quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Verônica

Era meu primeiro ou segundo ano escolar. Levando em consideração que eu entrei na escola aos 4 anos, eu tinha de 4 a 6. Algo entre Jardim 1 e Jardim 2. Era assim que se chamavam as séries que vinham depois do "maternal" e precediam o pré-primário naquela época. Lá nos idos de 1984, 1985. Eu sei, vocês ainda não tinham nascido.

Naquela época a ordem não era tanto ensinar matérias escolares pra nós. Mas eu já sabia ler, aprendi sozinha e em casa. Eu e um gibi da Mônica, um gibi da Mônica e eu. E sabia contar até 30. Sensacional para uma criança de 4 anos. Mas a ordem do negócio era exercer atividades de socialização. Como diz meu relatório de rendimento escolar, guardado até hoje. Lembro de ter que participar frequentemente de brincadeiras em grupos que as professoras que não tinham o que fazer inventavam. E agora aqui pensando nisso concluo que eu não gostava não.

Um dia tia Rose decidiu que tínhamos que formar uma banda. 'Fulano fica com o tambor. Ciclano com a sanfona. Beltrano com a corneta. Renata, escolha um instrumento.' Eu olhei assim em volta e decidi que não queria nenhum. 'Como não, criança? Olha aqui o reco-reco, que bacana!'. Blé. Coisa chata. Coisa sem graça. Rec-rec-rec. Não. 'Pegue aqui os pratos então, olha que legal'. Bló. Coisa chata, nem nota musical faz. Vou tocar isso e vai dar só eu. Não. E então, depois de muito insistir, tia Rose perguntava até dos instrumentos que outras crianças já haviam escolhido e eu pensava se ela teria mesmo a coragem de tirar o brinquedo dos outros pra dar pra mim. Uma hora olhei no fundo do baú e decidi. Eu ia tocar sino.

Na banda. E daí?

Toquei. Tava lá no dia da apresentação, todo mundo fazendo aquela zoeira quando de repente ficava um silêncio total e então era a minha vez. DOM-DOM.

Pronto. Ninguém podia dizer que eu não tinha participado da maravilhosa banda sensacional de atividade de socialização maravilhosa.


Um belo dia era perto do Natal e então algum girico inventou que íamos montar um presépio. Nós seríamos os personagens. E eu, do alto de meus 5 anos pensava. Eu já pensava bastante nessa época. Pensava que com a sorte que eu tinha, ia acabar sendo a vaca. O burro. Mal sabia eu que vinte e tantos anos depois eu gargalharia horrores em saber que alguém escolheu ser o peixe do presépio de Jesus que por acaso resolveu nascer numa manjedoura no meio do deserto. Porque presta atenção que naquela Jerusalém só tem pedra. Enfim.

Tia Vera lá separando os papéis e a primeira a ser escolhida foi a Verônica. Virgem Maria, claro. Porque ela tinha uma cara branca e comprida. Tinha cabelos loiros e lisos. E eu cá com meus pensamentos. Eu que não vou ser a mula. Se me botarem de galinha eu não vou, hein. E então fiquei feliz em ver que sempre tinha um louco ou outro coleguinha meu que dizia 'puxa, vou ser o burro?? que sensacional!'. E aí foi indo, de um em um e eu pensando qual papel naquele circo todo que ia sobrar pra mim, já que todos estavam ocupados. Vão criar personagens novos, pensei. Vai que tinha girafa e eu nem sabia. E então que de repente a tia Silvia, diretora da escola (que quando me vê hoje na rua me trata como se eu tivesse 3 anos - e eu juro que nunca vi mais gorda na vida) olhou bem pra mim e gritou "RENATINHA VAI SER O ANJO!"

Gentem, prestenção. Eu lá toda olhando pra Verônica e pensando que virgem maria dos infernos, que pegou o papel principal que eu queria mesmo sendo tímida, quando de repente fui escalada pra ser o anjo. O anjo! E hoje eu estou aqui pra falar pra vocês que eu já fui o anjo do presépio nessa vida. Com uma túnica de cetim branco e lindas asas enormes eu juntava as mãozinhas durante a apresentação e olhava angelicalmente pra Verônica pensando 'vai, fulana! olha eu aqui toda linda de anjo e você aí toda esfarrapada e ainda tem que ficar de joelhos pra sempre!'

Então que puxando aqui na memória penso que a Joyce também era anjo. Mas como ela tinha uma cara de quem comeu e não gostou e era metade do meu tamanho e ficava no canto do palco e com túnica cor de rosa, não conta. Esses dias eu encontrei com ela na fila da eleição. E não lembrei de onde a conhecia. Claro, não estava com a túnica cor de rosa. Mas a cara de quem comeu e não gostou continua igualzinha.

Verônica morou naquela rua por algum tempo. E se mudou depois. Mesmo assim, dia desses quando deu uma baita chuva e desbarrancou a rua toda e tiveram que fechar pra sempre, lembrei que ela morava ali. Vingança, Verônica. Até São Pedro concorda comigo.

Ah, o sentimento natalino...

3 comentários:

  1. kkkkkkkkkkkkkkk Guria eu tb fui o anjo Lá de cima olhando pra Maria (que era Patricia e eu odiava) e pensando a mesma coisa!!

    Beijos e bora nessa espirito natalino!

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  2. Não tem nenhuma foto desse evento para compartilhar com a gente???? Adoraria ver vc de anjinho e a pobre Verônica com cara de bunda!Rs!

    Nunca fiz presépio na escola não, mas banda rolou sim. Eu toquei pandeiro! Deve ser por isso que hoje odeio pagode! Rs!

    E teve uma vez que tinha uma festa na escola e eu fui escalada para entrar de par com o menino que era meu "paquerinha" (isso na primeira série, veja bem!). Aí Eu contei para meus pais que ia entrar com o gatinho. Todos ficaram ansiosos para conhecer o moleque. Mas aí, na hora H decidiram me colocar com o moleque mais feio da classe, pq meu par ia recitar alguma coisa e tinha que entrar primeiro! Imagina meu desespero entrando na festinha: meus pais olhando para o feiosinho e pensando "nossa que mau gosto tem a nossa filhinha"!!! Ai Deus, adoro lembrar desses eventos da infância!

    Ops! Acabei fazendo um post no lugar de um comentário!!!! Rs!

    Beijos

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  3. Flor tem um selinho pra ti no meu blog, só olhar aqui ó
    http://personagemtraduzida.blogspot.com/2010/12/meus-primeiros-selinhos.html

    Boas Festas (:
    xx

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