Ela era uma menina que gostava da vida. Vinte e poucos anos, morava na casinha humilde porém cheia de amor com a mãe. Tatá era aquele tipo de menina doce, que quando sai de casa para ir à padaria, consegue cumprimentar quase toda a cidade no caminho. "Bom dia, Tatá", era o que ela ouvia por onde passava. "Bom dia, seu José" era o que ela respondia, tão educada como sua mãe gostaria que fosse.
Tatá saía de casa com seu vestido florido, sua sandália rasteira. Saltitando pelas ruas de paralelepídedo do bairro do Pantanal sul-mato-grossense. O calor do fim da tarde em seus ombros, mas ela amava aquilo. A calma da cidade. O mormaço típico. Tatá era uma menina que saltitava e rodopiava, feliz com a vida.
Naquela tarde, como em todas as outras, Tatá tomou rapidamente seu café e saiu apressada e com os cabelos esvoaçantes levando uma pequena sacola pela rua até o rio. Ela cresceu na beira daquele rio. Tomando banho enquanto era criança, brincando com os amigos. O rio que era a sua casa, porque ela sempre morou ali naquele lugar. E não há melhor lugar que a nossa casa.
Tatá correu até o rio, sentou em seu lugarzinho favorito e tirou o que tinha de dentro da sacola. Ali, de longe, quem passasse veria algo como um lanche. E era sim, um lanche. Mas não pra ela.
De dentro do pacote saiu um pedaço de bife, de um tamanho razoável, que ela mesmo tinha comprado para a mãe no açougue pouco antes do almoço. Enquanto a mãe não via, surrupiou um dos bifes e enfiou na sacolinha. Um hábito que já há algum tempo fazia. A mãe fingia não ver e se questionava o motivo pelo qual a filha geralmente separava um bife cru do montante total para a refeição. Mães sempre sabem das coisas, mas ela imaginava que Tatá alimentava algum cachorrinho pela rua. Que engano.
Tatá era sim aquela menina que amava animais. Da mesma forma que cumprimentava as pessoas por onde passava, sabia os nomes de todos os cachorros da vizinhança. E os gatos. E assoviava como os passarinhos. E saía para passear com as galinhas. Até um camundongo, certa vez, fez amizade com Tatá. Porque ela teve medo sim, mas era um animalzinho tão pequeno e indefeso e peludinho que ali, mesmo de longe, ela se afeiçoou a ele.
Essa tarde Tatá visitava seu amigo preferido. Aquele que um dia, enquanto Tatá assistia o pôr do sol, viu se aprochegar meio que em sua direção. Quando o viu, Tatá quase gritou de susto. Mas a criaturinha, indefesa, somente olhou pra ela e abaixou a cabeça. Como um gato ou cachorro à espera de um cafuné. Tatá, ainda assim temerosa pelo animalzinho, não se movimentou. Mas ele, como pedindo a atenção dela e quase deixando de lado a física e a sua espécie, virou o corpo mostrando a barriga. Ele queria carinho. E era um jacaré.
Jacaré, lagarto, iguana, lagartixa. Tatá não sabia muito bem de que se tratava aquele animal feio, mas que exigia tanto da sua atenção. Mas ele não era tão grande quanto um jacaré. Talvez fosse um filhote. Talvez fosse um jacaré anão. Porque em meio às suas feias feições, ele até que era engraçadinho - pouco mais de trinta centímetros e bem mais gordinho do que deveria ser. E ficaram os dois ali, cada um de seu lado, assistindo o pôr do sol. Fato esse que se repetiu depois por mais alguns dias da semana. E Tatá se afeiçoou a ele. Ir até a beira do rio no fim da tarde agora já não era mais só para ver o pôr do sol. Era para visitar o Janjão. Janjão tornou-se o amigo confidente, pois Tatá passava as tardes conversando com ele. Tinha medo de segurá-lo, mas isso não os impedia de ter um relacionamento amigável saudável. Janjão fazia exatamente o mesmo movimento todos os dias: saía da água, avistava Tatá sentada na beira do rio assistindo o pôr do sol, se aconchegava em seu redor e fazia companhia. E assim criou-se uma afeição mútua. E quem foi que disse que os répteis têm o sangue frio?
