Daí que eu concordo que esse mundo é mesmo uma merda. Porque aqui não importa muito o que você fez, mas sim o que você fez que foi melhor que o outro. Que outro? Aquele que for sempre melhor que você, oras! Porque você quando era pequeno era um chato do caramba e chorava bem mais que aquele seu irmão mais novo, o santo. Porque quando o parente próximo da mesma idade começou a andar, você ainda estava engatinhando. Porque o mundo inteiro comia de tudo e você, criatura, não bebia nem água. Porque a coleguinha de escola vai fazer o papel principal da apresentação de dança espanhola quando você, lerda, recusou o convite. E agora que você resolveu aceitar ser a borboleta da história da lagarta no teatro... não é hora, sabe? Porque os alunos realmente bons estão pensando em estudar para as provas. E é, você é uma aluna de média 8. Mas não é 10, como aquela sua colega de classe, a Fulana. E também não é tão sociável quanto a Ciclana, sua vizinha. Ah, resolveu namorar? É, um feinho qualquer, porque você não teve capacidade pra conquistar o Gianecchini, claro. Primeiro emprego? Ah, é mesmo uma empresa multinacional de grande porte, mas você não foi trabalhar na Microsoft então não vale tanto assim. Tá ganhando bom sálário? Ah, mas a Beltrana ganha o triplo disso!
E assim vai a vida. Assim a gente aprende a nos comparar com os outros. É assim que nasce a inveja. Porque a grama do vizinho é mais verde, brilha mais e tem mais minhocas gordas e com senso de direção que a sua. E qualquer cachorro que passar vai escolher a sua grama mal cuidada pra carimbar, e não vai estragar a perfeita do vizinho, claro. E aí é bem mais fácil você invejar o jardim do vizinho do que enfiar as mãos à obra e comprar novo adubo para a sua. E você vai lá na casa dele à noite arrancar graminha por graminha para se vingar, porque você vai ter insônia ao pensar que a sua não é tão verde-folha quanto a dele. Normal. Faz parte da sociedade. Somos criados assim e a vontade de ser melhor que o outro existe desde sempre e vai existir pra sempre. E eu acho mesmo que a comparação traz coisas boas para cada um. Pra quem tem vontade de crescer ao invés de se lamentar, cria visão de futuro e oportunidades baseadas no esforço próprio. Eu quero ser tão bom quanto o vizinho. Vou me empenhar. Vou chegar lá. E chega mesmo.
Mas na vida, assim como os melhores que a gente, existe os piores. E hoje eu vou dedicar meu post a eles. Às moças que vieram ao mundo com o cabelo fuafa. Às que tingiram e ficou laranja. Às que queimam o ovo. Às que têm as unhas em formato de espátula. Às que têm pé feio. Às que colocam sandália e os dedos escapam pra fora do solado. Às pessoas que não têm senso de ridículo ao se vestir. Às que não sabem escrever um bom texto. Às que não conseguem arrumar um hobby para ser feliz. Às que não gostam de ler. Às que não sabem andar de bicicleta. Às que enfiam os dentes na frente quando vão beijar. Às que têm voz de taquara rachada. Às que não têm senso de humor. Às que não sabem sorrir. Às que se assustam com a tecnologia e não fazem questão de aprender. Às que não têm planos para o futuro. Às que acham que sonhar não vale a pena. Às pessoas que acham que ser grosseiro é bonito. Às que não têm educação. Às que não sabem se portar em qualquer ocasião. Às que não têm respeito pelo próximo. Às que só pensam em si mesmas.
Eu nunca esqueço quando entrei na natação. Eu e meus 17 anos recém completados. Nervosa por não saber nadar nem um nada. Quase que nem boiar eu sabia. Cheguei na academia: crianças. Só crianças aprendem a nadar. Os adultos já nascem sabendo, claro. E eu podia ter passado bem sem saber nadar, se não fosse a viagem de fim de ano que eu faria com a escola. Imagina. Nordestão de meu deus e eu sem saber nadar? Cê acha? O MUNDO TODO sabendo nadar menos eu. Nem pensar. Lá fui eu. Eu, meus 17 anos, minha magreza linda que não volta nunca mais num maiô azul e meus longos cabelos enfiados numa touca. Cotonete, me chamaram. No meio das crianças. Valéria era o nome da minha primeira professora de natação. Enfiada comigo na água e me segurando. Mico total. Era muita informação pra mim aquele negócio de bater braços, pernas e virar a cabeça pro lado pra respirar. Tudo de olhos abertos. Eu não tinha coordenação motora pra isso não. Não dava pra coisa. Era muita aventura pra minha pessoa.
