segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Lorpa de Ipanema

Então estou eu lá em casa, sofrendo ainda com o término de Cordel Encantado, a novela mais fofa de todos os tempos, procurando me entreter com qualquer novela do tipo mas sabendo que nada vai chegar aos pés da anterior, primeiro porque eu sou saudosa e segundo porque nada mais vai se comparar a tamanha fofura. Depressão pós-novela, oi. E daí que o mundo inteiro se distrai com a novela das 9 e a novela das 11 (?), mas eu sou idosa e durmo cedo. Então procuro assistir a novela das 6 ou das 7. E, quando a novela das 7 não tem algum tema ridículo tipo robôs/etês/dinossauros/cérebro eletrônico/velho oeste, eu curto, sabe. Antes de Cordel Encantado a minha novela preferida foi Cobras & Lagartos, só por causa do MELHOR final de novela de todos os tempos. Ok, R.I.P. Nazaré Tedesco, a melhor vilã de novelas que me fez assistir e gostar muito de uma novela das 9. Certo.

Daí que a novela das 6 atual tem um drama bizarro demais pra ser uma novela das 6, me dá meio que agonia ver a "prima" Fernanda lá deitada em coma a novela toda (aposto que ela vai acordar lá no último capítulo linda e loira como se nada tivesse acontecido) então eu tenho me empenhado em assistir a novela das 7. Aquele Beijo, como diz Miguel Falabella em sua narrativa. E eu gosto dele, gosto da Giovanna Antonelli, o português não é o meu modelo de mocinho em novelas mas ok (reparem que na novela anterior eu SÓ conseguia reparar na boca de velha que Mateus Solano faz quando finge estar dormindo - e avacalhei o galã da Anna - e nessa novela estava eu lá falando do portuga quando vem minha avó "ah, mas o lábio inferior dele estica quando ele sorri, é muito pequeno, fica esganiçado. Reparem que eu tenho a quem puxar), e apesar de Maria Zilda estar fazendo papel de vilã E EU NÃO ME CONFORMO com isso porque ela já foi a minha atriz preferida só por causa de uma personagem fofa que fez em Top Model (eu sei, vocês ainda não eram nascidos), até que estou achando a novela levemente agradável. Mas daí, um belo dia, estava eu dando uma olhada no Facebook e li a Jana falando sobre a música de entrada da novela. E sim, eu tinha reparado que era Garota de Ipanema. Não, eu nunca tinha reparado naquela terceira estrofe, nem sabia que existia. Até cheguei a cogitar uma adaptação da música. Vai que, né? Música de abertura da novela, vai saber. E não. EU NÃO TINHA REPARADO QUE ERA A XUXA QUE CANTAVA.

Eu li aquilo ali na minha timeline que a Jana disse e a minha vida mudou. E agora eu não consigo mais assistir a abertura da novela. Primeiro porque eu acho a Xuxa um porre, segundo porque eu não sabia que existia essa terceira estrofe ridícula na música e terceiro porque meodeusdocéu que ficou ainda pior com essa voz de retardada alegre que a Xuxa tem. Sério. Gente, desculpa. Xuxetes, eu sei que "mescheu com a susxa, mecsheu com vocês", mas não dá. E perdão, amantes da bossa nova. De Tom Jobim, de Vinícius. DESCULPA, MUNDO, por eu achar ridícula essa música que é o nosso símbolo mundialmente. Que todo mundo precisa saber cantar pra mostrar que é brasileiro enquanto faz embaixadinhas e samba de um pé só. Segue abaixo a minha análise da "obra prima brasileira reconhecida mundialmente". Porque é só isso que eu consigo pensar enquanto eu ouço esse porre:


Garota De Ipanema
Tom Jobim

Olha que coisa mais linda (Tom fazia as vezes de Stevie Wonder e era meio cego)
Mais cheia de graça (vide foto abaixo)
É ela menina (pedófilo)
Que vem e que passa (e quando ela passou ele olhou a bunda, claro)
No doce balanço, a caminho do mar (torcendo pra ela dar aqueles mergulhos de filme)

