quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

33 Renatas

Trinta e três. Onde isso vai parar?

Fato é que, quando eu tinha quatro anos e bati na bunda do menino na escola porque ele pisou na minha tiara amarela e a quebrou, não imaginava como seria ser uma mulher de 33 anos. Ter 33 anos é melhor. Melhor que todas as outras idades. Porque eu, capricorniana (da cabra que sobe a montanha sozinha apesar dos percalços da vida para olhar por cima e ver que conseguiu), do horóscopo chinês cabra, elemento terra e ascendente virgem, também de terra. Eu preciso de pés no chão pra ser feliz. Preciso estar segura. Preciso saber onde piso. Responsabilidade.

Ter 33 anos é melhor que todos os outros, porque ao longo da minha existência foram 33 anos de vida que eu passei crescendo. Aprendendo. Evoluindo. E hoje, com a sabedoria que meus 33 anos me permitem, eu posso dizer pra vocês que tudo é muito melhor. Eu nunca gostei de ser criança, porque infância significa dependência. Nunca gostei de ser adolescente, porque adolescência significa inconstância. Eu gosto de ser adulta. Madura.

No último ano da minha vida eu mudei. Bastante, aliás. E pensei nisso quando, no sábado passado, cheguei num restaurante mexicano que já fui algumas vezes e o garçom me olhou e disse "essa moça eu conheço, essa é aquela moça simpática e animada que sempre vem aqui". Simpática. Quem diria? Animada eu sempre fui (para os que entendem meu humor sarcástico, claro). Mas simpática?

Nesse tempo eu troquei de emprego (e por isso estive tão ausente desse blog, infelizmente) e, como tudo na minha vida é planejado, planejei ser uma pessoa melhor. Porque da minha capacidade profissional de produzir eu nunca tive dúvidas, mas tenho consciência que sempre deixei a desejar no quesito relacionamentos interpessoais. E então, como meta previamente estipulada, eu decidi ser uma pessoa mais sociável. Mais leve.

Agora as pessoas fazem reunião no trabalho pra questionar a qualidade da minha produtividade (lembra que eu disse que nunca tive dúvidas da minha capacidade profissional? Então. Porque eu produzo mais e melhor, sabe, isso irrita os outros) e eu fico quieta. FICO QUIETA, BRASIL. Juro. Tá lá a galera "é, porque tem que ver isso aí, é impossível a pessoa fazer tanto e tão bem" e eu fico calmamente sentada no canto da sala com os braços cruzados. JURO. Quem me imaginaria assim, mundo? Porque há 1 ano atrás, nesse momento, eu faria igual o Hulk fez com o irmão do Thor em Os Vingadores. Sabe quando ele pega o cara pelas pernas e bate uma meia dúzia de vezes o cara no chão?



Mas não. Agora eu sou uma pessoa mais pacífica. Já sei que isso aí seria ótimo e extravasaria meus sentimentos, mas ao mesmo tempo atiçaria os "Lokis" da vida e então eu nunca mais teria sossego. Hoje eu deixo falar. Reclamo sim, mas para a pessoa certa. E a minha vingança (é, porque eu continuo sendo vingativa, não pense você que eu alcancei a paz espiritual não porque daí tudo ia ficar muito chato na minha vida) virá em forma de valores: a pessoa que me agrediu (porque duvidar do meu trabalho pra mim é agressão) não alcançará um aumento de salário que poderia, porque falar mal de mim implica um mal resultado na análise de desempenho dela (minha chefe me ama, beijos).

Mas intrigas trabalhísticas à parte, hoje eu posso dizer que estou mais calma. Mais pacífica. Não falando o que todo mundo quer ouvir, mas deixando de falar e de fazer o que com certeza me prejudicaria futuramente. O lado bom da história: meus amigos estão levando vantagem. Porque me tornei uma pessoa mais agradável. Exemplo disso é que daqui a algumas horas eu, que nem ia comemorar o aniversário, terei a maior galera presente na minha casa. Todos por espontânea vontade (eu nem tive que ameaçar ninguém). Mas queria muito mais.

Queria as amadinhas virtuais que se tornaram reais no decorrer do ano e que me fizeram surpresa hoje e que vocês podem ler lá todo o amor que eu já li e me emocionei: Anna - Analu - Tary - Dedê - Milena
Trinta e três. Gosto da minha idade. Gosto de tudo o que passei até hoje porque eu aprendi e tudo me trouxe para o que eu sou hoje. Uma pessoa feliz por ser quem é. 

Queria agradecer por tudo. Por quem é presente hoje na minha vida. Quem vai vir me dar abraço pessoalmente, quem voou de Curitiba só pra me dar abraço, quem deixou videozinho de parabéns desde ontem no meu whatsapp. Quem vai só atravessar a rua pra vir me ver e quem vai vir de longe. Quem não vai vir porque mora espalhadinha pelos arredores do Brasil. Mas que queria. Agradeço muito, muito mais, por quem esteve SEMPRE na minha vida. No ano passado e no anterior e no anterior e no anterior. Que ouviu minhas alegrias, mas também minhas tristezas. Quem me ajudou a seguir em frente e quem demonstrou carinho mesmo que distante. Obrigada, gente. Eu sei que eu fui um porre, Edgar. Mas hoje se eu estou aqui feliz e comemorando, com certeza grande parte disso é culpa de vocês. 

Agora eu vou lá que tenho que fazer bolo (e lembrarei a cada segundo da carinha que Dedê fazia ao comê-lo).

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Sobre essa gente que não gosta de Natal

Desde que a internet virou modinha e que todo mundo tem acesso (eu já fiz um post sobre inclusão digital, vocês sabem), que todo mundo se sente no direito de expressar seus sentimentos. Ok, eu acho válido, um belo dia você não acorda bem e sai apertando o foda-se do mundo (eu também faço isso às vezes) e o resto do pessoal tem que ficar vendo que aé, hoje a Renata não acordou legal, beleza, vamos relevar, amanhã o dia será melhor.

Certo. Eu não tenho nada contra você expressar seus sentimentos. Vai lá, xinga ae o mundo, tá supimpa. Mas hoje eu resolvi falar do pessoal que FAZ QUESTÃO de xingar. 

Sabe esse BOOM dos gays? Que hoje não importa o que quer que signifique ser gay, também não importa se as pessoas nascem assim ou se viram gays, ou se é o meio em que vivem e o tipo de educação que faz alguém ficar gay. Não importa lutar em prol de maiores condições para os gays ou pelo direito de ser gay. Hoje em dia É MODA ser gay. E eu não sou gay, sei lá, pra mim ia faltar o principal da história, mas a impressão que eu tenho é que as pessoas acham que se não forem gays não tem mais graça. Pra mim parece que aquele adolescente gay que sai soltando a franga e falando alto no meio do metrô às 18h da noite talvez nem saiba realmente qual é a própria opção sexual. Mas uma coisa ele sabe: ser gay chama a atenção. Ser gay é o que está dando status e, se é o que a mídia fala, então que se dane, serei gay também. Porque o que importa não é o que eu sou ou o que eu acho, o que importa é que eu estou chamando a atenção. 

Mas o assunto aqui não são os gays. São as pessoas que não gostam de Natal. Mas seguindo a mesma linha de raciocínio, hoje com a internet liberadona e você escreve aqui o que quer que seja que a minha amiga lá no Japão vai ler, o negócio também é chamar a atenção. E hoje, 24 de dezembro, qual é o assunto do momento? O Natal. E o que você pode dizer pra chamar a atenção e para que os olhos estejam focados para você ao menos dois segundos? Reclamar do Natal. 

Sério, galera, tá clichê já. Eu já cansei. E, se tudo que eu nunca quis na vida foi chamar a atenção, se o meu objetivo na vida continua sendo há quase 33 anos o de passar despercebida em tudo o que possa virar os holofotes em minha direção, eu digo pra vocês que, olha que chato, eu sou igual a todo mundo "normal" e gosto de Natal. Eu curto dezembro. Eu curto presentes. Eu curto rabanada. Eu curto árvore de Natal e pisca piscas. Eu curto a correria natalina e o fato de todo mundo querer me ver ao mesmo tempo. Eu faço aniversário também, ou seja, dezembro é o meu mês preferido. Eu curto pensar que nesse momento está todo mundo com o peru no forno e embrulhando pacotes. Eu curto olhar pela minha janela e ver a rua deserta porque todo mundo está no mercado se acotovelando pelo último tender passado que sobrou. 

