terça-feira, 26 de outubro de 2010

Blood on Blood *

ou Sobre o dia mais legal da minha vida - relato completo - Parte 13 (talvez Jason Voorhees também tenha tido a idéia de escrever sobre os dias mais legais da vida dele... vai saber. Ôpa que meu dia especial deu 13 partes e domingo é Halloween!)

Saí rápido, no meio da muvuca mesmo, dando as mãos para meninas que eu nunca tinha visto mais gordas e continuo sem lembrar da cara delas, só porque elas queriam pegar a rabeira da minha pressa. Mas saí rápido não só porque o babybrother me esperava. Saí rápido pra não dar tempo de ficar triste. Tudo tinha sido perfeito demais pra acabar num sentimento de tristeza. E eu não podia deixar que isso acontecesse. Felizmente saídas de show são o maior salve-se quem puder e eu me surpreendi comigo mesma por toda a educação que tive de pedir licença para as pessoas com jeitinho porque queria chegar do outro lado de um estádio lotado. Tipo assim, só eu queria andar na direção contrária. Disposição e simpatia. O que um show do Bon Jovi não faz com a minha pessoa? Encontrei a Mônica no caminho, que me seguiu até a barraca de souvenires oficiais. Com pressa, o pessoal se matava pelas coisas. Eu me enfiei lá e angariei a camiseta que queria desde o início, por 60 reais. Eu achei barato. No show do Aerosmith de 2007 as camisetas oficiais eram 120! E aí eu aproveitei e comprei um álbum de fotos, porque já que eu já tinha pago o olho da cara no ingresso mesmo, precisava de lembranças. Bem bonito, vou guardar pra sempre. Mais 50 reais.

Deixei a Mônica lá sob protestos, mas até ela comprar tudo eu já tinha ido no fluxo e não nos encontramos mais. Segui sozinha pela rua, suada, melada, descabelada, com a marca de óculos escuros na cara vermelha que denunciava todo o meu tempo na fila. Com dor de garganta e em todos os músculos possíveis e imaginários (e os que eu não imaginava que tinha, inclusive). Cheia das faixas de Bon Jovi amarradas na cintura, com a fitinha de pista vip já toda maçarocada no pulso, abraçada na minha sacola com a camiseta e o álbum oficial oficial. Sorrindo, feliz.

Me perdi. Não, eu não moro no entorno do estádio há 28 anos. Não, eu não tou careca de saber como são as ruas. TÁ, EU SOU UMA ANTA. Anta perdida, por sinal. Quando eu vi, estava numa rua diferente da que eu tinha que estar. Meu irmão reclamou que eu demorei pra chegar. Mas não ficou sabendo que eu me perdi. Fica um segredo aqui entre nós, tá? Cheguei no local combinado e fiquei sabendo que ele tinha dito pro amigo “a minha irmã vai estar de camiseta preta do Bon Jovi, fica olhando aí”. Babybrother puxou a irmã na hora de tirar sarro com a cara dos outros, sabe? Só o estádio inteiro, 65 mil pessoas, estavam usando camiseta preta do Bon Jovi.

Eu tinha pensado em ir no carro quieta. Tava tudo doendo e a garganta mais ainda. Mas não consegui. Eu tive que contar pra ele cada detalhe, cada biquinho, cada piscadinha e o fato de Bon Jovi ter cantado um trecho de música pra mim. Ele, animado, ouviu, opinou, conversou. Podia simplesmente ter ficado quieto e me mandado calar a boca, como faz às vezes. Ou podia ter enchido o saco e jogado areia falando qualquer coisa do tipo ‘ele é gay’ ou 'ele faz isso pra todo mundo', como muita gente faz. Mas não. Foi a primeira vez que eu soube que ele estava feliz em ver a minha felicidade. E foi bonzinho em me ouvir e deixar que eu curtisse meu momento e ainda me contou que assim que ele e o amigo saíram do estádio ouviram uma menina dizendo em voz alta, alto e bom som: “ah, que bom que eu vim no show, agora o Bon Jovi vai morrer mesmo mas ele pode morrer agora que eu já vim!” Continuou viva a pessoa que disse isso. Que pena.

Me deixou em casa e eu quis descer do carro sem tênis. Ele me olhou com desaprovação e me mandou colocar. E agora sim eu passei pelo porteiro. Acabada, cansada, dolorida. Mas ostentando uma bela camiseta do Bon Jovi que, com meu sorriso, completavam a felicidade e o orgulho por demonstrar onde foi que eu passei o dia.

Chuveiro, janta, cama. Eu já tinha deixado tudo preparado para a minha chegada. Eram 2:30h da manhã do dia 07 e eu não queria dormir pra não acabar o dia que já tinha acabado há algumas horas. Às 3h e alguma coisa o cansaço me venceu. E eu adormeci enquanto meu cérebro cantava ‘ô-ô! Livin ‘on a prayer!’



5 comentários:

  1. Ah que babybrother fofo!
    E imagino o quanto foi difícil trabalhar no dia seguinte né! Além do cansaço, tinha a adrenalina do dia anterior! Mas o que é isso perto da emoção do show né!!!!
    Beijinhos

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  2. Guria, vc acreditaria se eu te dissesse que to emocionada por você? Pois eu to mesmo, ainda mais com esse relato mais do que detalhado que fez com que a gente sentisse que esta la dentro junto com vc!


    Beijos

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  3. Ahh, amei o relato! Podia ter mais 13 partes, hahahaha.
    Beijos!

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  4. Tá bom, Renata. Eu me arrepiei e fiquei com o olho marejado lendo o teu texto. Não conhecia esse lado tão sensível. Você mereceu, Bon Jovi mereceu e eu tou MUITO FELIZ por ver uma pessoa realizar um sonho. Há momentos que não tem preço!

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  5. Tá bom, Renata. Eu me arrepiei e fiquei com o olho marejado lendo o teu texto. Não conhecia esse lado tão sensível. Você mereceu, Bon Jovi mereceu e eu tou MUITO FELIZ por ver uma pessoa realizar um sonho. Há momentos que não tem preço! [2]
    eu ia dizer exatamente isso!

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