Moça do corpo dourado (de que adianta se vai descascar tudo amanhã?)
Do sol de Ipanema (que dá câncer e envelhece pacas, imagine Helô Pinheiro em 2011)
O seu balançado é mais que um poema (esse balançado me lembra chimpanzé que anda balançando os braços)
É a coisa mais linda que eu já vi passar (aguarde a voz esganiçada de Xuxa mode on)

Ah, porque estou tão sozinha (tipo dor de barriga de depressão de ir à praia sozinha)
Ah, porque tudo é tão triste (nossa que desinteria)
Ah, a beleza que existe (Ilarilariê ô ô ô)
A beleza que não é só minha (se achando a última cocada mole do deserto)
Que também passa sozinha (é a turma da Xuxa que vai dando o seu alô)

Ah, se ela soubesse
Que quando ela passa
O mundo inteirinho se enche de graça
E fica mais lindo
Por causa do amor [Bis] (e.fica.mais.lindo.por.causa.do.amor. Belo argumento, Tom Jobim. Parabéns.)

Repare que "coisa mais cheia de graça", e de glamour.
Com destaque para o "balançado" com postura de um orangotango.
É.a.coisa.mais.linda.que.ele.já.viu.passar.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

E aí você entrou na minha vida.

Depois DELE, eu não quis mais ninguém. Ainda hoje, quando republiquei aquele post aqui, me vieram lágrimas nos olhos de lê-lo. Eu era perdidamente apaixonada por ele. Tanto, que dia desses eu vi um gato branco andando pela sala da minha casa. Que nem é a mesma casa que eu morava quando ele existia, mas ver aquele gato branco e peludo ali, andando do nada no meu apartamento me fez pensar que talvez hoje, mesmo que ele não seja mais vivo, talvez ele ainda vele o meu sono como fazia antigamente.

Depois dele, nem toda a minha paixão por gatos me fez querer trazer outro pra casa. Apesar de eu ter chorado diversas vezes em diversas feiras de animais, quando colocavam mais algum persinha branco em meus braços. Não. Eu queria, mas não queria. Certa de que ninguém mais ia ocupar tanto meu coração bem ali no lugarzinho dos bichos de estimação. Bóris sempre foi único. E insubstituível. Até a sexta-feira passada. Que depois desse dia ele ainda continua insubstituível, mas não mais único.


Estava eu aqui, nesse mesmo computador, sentada nessa mesma cadeira. Ainda me recuperando de uma pereba aí que eu peguei. Com fones de ouvido, ouvindo a linda musiquinha nova da Pitty que eu ouvi no rádio e vim correndo baixar. E entre a voz doce dela cantando que ♪ o mundo acaba hoje e eu estarei dançando, um barulho ensurdecedor invadiu a minha cabeça. O grito inconfundível de um gato. Grito mesmo, não miado. Porque mesmo com fones de ouvido, o meu pensamento foi mesmo "estão matando um gato", tamanha altura de volume. Que triste.

Minha mãe chegou dizendo com a cara mais desesperada do mundo que uma mulher tinha gatinhos no motor do carro. E que, quando foi sair, um deles caiu na roda. Eu me arrepiei na hora e fui, com toda a dor no coração que me cabia, assistir o resgate. A cena do acidente era bem essa: carro parado no meio da rua, mulher estatalada ao volante, não conseguiu sair do carro de desespero. Capô aberto, dois rapazes enfiados nele. Um por cima, outro por baixo do carro. Um puxava uma pata de gato por cima, o outro puxava a outra pata do gato por baixo. Eu ali na torcida, morrendo de dó. O gato miando desesperadamente.

A mulher tinha gatinhos no motor do carro e não sabia. E a pergunta é: há quanto tempo ela não saía com esse carro da garagem, minha gente? Tudo bem que a suposição da minha avó foi a de que alguém colocou os gatos na garagem da mulher e eles entraram ali por livre e espontânea vontade, mas como pode a criatura sair pela cidade com gatos no capô sem saber, pípou? Enfim. Depois de muito custo, os gatos se salvaram. Não todos, porque depois meu pai veio contar que havia outro igualzinho, atropelado ali na rua mais à frente. A mulher, ou quem quer que tenha vindo atrás, não viu o gatinho que caiu do carro. E foi-se o primeiro dos três irmãos de que se teve notícia. Triste.