Meu nome é ReNATA (reparou que tem a palavra Natal quase inteira no meu nome?). Significado: renascida (porque se Natal significa nascimento, Renata só pode significar REnascimento. Nasci no Natal. Minha época preferida. MEU SONHO é passar um Natal com a minha família em Nova Iorque, em uma casinha aquecida, a neve lá fora, a árvore natural escolhida ainda plantada, a ceia gordurosa, os suéteres coloridos. Bem ao estilo Férias Frustradas de Natal, Esqueceram de Mim ou O Diário de Bridget Jones. E convidarei Anna Vitória e sua família para partilhar o momento. 

E vocês, que reclamam do Natal, please, calem a boca. Porque nem é moda mais reclamar do Natal no momento em que tem mais milhares de pessoas que, na ânsia de serem do contra, acabam sendo todas iguais. Tire essa sua melancia da cabeça. E vá ajudar a sua mãe a preparar o manjar.


sábado, 22 de dezembro de 2012

O fim do mundo que não foi

É. O mundo não acabou.

E agora, você faz o que? Se acotovela pela loucura das compras de Natal que você deixou pra fazer de última hora, porque você ficou na esperança do mundo acabar antes de ter que fazer isso, claro.

Boa sorte ae pra você. Eu vou ficar aqui em casa na boa vendo Dexter. 


terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Sobre o fim do mundo

O fim do mundo está próximo. E já não era sem tempo. Diante de tal fato, eu gostaria de sugerir aos deuses uma ordem de extinção da raça humana. Nada muito complexo, seria só pra ficar uma coisa mais organizada. Porque Deus talvez tenha a lua em virgem e, sabe como é, esse povo gosta de tudo bem planejado. Lá vai:

- Gente que devia morrer primeiro: esse povo que fala "perca". Sério, Deus, por favor, vai?

- Segundo lugar: gente que encosta na gente em ônibus/metrô. Não, não é necessário encostar em alguém, mesmo que o transporte público esteja lotado. EU não encosto em ninguém. Por que alguém tem que encostar em mim?

- Terceiro lugar: gente que ouve funk. Fala sério, Deus. Esse povo merece morrer, não merece não?

- Quarto lugar: gente que não sabe se vai ou se fica. Sabe aquele povo que, enquanto você está andando em direção reta e apressada pela rua (pode ser a pé ou dirigindo), e então, de repente, chega uma criatura do além e INVADE seu caminho, feito barata tonta, não sabe se foi ou se vai, e você tem que parar no meio da rua pra esperar a criatura decidir, mas só porque você é educada, porque a vontade mesmo é passar em cima? Então. Esse povo aí.

- Quinto lugar: o garçom que tira seu suco/prato de comida/fim do milkshake que PARECIA, mas só parecia mesmo, PORQUE VOCÊ AINDA NÃO TINHA ACABADO DE COMER, e puts, justamente, estava ali naquele recipiente exatamente o finzinho do que quer que seja que você estava consumindo, mas tinha guardado o restinho MAIS GOSTOSO DE TODA A REFEIÇÃO e daí vem o ABENÇOADO e eficiente e, sem perguntar LEVA o bagulho que você ainda ia terminar de comer/beber.

- Sexto lugar: gente que escreve "menssagem" "derrepente" "com migo" "útel" e "aifone" (juro pra vocês que esses dois últimos eu vi no trabalho esses dias).

- Sétimo lugar: motoqueiros, taxistas e motoristas de ônibus, nessa ordem. Se você dirige, sabe o porquê.


Acho que é isso. Sete primeiras categorias de gente que deve ter prioridade pra morrer, assim como os sete mandamentos e os sete pecados capitais. Porque 7 é o número preferido de Deus. E eu quero agradar.

Não se esqueçam: caso dê tempo, quero um travesseiro bem confortável no meu caixão. Caso não dê tempo (tipo se eu ficar presa embaixo dos escombros e tals), que eu fique perto de uma antena da Vivo e com o meu iPhone (porque eu quero ficar sabendo das últimas notícias do fim do mundo. E, claro, com um travesseiro bem confortável, meu edredon e Pandora.

Beijos, bom fim do mundo pra vocês. Valeuzão.

(pra vocês verem que desde sempre o bagulho que sempre dominou foi a hora do almoço)

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Milena

FISH. Bem no carioqueish mesmo. FISH como Milena é linda. Milenoca. Que deve mesmo ser a única do mundo, porque eu nunca conheci outra. E agora já era. Mesmo que conhecesse, nenhuma outra Milena do mundo deve se comparar à ela. Milena. Da terra do bishcoito. Rio de Janeiro. A única carioca do mundo todo que chega em São Paulo dizendo que existe sim amor por aqui, na minha terra da garoa. Milena, talvez a única carioca fofa do mundo. Mileninha. Porque apesar de toda a altura que tem (é alta mesmo a mocinha) ela parece sempre viver no País das Maravilhas. Mas tem olhos de Bela. Aquela, da Fera. Brilhantes, como só Milena consegue ter. E, de repente, ela te invade com os cabelos lindos e você só sente o abraço. Milena é uma das pessoas mais carinhosas que já conheci na vida. Amorosa. Meiga. E linda. FISH, como Milena é linda. Milena é menininha. Está sempre de meia-calça. E saia. Porque quem inventou essa meia-calça com short jeans com certeza não foi feito pra viver no mesmo planeta que eu. Mas Milena não. Milena invade o mundo da gente com saias e vestidinhos e sapatinhos boneca e de repente você está ali envolvida com o sinônimo da doçura. Milena é doce. Milena é amor. Milena é aquela que faz dois meses que está pensando em uma qualidade própria para me convencer de que se eu adotá-la seria um bom negócio. Na verdade ela queria mesmo é morar comigo pra comer bem. FISH como a Milena é safada. Mas eu relevo. Relevo, porque estar do lado dela é ter a sensação de que não falta ninguém. É rir da leveza da vida. É aproveitar as coisas simples. Pra onde levam esses olhos castanhos, Milena? FISH. Sei lá. Talvez para a nave. Milena. A menininha saltitante cuja lembrança dos olhos brilhantes mora mesmo é no meu coração. 

domingo, 16 de setembro de 2012

Doces Rodopios

Ela era uma menina que gostava da vida. Vinte e poucos anos, morava na casinha humilde porém cheia de amor com a mãe. Tatá era aquele tipo de menina doce, que quando sai de casa para ir à padaria, consegue cumprimentar quase toda a cidade no caminho. "Bom dia, Tatá", era o que ela ouvia por onde passava. "Bom dia, seu José" era o que ela respondia, tão educada como sua mãe gostaria que fosse.

Tatá saía de casa com seu vestido florido, sua sandália rasteira. Saltitando pelas ruas de paralelepídedo do bairro do Pantanal sul-mato-grossense. O calor do fim da tarde em seus ombros, mas ela amava aquilo. A calma da cidade. O mormaço típico. Tatá era uma menina que saltitava e rodopiava, feliz com a vida.

Naquela tarde, como em todas as outras, Tatá tomou rapidamente seu café e saiu apressada e com os cabelos esvoaçantes levando uma pequena sacola pela rua até o rio. Ela cresceu na beira daquele rio. Tomando banho enquanto era criança, brincando com os amigos. O rio que era a sua casa, porque ela sempre morou ali naquele lugar. E não há melhor lugar que a nossa casa.

Tatá correu até o rio, sentou em seu lugarzinho favorito e tirou o que tinha de dentro da sacola. Ali, de longe, quem passasse veria algo como um lanche. E era sim, um lanche. Mas não pra ela.

De dentro do pacote saiu um pedaço de bife, de um tamanho razoável, que ela mesmo tinha comprado para a mãe no açougue pouco antes do almoço. Enquanto a mãe não via, surrupiou um dos bifes e enfiou na sacolinha. Um hábito que já há algum tempo fazia. A mãe fingia não ver e se questionava o motivo pelo qual a filha geralmente separava um bife cru do montante total para a refeição. Mães sempre sabem das coisas, mas ela imaginava que Tatá alimentava algum cachorrinho pela rua. Que engano.

