Quinto dia 06/05 - quarta:
Os celulares despertaram 5h da manhã. É, porque deveríamos estar prontos às 5h30, horário em que nosso ônibus viria nos pegar. Era dia do mergulho.
Pra quem tinha derretido no calor das dunas no dia anterior, passar a manhã inteira submersa na água me parecia maravilhoso. Foi mesmo, que bom.
Depois da amiga e de Carol atrasarem levemente a nossa saída (porque foram tentar assaltar a mesa do café da manhã antes que desse o horário), seguimos. Todos com os estômagos roncando no caminho, enquanto Janaína nos dizia que o lugar que embarcaríamos nos ofereceria café da manhã com algumas frutas e torradas, já que comida pesada não era indicado para quem fosse mergulhar. A amiga reclamou que torradas não a deixariam satisfeita, e eu pensando que pra mim não faria muita diferença, já que meu estômago não estava 100% mesmo. Janaína nos dava orientações de correr para sentar no melhor lugar, de correr e pegar logo 4 torradas se fosse a vontade, já que acabaria rápido. Enfim, não só nesse passeio, as orientações dela nos deixava parecendo pobres-desesperados-que-vieram-da-etiópia-famintos-e-sedentos-desesperadamente-por-lugares-específicos, mas que se dane o que parecia para os outros, o que importa é que seguindo o que ela dizia nós sempre conseguíamos fazer o que fosse melhor para nós.
Então que a coisa toda - a torrada - era um maravilhoso misto quente! E nós realmente saímos no tapa por eles. Enfim, felizes e bem alimentados, vestimos as cadeiras do restaurante Portal de Maracajaú com roupas nossas para guardar lugar, escolhemos o cardápio para o almoço, já que Janaína nos preveniu que o povo natalense é "cheio de talento, sabe? Tááááá leeeeeeento!" e que enquanto mergulhássemos seria preparado o nosso almoço. Pegamos cada um o seu colete salva-vidas e seu escafandro e nos aventuramos pela beira do mar cheia de pedras e molhando a bunda até chegar no barco.
Eu no ritual protetor-óculos-cabelo-brincos-escafandro-roupa-colete-máquina, devo ter desajustado alguma coisa nela, porque as fotos do passeio ficaram todas embaçadas. Eu devo mesmo é ter enchido a máquina de protetor solar. Enfim, antes isso do que a Carol que em um movimento de cabeça para trás deixou o óculos de 300 reais cair na água e começou a briga séria com Álvaro em plena lua-de-mel e talvez estivessem assim até hoje se Janaína não tivesse entrado lá com roupa e tudo e mobilizado os rapazes do barco na busca eficaz pelo óculos da moça. Enquanto isso a amiga xingava horrores a máquina nova que, sem cartão de memória, a deixou na mão no passeio mesmo com todo o esforço dinheiro gastos de última hora. Sei que eu mesmo nesse ambiente estava lá linda, careca (com o couro cabeludo ardendo do sol) e animada pelo primeiro mergulho da minha vida.
O barco avança 7 km mar adentro a partir da praia de Maracajaú até os parrachos de mergulho. E quando vai chegando a gente já percebe que a água fica cristalina, do barco nos parecia ter meio metro de profundidade só. O dia desse passeio é calculado de acordo com a fase em que a lua está, e o horário é tão cedo porque é quando a maré está mais baixa - sendo visíveis os arrecifes de corais. "Recife é quando é feito pelo homem, e arrecife é quando é da natureza", dizia Janaína. As praias de Natal são quase todas cheias de arrecifes, pedras naturais lapidadas pelo mar que ficam ali, na areia, na beiradinha, e é preciso ter cuidado na hora de entrar na água.
Sei que o barco chegou nos corais e eu já tive vontade de pular na água ali mesmo. Decidi que iria de colete mesmo sabendo nadar, ninguém merece nadar 4 horas sem parar onde não dá pé, e realmente foi a melhor opção. Quem nada faz barulho, se faz barulho espanta os peixes, se espanta os peixes não vê nada. Eu, pessoa delicada, fui quietinha, longe da muvuca, eu e a água, a água e eu. E vi um monte de coisa que quase ninguém viu.
A aula de escafandro foi bem bacana: "você enfia isso aqui na boca (babado assim mesmo - as mocinhas nojentinhas feito eu foram todas lavar o negócio antes de pôr na boca - e cheio de cuspe no visor pra ficar visível - que eu, agora diferente das outras e acostumada com óculos de natação nem me abalei), enche o peito de ar, pula na água e solta com força. Aí respira normal." Aham. Ô. Pra quem faz isso toda hora é normal, mas eu precisava que alguém desenhasse. Por via das dúvidas, não pulei na água, entrei delicadamente e comecei logo do processo de respirar normal. Estranho, porque no começo dá uma falta de ar louca e parece que você está se afogando mesmo sem ingerir água. É que a pressão da água no corpo faz com que você sinta necessidade de respirar mais rápido, só que quanto mais rápido vc respira, mais falta de ar sente. Então o negócio é se acalmar e respirar devagar. Quando acostuma, parece que você simplesmente nasceu de escafandro.