Até que chegou mais uma aluna. Luciscleide (nome fictício porque eu não lembro o original. Mas era bem pior que esse, confiem em mim) tinha seus 24, 25 anos. Pra mim, então com 17, era muito mais velha que eu. E, consequentemente, o mico de estar aprendendo a nadar nessa altura do campeonato era muito pior. Luciscleide era esposa do moço que limpava a piscina, e por isso ganhou as aulas de graça. Enfiava sua forma de croquete de carne no maiô e me acompanhava. Ela, bem pior que eu, não conseguia nem enfiar a cara na água. E então eu aprendi a nadar. Vendo toda a dificuldade de Lu, a professora dava mais atenção pra ela na água. E eu, pessoa que não se sente à vontade pra fazer uma coisa nova se alguém estiver olhando... me dava bem fazendo as coisas sozinha. Entretida com as peripécias e gritos de Lu na água, as horas passavam rápido. Era sempre engraçado ver que cada braçada que ela dava, o rosto afundava e a bunda era a única coisa que restava pra fora da água. Um dia, nadando de costas, Lu dobrou o tronco pra trás e se afogou. E eu analisei a tia super Valéria tirar a roupa correndo e mergulhar na água como se fosse salvar o último leão marinho em extinção. Bonito. Achei legal. E decidi que um dia eu ia aprender a nadar assim. Onze anos foi o tempo que treinei natação. E posso dizer que atingi o meu objetivo. Mas foi a Lu que me incentivou.
Acho que é importante reparar nas pessoas piores que a gente, tanto quanto a gente repara nos melhores. Porque é olhando para os piores que não nos sentimos um caso perdido. É convivendo com eles que conseguimos ter incentivo para melhorar. Porque você pode estar mal, mas tem aquele que tá pior. É o pior que te dá forças, é o pior que te faz crescer. E você pode até não saber nadar, mas pelo menos não tá se afogando na piscina rasa e dando show na academia. E quando o namorado vai assistir a sua aula.... vai achar mesmo que você é toda supimpa e nada perfeitamente bem. Porque ele vai te comparar com a Lu, claro. E então que o namorado foi fazer aulas de natação comigo. E teve que usar pés de pato, coisa que eu nunca precisei. E calçando isso sentava na borda da piscina e me olhava nadar borboleta lindamente. Em terra de pé de pato qualquer borboleta é sereia.
Foi exatamente isso que eu pensei essa semana, quando o coordenador do curso de dança nos comunicou que no nível em que estamos, aprenderemos não a dançar, mas a dançar bem. E que não quer nos ver simplesmente dançando timidamente, que quer ver a gente dar show. Em todo e qualquer lugar, pois vai tocar toda e qualquer música nas aulas, conosco sabendo o ritmo e os passos, ou não. Aprenderemos quarenta passos novos de cada ritmo, e ele não quer que dancemos todos iguais. Quer ver aflorar em cada um o próprio estilo de dançar. E com tanta pressão e tantos pedidos de 'não desista!', cheguei a me sentir lá no primeiro dia da aula da natação: querendo sair pelos fundos. Mas então, olhando para os lados... quanta gente que, além de errar.. ainda erra para o lado errado. Quanta gente pior que eu. Quanta gente mais velha, quanta gente mais gorda, quanta gente que paga mais mico que eu. E é por isso que cada cavalheiro conhecido que chega do meu lado e diz 'que bom que a próxima dança é com você' ou 'se antes você era boa, agora vai ficar melhor' eu agradeço e, sem remorso algum, penso comigo: eu sou mesmo foda.
E assim vai a vida. Assim a gente aprende a nos comparar com os outros. É assim que nasce a inveja. Porque a grama do vizinho é mais verde, brilha mais e tem mais minhocas gordas e com senso de direção que a sua. E qualquer cachorro que passar vai escolher a sua grama mal cuidada pra carimbar, e não vai estragar a perfeita do vizinho, claro. E aí é bem mais fácil você invejar o jardim do vizinho do que enfiar as mãos à obra e comprar novo adubo para a sua. E você vai lá na casa dele à noite arrancar graminha por graminha para se vingar, porque você vai ter insônia ao pensar que a sua não é tão verde-folha quanto a dele. Normal. Faz parte da sociedade. Somos criados assim e a vontade de ser melhor que o outro existe desde sempre e vai existir pra sempre. E eu acho mesmo que a comparação traz coisas boas para cada um. Pra quem tem vontade de crescer ao invés de se lamentar, cria visão de futuro e oportunidades baseadas no esforço próprio. Eu quero ser tão bom quanto o vizinho. Vou me empenhar. Vou chegar lá. E chega mesmo.
