domingo, 27 de janeiro de 2013

Uni duni tê

Cinco anos de vida. Era a idade que eu tinha quando ganhei esse disco. DISCO. LP. Esse bagulho antigo que hoje em dia você só acha em feiras de antiguidade e que mesmo que resolva comprar você não vai conseguir tocar a não ser que tenha uma VITROLA em casa. Coisa que não vende mais há bem uns 20 anos.

Parece que eu ganhei foi adiantado, pelo meu aniversário de 6 anos. Aquele que meus pais resolveram sair pegando todas as crianças da rua pra participar. Não, não eram crianças DE rua. Eram as crianças da vizinhança. E eu lembro bem de estar dentro do carro, no banco da frente, no colo da minha mãe, porque lá no banco de trás devia ter bem umas 30 crianças enfurnadas umas nas outras. Meus pais resolveram naquele dia me compensar por fazer aniversário em 26 de dezembro. E foi a única vez na vida que eu tive mais de 30 pessoas que não eram parentes na minha festa. Eu não conhecia mais da metade e a outra metade só via de vista passando na rua. Porque eu não era uma criança que podia brincar na rua.

Engraçado pensar que eu tive uma festa de aniversário cheia de gente desconhecida. Eu, essa criatura seletiva que sou hoje. Meus pais então, que será que deu na cabeça deles pra fazerem isso? Quem conhece eles hoje nunca imaginaria que seriam capazes de ter um trabalhão desses. Mas tiveram. É a loucura dos 20 e poucos anos. Eles eram mais novos do que eu sou hoje quando eu estava fazendo 6 anos de idade.

Daí a minha festa foi superlegal, eu nem me importei que a maioria dos neguinhos eu nem conhecia. Eu gostei foi de ter a festa cheia de crianças. E tenho fotos pra lembrar da minha avó sentada no meio deles ensinando todo mundo a brincar de corre-cotia. Ah, tempos remotos em que não existia video game. 

E, no fundo de tal festa memorável, o disco que eu havia ganhado alguns dias antes. Trem da Alegria. O primeiro disco que eu ganhei na vida. A primeira demonstração de música que eu lembro de ter ouvido na vida (fora as musiquinhas tipo Atirei o Pau no Gato que eu aprendia na escola). E gente, como eu gostava! Sempre soube de cor todas as músicas do disco, porque eu passava boas horas cantando todas junto com o encarte (porque eu aprendi a ler aos 4 anos, beijo). 

Meu pai tinha menos que 30 anos na época e costumava me acordar ao som de Guns 'N Roses, que eu odiava (minha mãe tava trabalhando nessa hora, então pai serve pra te zoar). Foi bem nessa época que eu aprendi a acordar de mau humor. Mas raramente, BEM raramente mesmo, às vezes ele botava lá o disco do Trem da Alegria pra eu acordar feliz. E nossa, são tantas vezes que eu me lembro de brincar no quintal com meu triciclo (eu tinha um igualzinho ao do Quico) cantando junto com o disco as músicas!


Cresci. Agora Guns 'N Roses pra mim é totalmente audível. E minha infância ficou lá atrás, junto com meu repertório de músicas do Trem da Alegria. 

Mas sexta feira eu fui no aniversário da Lilica, em uma balada aqui em SP. E eu não sou muito adepta à diversão da Vila Madá, mas fui lá. Fui pela Lilica, mas também porque ela já tinha me dito quem ia tocar. 

Luciano. Não vem ao caso qual é o sobrenome dele, mas não é o do Zezé di Camargo. Luciano pra mim é só Luciano desde sempre, desde quando era conhecido como o integrante mais bonitinho do Trem da Alegria. Todas as meninas amavam e diziam que era o namorado delas. Eu ainda não estava nessa pegada de "namorado", mas entendia bem que eram as rebeldes que curtiam o Luciano, já que a preferência geral da nação eram os Menudos. Luciano tinha os cabelos lisos e em formato de tigela mas eu, preferencialmente (e não mudei meu gosto desde então) sempre preferi o Juninho Bill. Mais feinho, porém mais divertido, mais animado e mais safado. Ah, meu gosto para homens.

Luciano, baixinho, barrigudinho e descabelado, entrou no palco e cantou umas músicas estranhas lá. Cantou Nirvana. Cantou Aerosmith, Maroon 5. Cantou Legião Urbana e Jota Quest. Lilica me contou que antes que eu chegasse ele cantou até Bon Jovi. Eu comentei que ainda bem que não estava lá, porque eu odeio todo e qualquer sósia do Bon Jovi. Pra mim tem que ser só o original. Tava tudo muito estranho naquele lugar. Até Luciano encerrar o show cantando Uni Duni Tê e He-Man.

Daí, minha gente, eu senti a emoção. Um integrante do meu primeiro grupo musical preferido. Ali, na minha frente. Cantando a música que eu cantei ao longo de tantos anos. Olhando pra mim. E ah, que saudades do Juninho Bill. E da Patrícia Marx. Mas não, eu não chorei. Nem descabelei. Nem gritei. 

Eu senti foi o peso. O peso da idade nas costas.

Ai que coisa. É chato pensar em como o tempo passa, né?

Sim, "esse cara sou eu". 
E sim, eu ainda tenho o LP do Trem da Alegria. É, aos 33 anos.
O Luciano é aquele ali com o macacão azul e camiseta amarela.

4 comentários:

  1. Eu não lembro mais qual foi meu primeiro LP... não lembro mais de muitas coisas... é esse tal peso esmagando minha memória...
    Mas lembro de "super fantástico amigo, que bom estar contigo no nosso balão..." porque fui acordada no meio da madrugada com uma bandinha tocando isso com som nas alturas. Bumbos batendo e eu quase grudando no teto de susto...

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  2. Amiga, essas paixões de infância a gente sempre guarda. Eu guardo no coração as música da Sandy, eu era totalmente fã alucinada. Foi com ela que eu descobri o que era amar um ídolo, e eu tinha lá meus 5 anos, hein? E essas do Trem da Alegria eu aprendi depois de grande, e adoro quando toca isso em show/balada. Me divirto horrores ao som de He-Man! HAHAHA
    Queria ter ido curtir com vocês esse #MilíciaDay!
    Beijos! <3

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  3. Rê, sou da época da Analu, da época da Sandy, e posso dizer que quando eu fui no show dela, com uns 6 anos, vivi um dos momentos mais mágicos da minha vida.
    Tô louca pra ouvir Uni-Duni-Tê com você em outubro <3

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  4. A casa dos meus pais já chegou a ter duas vitrolas, era muito amor e muito tango. Também muito Caetano - os primeiros discos dele.
    Aos cinco anos de idade, eu não sabia oq ue era uma festa de aniversário, que o Andrea Bocceli era cego e que a novela Chiquititas não era "de verdade". Bem, aos 5 anos tive a minha segunda festança de aniversário (a primeira foi aos dois, mas é claro que eu não me recordo), e essa festança foi no restaurante ~badalado~ da minha tia. À noite. Todo mundo da escola estava lá. Eu estava com um vestido branco que só usava em "ocasiões especiais" e SURPRESA: tinha um montão de adolescente que eu não conhecia. Amigos da minha irmã mais velha. E pessoas literalmente desconhecidas também, porque aquilo era um restaurante. E o restaurante não ia fechar por conta de uma festinha de criança, né?
    Tamo junta.
    Só não posso falar do Trem da Alegria porque não sou desse tempo, disculpaê.
    Abraços.

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