Acostumada com a coisa toda, depois disso foi só maravilha. Logo que comecei olhar ao redor pensei que tinha bebido e tava enxergando demais. Pequenas águas vivas, do tamanho da palma da minha mão, muitas delas, passavam por mim. Eu achei que tava alucinando, mesmo porque não era muito visível (água viva é uma coisinha quase que transparente) mas dependendo da luminosidade e do ângulo, vc consegue ver. Então quando eu vi que a coisa era real, me deu um certo pânico. Mas antes que começasse a ter um chilique, eu pensei. Quase 50 pessoas mergulhavam ali. Ninguém tinha morrido ainda. Ninguém deu nem um gritinho sequer. Eu tava levemente afastada, mas mesmo assim, perto demais dos outros para ter águas-vivas somente ao meu redor. Tá, das duas uma: ou eu tava mesmo louca, ou elas não queimavam. Estiquei a mão e passei em uma. Põe aí na minha lista de sensações indescritíveis na vida: você sente a água levemente mais densa quando passa a mão em uma água viva. E só. Não me queimou, nem morri nem nada. Das duas uma: ou aquelas águas vivas realmente não queimavam, ou não estavam em posição de queimar ninguém. Parece que só interior delas queima, sei lá (babybrother falou que elas só queimam quando querem. Foram com a minha cara então, entendi tudo!). Sei que eu achei lindo e logo estava brincando com as aguinhas vivas. Fofas. Coisa chata mergulhar pra ver peixe. Eu tenho certo receio de peixes, tirando esses pequenos coloridinhos, bicho feio! Ficam te encarando, olho arregalado, boca abrindo e fechando... ah, não. Legal mesmo são águas-vivas!
Tá. Águas vivas à parte, os peixes estavam muito solicitados para as fotos embaixo d'água e para quem não via águas-vivas. Fiquei lá na minha me deslocando calmamente. E o vi. Lembrei daquele prato de palmito, sabe? Um polvo. Vivinho. Camuflado nos corais. Sei que eu olhei pra ele e ele olhou pra mim. Eu vim pra cá, ele foi pra lá. Eu voltei, ele também. E assim ficamos longos minutos. Eu e ele, ele e eu. Cheguei até a imaginar o que o coitado pensava: "quem será essa baleia que saiu dos quintos dos infernos pra atazanar a minha vida?". Enfim, foi divertido. Primeira vez que eu vi um polvo solto, vivo e no mesmo ambiente que eu. E o melhor: ninguém mais viu.
O único estress do passeio todo foi os nativos terem avisado a gente que não podia pisar nos corais. Por que? Como assim por que? Não vê Globo Repórter? Discovery Channel? Aquela coisa linda de corais coloridinhos tipo Procurando Nemo não existe mais. Por conta do aquecimento global, poluição, camada de ozônio, efeito estufa, fim do mundo e afins. Daí agora eles são todos mais para tons de bege. O que significa que estão morrendo. Daqui 5 a 10 anos não haverá mais corais no mundo. Extintos. E não há nada que se possa fazer quanto a isso. E daí você vai lá pisar nos corais pra destruir mais rápido? Sabe, eu tava com vontade de bater quem subiu. Porque o coitado do cara do barco estava lá esgoelando pra descer (mesmo porque se passar algum tipo de fiscalização por ali eu acredito que eles respondam por isso), e a pessoa não estava nem aí. Subiu nos corais como se fossem pedras. Ah que se eu tivesse mais mobilidade embaixo da água, com escafandro e colete, eu tinha ido lá socar. Ô se tinha.
O mergulho durou por volta de 4 horas e esse foi o tempo que eu fiquei lá na água com a bunda pra cima (depois eu vi no espelho que só a bunda tava queimada de sol). Lindo demais. Não imaginei que eu fosse curtir tanto. Aí que o horário de almoço chegou e o barco voltou ao restaurante, todo mundo correndo desesperado para chegar logo e pedir primeiro o prato, como Janaína nos orientou. Eu, que tinha passado até o momento ainda sentindo resquícios da noite vomitando, encontrei com alegria meu prato de arroz, filé de frango e batatas fritas (enfim achei batatas fritas nesse lugar) e comi como se não houvesse amanhã. O que 4 horas de mergulho não fazem, né?
Panças cheias, lugar divino, cansaço. O que todo mundo vai fazer? Deitar feito jacaré à sombra dos coqueiros e dormir! Eu que, fora de casa sempre odiei essa coisa de dormir à tarde (perda de tempo!) fui passear no lugar e tirar fotos.