Eu, quando descobri que os outros dois que haviam restado estavam bem (porque se eu visse um gato machucado morreria ali mesmo), fui lá olhar. Eles, encolhidinhos, choravam e tremiam de medo. Eu, maior amante de gatos da face da Terra, quase chorei junto de dó. A mulher do carro finamente conseguiu sair de dentro dele, e enquanto dizia "não posso levá-los, meu marido vai me matar", entrava novamente dentro do carro e saía o mais rápido possível daqui. Nós, uma caixa de papelão e dois filhotes de gatinho dentro, pensamos em levá-los ao pet shop mais próximo, que lá eles doariam pra quem estivesse interessado. Minutos depois voltou o rapaz, a caixa de papelão, os dois gatos, um pacote de ração. Dizendo que eles não tinham aceitado a nossa proposta.

Ficaram ali no banheiro, a caixa de papelão, os dois gatos, a ração e um potinho de água. Mais tarde, lá dentro já tinha um pote de leite e uma bolacha Maria. Nós aqui, sem sabermos o que fazer com os gatos. Até que alguém olhou pra mim e fez a fatídica pergunta "você não quer levar um?".

Rá.

Eu, pessoa com rinite, morro de espirrar só de ouvir falar a palavra gato. Mas eu tava me coçando (nos dois sentidos). E um deles era tão bonitinho. Prateado. De focinho preto. E olhos azuis. Ou verdes. Ou cinzas, sei lá. Fui lá. Peguei, tirei foto, contei pra galera. Virei os gatos de cabeça pra baixo, tentando ver o sexo. Procurei na internet. Fêmeas, decidi. Apesar da minha avó sempre ter me contado que nunca soube os sexos de seus gatos e que já teve até gato com depressão porque tinha nome de fêmea e era macho. Mas eu olhei direito. E olhei de novo. E apesar de o menino aqui ter dito que a gata dele era fêmea e depois de algum tempo terem nascido testículos, eu decidi: eram fêmeas. Uma prateada e a outra, a que havia caído na roda do carro, rajada. Eu, claro, querendo a mais bonita e saudável (porque se eu tiver outro gato que for morrer logo eu desisto dessa vida), decidi: gatinha prateada, você vai morar lá em casa.

As duas estavam dormindo (ou se protegendo do mundo recém-conhecido porém muito injusto - cuja opinião eu concordo plenamente) abraçadas, e minha mãe já quis me trollar logo de cara sugerindo que eu levasse as duas. Minha gente, eu mal sei se vou aguentar um gato em casa. Tipo, um gato e toda a minha rinite. Que dirá dois! Mas morri de dó do destino do Tobias (eu sei, era fêmea, mas minha mãe não perde tempo trollando a humanidade e decidiu que ela parecia o Tobias do comercial e botou o nome da criatura de Tobias mesmo sendo fêmea - se bem que minha mãe competiu de perto com a outra sugestão de nome dos gatos por aqui: Doce e Gabana eram a segunda opção) e cheguei pra criatura inventora do segundo nome e que deu bolacha Maria com leite e passei a maior conversa tadinho do gatinho tão coitadinho vai morrer de fome por aí. Daí que meu poder de persuasão anda supimpa e eu convenci a pessoa. Tobias teve um destino feliz, mesmo sem ter ficado com a família dele (porque a mulher dele mandou TIRAR ESSA COISA DAQUI), mas a vizinha adotou Tobias de bom grado. E Tobias foi feliz.

Comigo ficou a outra. De cor peculiar e olhos lindos, foi nela que eu coloquei o nome mais legal e cheio de mitologia que eu sempre gostei mais: Pandora. A da caixa do motor do carro. Coube bem na descrição.