Tatá era sim aquela menina que amava animais. Da mesma forma que cumprimentava as pessoas por onde passava, sabia os nomes de todos os cachorros da vizinhança. E os gatos. E assoviava como os passarinhos. E saía para passear com as galinhas. Até um camundongo, certa vez, fez amizade com Tatá. Porque ela teve medo sim, mas era um animalzinho tão pequeno e indefeso e peludinho que ali, mesmo de longe, ela se afeiçoou a ele.

Essa tarde Tatá visitava seu amigo preferido. Aquele que um dia, enquanto Tatá assistia o pôr do sol, viu se aprochegar meio que em sua direção. Quando o viu, Tatá quase gritou de susto. Mas a criaturinha, indefesa, somente olhou pra ela e abaixou a cabeça. Como um gato ou cachorro à espera de um cafuné. Tatá, ainda assim temerosa pelo animalzinho, não se movimentou. Mas ele, como pedindo a atenção dela e quase deixando de lado a física e a sua espécie, virou o corpo mostrando a barriga. Ele queria carinho. E era um jacaré.

Jacaré, lagarto, iguana, lagartixa. Tatá não sabia muito bem de que se tratava aquele animal feio, mas que exigia tanto da sua atenção. Mas ele não era tão grande quanto um jacaré. Talvez fosse um filhote. Talvez fosse um jacaré anão. Porque em meio às suas feias feições, ele até que era engraçadinho - pouco mais de trinta centímetros e bem mais gordinho do que deveria ser. E ficaram os dois ali, cada um de seu lado, assistindo o pôr do sol. Fato esse que se repetiu depois por mais alguns dias da semana. E Tatá se afeiçoou a ele. Ir até a beira do rio no fim da tarde agora já não era mais só para ver o pôr do sol. Era para visitar o Janjão. Janjão tornou-se o amigo confidente, pois Tatá passava as tardes conversando com ele. Tinha medo de segurá-lo, mas isso não os impedia de ter um relacionamento amigável saudável. Janjão fazia exatamente o mesmo movimento todos os dias: saía da água, avistava Tatá sentada na beira do rio assistindo o pôr do sol, se aconchegava em seu redor e fazia companhia. E assim criou-se uma afeição mútua. E quem foi que disse que os répteis têm o sangue frio?

Naquela tarde, Janjão não veio assistir o pôr do sol e comer o bife que Tatá deixou à sua espera. "Deve ter perdido a hora", pensou ela preocupada. Esperou até quase a lua aparecer no céu. Mas não podia esperar mais. Ela quase ouvia no fim da rua a sua mãe chamando para o jantar.D eixou o bife no lugar de sempre, meio que escondido para que outros animais não pegassem. "Janjão pode ter fome durante a noite". E correu para casa.

No dia seguinte, o bife ainda estava lá. E no outro, e no outro. Passou quase uma semana sem que Janjão chegasse para fazer companhia. Para comer. Para conversarem. E Tatá pensou no pior. Pensou que ele deveria estar doente. Pensou que ele poderia ter se perdido. Pensou que, ai meu Deus, ele poderia ter morrido. E então o desespero veio à tona.

Tatá passou mais vários dias indo sozinha à beira do rio no fim da tarde. Um mês, dois meses, três meses. Chateada, chegava às vezes até a chorar. Demorou, mas passou. Tatá era uma menina cheia de esperanças e de bons pensamentos, o que a ajudou a pensar que onde quer que Janjão estivesse, estaria melhor. Mesmo assim, Tatá deixou de rodopiar pela rua para assistir o pôr do sol na beira do rio no fim das tardes.

Um dia enquanto assistia no sofá à novela com a mãe, Tatá ouviu um burburinho das crianças na rua. Abriu a porta e viu o pessoalzinho afobado correndo, mas a mãe de Tatá não a deixou sair de casa. "Isso não é hora de moça de família ficar na rua, Taryne" foi parte da bronca ouvida. Tatá, muito obediente, porém com a curiosidade maior, rolava na cama em seu quarto contando as horas para o amanhecer. Com os pensamentos tão entretidos em sua própria cabecinha, Tatá quase nem percebeu que o burburinho da rua tinha se dissipado. E agora, lá fora, só se ouvia os grilos da madrugada.

Tatá saiu pela janela. Pé ante pé, descalça pela rua, o tecido da camisola fina esvoaçante. Tatá correu no sentido do rio. Cheia de emoção e ansiedade, marejou os olhos quando chegou na margem.

Janjão estava lá, à sua espera. Pareceu sorrir no momento em que viu Tatá. Ela, feliz da vida, pela primeira vez passou as mãos no dorso dele e viu que ele fechava os olhos de satisfação. Em meio ao carinho há tanto esperado, Janjão olhou para o lado, como quem mostrava alguma coisa. Tatá também olhou. E no bife que Tatá havia deixado lá já há algumas semanas meio escondido entre as folhas, um filhotinho.


sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Camila [14/30]

E caiu inconsciente por causa de um sapato na cabeça, Helena apareceu no portal com um pé descalço e Alice veio logo em seu encalço, as duas tinham um sorriso maroto no rosto e um riso que eu sabia que era mais de adrenalina e desespero do que de alegria. Naquele momento eu sabia, eu tinha as melhores amigas do mundo.




Foi o tempo de Helena correr em minha direção e me abraçar e Alice, desesperada para resolver logo a situação para podermos sair logo daquele lugar horrível, chegou arrancando todos os fios de Alex. De uma vez, sem nem pensar no que poderia acontecer. Eu, em um misto de "isso mesmo, vamos correr daqui" e "mas Alex tinha dito que primeiro é preciso desconectar os fios azuis e só então os vermelhos" me desesperei. 


- Alice, meu Deus, não deve ser assim que desliga, pare com isso, você pode matar o Alex!

E então foi nessa hora. Foi nessa hora que, de repente, tudo ficou escuro. E eu, demorando pra entender o que havia acontecido, o rosto cheio de lágrimas e o grito estridente de Helena do meu lado, finalmente percebi: eu não havia ficado cega. Estávamos no escuro simplesmente porque toda a luz do prédio que não tinha nenhuma janela se apagou. 

Segurando nas mãos de Helena e tentando acalmá-la, eu tentava lembrar. Em qual andar estávamos dentro daquele prédio horroroso? Quinto? Depois de tantos corredores e tantas escadas que passei morta de ansiedade pelo que ia encontrar quando chegasse no lugar em que dr. Oliver estava me levando, acabei me perdendo. Como se eu, que me perco até em shopping, precisasse de muita coisa pra me perder em algum lugar.

De repente senti alguém encostando a mão no meu braço. Depois do grito ensurdecedor que eu dei, reparei que era Alice. Quase cheguei a esquecer da presença dela enquanto pensava em nossa situação.

- Gente, eu lembro que estamos no terceiro andar. Tudo o que temos que fazer é atravessar todo o corredor, o que não é muito difícil, porque é uma reta só. No fim dele, ficam as escadas. Descendo três lances chegamos na porta da rua. A questão é: como carregaremos o Alex?

Pronto. Alice, sempre ela. a personificação da pessoa esperta. 

- O skate! O skate! - Helena gritou. 

- Helena, que susto! Que skate, minha filha? Tá alucinando? - eu também me achei no direito de extravasar meu nervosismo no momento.

- Di, nós viemos de skate! O irmão da Alice nos emprestou dois, para virmos pra cá, quando ele nos ouviu discutindo sobre como poderíamos chegar aqui. Você sabe que horas são? Duas horas da manhã! Não tem mais ônibus nessa cidade e eu sempre digo que isso aqui é tão interior que até os taxistas dormem! Deixamos os skates lá na recepção! Tudo o que temos que fazer é irmos lá buscar, voltarmos aqui, colocarmos o Alex em cima deles e então conseguimos sair rapidinho. E é nossa única opção, porque por mais fraco que ele esteja nós não vamos conseguir carregá-lo nas costas!

Maravilha. Estava tudo muito bom, tudo muito bem. Um corredor imenso e cheio de portas no caminho. Duas horas da manhã. Escuridão quase que completa, porque nossos olhos se acostumaram um pouco a ela e agora pelo menos a gente conseguia enxergar mais ou menos uns três palmos diante do nariz. Dr. Oliver esticado no chão e eu tentando calcular mais ou menos quanto tempo ele ficaria desacordado. Foi só uma sapatada. E eu, que sempre achei exageradas aquelas meia-patas imensas que Helena insistia em usar até pra comprar pão na esquina, agora agradeci. Com certeza a sapatada foi mais eficaz de meia pata do que teria sido se ela usasse sapatilhas como eu.

