quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Sobre meu espaço

Daí que eu não sou uma pessoa espaçosa, sabe? Eu levo sim uma mala enorme quando viajo, mas deixo sempre tudo junto e organizado. Não sou de sair espalhando coisas não. E eu também não sou daquelas que quando começam a namorar exigem espaço pra ir pra balada toda noite com "as amigas" e o cara tem que ficar lá plantado esperando e acreditando. Não, eu sou tranquila. Sou calma. Mas eu gosto de espaço no sentido de precisar que as pessoas me deem um tempo. Eu preciso de tempo pra mim. E nem é pra sair fazendo streaptease pela rua nem nada. E também não é pra fazer joguinho com quem quer que seja nem sobre o que quer que seja. Preciso organizar minhas idéias. Preciso ficar sozinha. Preciso apreciar meu tempo e meu silêncio. Preciso pensar nas minhas coisas, fazer minhas coisas. Ler meus livros, ver minhas séries. Preciso ficar quieta. E tem sim gente bem agradável do meu lado. Mas as pessoas que estão ao meu lado sempre são muito mais agradáveis justamente porque me dão espaço. Algumas não entendiam no começo e aí precisou passar um tempo até que se acostumassem com meu jeito. Outras já vieram perfeitas e sempre exerceram o simples ato de me deixar em paz por um tempo por conta própria. Eu explico: gosto sim, de sair, de conversar, de baladar, de sentar no bar e jogar conversa fora, de fazer quitutes em casa e chamar os amigos. Tem gente no mundo que realmente me faz bem. Mas a maioria das pessoas têm o hábito de ligar sempre. Toda hora. E falar horas no telefone. E me procurar. E falar o dia todo no msn. E correr atrás, e me chamar pra sair todo dia. E se ligam e eu não atendo, elas deixam recado. Elas ligam de novo. Elas mandam mensagem. Elas perguntam pro porteiro. E ligam, ligam, ligam. Vinte e oito chamadas não atendidas. E quanto mais ligam, menos eu atendo. Algumas pessoas gostam tanto da gente que fazem com que nos tornemos essenciais. Necessários. Sem você não vai ter graça, entendeu? Se você não ficar sabendo a-go-ra o que me acabou de acontecer desesperadamente, não é a mesma coisa.

Eu não gosto de ser essencial. Não gosto de ser necessária. Claro, às vezes é bom. Claro que gosto de me sentir querida. Mas ser querida é diferente de ser essencial. Ah, a festa não vai acontecer se você não vier. Pô, que bom. Cancela aí então. Porque isso vai total de encontro a duas coisas que eu não nasci pra ser: necessária e estrela. Não, eu não vou. Eu gosto de gente que sai hoje comigo, a gente vai, fala abobrinha, dá risada, se diverte, conversa pacas. E aí amanhã eu vou querer ficar na minha porque mano... eu já falei tudo o que tinha que falar pra você ontem. Sabe? Não força o assunto. Eu odeio gente que me persegue. Fica na sua, espera criar o clima de novo. ESPERE QUE EU TENHA SAUDADES DE VOCÊ. Eu não sou esse monstro assim que hoje sai com você e amanhã me deixa que eu quero dormir. Quer dizer, talvez eu seja. Mas sabe, tem gente que eu tenho assunto todo dia sim. Porque tá no clima. Porque é uma pessoa próxima. Porque tá sabendo da pegada de ontem, da de hoje e eu vou querer contar a de amanhã. Mas a maioria das pessoas não. A maioria das pessoas se encaixa no esquema de 'vamos combinar pra sair um dia'. Vamos, claro. Mas nesse um dia eu vou te contar resumidamente o que foi que aconteceu e pronto. Acabou o assunto. Vamos marcar mês que vem agora!