Pandora, por volta de seus dois meses, chegou em casa cheia de medo e insegurança. Mas ganhou da vovó, logo de cara, caixinha de areia e ração. E uma dona babona e amante de gatos. Pandora agora reina na casa e na cama que antes pertencia só a mim. Pula feito um macaco em tudo e por "tudo" entenda brinca de amarelinha em cima de mim enquanto estou dormindo. Me escala dos pés à cabeça enquanto estou lavando louça e senta no meu ombro. Ou no alto da minha cabeça. Pandora é um gato que queria ser um macaco. Ou cacatua, que seja. Do alto de seus em média dois meses, enche a casa de todo o seu provável signo de virgem e seus miadinhos faladeiros. Tagarela que só ela, mia de dia e de noite e quando mais der na telha. No chão branco que eu sempre prezei pela limpeza. E na casa cheia de detalhes que eu sempre cuidei da organização e que antes ninguém mais fora eu mexia. Pandora dá conta de tudo e morde tudo. Cheira tudo e brinca com tudo. E pula-pula-pula, mia-mia-mia. Com a felicidade que Deus lhe deu. E o objetivo de alegrar e chamar a atenção da dona mais rabugenta porém babona que ela podia ter. E que não tem mais tempo nem de espirrar, pela antes rinite e alergia de gatos que tinha. Agora minha vontade de espirrar é abafada por frases do tipo PARE JÁ DE MORDER ESSE FIO, TIRE ESSA SUA PATA DO MEU IPHONE e NÃO SENTE NO MEU TRAVESSEIRO.

E aí, depois de idas e vindas da vida, depois de tantos poréns e revés. Você entrou na minha vida. Pandora.

E agora a gente vive assim:



Na mitologia grega, Pandora "a que possui tudo" foi a primeira mulher, criada por Zeus como punição aos homens pela ousadia do titã Prometeu de roubar do Olimpo o segredo do fogo para dar aos homens. Foi a primeira mulher que existiu, criada por Hefesto (deus do fogo, dos metais e da metalurgia) e Atena (deusa da guerra, da civilização, da sabedoria, da arte, da justiça e da habilidade) auxiliados por todos os deuses e sob as ordens de Zeus. Cada um lhe deu uma qualidade. Recebeu de um a graça, de outro a beleza, de outros a persuasão, a inteligência, a paciência, a meiguice, a habilidade na dança e nos trabalhos manuais. Hermes, porém, pôs no seu coração a traição e a mentira. Feita à semelhança das deusas imortais, destinou-a Clus à espécie humana, como punição por terem os homens recebido de Prometeu o fogo divino. Foi enviada a Epimeteu, a quem Prometeu recomendara que não recebesse nenhum presente dos deuses. Vendo-lhe a radiante beleza, Epimeteu esqueceu quanto lhe fora dito pelo irmão e a tomou como esposa.

Epimeteu tinha em seu poder uma caixa que outrora lhe haviam dado os deuses, que continha todos os males. Avisou a mulher que não a abrisse. Pandora não resistiu à curiosidade. Abriu-a e os males escaparam. Por mais depressa que providenciasse fechá-la, somente conservou um único bem, a esperança. E dali em diante, foram os homens afligidos por todos os males.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Sobre Individualidade

Então que eu vim escrever a pedidos. Porque sim, o meu blog, em todos esses anos de existência, às vezes passa por alguns hiatos. O que é normal. Eu nunca pensei em abandonar o blog, ou fechar, ou sumir, como quase todo mundo faz. Mas eu preciso de hiatos. Tem sempre aquele tempo que acontece determinado fato que eu preciso parar pra pensar a respeito. E que, muitas vezes, até gostaria de compartilhar com vocês no blog, mas nem sempre dá pra colocar em palavras o que eu penso ou sinto. Nem dentro de mim, muito menos em um blog.

Os hiatos acontecem nesse tempo em que eu estou tentando processar os fatos. Colocar minha vida nos eixos novamente, limpar minhas energias e refazer minhas defesas depois de um ponto final em alguma coisa qualquer. Porque eu sou assim. Tenho o ascendente em virgem. Preciso começar e terminar tudo. Preciso fazer planilhas de acontecimentos. Preciso registrar. E preciso que no balancete final dos fatos, o crédito e o débito sejam compatíveis.

