terça-feira, 2 de junho de 2009

Natal - sexto dia

Sexto dia 07/05 - quinta:

De acordo com os passeios que havíamos contratado com Janaína (e nossos planos iniciais), já teríamos terminado de conhecer Natal e a partir desse dia só aproveitaríamos o ótimo hotel. Não foi o que aconteceu, porque eu já tinha pesquisado tudo na internet antes de irmos, e li que Galinhos, uma cidade do Rio Grande do Norte próxima de Natal, era lindo. E Janaína só confirmou minha suspeita, dizendo que era o lugar mais lindo do Estado dela, e que Galinhos apareceria no Fantástico no mês que vem, em uma nova série chamada Paraísos Esquecidos. Nos contou que Alexandre Garcia pousou de helicóptero no meio da ilha e fez leve alvoroço na população humilde do lugar.

Acréscimo no pagamento e no pacote de passeios, esse era o dia de Galinhos e eu estava ansiosa. O dia amanheceu lindo e eu saí animadíssima do hotel, depois de ter feito amizade com o garçom do restaurante e ter conseguido duas tapiocas quentinhas e feitas na hora antes do horário em que a moça da chapa chegaria. Feliz da vida (e com meu biquíni mais bonito), entrei no ônibus a caminho de Galinhos. Pouco mais de uma hora de viagem de ônibus, chegamos em Galos e pegamos um barco no rio Pratagy, onde mais pra frente pudemos ver a Salina Diamante Branco. O sal é retirado do fundo do rio e processado em pedaços menores. Grande parte dele é exportado para os Estados Unidos e colocado por cima da neve nas ruas, para derretê-las. E o que sobra é exportado para países menores ou utilizado dentro do Brasil mesmo como sal grosso, refinado em outros lugares. No barco tinha um balde cheio do sal, que eu não resisti e dei uma lambida (imagina se a pessoa que come sabonete de macadâmia não ía dar uma lambida no sal) porque pareciam pedras ou gelo, tudo menos sal. E confesso: era mesmo bem salgado. Tratei foi de pegar uma garrafa plástica e encher de sal grosso pra trazer pra casa. Assim, purinho, tirado direto do fundo do rio, deve funcionar bem mais do que o que a gente compra no mercado. Contra inveja deve ser tiro e queda!

Depois de várias fotos das salinas (montanhas imensas de sal, muito sal, bem branquinho), chegamos na Praia do Capim, que de praia não tem nada. Um braço do rio que encontra com as dunas. À primeira vista um grande manguezal. Mas o melhor estava por vir: devido à alta salinidade da água, torna-se mais densa que o nosso corpo. Conclusão: o braço do rio tinha por volta de 4 metros de profundidade, e vc podia ir ficar lá no meio que não afundava. Paraíso dos “não-sei-nadar”, você consegue ficar completamente parado no meio da água sem dar pé e sem noção nenhuma de profundidade. Você não afunda. Superlegal. Ainda mais depois de termos percorrido três dunas (sobe duna, desce duna, sobe duna, desce duna, sobe duna, desce duna) até a praia de Galos, lindíssima, mas imprópria: muitos arrecifes na beirada. Só olhamos de cima da duna, tiramos fotos e voltamos. O que? Foi fácil? Imagina você lá, calorzão, na duna, digamos que você tenha optado por ter deixado a bolsa no barco (afinal subir e descer três dunas não é nada fácil) e ter ido somente de chinelos (porque duna queima o pé, tá?) e máquina fotográfica. Aí no fim da primeira duna você repara que o calor é quase que insuportável (em maio, imagina no verão!) e que você, pessoa branca, já cheia de sardas por ter tomado sol demais, última “passação” de protetor solar vencida, vento dos infernos, cabelo voando, vc tentando amarrar, e suor que escorre, e vc não consegue abrir o olho direito porque além de ter deixado o óculos na bolsa, o sol bate na duna e reflete em dobro no rosto das pessoas. Tá fácil pra você agora?