Eu preciso do meu espaço. Preciso que as coisas aconteçam pra eu te contar. Preciso me relacionar com outras pessoas. Porque as pessoas têm características diferentes e eu gosto de diversificar. E se, vejamos, por acaso do destino... eu permitir que a pessoa passe longo tempo ali compartilhando cada passo da vida dela comigo... eu sei bem onde isso vai dar. Ela vai querer que EU compartilhe cada passo MEU com ela. Porque é uma coisa mútua, as pessoas querem falar.. e ouvir! E se eu te disser que alguém nesse mundo sabe tudo sobre a minha vida.. estarei mentindo feio. Eu seleciono muito bem o que vou contar e pra quem vou contar. Sou quieta e só falo o que quero, quando quero e pra quem quero. E mesmo assim, muitas vezes me arrependo. Porque as pessoas são espaçosas. Invadem o espaço delas e o alheio. As pessoas querem saber, querem pensar, querem opinar, querem fofocar. Querem ter assunto sobre a sua vida pra falar com os outros. Querem comparar a sua vida com a delas e concluir que a delas é melhor. É uma troca de informações: eu te conto tudo sobre a minha vida porque é um livro aberto mesmo e eu não consigo colocar o rabo entre as pernas e ficar quieta porque eu nasci com a língua maior que a boca, e você me conta tudo sobre a sua vida pra eu saber porque sou curiosa e ainda vou sair falando para os outros. Simples assim. E fatalmente invadem o espaço que eu guardei pra mim.

Não. Eu sou reservada e preciso do meu espaço. E te digo que, além de tudo, se a pessoa está ali, todo dia, no meu caminho, de boa mesmo, sem fazer fofoca e falar da minha vida... um belo dia... eu vou enjoar. É. Eu enjoo de pessoas. E não adianta nem dizer o contrário porque é verdade. Já teve namorado que pediu pelamordedeus que eu não enjoasse dele. E demorou, mas aconteceu. Tinha hora que eu não aguentava mais ele falando as mesmas coisas. E ele começava a fazer a piada e eu terminava. E se as pessoas normais, as que escolho pra viver comigo me cansam, imagine esse pessoal bonzinho. Já falei que povo frufru é lindo mas bem longe de mim. Eu gosto é de gente louca. Gente que diz o que pensa e que se dane o que você vai pensar. Gente pirada, gente maluca. Gente que surta num dia e no outro tá tudo lindo. Vide meus links do blog. Não, ninguém ali é normal. Nem a Anna, tão novinha. Essa menina tem futuro no mundo da doideira, vai por mim. E ontem eu incluí mais duas pessoas, hoje eu estava dando uma lida em uma delas e a pessoa termina o post dizendo que na outra vida foi Judas fazendo hang loose com Jesus preso na cruz. E então eu pensei que puts.. acertei em cheio com o novo link. É exatamente o tipo de gente que eu quero ler todo dia.

Mas eu comecei a falar sobre espaço pra chegar justamente nessa parte do enjoar. Ninguém escapa, sabe? Tudo que é demais enjoa. Como aquele pote de chantilly que comi todinho inteiro de uma vez quando era criança. Enjoei. Por mais que a gente goste de alguma coisa... se comer muito vai enjoar. E há enjoos e enjoos (enjoei dessa nova regra ortográfica já). Eu já enjoei há séculos da voz da minha mãe e do barulho que meu pai faz quando pisa no assoalho. Já enjoei dessa ou daquela amiga por causa desse ou daquele jeito que faz ou diz alguma coisa. Mas algumas pessoas são como arroz e feijão. Que você come de segunda a sexta e daí no fim de semana vai comer macarrão porque enjoou. E aí por mais que passe a semana seguinte comendo só sanduíche, vai chegar o dia que você precisa desesperadamente comer arroz e feijão de novo, porque nada mais vai te satisfazer tanto e ser tão prazeroso como um prato de arroz e feijão. Tem gente que é arroz e feijão na minha vida. Essencial, mas não diariamente. Assim como eu quero ser na vida delas. Querida, porém não vital.