- Mas Helena, como vamos levar Alex por quatro lances de escadas abaixo em cima de skates? 

- Parece que eu vi um elevador, Di! - Alice finalmente se manifestou - Só não lembro se foi do lado esquerdo ou direito da escada, mas tinha um elevador!

- Ótimo, facilitou um pouco a vida agora. Então vamos buscar os skates e no caminho a gente já vê se o elevador está funcionando. 

Peguei no braço da Alice e esperei enquanto Helena resgatava seu outro pé de sapato jogado e colocava no pé de volta, mas não sem antes dar com vontade mais uma bela sapatada na cabeça do Dr. Oliver já jogado anteriormente no chão.

- Pra garantir que o tiozão não vai acordar - explicou. Segurou meu outro braço e abrimos a porta.


Quando olhei à frente pensei que não me lembrava daquele corredor ser tão comprido. Não me lembrava de ter passado por ali com Dr. Oliver, quando nos dirigíamos à sala em que Alex estava. Devia ser a minha ansiedade, claro. Dei graças por conseguir enxergar uma luz no fim do corredor. Havia uma única luz de emergência em todo aquele andar, localizada bem lá no fim do corredor, perto das escadas. Mesmo com a luz muito fraca conseguíamos ver o elevador, bem ali do lado direito da escada. Eu amo minhas amigas, pensei. Conseguiremos.

Foi logo nos três primeiros passos da corrida que Helena torceu o pé. Ah, meia pata. Eu te odeio. Helena caiu, nós paramos pra ajudar, conseguimos levantá-la. Eu e Alice, uma de cada lado. Helena mal conseguia colocar o pé esquerdo no chão. Arranquei aquele inferno de sapato dos pés dela e a carregamos devagar pelo corredor. Pronto, que beleza. Eu amo Helena, mas Deus me perdoe, nessa hora eu só consegui pensar que era uma a menos pra carregar o Alex pra fora daquele lugar horroroso. Helena era uma das minhas melhores amigas, irmã mesmo. Mas o problema dela era só um pé torcido. E o problema de Alex era a própria vida.

Mais alguns passos doloridos pelo corredor imenso e começamos a ouvir um barulho vindo de dentro das portas. O vento. O vento que uiva quando bate em prédios altos. O vento que entra por frestas de janelas. Ah, é só o vento. Mas... por onde vinha vento, se aquele prédio não tinha nenhuma janela?

E então eu vi uma menina. Correndo, de uma porta a outra do corredor. Uma imagem quase apagada, como uma sombra. Uma sombra branca. E ela saía de uma porta e entrava em outra. Várias vezes. Portas diferentes. Cabelos lisos e castanhos, uma camisola branca e comprida até os pés. No barulho do vento, a imagem da menina corria por entre as portas e vinha do fim do corredor cada vez mais pra perto de nós, que paramos no caminho porque o arrepio de medo não deixava a gente se mover.

Uma sombra branca de menina. Um fantasma. 

E então ela parou na nossa frente e sem que ela abrisse a boca ou expressasse qualquer movimento facial, ouviu-se naquele corredor:

- O meu nome é Camila. E vocês não vão conseguir sair daqui.

E foi nessa hora que Alice desmaiou.









Esta é a décima quarta parte de um meme cuja proposta foi fazer um conto a 30 mãos para comemorarmos 1 ano do grupo de blogueiras mais florido desse mundo: a Máfia!
Pra quem perdeu o que já passou e quiser acompanhar separei os links aqui embaixo, e pra quem ficou ansioso pra saber a continuação é só esperar. Amanhã chega a continuação dessa eletrizante aventura com a galerinha da pesada aprontando altas curtições no blog da Mayra!




1/30 - É só uma picadinha - por Rafaella
2/30 - Como tudo começou - por Marie
3/30 - Do medo da perda - por Marcela
4/30 - Esperando o telefone tocar - por Ana Lu
5/30 - Entre o pensamento e a realidade - por Rhaíssa
6/30 - Não há lugar como a nossa casa - por Rafaela
7/30 - por Gabriela Couth
8/30 - Centro de Pesquisas Humanas em Zumbot - por Nathy
9/30 - A verdadeira face de Alex - por Tailany
10/30 - Vamos com você, nós somos invencíveis pode crer! - por Lilica
11/30 - Contra o tempo - por Bruna
12/30 - Intimação - por Gabriela Irala
13/30 - Take my hand, we'll make it. I swear - por Alessandra

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Deyse

Deyse da Cova. Dey. Dedê. Que eu nunca me aproximaria se nosso único recurso de intermediação fosse o blog. Porque Dedê, pra quem lê assim, é densa. Demais. Bem mais que eu. Dedê parece ser profunda. Mas é só ter alguns minutos de prosa com ela, pra saber que ela entende de profundidade sim. Só que de profundidade de covas. Porque Dedê caiu numa cova um dia. E em meio a tanta proximidade com o defunto de uma história que se alastrou bem além do susto, foi que eu descobri Dedê. Deyse. Que se pronuncia Deíse. Deíse, do alto de São Luiz, no Maranhão, e de suas duas faculdades executadas ao mesmo tempo, Direito e Letras. O adjetivo dela só pode ser "incrível". Dedê quando me contou toda a história da cova, na época que eu tinha mais tempo pra conversar na internet, passei mais de uma semana rindo sozinha. A história de Dedê foi parar no meio dos meus amigos. Da família. Dos colegas de trabalho. Dedê nem podia imaginar, naquele dia que caiu na cova, que alguém, algum dia, iria amá-la inicialmente só por essa história. Inicialmente, porque ela tem várias outras. De quando comeu cocô e ficou cega. Dedê é mesmo daquelas pessoas que a gente tem o prazer de fazer xixi na almofada junto, só de rir. O humor sarcástico dela vai totalmente ao meu encontro do que é uma pessoa brilhantemente agradável de se conviver. Porque até o jeito ranzinza dela eu amo. Dedê, minha cerejinha do nordeste. Que bebe xampu comigo "porque a gente tem que experimentar tudo na vida", "mas condicionador é mais legal porque deixa a língua dormente". Eu queria ter uma filha como Dedê. Nordestina, com aquele sotaque lindo. E queria esperá-la no aeroporto todos os dias, pra que ela corresse na minha direção pra abraçar todos os dias, como ela fez naquele dia. Dedê, tão incrível, que eu até cheguei a duvidar que ela era de verdade. Dedê, tão parecida comigo no humor e na rabugice. Dedê, a mistura perfeita da menina séria e responsável, mau humorada e sarcástica, linda e amorosa. Queria teletransporte, pra ser mais próxima de Dedê, apesar de morar nessa distância imensa. Dedê é aquela pessoa que eu queria todo dia. Pra ser amiga de todo dia. Pra rir junto. Pra ouvir ela dizer que "vou banhar" todo dia. E o "vocês comem comida estranha" todo dia. Dedê. Do pão com mortadela, queijo branco e doce de leite, tudo junto. Do frio que ela sente, porque lá na terra dela 40 graus é bacana. Só por você que eu compraria 2 edredons na 25 de Março em dia de semana em meio de expediente, em hora de almoço. Só você que fungou horas ao meu lado nessa vida e eu não quis atirar pela janela. Da atenção de carregar trocentas garrafas de guaraná Jesus nas costas, durante dois dias inteiros, com o pé torcido, andando horrores. Sabendo que quase ninguém gostaria de bebê-lo. Dedê é gente do meu time, que a gente se dedica pelos outros mesmo que o carinho não volte na mesma proporção. Mas o meu carinho volta por você, Dedê. Na mesma proporção e alguns quilos a mais. Por tudo. Te amo pelas risadas, pelas histórias, pela loucura, pelo mau humor, pela dedicação, pelo sofrer quieta, pela alegria, pelo ciúme, por toda a densidade que você tem aí dentro, por toda a inteligência, pelo medo de gostarem ou não de você, pela modéstia. Você com certeza foi a melhor surpresa que eu podia ter, simplesmente por ser de verdade e por ser tudo aquilo que eu imaginava. Você é pra sempre. Na minha vida, no meu coração.

