Foi o tempo de Helena correr em minha direção e me abraçar e Alice, desesperada para resolver logo a situação para podermos sair logo daquele lugar horrível, chegou arrancando todos os fios de Alex. De uma vez, sem nem pensar no que poderia acontecer. Eu, em um misto de "isso mesmo, vamos correr daqui" e "mas Alex tinha dito que primeiro é preciso desconectar os fios azuis e só então os vermelhos" me desesperei.
- Alice, meu Deus, não deve ser assim que desliga, pare com isso, você pode matar o Alex!
E então foi nessa hora. Foi nessa hora que, de repente, tudo ficou escuro. E eu, demorando pra entender o que havia acontecido, o rosto cheio de lágrimas e o grito estridente de Helena do meu lado, finalmente percebi: eu não havia ficado cega. Estávamos no escuro simplesmente porque toda a luz do prédio que não tinha nenhuma janela se apagou.
Segurando nas mãos de Helena e tentando acalmá-la, eu tentava lembrar. Em qual andar estávamos dentro daquele prédio horroroso? Quinto? Depois de tantos corredores e tantas escadas que passei morta de ansiedade pelo que ia encontrar quando chegasse no lugar em que dr. Oliver estava me levando, acabei me perdendo. Como se eu, que me perco até em shopping, precisasse de muita coisa pra me perder em algum lugar.
De repente senti alguém encostando a mão no meu braço. Depois do grito ensurdecedor que eu dei, reparei que era Alice. Quase cheguei a esquecer da presença dela enquanto pensava em nossa situação.
- Gente, eu lembro que estamos no terceiro andar. Tudo o que temos que fazer é atravessar todo o corredor, o que não é muito difícil, porque é uma reta só. No fim dele, ficam as escadas. Descendo três lances chegamos na porta da rua. A questão é: como carregaremos o Alex?
Pronto. Alice, sempre ela. a personificação da pessoa esperta.
- O skate! O skate! - Helena gritou.
- Helena, que susto! Que skate, minha filha? Tá alucinando? - eu também me achei no direito de extravasar meu nervosismo no momento.
- Di, nós viemos de skate! O irmão da Alice nos emprestou dois, para virmos pra cá, quando ele nos ouviu discutindo sobre como poderíamos chegar aqui. Você sabe que horas são? Duas horas da manhã! Não tem mais ônibus nessa cidade e eu sempre digo que isso aqui é tão interior que até os taxistas dormem! Deixamos os skates lá na recepção! Tudo o que temos que fazer é irmos lá buscar, voltarmos aqui, colocarmos o Alex em cima deles e então conseguimos sair rapidinho. E é nossa única opção, porque por mais fraco que ele esteja nós não vamos conseguir carregá-lo nas costas!
Maravilha. Estava tudo muito bom, tudo muito bem. Um corredor imenso e cheio de portas no caminho. Duas horas da manhã. Escuridão quase que completa, porque nossos olhos se acostumaram um pouco a ela e agora pelo menos a gente conseguia enxergar mais ou menos uns três palmos diante do nariz. Dr. Oliver esticado no chão e eu tentando calcular mais ou menos quanto tempo ele ficaria desacordado. Foi só uma sapatada. E eu, que sempre achei exageradas aquelas meia-patas imensas que Helena insistia em usar até pra comprar pão na esquina, agora agradeci. Com certeza a sapatada foi mais eficaz de meia pata do que teria sido se ela usasse sapatilhas como eu.
- Mas Helena, como vamos levar Alex por quatro lances de escadas abaixo em cima de skates?
- Parece que eu vi um elevador, Di! - Alice finalmente se manifestou - Só não lembro se foi do lado esquerdo ou direito da escada, mas tinha um elevador!
- Ótimo, facilitou um pouco a vida agora. Então vamos buscar os skates e no caminho a gente já vê se o elevador está funcionando.
Peguei no braço da Alice e esperei enquanto Helena resgatava seu outro pé de sapato jogado e colocava no pé de volta, mas não sem antes dar com vontade mais uma bela sapatada na cabeça do Dr. Oliver já jogado anteriormente no chão.
- Pra garantir que o tiozão não vai acordar - explicou. Segurou meu outro braço e abrimos a porta.
Quando olhei à frente pensei que não me lembrava daquele corredor ser tão comprido. Não me lembrava de ter passado por ali com Dr. Oliver, quando nos dirigíamos à sala em que Alex estava. Devia ser a minha ansiedade, claro. Dei graças por conseguir enxergar uma luz no fim do corredor. Havia uma única luz de emergência em todo aquele andar, localizada bem lá no fim do corredor, perto das escadas. Mesmo com a luz muito fraca conseguíamos ver o elevador, bem ali do lado direito da escada. Eu amo minhas amigas, pensei. Conseguiremos.