Acontece que eu ainda estou aqui pensando na individualidade. Na minha, na dos outros. Pensando em como é que a maioria das pessoas consegue abdicar da própria individualidade só pra ter alguém do lado. Só pra sair falando que tem. Gente que de repente sai andando de mãos dadas no shopping e compra presente de dia dos namorados, sem nem gostar da outra pessoa. Sem nem poder dizer que o tempo que passa com aquele indivíduo é agradável. Só pelo simples prazer de sair mostrando para a sociedade que olha, agora eu tenho um namorado. Oi vó, então, você cobrava tanto, agora eu arrumei um namorado. Não importa muito quem é, o que importa é que eu arrumei. A sociedade cobra que as pessoas se relacionem. E escrevam aí o que eu vou dizer: depois da ditadura da magreza, virá a ditadura do relacionamento. Porque eu coloco no mesmo patamar aquela menina pálida e magra que olha com tristeza o pedaço de bolo na vitrine do Amor aos Pedaços e olha pra atendente e pede uma água, com a pessoa que cata qualquer um que nem conhece ali na rua só pra dizer pra todo mundo que namora. A que preço?

A preço de perder a paz. E a tranquilidade. E de ter alguém te ligando de meia em meia hora, te cobrando presença. Alguém te que obriga a ir em lugares que você não gosta ou não quer. E a conviver com pessoas quando tudo o que você quer é ficar em casa vendo um filme. A preço de ter ao seu lado gente que não se preocupa com você, mas com o que você está fazendo que não ligou ainda. Que não respondeu o sms. Que nossa, que absurdo que você está no hospital e não pode me fazer aquele favor que eu precisava agora. Gente que te usa. Gente que invade a sua vida. E que fala dela por aí sem que você permita. Invade a sua individualidade, sua privacidade. Que passa por cima do que você quer, do que você pensa, do que você acha. Que te obriga a fazer o que você não quer. Estar onde não quer. Que preço alto esse a pagar quando se namora sem gostar. Eu não me permito passar por isso, mas vejo muita gente fazendo por aí.

A propósito: oi, vó. Não, não estou namorando. Sim, eu ainda estou solteira. É, porque eu quero. Eu sei, traste disponível pra namorar é o que não falta. Não, não quero. E sim, vou continuar solteira até quando eu quiser. Sim, sou feliz assim. E é, eu sei que não existe príncipe encantado e que é preciso conviver com os defeitos alheios e ceder, mas eu só vou fazer isso quando achar que devo. E diferente do resto da população mundial, eu me recuso a me relacionar só por relacionar. Continuo com a minha opinião de que eu só vou namorar com alguém que, no mínimo, esteja perdidamente apaixonado por mim.

Ah, a paz. Ah que celular silencioso... só troco isso por quem for valer a pena. Mas oras, se for valer a pena, será uma pessoa que, além de me trazer felicidade, não vai perturbar a minha paz. Não é?



sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Sobre o dia que eu fui pro Inferno.

Tudo começou com um e-mail. Pessoa amor mandando escrito "estarei em São Paulo e aviso que na sexta quero ir no Inferno. Se alguém quiser me acompanhar, agradeço." Eu, encantada com o nome do lugar, pesquisei a respeito. Inferno. Um bar na Rua Augusta, a rua mais promíscua de São Paulo. Um inferninho, pra ser mais precisa. Topei.

Já na mesma hora, mandei mensagem pra outra pessoa amor: "vou pro Inferno e preciso da sua companhia, pessoa acostumada a ir pra lá, pra me proteger. Vai tocar rockabilly." Rockabilly no inferno. E eu já imaginei diabinhos com topetes balançando as cadeiras à lá Elvis Presley. Fato que a primeira interessada em ir para o Inferno se interessasse pela banda que ia tocar rockabilly. O gato dela se chama Elvis.

Eu, interessadíssima em ir pro Inferno, me dividi ente a curiosidade de frequentar um ambiente na Rua Augusta (visto que seria a primeira vez já que Renata e Rua Augusta são opostos que não se atraem) e à emoção de estar em um lugar que tocasse rockabilly. Porque veja bem que nessa vida eu frequento bares que tocam rock, mas já estive em samba, pagode, reggae, sertanejo (funk não que funk é demais pra minha pessoa). Mas rockabilly, gente, eu nunca tinha ido. E meu imaginário a respeito de como seria um lugar assim corria solto.