sábado, 25 de agosto de 2012

Ana Luísa

Analu. Cabelos loiros, bem loiros mesmo, quase brancos. Naturalmente. Olhos azuis e arregalados, daqueles que quase consomem. Pequena e grande ao mesmo tempo, porque tem todo aquele abraço esmagador que parece que ela quer entrar dentro da gente. Pulga na calcinha. Analu é aquela pessoa que não para quieta. Que quer tudo ao mesmo tempo, de todos os jeitos possíveis. Analu tem sede de viver. De aproveitar cada segundinho. De fazer tudo o que pode antes que termine o dia. Mas o dia quase não termina, porque ela quase não dorme. Ela não consegue dormir pensando que alguém vai ficar acordado. Analu é intensa. É feliz. Acredita em tudo e em todos, como todos deveríamos ser. Analu inspira alegria. Inspira bons momentos. Analu é daquelas pessoas que leem um livro em um dia, porque mais que isso seria perda de tempo. Analu não consegue parar duas horas pra ver um filme, porque ver um filme implica em fazer uma coisa só. Analu. Quer tudo pra ela, tudo é dela. O mundo inteiro é dela. E todas as pessoas do mundo são dela. E tudo ela consegue. Ciumenta. Ou não. Porque o que ela tem nem é ciúme mais, o que ela tem ainda não tem nome. E dedicada. E faminta. Não por comida, porque ela come pouco, já que não dá tempo. Ela tem é fome de ser feliz. Impaciente pra deixar as coisas da vida acontecerem da maneira normal, ela corre atrás e agarra tudo o que puder entre os braços curtos de seus 1,58m de altura. Analu brilha. Como a estrela mais brilhante do céu. Brilha a ponto de ofuscar qualquer outra estrelinha tímida ao seu lado. E não tem como ela não passar despercebida do lado da gente. Analu corre, brinca, canta, dança, sapateia e toca corneta enquanto passa. É aquele tipo de pessoa que não tem como não ser amiga. Não tem como não amar. Porque, se por acaso algum dia você se decidir por isso, vai só bastar mais um daqueles abraços esmagadores pra que ela consiga entrar de novo dentro de você. Dentro do coração. Porque ela consegue. Consegue, e preenche tudo com aquele calor que só ela sabe ter. Entra na vida da gente meio que se esparramando, e quando você vê está ali, com ela no meio da sua sala, espalhando o conteúdo da mala na sua casa e na sua vida. Feito docinhos de leite Ninho. Branquinhos, redondinhos, macios e que derretem na boca e que te dão a sensação de pensar em como a vida pode mesmo ser doce. Analu. Você pode ter escolhido qualquer outro trecho de música pra ser o seu. Mas pra mim, você será sempre o "faz de mim estrela que eu já sei brilhar!"


♪ Ela sabe o que ela quer. Ela quer o mundo, e quer sem demora. Ela sabe o que ela quer. Ela quer o mundo e ela quer agora. Ela sabe o que ela quer.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Taryne

Tary. Tary1. @tari1. A do jacaré, porque ela mora em Campo Grande. E eu imagino que ela deve morar assim no meio do Pantanal, em uma casinha de palafita no meio do rio. Mentira. É que trollar a Tary é tão legal! Desde aquele dia que eu estava chamando outra pessoa de feia, que eu falei uma frase do tipo "não, é muito feia aquela tal de Taryne". E o grito que ela deu. Pronto. Tary me ganhou pela indignação. Mas eu sempre soube da existência dela, desde que eu, depois de muito tempo, voltei para o mundo blogueiro. Taryne era um nome comum no mundo da internet, sempre foi. Era amiga de todo mundo, menos minha. Até Analu - sempre ela - fazer a intermediação. Taryne, antes que eu a conhecesse no mundo virtual, sempre me pareceu meio patricinha. Mas naquele julgamento que a gente faz antes de conhecer a pessoa, sabe? Sei lá, eu nunca nem tinha falado com ela, mas alguma coisa entre aqueles layouts lilazes e aquelas figuras fofas e românticas que ela tem no blog sempre me fizeram pensar que Tary fosse uma pessoa frufru. Mas como é gostoso se surpreender com alguém para o lado bom. Como é bom olhar pra trás e pensar que é, eu realmente não conhecia Taryne. Hoje, após quase um ano de conversa, após meses falando via mensagem e skype e, finalmente, após ter conhecido Taryne pessoalmente no último sábado, tenho a dizer que Tary é uma meninona. Menina em corpo de mulherão. Do alto de seus 1 metro e 70 e tralalá de altura, bem mais alta que eu, eu me senti uma nanica ao lado dela. E não consigo me esquecer daquele "oi" tímido que eu ouvi no aeroporto do meu lado direito. E, ao olhar para o lado, dar de cara com a criatura mais doce que conheci nos últimos tempos. Taryne. Cabelão, corpão, bocão. Mas a doçura em pessoa. Um ar de inocente e de menina sapeca ao mesmo tempo. E eu que pensei que ela seria quietinha. Tary, do alto de seu jacaré e sua palafita, fala tão bem quanto escreve. Nenhum sotaque tão aparente, mas um olhar penetrante que pouco deixa transparecer a timidez que eu achei que ela teria. Tary, uma moça educada. E ao dizer isso, quase posso ouvir a mãe dela dizer "ela é mesmo", como me disse ao telefone e eu achei incrível a modéstia que a tia Nil teve ao afirmar isso. Tary. Que molhou todo o banheiro. Que esperou sem dormir pra comer a minha pizza "porque eu não consigo dormir com fome". Que disse tantas vezes que São Paulo é linda. Que dá abraços enormes. Que faz cara de choro quando quer alguma coisa, mas que logo em seguida coloca seus óculos escuros novos e chiques que quando você olha nem lembra que ela é só aquela criança que tem medo de escadas rolantes. Tary, linda que só ela. Que saudade de você. 

segunda-feira, 30 de julho de 2012

Minha vida no Playcenter

É com muito pesar que, acabada de chegar no trabalho, 6h da manhã, leio que o Playcenter fechou ontem pra sempre.