Mas na vida, assim como os melhores que a gente, existe os piores. E hoje eu vou dedicar meu post a eles. Às moças que vieram ao mundo com o cabelo fuafa. Às que tingiram e ficou laranja. Às que queimam o ovo. Às que têm as unhas em formato de espátula. Às que têm pé feio. Às que colocam sandália e os dedos escapam pra fora do solado. Às pessoas que não têm senso de ridículo ao se vestir. Às que não sabem escrever um bom texto. Às que não conseguem arrumar um hobby para ser feliz. Às que não gostam de ler. Às que não sabem andar de bicicleta. Às que enfiam os dentes na frente quando vão beijar. Às que têm voz de taquara rachada. Às que não têm senso de humor. Às que não sabem sorrir. Às que se assustam com a tecnologia e não fazem questão de aprender. Às que não têm planos para o futuro. Às que acham que sonhar não vale a pena. Às pessoas que acham que ser grosseiro é bonito. Às que não têm educação. Às que não sabem se portar em qualquer ocasião. Às que não têm respeito pelo próximo. Às que só pensam em si mesmas.
Eu nunca esqueço quando entrei na natação. Eu e meus 17 anos recém completados. Nervosa por não saber nadar nem um nada. Quase que nem boiar eu sabia. Cheguei na academia: crianças. Só crianças aprendem a nadar. Os adultos já nascem sabendo, claro. E eu podia ter passado bem sem saber nadar, se não fosse a viagem de fim de ano que eu faria com a escola. Imagina. Nordestão de meu deus e eu sem saber nadar? Cê acha? O MUNDO TODO sabendo nadar menos eu. Nem pensar. Lá fui eu. Eu, meus 17 anos, minha magreza linda que não volta nunca mais num maiô azul e meus longos cabelos enfiados numa touca. Cotonete, me chamaram. No meio das crianças. Valéria era o nome da minha primeira professora de natação. Enfiada comigo na água e me segurando. Mico total. Era muita informação pra mim aquele negócio de bater braços, pernas e virar a cabeça pro lado pra respirar. Tudo de olhos abertos. Eu não tinha coordenação motora pra isso não. Não dava pra coisa. Era muita aventura pra minha pessoa.
Até que chegou mais uma aluna. Luciscleide (nome fictício porque eu não lembro o original. Mas era bem pior que esse, confiem em mim) tinha seus 24, 25 anos. Pra mim, então com 17, era muito mais velha que eu. E, consequentemente, o mico de estar aprendendo a nadar nessa altura do campeonato era muito pior. Luciscleide era esposa do moço que limpava a piscina, e por isso ganhou as aulas de graça. Enfiava sua forma de croquete de carne no maiô e me acompanhava. Ela, bem pior que eu, não conseguia nem enfiar a cara na água. E então eu aprendi a nadar. Vendo toda a dificuldade de Lu, a professora dava mais atenção pra ela na água. E eu, pessoa que não se sente à vontade pra fazer uma coisa nova se alguém estiver olhando... me dava bem fazendo as coisas sozinha. Entretida com as peripécias e gritos de Lu na água, as horas passavam rápido. Era sempre engraçado ver que cada braçada que ela dava, o rosto afundava e a bunda era a única coisa que restava pra fora da água. Um dia, nadando de costas, Lu dobrou o tronco pra trás e se afogou. E eu analisei a tia super Valéria tirar a roupa correndo e mergulhar na água como se fosse salvar o último leão marinho em extinção. Bonito. Achei legal. E decidi que um dia eu ia aprender a nadar assim. Onze anos foi o tempo que treinei natação. E posso dizer que atingi o meu objetivo. Mas foi a Lu que me incentivou.
Acho que é importante reparar nas pessoas piores que a gente, tanto quanto a gente repara nos melhores. Porque é olhando para os piores que não nos sentimos um caso perdido. É convivendo com eles que conseguimos ter incentivo para melhorar. Porque você pode estar mal, mas tem aquele que tá pior. É o pior que te dá forças, é o pior que te faz crescer. E você pode até não saber nadar, mas pelo menos não tá se afogando na piscina rasa e dando show na academia. E quando o namorado vai assistir a sua aula.... vai achar mesmo que você é toda supimpa e nada perfeitamente bem. Porque ele vai te comparar com a Lu, claro. E então que o namorado foi fazer aulas de natação comigo. E teve que usar pés de pato, coisa que eu nunca precisei. E calçando isso sentava na borda da piscina e me olhava nadar borboleta lindamente. Em terra de pé de pato qualquer borboleta é sereia.
