Então.
Daí que eu sou uma pessoa que gosta de arrumar armários. E esses dias, quando eu vi que tinha um curso gratuito de organização de armários e comentei que talvez eu fizesse, meu irmão me perguntou se eu que ministraria o curso, já que eu sou mestre no assunto. Não é bem assim. Eu só gosto de arrumar o meu guarda-roupa uma vez por mês. Deixar tudo bonitinho, as blusinhas todas arrumadas, duas por cabide, ordem de cor. Gaveta de shorts, gaveta de saias, gaveta de pijamas, gaveta de calcinhas. Calcinhas de lycra, calcinhas de algodão, primeiro as brancas, depois as coloridas, depois as de florzinhas. Meias. Coisa boa que é arrumar tudo depois abrir todas as portas e olhar de longe, visualizar o conjunto da obra de arte da arrumação como um todo. Eu realmente gosto. E aí lá em casa tem sempre aquela coisa "Daniel, onde está a sua irmã?" "Tá arrumando o armário de novo, mãe." "a Renata? Adivinha. Arrumando o armário." "Quem? Renata? No armário, arrumando." "A Renata tá arrumando o armário de novo? Mas ela não tinha arrumado ontem?" "A Renata depois que fizer tal coisa vai arrumar o armário, claro." "Renata? Não sei, talvez não saia hoje, tá arrumando o armário, sabe como é...".
Daí que quando eu era criança e ía passar uma semana de férias na casa da minha avó, queria arrumar o armário dos tios. Sabe? Sei lá, era tanta bagunça, como qualquer armário de duas crianças de 9 e 12 anos, e aí a bagunça me dava coisas, aí eu queria arrumar. Da primeira vez até que eles deixaram. O problema foi quando eu solicitei ajuda dizendo que o armário era deles. Sei lá, sabe? Eu queria cooperação, mas não por arrumar em si, mas por compartilhar aquele momento único que seria arrumar o armário. Todos juntos, cooperando para que o resultado final fosse lindo. Aquela coisa tipo comercial de margarina, todo mundo feliz arrumando o armário. Aí depois disso eu fui impedida de chegar perto do armário por bons anos depois disso. Até que o meu irmão ganhou vários armários. E aí eu me vi no paraíso, arrumando os armários dele uma vez por mês. Problema é que crianças crescem, e hoje ele tem pavor de quando eu abro alguma porta do armário dele. Bagunça arrumada, ele diz. É tudo dele, a bagunça é dele, o armário é dele, e eu se quiser me enfiar pra arrumar o armário de alguém, que seja o meu. Tranca a porta e me deixa pra fora. Mas o meu armário já tá arrumado, sabe?
Parece que quando a gente tem uma mania, tem justamente porque as outras pessoas que convivem no mesmo ambiente são completamente o oposto. Pois a minha mãe tem os armários de cozinha mais bagunçados da história. E eu, na falta do que fazer, na coceira de arrumar, no desespero de abrir portas e cair potes na cabeça, uma vez por ano me aventuro. É uma vez por ano e é aventura, porque eu arrumo tudo, limpo, organizo, fica aquela coisa linda. Até ela chegar. E xingar todas as minhas 24 próximas gerações por eu ter mexido nas coisas dela e tirado tudo do lugar. Não fica funcional, não deixa ela achar as próprias coisas, diz. Aí vai lá e mistura potes com farinha, põe o saco de lixo na gaveta dos vidros, enfia o macarrão nas assadeiras, joga os saquinhos de tempero pra cima. É assim que ela gosta, é assim que é a cozinha dela, é assim que fica bom. Então tá, né? Quem sou eu pra discordar? Mas ano que vem eu já vou ter esquecido todo aquele escândalo. E vou achar que, quem sabe, se eu arrumar os armários dela, talvez ela nem perceba.....
PS1: Você assiste Friends? Sabe a Mônica? Que tem mania de arrumação? Que vai na casa dos outros pedir pelamordedeus pra arrumar as coisas? Que a mãe dela pega no pé e faz de tudo pra ela se achar inferior? Então, me identifico total.
PS2: Inspiração para o post foi mérito da Fersi!
:: Postado por Rê às 11h33
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