Dezembro de 1987. Eu estava fazendo oito anos. Lembro de estar com o vestido xadrez que vovó fez pra mim. E de maria-chiquinhas, que minha mãe insistia em arrancar metade dos meus cabelos enquanto fazia. As crianças de 8 anos eram crianças naquela época. Filha única. Meus pais me levaram no Mc Donald's, que eu amava. Comi um cheeseburguer, de um Mc Lanche Feliz que ainda nem existia. Mas era o que eu aguentava comer. Big Mac pra mim era algo muito além do meu apetite. Umas 30 vezes além. 
Lembro de ter comido e pensado que o dia estava feliz. Eu tinha comido o que eu mais gostava, meu aniversário havia sido feliz. Estava pronta pra ir pra casa e começar mais um ano de vida, me preparando para a terceira série que começaria dali a um mês. Mas o carro demorou pra chegar em casa. E eu me vi em uma rua muito movimentada, em que dali mesmo eu via ao vivo a primeira montanha russa da minha vida. E eu sabia que estava no Playcenter. Que eu só via na tv. E que apesar de meus primos me contarem que iam sempre a cada quinzena, eu nunca tinha ido. Lembro até hoje do frio na barriga de emoção que senti assim que meu pai estacionou o carro.
Era meio dia e eu pensava que já tinha perdido muito tempo de vida ali fora esperando meu pai comprar os ingressos. E ele demorou bem umas duas horas na fila, debaixo de um sol escaldante. Hoje pensar nisso me dá um pouco de dó. Mas naquela época ele tinha 30 anos. Dois anos a menos do que eu tenho hoje. E dava bem pra ele ficar 2 horas na fila de um parque de diversões com um monte de adolescentes gritando em volta, vai. Ou não.
Eu, sentada com a minha mãe na calçada, pensava durante esse tempo em tudo que eu ia poder aproveitar lá dentro. Porque eu já tinha ido nesses parquinhos de shopping. No único shopping que devia ter em São Paulo naquela época. Sei lá. Enfim, eu ia às vezes. E achava extremamente monótono. Ai que carrossel monótono. Ai que brinquedinho das xícaras monótono. Eu queria era ir num brinquedo alto, que subia e descia uns 3 metros de altura, sei lá. Devia ser uma nave espacial. Sei que era alto e ninguém nunca me deixava ir. Mas um dia, com a graça divina, alguém me deixou ir. E então a minha vida mudou pra sempre. E então eu passei a amar a altura. E nem sonhava que muitos anos depois eu ia querer um apartamento no vigésimo segundo andar. Mas foi ali que meu gosto e minha mania por grandeza se formou.
A minha primeira vez no Playcenter foi um dos melhores aniversários da minha vida, senão o melhor. E graças às fotos que eu tenho, posso lembrar e ter flashes de memória de como foi o dia. Lembro do meu frio na barriga infinito de andar no teleférico, que era realmente muito, muito alto. E ia devagar. E tinha uma trava xexelenta. E eu pensava o tempo todo que ainda bem que eu era uma criança quieta, porque um capeta com certeza cairia dali. Eu lá olhando o horizonte e pensando "meu Deus, mas é impossível que ninguém nunca tenha caído daqui" e "melhor eu me segurar, porque se depender do meu pai que é meio lerdo eu tou perdida". Naquela época meu pai já tinha me afogado na praia bem umas trezentas vezes. Imagina.
Lembro de ter ficado com medo de ir no tobogã, e na verdade eu não sei se fui. Acho que sim. Ou talvez não. Não tem foto do tobogã pra comprovar. Lembro de ter ido no trem fantasma (que eu achei a decoração do lado de fora enorme e linda, e por isso insisti pra ir) com a minha mãe, e não saber direito se as caveiras que levantavam do chão ou roçavam no meu cabelo eram de verdade ou não. Eu só lembro que tive muito-muito-muito medo. E a minha mãe me dizia pra fechar os olhos. E eu não entendia como assim eu ia no negócio e ia fechar os olhos. Qual a graça de ir com os olhos fechados? Eu tava mesmo morrendo de medo. E lembro da minha mãe dizendo constantemente "é de mentirinha, é de mentirinha. AAAAAAHHHH. É de mentirinha." Ela tinha 27 anos. 
E o Super Jet. Ah, o Super Jet. Aquele brinquedo que tinha a maior fila. Devia ser a primeira montanha russa do Brasil. E eu queria ir. Mas depois do medo que passei no trem fantasma, meus pais conseguiram me segurar pra não querer ir lá. Em compensação eu fui no Chapéu Mexicano. Era literalmente meio que um chapéu, com carrinhos em volta. Ou aviõezinhos, sei lá. Ou chapeuzinhos. Sei que era um negócio grande e que rodava. Pra cima e pra baixo, pra cima e pra baixo. E rodava. E era rápido. E hoje eu penso que, se no meu lugar, estivesse o irmão que naquela época eu nem sonhava que ia ter, ele tinha vomitado geral na nação bem naquele estilo O Pestinha. Mas eu não. Eu nunca fui de passar mal em brinquedo de parque de diversão. Eu achei foi bem supimpa. E gargalhei todo o percurso, porque sentia frio na barriga. Uma das melhores sensações da minha vida naquela época. Minha mãe lá, do meu lado, com medo. E eu gargalhando. 
Eu fui no elefantinho. Era meio que um brinquedo que subia e descia também, porém bem mais retardado. Pra criança mesmo. Ia devagar. Monótono. Ai que sono. Mas eu lembro que quando eu fui entrar no brinquedo, que tinha vários Dumbos que a gente sentava de duplinha, na hora que eu fui subir tinha um imbecil de um menino no caminho. Que não me dava passagem pra subir. Meninos, sempre retardados. Ele não queria sentar do outro lado porque, sei lá, onde ele estava devia ter um volante. E a criatura empacou ali bem no meu caminho e não saiu. E eu lembro da minha mãe dizendo então pra eu pular e sentar do lado dele. Eu fui. E fiz questão de sentar nele antes, pisar no pé dele, enfiar o cotovelo na cara dele. E da minha mãe reclamando que eu estava de saia, que isso não eram modos, que eu passei a bunda na cara dele, que isso não pode, que ele é menino, que eu tinha que tomar cuidado. Ah, pro meio da beirada. Criatura lerda, pelo menos eu me vinguei. Até parece que eu tava preocupada em mostrar a calcinha. Eu tava era querendo mostrar pra criatura o quanto ele estava empacando o meu caminho. Ah, como eu já era eu aos 8 anos de vida.
Achei o elefantinho a coisa mais monótona do mundo todo. Mas da Montanha Encantada eu gostei. Porque tinha a emoção de ser na água. E eu estava mais preocupada se o barquinho ia afundar com a gente em cima, do que com os bonequinhos mexendo em si. Mas só de lembrar desse dia eu até consigo ouvir a musiquinha: "Na montanha. Encantada. Você. Vai ser. Feliz!"
Na fila da Montanha Encantada eu lembro de ter passado bem umas duas horas. E da minha mãe, arrumando o meu cabelo, todo em um rabo de cavalo. Porque eu estava suada. E lembro do fato porque ela tirou uma foto minha nesse momento, com a cara brilhando, o pouco cabelo repuxado pra trás. Minhas olheiras características, minha testa avantajada. Mas com um dos sorrisos mais felizes da minha vida.
Parece que eu fui na Maria Fumaça. Mas não lembro direito. Não lembro se não deu a hora de ir. Não lembro se a gente perdeu o último horário. Não lembro. Só lembro que ela passava por um lugar arborizado. E que o Playcenter era muito, muito grande. E que eu achava cansativo ir de um lado a outro, não que reclamasse de cansaço, mas que eu estava sempre olhando em volta e sempre era diferente. Demorava horas pra irmos de um lado a outro do parque. Também não sei se eu fui no Carrossel não. Esses brinquedos monótonos não ficaram na memória.
Lembro que a gente foi num show. Que eu não sabia que era um show, pra mim era um evento normal. Que tinha uma piscina enorme no meio, e arquibancadas em toda a volta. E a gente chegou e meus pais disseram "nossa, que supimpa, tem lugar na frente!" e a gente sentou. Eu olhava em volta e via as pessoas sentadas bem lá mais pra trás. E eu achei estranho. Sei lá, vai que aquele lugar que meus pais resolveram sentar era mais caro. Eu fiquei sentada ali, mas com o pé meio atrás. O show começou e eram baleias, golfinhos e eu senti toda a emoção da vida de ver orcas dançando e fazendo malabarismos. Coisa mais linda. Mãe, quero uma orca pra levar pra casa. Mas minha filha, ela é a baleia assassina! É nada mãe, olha que bonitinha. Olha que barriga branquinha, ela até vira com a barriga pra cima para o moço fazer carinho! E no primeiro pulo que a orca deu na água, descobrimos porque é que tinha lugar na frente na arquibancada. E porque é que todo mundo estava lá atrás. Nós saímos ensopados. E eu achei foi bem legal, já que na Montanha Encantada eu tinha visto que todo mundo que ia saía ensopado e eu não saí. Mas a minha mãe não gostou nada, e começou naquela neura de tem que secar ó meu deus vai ficar resfriada e com dor de garganta. Enfim, neurose infinita da minha mãe naquela época.
Lembro da noite chegando. Lembro de entrarmos em um lugar com lona e cheio de gente. Lembro de meu pai me colocar nos ombros, pra eu ver melhor. Lembro da mulher que fez alguma coisa no palco. Lembro de ter visto a galera. Lembro de terem prendido ela na jaula. Lembro de ter acabado a luz. E lembro de ter saído a Monga. E foi um dos maiores desesperos da minha vida. Lembro que eu fiquei MESMO com um medo infinito. Lembro de ter gritado e chorado e desesperado e esperneado. Eu tava mesmo com muito medo. E meu pai me pegava e falava que era de mentira, que a mulher tinha vestido roupa de macaco, que era só um show e que era pra eu parar de frescura. Mas não teve jeito. O meu susto foi tão grande que tiveram que me tirar dali. Onde já se viu. Apaga a luz e de repente tinha um macaco rugindo e todo mundo gritava desesperadamente. Desculpa, isso não era pra mim. Me bota na montanha russa, please.

Ah, que dia inesquecível. 