Mas tem gente que é um pote de chantilly. Extremamente bom na primeira colherada. E na quinta você já está verde de enjoada. E eu devo dizer que a maioria das pessoas pra mim é chantilly. Branco e docinho no começo. Mas eu não vou aguentar comer tudo de uma vez e vou botar na geladeira. Daqui uns dias estará mole, amarelo, aguado e amargo. E eu vou simplesmente jogar fora pra desocupar espaço pra colocar aquela alface nova que comprei. Alface, derivado de arroz e feijão. Sacou?

Ontem eu estava na aula de dança que tanto amo. Sentada, esperando acabar a aula anterior à minha. E analisando as pessoas. E então reparei que o que eu achava de todos logo quando eu entrei na aula, mudou. Antes eu via todo mundo feliz, um ambiente descontraído, onde as pessoas iam mesmo pra se divertir. Que clima bacana. Que gente animada. Ontem eu só sentei e vi um bando de chantillis. Gente que faz aulas há, sei lá, uns 10 anos. As mesmas aulas. Com os mesmos passos. Mesmas músicas. E mesmo assim fica lá no 'um, dois, três, vira'. Sabe? Coisa de retardado. Meodeusdocéu que você está lá há séculos e ainda precisa repetir isso? Eu, que cheguei agora, não preciso fazer isso! A aula de dança, antes feliz, me mostra agora pessoas exibidas. Que precisam que alguém olhe para elas e diga 'nossa, mas você é sensacional', como fazem os alunos do iniciante, que ainda não os conhecem. Hoje eu estou no mesmo nível de quem faz aulas há 10 anos e aprendo todos os dias as coisas que eles ainda não conseguiram aprender. E eles ainda têm a capacidade de olhar pra mim e dizer que errei, o que mostra claramente que o ensinamento lááá de trás sobre 'se a dama errar foi o cavalheiro que conduziu errado' foi para o brejo. Hoje eu olho e vejo pessoas que querem forçar amizade. Não naquele sentido que a gente conhece, de avacalhar a coisa quando se já é amigo e tal. É forçar mesmo. É impor. Como assim eu sou amigo de todo mundo do ambiente menos seu? E então eu sou obrigada a ouvir coisas que nem meus amigos falam, porque me conhecem e me respeitam, de um bando de velho que acha que tem intimidade comigo. Que acha que pode invadir meu espaço, meu silêncio, minha seriedade. Que acha que pode me falar o que quer, abusar da minha inteligência e da minha educação. Que acha que pode me dizer o que bem entende que saia daqueles cérebros cheios de gosma. E que ainda acha que eu vou rir. Agora eu me vejo na aula de dança, se não estou correndo do cara novo porém infantil, que se sentiu rejeitado quando eu não quis beijar aquela boca torta e cheia de baba e se deu no direito de me dizer grosserias quando eu quis DANÇAR (oi? quem não beija não dança? tá integrado??) com ele, estou correndo do velho que se achou no direito de me sondar sobre ter namorado e pedir descaradamente a minha lista de exigências pra ver se se encaixa nos meus pré-requisitos para tal enquanto passava sutilmente a mão enrugada e cheirando a carne passada nos meus peitos assim, como quem não quer nada, em um movimento errado na dança toda que opa... eu achei inocentemente que estávamos lá pra isso. Para DANÇAR. Ou então estou eu nos braços de outro velho, dessa vez japonês (japonês já nasce se achando com o cérebro da cocada preta, talvez pra compensar o pinto que pouco pia) que sonha que nem Carlinhos de Jesus dança melhor que ele e que eu deveria fazer reverência e dizer amém enquanto ele faz piadas sem graça que me fazem ter vergonha alheia por qualquer oriental dito inteligente que escute aquilo. Ou então - veja bem quantas opções boas em uma mesma aula - o outro japonês, dessa vez não velho, mas tutancamon-morreu e esqueceram de enterrar, que além de pensar que nasceu encarnação de John Travolta em Embalos de Sábado à Noite (eu sei que o John Travolta não morreu, mas ele deve confundir com o Lennon) acha mesmo que sabe supimpamente todos os passos dele E OS MEUS, o que me faz concluir que esse facão é escumadeira.