Daí que eu, com toda essa situação, fui lá sobe duna – desce duna – sobe duna – desce duna – sobe duna – desce duna – oi, mar! Lindão hein? Então tá, tchau. – sobe duna – desce duna – sobe duna – desce duna – sobe duna – desce duna. Eu quando me vi na praia do capim, na água morninha, no lugar que eu bóio e não preciso me cansar nadando....... me enfiei na água escura de biquíni branco e tudo, sem nem pensar no amanhã. Coisa boa. Estiquei lá e achei o cúmulo quando quiseram entrar no barco e ir pra outro lugar. De volta a Galos, almoçamos no restaurante da Dona Irene, o que foi um dos meus melhores almoços da viagem, só por um motivo: tinha arroz e feijão. É, porque eu não vi feijão em lugar nenhum desse nordeste, só lá. E a minha tia que foi pra Fortaleza falou o mesmo. Oi? Feijão tá em falta? Eu sinceramente não como feijão fora de casa, mas em dívida com meu estômago, feijão com arroz e salada era tudo o que eu queria. Comi muito bem e achando que o dia estava realmente sendo ótimo.

De pança cheia, todos no barco novamente rumo a Galinhos. Dessa vez eu sentei lá na proa e vi tudo como se deve ver. Assim que chegamos à ilha, várias carroças esperando por nós. Galinhos não possui nenhum carro. E ninguém consegue chegar lá usando um, porque é uma ilha. Então o meio de transporte deles é carroça, todas puxadas por mulas.

Eu nem tinha descido do barco ainda, olhei as mulas e tive dó. Eu, amiga, Carol e Álvaro, todos levemente gordinhos. Mula, coitada de você. Eu não sabía bem se ria ou chorava da situação, mas na falta de opção sentei lá na mula e rezei pra Deus fazer com que a próxima encarnação dela fosse mais feliz. Nossa mulinha chamava-se Jasmine (tinha também o Popeye, Ayrton Senna, Schumacher – que apostavam corrida - e vários outros nomes divertidos), e o passeio pelas praias de Galinhos foi ótimo. Até chegarmos ao paraíso. Sério, paraíso, não tem outra palavra fora essa que expresse. PA-RA-Í-SO. O paraíso se chama Praia do Farol, em Galinhos. Sabe? Tou sem palavras. Você me entende? Então, é isso aí. Eu pensei seriamente em comprar uma daquelas casinhas de palha ali da beirada e viver de olhar praquele lugar. Pensei umas dez vezes. Deus do céu, que vontade de ser nordestina de Galinhos! Bom, o fato é que o lugar é divino. Valeu cada centavo gasto. E valeu tudo o que viria depois.

Anestesiada depois das poucas horas no paraíso, saí quase chorando do lugar. Sabe criança que faz manha no mercado que quer porque quer alguma coisa? Então. Sentamos nós levemente emburrados por ser a volta na carroça e viemos. Estávamos os quatro mais o condutor da carroça pensando cada um na sua vida, Jasmine sofrendo horrores na vida dela que Deus lhe deu... até passar uma carroça do lado e o menino dizer “ô, fulano, seu pneu furou!”. Bem que eu vi que Jasmine estava mesmo morrendo mais que o normal minutos antes. O menino, preocupado, saiu da carroça e foi a pé incentivando Jasmine a continuar. Pediu pra amiga mudar de lugar no banco para que o peso pendesse mais para o pneu cheio. Eu, Álvaro e Carol no banco de trás sem saber se a gente ria ou chorava. Optamos por rir. Cinco minutos nessa situação, Jasmine quase parando de cansada, o menino da carroça desesperado começou a empurrar, Jasmine puxando, o menino empurrando, a gente em cima rindo, até que vimos que o outro pneu também estava murchando e eu e Carol fomos ouvidas: vamos descer! O sofrimento era demais, Carol empurrou o recém-marido pra fora da carroça e o dono de Jasmine deu graças à Deus por ainda termos cérebro. Mas só Álvaro fora da carroça ainda não surtia o efeito suficiente, resolvemos Carol e eu descer também.