Eu voltaria para o Playcenter em só em 1995, depois de milhares de excursões da escola que a minha mãe não me deixaria ir. Eu até já sabia da resposta quando ia perguntar, mas me surpreendi quando foi a do primeiro colegial. "Esse ano eu vou deixar, você já tem 15 anos, se comporte, olhe lá, estou te dando um voto de confiança, não apronte, não tome gelado, leve a blusa, vê se não vai se machucar pra me dar trabalho depois, se você tomar sorvete e voltar com dor de garganta eu te arrebento". Eu nem dormi na noite anterior, de ansiedade. Quinze anos. E naquela época eu era só uma adolescente, recém aposentado minhas bonecas, achando esse negócio de TER QUE gostar de um menino uma merda. E pensar que hoje as meninas de 15 anos já são experts em sexo. Naquela época ainda demoraria muito pra existir máquinas de foto digitais, então não tenho foto pra lembrar dos pequenos momentos. Porque as máquinas de foto eram caras, porque os pais não davam esses negócios nas nossas mãos. Mas lembro de ter ido no ônibus, na maior bagunça, de ter ficado o tempo todo de joelhos no banco conversando com as amigas atrás no maior clima "olha como eu sou radical e descolada, ando no banco do ônibus de joelhos e virada pra trás". Não, naquele tempo o cinto de segurança não era obrigatório. Lembro de, agora sim, ter ido no Super Jet. E no Tornado, que cabia seis pessoas e era bem mais rápido. E no Barco Viking, no meio, segurando muito e morrendo de medo do negócio dar um looping. E no La Bamba, que era um brinquedo novo e uma das maiores sensações do parque na época. Lembro que o pessoal não se segurava direito e depois ficava pulando no meio do círculo. E no Tobogã, que agora sim eu lembro de ter ido. Nossa, como era alto. Nossa, que frio na barriga. Lembro de ficar na fila de sei lá qual brinquedo, mas naquela época tocava dance music nas filas. Uma música em cada fila diferente. Era o auge do La Bouche, e eu amava. Porque o menino que eu gostava era promotor (ainda não existia essa coisa de "promoter") do Resumo da Ópera. Eu amei. Eu tomei sorvete. Eu fui na Montanha Encantada e saí ensopada porque tudo o que a gente fazia era jogar água uns nos outros. E eu passei o resto do tempo no parque e no sol rezando pra minha roupa secar antes que eu chegasse em casa. E, quando secou, nós fomos no Splash. E eu saí mais ensopada ainda. E, quando cheguei em casa, roupa molhada, minha mãe comentou e eu falei "não mãe, tou seca, são seus olhos". No ano seguinte teve de novo a excursão para o Playcenter, mas dessa vez minha mãe não me deixou ir. "Você já foi ano passado, pode botar esse rabinho entre as pernas e estudar, ano que vem você tem vestibular!". Mas não teve problema não. Porque todo mundo foi, mas eu não. E eu não estudei. Fiz coisa melhor. 

Playcenter de novo pra mim foi de novo com os pais. Porque eu pedi um aniversário de 18 anos no Playcenter. Não, eu não queria na balada (e não reclamem, porque meu aniversário de 20 anos foi no Parque da Mônica). Mas, no aniversário de 18 anos, eu quis um plus: os dois tios, com idades próximas à minha. 
Eu nem lembro muito dos brinquedos que fomos dessa vez, mas lembro que foi a minha primeira vez no Evolution. Que eu fiz tanta força, mas tanta força pra me segurar SENTADA na cadeira, que passei depois 1 mês com dor nos braços. E lembro que foi um dos dias mais aterrorizantes, porém mais engraçados da minha vida. Foi o dia que eu fui no Castelo dos Horrores.
Meus pais, meu irmão com 7 anos. O tio com 15, a tia e eu com 18. A construção do Castelo dos Horrores era linda, eu sempre achei. E eu não me lembro muito bem como foi que decidimos entrar lá. Só lembro da ordem da fila. Meu pai ia na frente. Pai de família. Corajoso. Homem. Meu irmão, logo atrás, porque ia entre ele e minha mãe, já que perder uma criança de 7 anos no escuro não devia ser bacana. O tio, atrás da minha mãe. Eu em seguida, porque quis ficar no meio da fila. Eu não queria de forma nenhuma ser a última. A tia atrás de mim. Pra eu ficar bem protegida por trás. E um casal desconhecido atrás da gente, pra garantir que nenhum de nós fosse o último da fila. A entrada do Castelo era aquela coisa emocionante. O homem do cajado. Que gritava, mandava todo mundo encostar na parede e parar de respirar. Eu, como o via, tive um leve frio na barriga, mas não cheguei a ficar com medo. A tia não foi tão feliz. Amarelou. Logo de cara. Disse que não queria mais ir. O cara do cajado: "fique aqui então, vou te botar no caixãozinho lá atrás". E ela ficou. E meu pai preocupado. E minha mãe: deixa, essa já morreu, vamos cuidar dos vivos. E logo em seguida eu ia descobrir que esse era realmente o espírito dentro do Castelo. O espírito de sobrevivência. Do salve-se quem puder. 
Eu tinha perdido uma das pessoas que me seguravam pela traseira, mas ainda tinha um casal desconhecido atrás de mim. Meu pai, na frente, andando bem devagar. "Ooolha, que bonitinho". "Ooolha isso aqui, que legal". "Ooolha que vampiro, que simpático." "Olha a moça, tá dormindo!". Meu pai, como ia na frente, maior breu, ia devagar pra não cair. Ia devagar porque estava achando tudo lindo, porque ele era o primeiro e, quando passava, os monstros estavam todos imóveis. E tinha uma criança. Conclusão: os monstros só levantavam e começavam a correr atrás da gente quando estava mais ou menos na metade da fila. Só levantavam e começavam a correr atrás da gente quando EU passava. Foi lindo. Meu pai lá no "ooolha o degrauzinho" e eu correndo feito desesperada lá atrás. Porque eu, que tava crente que não era a última, uma hora olhei pra trás e o casal já tava lá na frente. Na frente do meu pai ainda. Porque eles queriam correr. E eu, olhando pra trás, vi todos os monstros atrás de mim de uma vez. E meu pai lá na frente "caaalma, vai acordar a moça". Mano. Eu nunca vou esquecer daquela sensação. Eu ia morrer. Eu tinha atrás de mim todo um cemitério, era vampiro, era menina do exorcista, era lobisomem, era tanto monstro que eu perdi a conta. E eu não tinha pra onde correr. 
Se eu tivesse que desmaiar nessa vida, tinha sido ali. 
Sei que uma hora eu tava olhando pra frente, rezando pra acabar logo o fim da tormenta, de repente todo mundo andando em frente e meu tio resolveu virar à esquerda. Eu vi. Não falei nada. Segui em frente e pensei "mais um que se vai". Depois ele nos contou que acabou batendo numa velha que saiu com a vassoura atrás dele, mas mais um pouco lá pra frente ele conseguiu nos encontrar. Bem no Jason e sua serra elétrica. E o tio dessa vez perdeu o tênis. E eu lembro que todo mundo saiu do castelo, ficamos só eu e o tio lá trocando ideia com o Jason e sua serra elétrica. Ele com a serra na gente ZZZZZZZZZZZ e a gente "mas moço, perdemos um tênis!!!".
Passado tanto medo e tanto susto, até hoje, quando a gente comenta daquele dia, é só risada. Foi mesmo um aniversário inesquecível.
Eu voltaria ao Playcenter e, mais especificamente, ao Castelo dos Horrores em 2002. Desta vez, com o namorado da época e o primo dele, dentro do Castelo foi emocionante tanto quanto e eu trocaria ideia novamente com o Jason e sua serra elétrica. Porque ali eu caí. E o namorado, tão me amava, tão era apaixonado por mim... que saiu correndo castelo afora e nem quis saber se eu tinha morrido pelo caminho. O primo, atrás de mim (porque apesar dos 22 anos eu continuei querendo ir protegida na frente e atrás - e o fui falando na orelha do namorado, primeiro da fila, pra andar logo porque atrás vinha gente), tentava me levantar, sem sucesso, porque ele me puxava por trás e não me deixava apoio pra tentar levantar. Ele nem me levantava, nem me deixava levantar sozinha. E ainda tirava a minha roupa, porque na tentativa de me levantar foi subindo a minha blusa. Conclusão: eu, caída, pelada. E o Jason com a serra elétrica na minha orelha, que eu até senti o ventinho. Esse Jason deve mesmo ter tido muitas histórias pra contar em todos esses anos de Playcenter. Este ano eu quis ir porque apesar de ter quase morrido de medo algumas vezes na Hora do Horror do Hopi Hari, eu nunca tinha ido nas Noites do Terror do Playcenter. E achei infinitamente menos elaborado. Sem tema específico. Meio bagunçado. E com as maquiagens dos monstros mal feitas. 