Naquela tarde, Janjão não veio assistir o pôr do sol e comer o bife que Tatá deixou à sua espera. "Deve ter perdido a hora", pensou ela preocupada. Esperou até quase a lua aparecer no céu. Mas não podia esperar mais. Ela quase ouvia no fim da rua a sua mãe chamando para o jantar.D eixou o bife no lugar de sempre, meio que escondido para que outros animais não pegassem. "Janjão pode ter fome durante a noite". E correu para casa.
No dia seguinte, o bife ainda estava lá. E no outro, e no outro. Passou quase uma semana sem que Janjão chegasse para fazer companhia. Para comer. Para conversarem. E Tatá pensou no pior. Pensou que ele deveria estar doente. Pensou que ele poderia ter se perdido. Pensou que, ai meu Deus, ele poderia ter morrido. E então o desespero veio à tona.
Tatá passou mais vários dias indo sozinha à beira do rio no fim da tarde. Um mês, dois meses, três meses. Chateada, chegava às vezes até a chorar. Demorou, mas passou. Tatá era uma menina cheia de esperanças e de bons pensamentos, o que a ajudou a pensar que onde quer que Janjão estivesse, estaria melhor. Mesmo assim, Tatá deixou de rodopiar pela rua para assistir o pôr do sol na beira do rio no fim das tardes.
Um dia enquanto assistia no sofá à novela com a mãe, Tatá ouviu um burburinho das crianças na rua. Abriu a porta e viu o pessoalzinho afobado correndo, mas a mãe de Tatá não a deixou sair de casa. "Isso não é hora de moça de família ficar na rua, Taryne" foi parte da bronca ouvida. Tatá, muito obediente, porém com a curiosidade maior, rolava na cama em seu quarto contando as horas para o amanhecer. Com os pensamentos tão entretidos em sua própria cabecinha, Tatá quase nem percebeu que o burburinho da rua tinha se dissipado. E agora, lá fora, só se ouvia os grilos da madrugada.
Tatá saiu pela janela. Pé ante pé, descalça pela rua, o tecido da camisola fina esvoaçante. Tatá correu no sentido do rio. Cheia de emoção e ansiedade, marejou os olhos quando chegou na margem.
Janjão estava lá, à sua espera. Pareceu sorrir no momento em que viu Tatá. Ela, feliz da vida, pela primeira vez passou as mãos no dorso dele e viu que ele fechava os olhos de satisfação. Em meio ao carinho há tanto esperado, Janjão olhou para o lado, como quem mostrava alguma coisa. Tatá também olhou. E no bife que Tatá havia deixado lá já há algumas semanas meio escondido entre as folhas, um filhotinho.
AHUAHUAHAUAHUAHUAHAUAHUAHUAHUAHAUHAUAHUAHUAHAUAHUAHUAHAUAHUAHUAHUAHU MEU. DEUS!!!! É por essas e outras que você é uma das pessoas mais fodas que eu já tive o prazer de conhecer. Gente. Que coisa mais lindinha e troll, Rê! Amei, amei, amei!
ResponderExcluirAi, parabéns pra menina da terra dos jacarés!
P.s. Janjão é um nome muito fofinho e engraçado.
Amo você, amo a Tary, amo todas nós!
Beijos <3
Amei, amei, amei! Ri horrores do começo ao fim <3 Você escreveu a minha história com o Janjão! Que fofa! Agora preciso arrumar um nome pro filhotinho, né? E esse gif, meu Deus? HAHAHAHAHAHAHAHA Tô morrendo aqui! Brigada, Rê <3 A menina dos jacarés te ama, te admira e morre de saudades de você todo dia!
ResponderExcluirHAHAHA, Rê, eu te amo! Morri de rir, e esse é um dos gifs mais fofos da vida! Janjão, Janjinho, e Tatá!!!
ResponderExcluirAMO vocês!
Tatá, Janjão e o gif do jacarezinho kkkkkkkkkkkkkk é muita fofice num post só.
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