Era ainda durante a semana quando eu recebi um sms falando a respeito de colocar nome na lista da balada. E, cheia de emoção, mandei um sms dizendo "seu nome já está na lista do Inferno." E então que na sexta o moço da oficina quis ficar com o meu carro por lá. E eu cheguei suplicante "mas moço, eu preciso do meu carro, preciso ir para o Inferno no fim de semana!". Ele atendeu prontamente, meio incrédulo na situação, meio com medo de perguntar a respeito. E eu em meio ao compartilhamento de informações com as amigas virtuais no Facebook: "gente, hoje eu vou pro Inferno!" e elas: "ah, eu também queria!!", ligava para as amigas reais e dizia "já peguei o carro pra podermos ir confortáveis para o Inferno!"

Sexta feira à noite, nós no inferninho da Augusta, saídas do Violeta (bar de nome muito meigo para a localização), descendo a rua. E o Inferno demorava a chegar. Amiga amor abordou um segurança: "moço, onde fica o inferno?" e ele: "é só descer!" e pensamos que bom. Pra baixo é sempre o caminho do inferno, claro. Que pergunta. E então eu recebi a ligação: "oi, você tá demorando pra chegar, eu estou aqui na porta do Inferno usando um vestido de oncinha, tá?". E eu ri. Ri desde o começo da sugestão de lugar, ri internamente até chegar lá na porta. Do Inferno. Onde o segurança abriu pra nós a porta pesada dizendo "sejam bem vindas ao Inferno e aproveitem." (e eu lembrei nitidamente do episódio da minha vida em que fui no Castelo dos Horrores do Playcenter). Mas não, ali era só o Inferno. E eu nunca tinha ido em um lugar com o nome tão legal. E nunca tinha sido tão divertido contar para as pessoas que eu estava indo em uma simples balada.


E gente, o Inferno é lindo. Com as paredes revestidas de tecido de oncinha e grandes cortinas vermelhas, lá dentro é a oitava maravilha do mundo. E toca Foo Fighters. E Metallica. E Ramones. E Elvis Presley, claro. E Elvis Costello também. Lá, no Inferno, tem mais mulher do que homem. Porque a entrada para mulheres é vip. Mesmo assim, tem sofás. Muitos sofás. E poucas pessoas. Na verdade, no Inferno tem espaço suficiente pra você se jogar na pista e dançar com os braços abertos. E mexer as perninhas e os braços tatuados arriscando o twist mais desengonçado que conseguir. Sem encostar em ninguém.

No Inferno toca uma banda de rockabilly que se você fechar os olhos se vê em 1950. E tem a impressão que ao abri-los vai ver todo mundo de rabos de cavalo e fitas no cabelo e saias rodadas. E rapazes de brilhantina no cabelo, camiseta branca e jaqueta de couro. E bebendo Heineken, porque é só esse o drink que servem lá no Inferno. E se você sonhar mais um pouco, capaz de enxergar John Travolta cantando pra você ♪ Summer days drifting away, to oh oh the summer nights..



Eu, que cheguei no lugar pensando encontrar mulheres de biquínis dançando com cobras que se transformariam em demônios vampiros à lá Tarantino em cerca de minutos, saí encantada com o bom gosto da pessoa em escolher um lugar tão legal pra irmos. E tão improvável. Tão escondido. E tão vazio. Porque o gosto musical das pessoas para lá em cima, na Augusta, no purgatório, no black music, muito antes do Inferno. E, minha gente. Se no inferno for mesmo tudo isso lindo assim e ainda tocar rock... meu nome já está na lista.


Inferno: recomendadíssimo.



PS: Detalhe considerável: Anna Vitória, a caçulinha, me contou que foi barrada na porta do Inferno por ter voz de neném ♥. Portanto, caso queira se aventurar, certifique-se antes que você está compatível com o lugar.