Depois dessa vez eu devo ter ido mais umas duas vezes no Playcenter, acho que ambas com as colegas de trabalho. Uma delas, de ônibus e metrô. E dessa vez nós fomos, porque as Noites do Terror tiveram um tema diferente, que eu nem lembro qual. Mas lembro de ter ido naquele brinquedo maior, que também molha as pessoas. E naquele outro, da torre. Mas, nessa época, eu já tinha ido muitas e muitas vezes no Hopi Hari. Tantas, a ponto de enjoar. Eu tive carteirinha anual do parque bem por uns 3 anos seguidos. E matei toda a minha vontade de parques de diversão brasileiros. 

Das últimas vezes que eu fui no Playcenter foi triste. Foi decepcionante. Porque eu olhava tudo de cima e sentia a diferença de quando eu era pequena. De quanto o parque diminuiu. De quanto foi depredado. De quanto o nível do público caiu. De quanto era perigoso se machucar por falta de manutenção. 

Playcenter, foi grandioso assistir e acompanhar seu crescimento e auge. Mas foi igualmente triste e decepcionante a sua decadência e fim. 

Sentirei saudades. 



quinta-feira, 5 de julho de 2012

A latinha azul de Pandora

Não tenho tempo pra mais nada, e é por isso que eu não venho mais aqui. Não que isso seja uma reclamação, porque não é. Eu sempre quis não ter tempo pra mais nada. Eu sempre quis me envolver em algo que eu gostasse, que ocupasse meus dias e que tivesse a finalidade de me fazer crescer como profissional e ser humano. Sempre quis ser uma pessoa ocupada na maior parte do tempo, para que meus momentos com os amigos fossem aproveitados ao máximo por serem únicos. Sempre quis ter muita coisa pra contar. Sempre quis conhecer lugares. Não só esse negócio de viajar e tal, mas também esses lugares que a gente pode conhecer na nossa rua. Aquela portinha aberta ali, que você passa todos os dias na frente, mas que nunca parou pra reparar do que se trata. Eu sempre quis almoçar cada dia em um lugar. Saber que aqui eu posso almoçar na balada, que ali mais à frente tem o japonês dos doces e, mais adiante, um dos melhores brigadeiros que eu já comi na vida. Sempre quis conhecer gente nova. Não só isso, mas gente nova que sabe conversar. Gente inteligente, gente crítica, gente que ensina e com as quais se aprende. Gente diferente. Gente que me faz rir junto, gente que me faz chorar junto, gente que chega 7 horas da manhã com pão e mortadela e atiça as minhas lombrigas a ponto de eu ter que ir lá e comprar um pão com mortadela pra mim. Sempre quis trabalhar bastante. Sempre quis aprender coisas novas e receber presente de maior produtividade logo no primeiro mês. E no segundo. E no terceiro. E no quarto. Sempre quis ganhar presente e parabéns pelo trabalho a ponto de não ser mais novidade. A ponto de ler o e-mail e pensar "ah tá, já sei". Sempre quis ser melhor que a melhor pessoa do setor. Sempre quis ver a vida acontecer. E participar dela. Sempre quis minha casa, minha vida, minhas pessoas. Sentir que eu tenho um porquê de existir. Me sentir útil. Me sentir viva. Me sentir melhor. Sempre quis não ver o tempo passar. Sempre quis pular de um final de semana para o outro, porque durante a semana foi tão corrido, mas saber que se foi corrido é porque foi bom. Porque tempo ruim demora a passar. O tempo aqui passa rápido. Do trânsito, do metrô, do caminhar por duas quadras, do passar pela catraca, da minha mesa, do chocolate da máquina, do banheiro, do coleguismo, das histórias, das risadas, do trabalho divertido, das outras risadas, do almoço, do resto das risadas, do elevador, da catraca, do caminhar por duas quadras, do metrô, do trânsito. E da hora que eu abro a porta. A porta anda rangendo, eu preciso colocar óleo. Mas a hora que eu abro e que ela faz nhééééé sai a cabecinha da criatura mais fofucha do mundo todo. Pretinha. Gordinha. Filhinha. Pandorinha sai no hall todos os dias, a fim de fazer festinha na hora que eu chego. Quem foi que disse que gatos não fazem festinha? Meu bebê faz. No caminhar elegante e rebolativo, mostra em meio ao rabo curvilíneo e dobradinho na ponta, a saudade que sentiu enquanto eu estive fora. Ronrona assim que eu abro a porta, como se por trás dela  estivesse parada esperando durante todo o dia. Se joga, desajeitada, pelo chão, com a barriga pra cima, como se dissesse "mamãe, que saudades que eu tive". Pandora, meu bebê. Que faz, entre julho/agosto, um ano de vida. Não sei ao certo quando, mas sei que da próxima vez que eu for comprar ração pra ela vai ter que ser a que está escrito "adulto" no pacote. Minha cheirosa. Vai fazer um ano e eu não me lembro de ter reparado se algum dia ela ficou diferente por ter entrado no cio. Talvez não tenha entrado ainda. Ou talvez tenha, mas por ser tão linda, não teve todas aquelas reações que todo mundo recrimina quando gatas entram no cio. Um ano, Pandora. E parece que foi ontem. Que eu levei aquele gatinho cinza pra casa, com medo de morrer de rinite, e passei uma semana sem conseguir dormir porque ela pulava na minha cabeça. Hoje, mesmo gata de responsa, totalmente preta e com cara de séria, ela ainda pula na minha cabeça durante a noite se eu deixar. E enfia os bigodes dentro do meu nariz. E morde meus dedinhos do pé que por acaso saiam do edredon durante a noite. E então eu sento no sofá e a assisto subir no meu colo. Olhar bem dentro do meu olho. Ronronado que a minha intuição me diz que significa algo do tipo "sou feliz". E então ela deita, com as patinhas pra frente, pra ganhar carinho. Põe a cabeça no meu peito como se, realmente, fosse um bebê. E, apesar da ração de adulto, ela é. Um gatinho bebê. E é bem aí, nesse momento, que o meu dia pode ter sido corrido, que eu posso ter pego trânsito, que eu desejei que o motorista do caminhão morresse, que o infeliz no metrô tenha empacado na catraca na minha frente, que tenha chovido e que eu tenha molhado o pé no esgoto, que eu esteja cansada e com calor e precisando dormir cedo pra acordar 4 horas da manhã no dia seguinte. É nesse momento em que eu estou com Pandora no meu colo, ronronando e fechando os olhinhos de satisfação pelo carinho da mamãe que eu penso: Pandora, o gatinho que Deus colocou na minha porta. A caixa dela é azul. 



Ah, o título era "latinha azul", né? Não, mas de vira-lata o meu bebê não tem nada. 

E pô, não tinha foto na lata azul. Serve na sacola amarela?



sábado, 5 de maio de 2012

Do meu dia. 04/05/2012


4:45h. Do prazer de acordar sem energia. E agora pra achar a roupa pra vestir?



5:10h. Da arte de fazer luz. 



5:20h. Do café. 



6:30h. Do trabalho. 



6:45h. Do biscoito. Meu pote é bonito, obrigada.



6:48h. Do chocolate quente. 



7:25h. Do casual day. 



7:58h. Do dia lá fora. 



8:35h. Da minha mesa. Eu gosto de vermelho.



9:28h. Do sol. 



9:35h. Do banheiro. De mulher.



9:38h. Do espelho. E da mamata.



10:15h. Do melão. No pote com formato de maçã. O melão teve crise de identidade. Estava insosso.



10:28h. Da máquina de café poliglota. Escreve ENJOY e GRACIAS ao mesmo tempo. Eu respondo sayonará.



11:00h. Do pípou. Na sexta-feira.



11:45h. Da Alameda Santos. Na hora do almoço.



11:54h. Do melhor restaurante. 



11:56h. Da escadinha com azulejos portugueses.



12:14h. Da comidinha feliz. 



13:10h. Da gaveta de guloseimas. Eu curto paçoca.



13:42h. Eu trabalho muito.



14:25h. Falta um ano para as minhas férias.



15:28. Do sistema fora do ar.



16:08h. Do ir embora.



16:11h. Do ponto de ônibus na Av. Paulista.



16:25h. Da cadeira alta do ônibus.



17:30h. Da casa de mamãe. Na poltrona do papai.



18:45h. Da janta. De quatro queijos.



19:38h. Do chegar na casinha.



19:50h. Da filhinha.



21:05h. Do pijama



21:26h. Do futuro cachecol.



22:05h. Do domingo fail.



22:22h. Da cama.



22:30h. Do antes de dormir.