Pausa. Abre parênteses. Oi? Sou pata. Sabe, pata? Eu vou, faço, pulo, subo, desço, me aventuro. Mas sou pata. Pata que escorrega nas pedras da praia e fica todo mundo desesperado porque eu vou cair lá embaixo e morrer. Pata que subo na árvore e justo no meu galho tem uma cobra e fica todo mundo desesperado que ela vai me morder e eu vou morrer. Pata que fica por último, sã e salva, no jogo de queimada da escola, única e vitalícia ganhadora, que pra vingar o céu a criatura vai lá e me queima. Bolada na cara. Eu no chão. Morri. Pata que faz defesa excelente no time de futebol da escola, não passa ninguém. Nem o único menino que tapava buraco no time. Me deu uma cabeçada na sobrancelha que inchou tudo e cheguei em casa com o olho roxo e inchado e minha mãe achando que eu me meti em briga na escola. Eu? Santa? Briga? Nada, foi só a minha defesa espetacular! Até hoje o meu osso - esse que fica embaixo da sobrancelha - é diferente, de um lado e do outro. Pata que brinca de balança-caixão na rede na casa da avó e cai de cara no chão. Pata-mirim que resolve se aventurar na escada com carpete verde na casa da tia e termina no chão e com os únicos dois dentes de leite quebrados. Pata que se enrola na corda de pular. Pata que joga Super Bonder no olho. Pata que enfia o dedo na comida do cachorro e depois não sabe por que leva mordida e sai com o braço pingando sangue. Fecha parênteses.

Esse é o perfil da pessoa que ficou com pena da mulinha e foi descer da carroça. Se o Álvaro pode descer com a carroça andando, eu também posso. Levando em consideração que era fácil e que a carroça estava a 5km/h, fui.

Oi.



Eu só posso dizer que escorreguei. Sei lá, muita perna. Sei que eu coloquei uma perna pra fora, não foi no lugar certo, e antes que eu pusesse pôr a outra, o pneu cheio me levou, escorreguei, caí estatalada feito abacate podre na areia do paraíso e a roda da carroça passou em cima da minha perna. E então naqueles milésimos de segundo que se passaram, enquanto eu sentia a carroça passando em mim, eu pensava. Pensava que pelo menos tava morrendo no paraíso. Pensava que tinha tido uma premonição, quando na ída perguntei ao menino da carroça se eles tinham hospital. Pensava que meu objetivo era descer da carroça e que eu tinha alcançado com sucesso. Pensava que ainda bem que fiz amizade com o casal em lua-de-mel e que os dois eram médicos e que agora o problema era deles. Estava eu, estatalada na areia quente, bolsa pra cima, canga pra um lado, óculos para o outro, máquina fotográfica para outro, de olhos fechados, pensando assim na vida quando apurei os ouvidos e me dei conta do ambiente. Álvaro, desesperado, em volta de mim e gritando meu nome junto com o coitado do condutor da carroça que deveria estar pensando que eu talvez acabasse com seu casamento no próximo sábado (é, ele ía casar) se caso morresse ali e ele tivesse que dar explicações. Carol não sabía se ficava na carroça ou descia pra acudir a defunta na areia. E a amiga. Amigos são realmente o que a gente tem de divertido nessa vida. Porque ela gritava desesperadamente. Não por mim, mas porque quando descemos da carroça, Jasmine se vendo livre de tanto sofrimento continuou sozinha e desesperada o caminho, antes que pudéssemos subir novamente. É, sem condutor. Deu pinote e saiu correndo. Com a amiga dentro. A pessoa gritava de tal maneira de desespero que eu tive que ressuscitar pra rir. E gargalhava. Amiga gritava e Carol gritava atrás "Segura o arreio!!!" "Que arreio????" Agora, aqui, tanto tempo depois, só de lembrar eu começo a rir. Porque naquele momento era tudo o que eu conseguia fazer. Foi realmente muito engraçado. Abri os olhos e vi o povo. Álvaro perguntando se estava tudo bem, o menino da carroça vendo que eu tava viva e dando no pé pra pegar Jasmine lá na frente, Carol gritando pra amiga pegar o arreio e vindo ver se estava tudo certo comigo, e a amiga gritando desesperadamente como se não houvesse amanhã dentro da carroça.