Foi exatamente isso que eu pensei essa semana, quando o coordenador do curso de dança nos comunicou que no nível em que estamos, aprenderemos não a dançar, mas a dançar bem. E que não quer nos ver simplesmente dançando timidamente, que quer ver a gente dar show. Em todo e qualquer lugar, pois vai tocar toda e qualquer música nas aulas, conosco sabendo o ritmo e os passos, ou não. Aprenderemos quarenta passos novos de cada ritmo, e ele não quer que dancemos todos iguais. Quer ver aflorar em cada um o próprio estilo de dançar. E com tanta pressão e tantos pedidos de 'não desista!', cheguei a me sentir lá no primeiro dia da aula da natação: querendo sair pelos fundos. Mas então, olhando para os lados... quanta gente que, além de errar.. ainda erra para o lado errado. Quanta gente pior que eu. Quanta gente mais velha, quanta gente mais gorda, quanta gente que paga mais mico que eu. E é por isso que cada cavalheiro conhecido que chega do meu lado e diz 'que bom que a próxima dança é com você' ou 'se antes você era boa, agora vai ficar melhor' eu agradeço e, sem remorso algum, penso comigo: eu sou mesmo foda.
"Em terra de pé de pato qualquer borboleta é sereia" Rê, você é mesmo foda, haha!
ResponderExcluirE é como dizem, nada é tão ruim que não pode piorar.
Beijos
Ahhh guria, o que me consola é exatamente isso, sempre tem alguém que ta bem pior que eu rsrsrs
ResponderExcluirBeijos
Eu acho muito bacana a maturidade perceptível que você foi adquirindo ao longo desses anos de blog. Cada vez mais opiniática, hein?! Mesmo que eu algumas vezes não concorde com seus pontos de vista, eles são interessantes: por serem diferentes dos meus, fazem com que eu encare as coisas com uma nova perspectiva a respeito e um "mas será que..?". Outras tantas vezes, concordo plenamente contigo. Uma dessas vezes, quanto ao post de Sex And The City. Acho que estar quase balzaca (yo) ou balzaca (vc, rs) muda mesmo a gente. Não são as séries, o hábito de blogar... mas a vida mesmo!!
ResponderExcluirComo não gosto de Sexy and the City, nem comentei lá em baixo, tá?
ResponderExcluirA inveja move o mundo desde que o mundo é mundo, mas vc escreveu algo que realmente deixamos passar..a sensação da "não-inveja"..do "estar livre disso", do "que bom que ão sou eu"...acho então, depois da sua tese..que o que move o mundo é a inveja (que te impulsiona para frente) e a não inveja (que te faz agradecer pela merda em que vive - visto que a gente pior)
Eu por exemplo queria muito morar na Zona Sul, tenho inveja das pessoas que lá moram, por isso eu meto o pau nelas toda hora e critico a atuação do governo em favorecimento aos moradores de lá. Tudo porque no fundo, eu queria estar lá.
Em contrapartida, eu não estou na baixada fluminense e chego em 15 minutos no trabalho. Oras!
Dou graças a Deus por morar na merda, mas uma merda que as moscas ainda não chegaram..digamos assim..
Uma merda que dá pra levar...
E por aí vai..
Lmbrei d eoutra coisa que agradeço por não ter: pereba na perna.
ResponderExcluirNão tenho pereba na perna, tipo mancha de catapora.
Lembrei agra e vim te contar.
Beijos.
Poxa, veio a calhar essa coisa toda que a vida é uma merda e que sempre tem um filho da puta que é melhor do que vc em alguma coisa e que as pessoas te comparam!
ResponderExcluirVolto ao assunto que escrevi no meu blog... mulhé pelada no email dos caras!
É justamente por causa desse caralho de comparação que eu fico puta da vida.
Aquelas porras olham as vacas editadas no photoshop e pensam "nossa.. muito melhor do que aquilo que eu tenho em casa"
É, to revoltada mesmo!
hunnnfff
A cada dia que passa, dou mais risada!!!!
ResponderExcluirAi amiga, como somos neuróticas!!!!! rs