A aula de dança é ótima. Eu adoro dançar. Apesar de achar que ultimamente anda meio puxado e corrido, que não está dando tempo de curtir porque é difícil e todo dia tem muitos passos novos que preciso prestar muita atenção e me concentrar pra não errar, adoro ver que aprendi as coisas novas, por mais difíceis que sejam.

Mas eu não aguento mais aquelas pessoas. Sério.


7 comentários:

  1. Guria, eu sei q tudo isso é foda, mas eu só conseguia pensar que tomra que eu seja arroz e feijão na tua vida!

    Porque vc é na minha, mas não alface (eu não gosto de alface rs)

    beijos

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  2. Cara, só tem véio nessa aula?
    Véios loucos e perseguidores!
    Acho que ta virando especialidade lá do lugar!

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  3. Adorei saber que tneho vocação pro mundo da doidera, que foi pra ele mesmo que eu nasci, hahaha! Deus me livre de gente normal!
    Rê, concordo com praticamente tudo que você escreveu aí. Já tive relacionamento que foi pro brejo porque o cara queria sair todo dia não sacava que eu precisava de umas sextas feiras livres na minha vida pra, sei lá, ficar em casa olhando as rachaduras no teto. Meus amigos brigam comigo porque dizem que eu não telefono pra eles, mas Cristo, eu os vejo na escola todos os dias, saimos nos finais de semana, querem mesmo passar a tarde no telefone comigo?
    Tenho muito arroz e feijão do meu lado, mas tenho que aturar um monte de chantilli também. Aliás, ouso dizer que a maioria dos chantillis são aqueles de marca vagabunda, sabe? Que mesmo na hora que abre tão tem a cara tão boa.
    Pessoas, pessoas...
    Beijos

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  4. Ai nos comentários vem um monte de gente dizendo, eu sou seu arroz com feijão, eu sei disso, ahahaha!
    Detesto gente que acha que vc é o BFF deles só porque foi simpático uma vez... gente carente.

    bos sorte na aula de dança!

    beijos

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  5. adorei a história das pessoas q se parecem com pote de chantily, sei bem o q vc ta falando
    =)

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  6. Fecho contigo nesse lance de não gostar de ser fundamental na vida dos outros. As pessoas insuportáveis, de um modo geral, têm uma visão equivocada sobre o que é ter um relacionamento saudável. O que se costuma pensar é que a outra pessoa, de certa forma, a pertence, e por isso ela tem a obrigação de se fazer presente o tempo inteiro, em qualquer ocasião. Sei lá, mas deve ser igual o comportamento do fã em relação ao ídolo... aquele tipo de gente chata, sabe? Porque gente chata é chata em tudo, inclusive se relacionando com os amigos. E gente assim é um chute no saco, chega a cansar, às vezes.

    ...

    Mas é claro que nem todo mundo no mundo é do tipo que enjoa, vale lembrar. E digo mais, existem pessoas com o tempero tão sem igual, que acabam se tornando um verdadeiro vício na vida da gente. Sim. É como você vive martelando, e agora eu falo sem medo, que se tem alguém nesse mundo que consegue te arrancar um sorriso quando você está mais pra baixo que barriga de cobra no porão, esse alguém sou eu.

    Como eu sei de tudo isso?

    Meu nome é Edgar, e eu sou seu arroz com feijão, SUA LINDA!

    Bjo lontrinha.. :D

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  7. Taí..vc tocou num assunto que é a minha cara.
    Como sou muito comunicativa e expansiva as pessoas acham que eu adoro viver grudadas com elas..e eu não gosto. Eu tamb´me amo o meu espaço, a minha paz.
    Nao quero ser essencial na vida de ninguém porque isso é de fato uma doença.
    Eu faço coisas em grupo mas hoje sei dar preferência a mim mesma.
    Aprendi com o tempo a dsenvolver meu egoísmo e acredite: cresci e estou melhor.
    No inícios tudo é azul e rosa como na sua aula de dança depois eu começo a me cansar daquilo tudo e daquela pressão por ter que carregar o grupo.
    Hoje eu me carrego e me basto. Só.
    E estou tão feliz...

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