Foi logo nos três primeiros passos da corrida que Helena torceu o pé. Ah, meia pata. Eu te odeio. Helena caiu, nós paramos pra ajudar, conseguimos levantá-la. Eu e Alice, uma de cada lado. Helena mal conseguia colocar o pé esquerdo no chão. Arranquei aquele inferno de sapato dos pés dela e a carregamos devagar pelo corredor. Pronto, que beleza. Eu amo Helena, mas Deus me perdoe, nessa hora eu só consegui pensar que era uma a menos pra carregar o Alex pra fora daquele lugar horroroso. Helena era uma das minhas melhores amigas, irmã mesmo. Mas o problema dela era só um pé torcido. E o problema de Alex era a própria vida.
Mais alguns passos doloridos pelo corredor imenso e começamos a ouvir um barulho vindo de dentro das portas. O vento. O vento que uiva quando bate em prédios altos. O vento que entra por frestas de janelas. Ah, é só o vento. Mas... por onde vinha vento, se aquele prédio não tinha nenhuma janela?
E então eu vi uma menina. Correndo, de uma porta a outra do corredor. Uma imagem quase apagada, como uma sombra. Uma sombra branca. E ela saía de uma porta e entrava em outra. Várias vezes. Portas diferentes. Cabelos lisos e castanhos, uma camisola branca e comprida até os pés. No barulho do vento, a imagem da menina corria por entre as portas e vinha do fim do corredor cada vez mais pra perto de nós, que paramos no caminho porque o arrepio de medo não deixava a gente se mover.
Uma sombra branca de menina. Um fantasma.
E então ela parou na nossa frente e sem que ela abrisse a boca ou expressasse qualquer movimento facial, ouviu-se naquele corredor:
- O meu nome é Camila. E vocês não vão conseguir sair daqui.
E foi nessa hora que Alice desmaiou.
Esta é a décima quarta parte de um meme cuja proposta foi fazer um conto a 30 mãos para comemorarmos 1 ano do grupo de blogueiras mais florido desse mundo: a Máfia!
Pra quem perdeu o que já passou e quiser acompanhar separei os links aqui embaixo, e pra quem ficou ansioso pra saber a continuação é só esperar. Amanhã chega a continuação dessa eletrizante aventura com a galerinha da pesada aprontando altas curtições no blog da Mayra!
1/30 - É só uma picadinha - por Rafaella
2/30 - Como tudo começou - por Marie
3/30 - Do medo da perda - por Marcela
4/30 - Esperando o telefone tocar - por Ana Lu
5/30 - Entre o pensamento e a realidade - por Rhaíssa
6/30 - Não há lugar como a nossa casa - por Rafaela
7/30 - por Gabriela Couth
8/30 - Centro de Pesquisas Humanas em Zumbot - por Nathy
9/30 - A verdadeira face de Alex - por Tailany
10/30 - Vamos com você, nós somos invencíveis pode crer! - por Lilica
11/30 - Contra o tempo - por Bruna
12/30 - Intimação - por Gabriela Irala
13/30 - Take my hand, we'll make it. I swear - por Alessandra
HAHAHA, GALERINHA DA PESADA! Adorei você ter colocado outro tipo de ser na história! Camila, o fantasma! Ansiosa, ansiosa, ansiosa! Como será que a menina do cabelo verde continuará isso? *_*
ResponderExcluirAi Jesus. Meu coração tá disparado. A história tá boa demais e estou morrendo de medo de estragá-la! Mandou muito bem Rê! Abraços!
ResponderExcluirRenata trouxe um toque sombrio p/ história.Esse corredor me deu medo e me senti desmaiando junto com Alice qdo a Camila apareceu hauahuaha Gente, eu AMEI!! Vamo, May, vamooooooo!! \o/
ResponderExcluirPo, Re... Quase desmaiei junto com a Alice!!!! Mandou muuuuuuuuito!!! Aaaaaaaaaaaaaaaaaa!!!! Te amo!!! Bjbj
ResponderExcluirCaramba Re, gostei muito da continuação!! E qual será a da Camila hein? Aguardemos pelo próximo. :)
ResponderExcluirShowww, Rê!!! To adorando!
ResponderExcluirBeijosss
Fiquei olhando pra foto e juro, quase vi o vulto da Camila passando, hahhahaha.
ResponderExcluirE que droga, só eu não tive ideia pro meu título?
~Camila, a fantasminha camarada~
ResponderExcluirUi, essa entrada da Camila me assustou. Socorro!
ResponderExcluirMas gente, sempre soube que meia-pata era uma arma HAHAHA Adorei a sua sequência e vou tentar copiar esse final organizadinho com os links de todas, pode?
Meia pata é a vida mesmo, né? Mais uma vez tenho que dizer que estou amando essas amigas! E ESSA CAMILA AÍ, QUAL SERÁ A DELA HEIN? ~medo~
ResponderExcluirBeijinhosss
Adorei a chamada estilo sessão da tarde hahah
ResponderExcluirQuero ver o que essa Camila vai fazer contra as meninas. Já tô arrancando os cabelos, tentando imaginar o que eu vou fazer na minha vez.
beijos