos. E em todo esse tempo eu não me lembro de ter tido um minuto sequer de impaciência com ela. Não me lembro de não ter gostado de alguma coisa que ela dizia. E de todas as casas de todas as tias agregadas que eu frequentava, era lá na casa da tia Beth que eu me sentia em casa. Quase como na casa das minhas próprias tias.

Todos os merengues que eu comi até hoje foi a tia Beth que fez. Porque eu não entendo o que é que acontece que apesar de ser um doce fácil de fazer, ninguém faz. Não vejo em restaurantes. Nem docerias. Eu nunca vi um merengue pra vender. Tia Beth me apresentou a um doce lindo, que vai ser o doce dela pra sempre.


Faz quase 7 anos que eu não vejo a tia Beth e muito provavelmente, nunca mais a verei na vida. Mas sexta-feira passada eu resolvi fazer o primeiro merengue da minha vida e por isso sonhei a noite anterior inteira com ela.


Tia Beth, eu nunca te esqueci. E o meu merengue nem de longe ficou tão maravilhoso quanto o seu.


PS: Boa tia é aquela que faz boa comida para os sobrinhos comerem. Lógico.

6 comentários:

  1. Bom, tenho 1 tio de sangue por parte de pai. E ele nunca casou. Já do outro lado, hahaha. Minha mãe tem 13 irmãos. E desses 13, 11 são casados. Todos os maridos/esposas, obviamente, são meus tios, só tem uma que eu ainda não chamo de tia, porque meu tio casou a pouco tempo e eu ainda estou sem graça de chamar ela assim, mas já considero. Ainda por cima tem o ex marido de uma tia minha, que sem condições de eu encontrar na rua e não chamar de tio, porque ele é meu tio sim.
    Ou seja, só por aí já são muitos. Ainda tem os tios adquiridos na vida. Amigas queridas da minha mãe, 2 que eu chamo de tia, e 3 que não chamo de tia, mas considero. Tenho vergonha de chamar os pais dos meus amigos de tio, mas os pais de 2 amigas minhas (que são irmãs) se auto-entitularam meus tios, e é óbvio que eu adorei. A minha 'tia' mais recém adquirida, é óbvio, é a Airen. Que só tem 28 anos, mas se auto-entitulou assim. E nem preciso dizer que ela é encantadora. Ou seja: DOU MUITA SORTE COM TIOS, que aparecem na minha vida. Seja os de sangue ou os de consideração. E cada um deixa sua marquinha, como tia Beth deixou o merengue. E é por isso que são tão especiais! <3

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  2. Eu também chamo de tia quem merece, independente de ter o laço de sangue ou não.
    Chamo minha sogra de tia.
    Porque se não a chamasse de tia chamaria de quê? De mãe?
    Acho Dona suuuper senhora do açougue.
    Tia é legal.
    Sempre chamo as mães de amigas de tia.
    Pô, é mãe é tia.
    Aqui tem a tia do café, a tia da limpeza...
    Se for novinha, novinha..aí vai o nome mesmo.
    Só sei que tem tia minha que eu poderia chamar de tudo menos de tia.

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  3. Minha tia Baby é uma spice girl igual a sua tia Betty. Apesar de ter quase cinquenta aninhos, tem uma alegria de viver tão grande que parece mais jovem do que eu.
    Beijão.

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  4. Primeiro de tudo: esse merengue é o seu?!! GENTE, que lindo! Se quiser me mandar um pedaço, juro que não ligo que nao é igual ao da tia Beth, viu?
    Agora sobre tios. Eu tenho uma tia "de verdade", só. Irmã do meu pai. E eu não a chamo de tia, mas sim por um apelido, que é como eu (e todo mundo em casa) a chamamos desde que eu nasci. Seria estranho chamá-la de tia porque, sei lá. Quando eu nasci ela tinha uns 18, 19 anos e estava começando a faculdade e não sei se é porque a gente se parece demais (física e emocionalmente) ou porque ela tem a mesma cara desde que tinha 18 anos (sério) que ela não tem cara de dia. Se eu fosse pensar, ela seria tipo uma prima mais velha, sabe? Não consigo chamar de tia uma pessoa com quem eu compartilho meu guarda-roupas e que compartilha a mala comigo quando vem pra cá ou que vai comigo no show do Radiohead. Não rola, sabe?

    Aí tem minhas "tias". Tem a Déa, que é mulher do irmão do meu pai, que apesar de ter a idade da minha mãe, é como se fosse bem mais nova. É na casa dela que eu fico quando vou pra São Paulo, e ela é uma linda. Toda descolada e legal, e tem aflição de bolinhas. Seria estranho chamá-la de tia. O nome dela é Andrea, e quando pequena eu só falava Déa e assim ficou até hoje. E aí tem as mulheres dos irmãos da minha mãe, que são tias mais recentes porque ambos estão no segundo casamento e eu não tenho uma relação muito próxima com nenhuma delas, nem com meus tios (apesar de chamá-los de tios), então fica meio estranho você chamar de tia uma pessoa que você tem uma relação que se resume a small-talk, sabe? "Tá namorando? Já decidiu o que vai fazer no vestibular?"

    Tias que eu chamo de tias são minhas tias-avós. Nem sou próxima de algumas, mas a coisa do tia se manteve. Daí eu tenho várias, porque né, antigamente tinha-se pataquadas de filhos.

    Beijos.

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  5. Nossa, que vontade de comer merengue! Humm!

    Esse negócio de tia é engraçado. As minhas tias por parte de mãe, que são as mais próximas, nunca chamei de "tia". Chamo todas pelos nomes: Célia, Maria, Zezinha, etc. As mulheres dos meus tios não consigo chamar de tia! E não é porque não gosto delas, não sei explicar. Falo: "a Maria do Waldir (tio), a Maria do Pedro (tio)", etc! Já meus tios e tias por parte de pai que são mais distantes, esses sim chamo de Tio Giovani, tia Julia, etc! Acho que sou bem esquisita viu! Rs!

    Beijos

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  6. Só pra compartilhar, também quase morri do peito a primeira vez que fui chamada de tia.
    Sou um pouco como suas amigas, que sai chamando todo mundo de tia. Mas parei um pouco com isso, já tô grandinha... rs
    Bjitos!

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