Sei que o menino foi embora com Jasmine, carroça e amiga, até perder de vista, e ficamos lá. Eu e o casal. Não, não quebrei nada. Levantei e saí andando. E rindo. E fomos andando, os três perdidos, no meio do nada do paraíso, sol, céu e mar, tudo muito lindo, e nós sem sabermos pra onde ir, gargalhando feito bêbados pelas ruas, Carol só de biquíni e Álvaro só de toalha, porque a bolsa com as roupas deles tinha ficado na carroça. Três doidos pelas ruas desconhecidas de Galinhos dando boa tarde para as criancinhas e rindo feito doidos da situação. Todo casal tem algum perrengue na lua-de-mel. Minha mãe passou a dela vomitando, meu pai no banheiro. A mãe de Carol fez xixi na cama. E, pensando por esse lado, veja só que honra: faço parte da lua-de-mel com emoção de Álvaro e Carol. Estarei na história deles pra sempre, que vão contar para filhos, netos, bisnetos. Eu. Pessoa que foi atropelada pela carroça. Lindo.

Por Deus conseguimos chegar no lugar das carroças e ainda tivemos que pagar o passeio. Cinco reais pra cada um. Por um lado achamos injustiça por todo o ocorrido, por outro ficamos com dó do menino que teve prejuízo com o pneu por nossa culpa. Pagamos e voltamos ao barco para ir para o hotel.

Sei que a aventura me causou roxos e arranhões nas duas pernas, mas nada mais que isso, felizmente. Foi sorte de pata, só pode ser. E assim que nos encontramos de banho tomado e feridas cuidadas, combinamos eu e a amiga de sairmos para jantar com o casal. O restaurante escolhido foi o Camarões, mais famoso de lá. Cardápio com camarão frito, camarão cozido, camarão ensopado, camarão na manteiga, espetinho de camarão, camarão assado, suco de camarão e sorvete de camarão. E eu não como camarão. Pedi salmão com legumes à juliana. E tava realmente muito bom.

De volta ao hotel, a aventura da noite (além da briga da amiga com Janaína para que ela nos encaixasse desesperadamente no passeio do dia seguinte porque não queríamos ficar o último dia em Natal sem nada pra fazer) foi o fantasma que eu vi da janela do quarto no mar. Sério, eu vi. Um parado e um se mexendo, em um lugar onde nem um pescador local estaria à noite, porque é cheio de arrecifes e com a água cobrindo as pedras, não dá pra andar. Não dá pra enxergar onde pisar. Pois bem, eu vi vultos lá. E chamei a amiga pra ver. “Não, você ta louca. Não, foi esse tombo. Não, não tem nada lá, é só alguma coisa que você acha que é alguém, mas amanhã você vai ver que é uma madeira em pé ou algo assim. Sai dessa varanda, fecha a porta e pára de atiçar o fantasma!”

E assim eu fui dormir...

>continua....

:: Postado por às 08h33



Ri alto imaginando a cena da carroça passando em cima de você e a Janaína levando sua amiga embora enqto ela gritava desesperadamente. uhioaeuheoia
E muitas das paisagens que vi nos seus slides me lembraram lugares maravilhosos por onde passei em janeiro, qdo estive em Porto Seguro *.*
Beijo
Carolda | Homepage | 06.02.09 - 8:49 pm

Ave Maria Rê! Sua viagem daria um bom episódio de Os Normais, ou qualquer outra série cômica!!!! Tô morrendo de rir de toda a situação e, principalmente, da pobre Jasmine na foto! Ela estava com um cara tão tristonha tadinha! Rsrsrsrsrs! E dizem que chegar ao Paraíso é fácil hein!!! RS! Beijos
Lilica | Homepage | 06.03.09 - 2:12 pm

Oi Pata kkkkkkkkk
O guria, eu lendo aqui no escritorio, trancando o riso, sabe como é, a gente acaba rindo mais kkkkk
Juro que essa parte vai ser a que vc mais vai lembrar... pq essas coisas toscas que marcam as viagens! kkkkkk
Beijos
Jana | Homepage | 06.02.09 - 10:09 am

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