Na volta do passeio paramos no melhor artesanato local, segundo Janaína: Shopping de Artesanato Potiguar. Tanto, que eu e a amiga resolvemos ficar por lá mesmo fazendo comprinhas enquanto o ônibus foi levar todo mundo embora. Nos aventuramos, vimos tudo, compramos pouco e voltamos para o hotel depois de andar muito ("imagina, é pertinho, logo ali fica o ponto" - disse-nos Janaína) e pegar um micro onibus (sei lá, põe aí hífen e acento se te agradar) lotado e irmos em pé até o hotel. Enfim, lembranças de São Paulo. Só sei que eu tava feliz da vida com uma bolsa de praia nova chiquérrima.
No hotel a amiga mal jantou, quis ir no shopping novamente trocar a máquina fotográfica, mas foi sozinha com o Romildo e eu fiquei lá calmamente saboreando o meu jantar (aproveitando que tinha sarado). Algumas noites o jantar tinha os pratos todos à americana (tudo lá na mesa pra vc se servir como quisesse), mas em algumas o serviço era à la carte (você pega o cardápio e escolhe) e só os acompanhamentos permaneciam à americana. Nesse dia eu sei que pedi um escalopinho com molho de mostarda e vinho branco acompanhado de arroz e batatinhas douradas. Fome, né? Então, eu lembro pra dizer porque estava simplesmente divino. Carne macia, bem passada (como gosto) e eu comi com tanto gosto que até esqueci que tava jantando sozinha. Estávamos simplesmente eu e meu escalopinho, meu escalopinho e eu. E isso nos bastava.
Fui dormir feito um anjo e me lembro só de ter acordado durante a noite pra pedir pra amiga abaixar o volume da tv (depois ela me disse que tava no mesmo volume desde que ela tinha chego). Dia seguinte só deu ela mostrando a máquina nova, contando dos acontecimentos e as fotos minhas dormindo que ela tirou pra testar. Ficou bom, claro. Eram fotos minhas!
>continua...
:: Postado por Rê às 10h23
[Taty] [http://praserfeliz.wordpress.com]
Snif, e eu nem posso mergulhar... Puxa, os corais... vc lembrou q meus filhos só conheceram essas belezas por fotos e documentários. Que pena. Um beijo!! P.S.: As fotos estão ótimas!
Rê, super obrigada pelos preços. Eu tb prefiro fazer tudo com a agência, porque os clandestinos não são muuito confiáveis. E depois, no meu caso por exemplo, paguei os passeios em 3x no cartão, o que já facilita um bocado né. Nunca viajei com a Tam viagens e é bom saber que vc gostou. É mais uma opção afinal sempre fiz com a CVC, mas é bom ter opções né!
Vou ficar no aguardo dos 2 últimos dias!!!!
Obrigadão!
Beijos
Lilica | Homepage | 06.01.09 - 4:59 pm
Aii eu quero mergulhar!! Mas é para pode espancara as águas vivas!! Eu fui queimada por várias nessa vida, e se no mergulho eu posso toca-las, eu juro que esmurrava todas!!
OW, vc deveria ter pedido a receita pro cheff, fiquei com vontade aqui (mente gordaaaa)
Ta o dia que eu for uma pessoa organizada com grana, a gente vai programar uma viagem juntas, pq aqui entre nós, sua amiga reclama de mais kkkkkkkk
beijos
Jana | Homepage | 06.01.09 - 4:37 pm
Ai, ai... ler esses seus relatos da viagem me fez lembrar de quando fui pra Porto de Galinhas, em 2001. Fui feliz mergulhando longe de todo mundo naquelas piscinas naturais e vendo coisas que ninguém mais viu. E eu andando pelos recifes de chinelo, pra não machucar o pé, e o chinelo saindo do meu pé e flutuando mar afora enquanto eu arranhava meu pé nos corais. ha
Mas foi tudo tão feliz! Ai, que saudade!
Beijo
Carolda | Homepage | 06.01.09 - 3:33 pm
Rê a piadinha do Tá Lento é ouvida em todos os lugares do Nordeste! Rs!
Eu não fiz mergulho em Maceió e me arrependi um pouquinho, mas lá era meia boca e não durava 4 horas não!!! Que coisa linda deve ter sido o seu.
Depois, se não tiver problema, queria saber quanto vc pagou pelos passeios (pode ser no meu e-mail), porque Natal é minha próxima opção de viagem!
Tô lendo esse post antes de almioçar....e só de ouvir a palavra "escalopinho" meu estômago se remexeu de vontade! Que maldade a sua! Rs!
Beijos
Lilica | Homepage | 06.01.09 - 1:54 pm
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