sábado, 16 de outubro de 2010

Work for the working man *

ou Sobre o dia mais legal da minha vida - relato completo - Parte 4 de 738

O tempo da ameaça de abertura dos portões até a real abertura leva sempre uma eternidade. Milhares de seguranças lá dentro nos olhando, subindo e descendo as escadas e nos deixando nervosos para a expectativa do ‘agora vai’. E depois de muitos gritos e comemorações precoces... às 16:10h o portão abriu. Como já era de se esperar, de uma fila formada no além, entraram primeiro os tremendos furões do backstage. Tinham um espaço reservado para eles, eu fui saber depois. Que não era tão bom assim, graças a Deus. Mas tinham o acesso livre para onde quisessem ir e isso fez com que ocupassem toda a primeira fila da grade. Felizmente nossa fila começou a entrar sob protestos de que alguns homens passaram na frente, pois as mulheres empacavam na fila da revista. Um dia eu ainda vou entender qual é a da mulherada que leva bolsas no show. Enfim chegou a minha vez e a segurança lá passando a mão na minha bunda enquanto meu coração pulava desesperadamente pela boca. Fitinha de pista premium no braço, a moça que foi escalada pra fazer isso deve ser da família das lesmas, porque não terminava nunca de me enfiar a fita e eu tava desesperada, precisava ir logo. No fim puxei o braço e a fita da mão dela e saí com o negócio colado pela metade. Metade na fita, metade no braço. E sob a orientação de ‘não corram!’ cá-que-cuma? Tou na São Silvestre do meu sonho, minha filha! E dá licença que se não sair da minha frente eu passo por cima! Olhei pra segurança que pedia pra não correr e falei “aham” concluindo mentalmente “senta lá Cláudia” e corri como se não houvesse amanhã.

Com todas as informações precisas das bonjovianas que conversei na fila, eu já sabia que o lugar melhor para ficar seria do lado direito do palco. Entre Jon e Richie Sambora, o guitarrista. E tivemos êxito na escolha do bom lugar. Não era grudado na grade porque havia uma pessoa do backstage na frente de cada uma de nós, mas já tinham me dito que grudar na grade não nos deixa ver o show e os efeitos nos telões como um todo e tudo isso ficou pequeno quando vimos o quão perto do palco estávamos. Na frente do pessoal que passou uma semana na fila, inclusive. Aquilo era um sonho. Comprei um copo de água, porque me lembro de pessoas falando que no show do Aerosmith tinha gente morrendo de sede e desmaiando porque depois que a pista enche os vendedores não conseguem mais chegar perto das pessoas. Eu, prevenida, comprei minha água e guardei para beber momentos antes de começar o show. A galera do meu lado seguiu o exemplo. Sentamos no chão, porque babybrother me avisou que era o melhor a fazer ‘pra não chegar na hora do show e você estar cansada, porque se ficar vai perder seu lugar’. Dito e feito. Um dos casais que estava conosco desde lá na fila ficou cansado e depois de todo esse sofrimento eles resolveram ficar no fundo da pista, ou ir ao banheiro, ou comprar alguma coisa ou sei lá o que foi que aconteceu que eles saíram e perderam seus lugares na grade.

Esperamos “ansiosamente” o Fresno chegar. O horário previsto para que eles entrassem no palco era 19h e eu devo dizer que as três horas que se passaram desde que eu entrei pelo portão até a chegada do Fresno também passaram rápido. Passou um tempo e ficar sentadas já era insustentável. Sabíamos que a pista premium lotaria, e por mais que eu quisesse continuar sentada as pessoas já tentavam passar por cima de mim, na ânsia de ficar mais na frente. Faz parte. O objetivo de qualquer um nesse lugar num show é alcançar a tão esperada grade, nosso Santo Graal. Levantei porque não dava mais e por ansiedade também, mas ainda ficou a menina do backstage lá sentada no chão. E então a Gabriela, de trás de mim, me cutucou e pediu pra ficar na minha frente. Tá que ela estava na minha frente lá na fila. Tá que ela tem só 15 anos. Tá que ela tava com a mãe que não pôde entrar porque não deu o dinheiro do ingresso pras duas. Tá que ela é mesmo mais baixa que eu. Mas pô. É O MEU show, caramba! Eu querendo chegar na grade e a mina querendo ficar na minha frente? Porra! Ganhei tempo dizendo pra ela esperar a menina do backstage levantar que deixaria ficar na minha frente. Mas não, o mundo é dos espertos, eu corri mais e merecia meu lugar. Era o meu sonho. Só estava ganhando tempo. Da vez seguinte que ela me cutucou pra ficar na minha frente eu tinha a resposta na ponta da língua: "olha, não vai adiantar nada, porque essa moça na minha frente é maior que eu e você não vai enxergar nada mesmo assim". Era verdade. O fato é que a moça era mesmo maior que eu, mas ela não estava no meu ângulo de visão. E a Gabriela não precisava saber disso. Concordou com o que eu falei e ficou lá, quietinha, atrás de mim. Como tinha que ser. Aliás eu queria abrir parênteses aqui. Eu sempre achei ri-dí-cu-lo aquelas botas com salto astronauta, sabe? Aliás, eu não uso plataforma nenhuma, nem aqueles chinelos horrorosos com salto plataforma azul-piscina-de-pobre de espuma, nem aquelas sandálias terríveis com salto plataforma de madeira, nem as botas de astronauta. Coisa feia do caramba. Nasceu anã? Sei lá, se vira, usa um salto fino, uma anabela! Sei que o pessoal do Esquadrão da Moda sempre diz que é o fim da picada esse tipo de salto mas eu nem precisava assistir esse programa pra saber disso. Mas devo reconhecer que tem uma vantagem: ir a show. É, porque o pessoal do backstage estava na grade E com bota de astronauta. Tipo assim, só eles queriam enxergar, né? Pra mim não fez diferença porque eu sou alta e estava num ângulo bom, mas o pessoal baixinho realmente sofreu. E eu fiquei até pensando em comprar um negócio horrível desses para a próxima vez que for num show. É útil!

Agora estava eu conversando com pessoas diferentes, já que o grupinho da fila tinha se dispersado um pouco, todo mundo enfileirado. E aí eu vou dizer pra vocês qual é o problema em ficar na pista premium: as pessoas conversam sobre os shows que foram, sabe? Não, porque eu vim na premium no show do Metallica e foi assim e assado. E no show do Aerosmith a pista premium tava blábláblá. E aí no show do Guns o esquema foi tal. E o pior: “não, porque eu fui no show do Bon Jovi na Argentina, daí vim aqui hoje e amanhã tou indo pro Rio pra ver o show de sexta”. Caramba que eu paguei suado 720 reais uma vez pra ver um show só, como essa galera paga 600 dólares cada show, pra ver três shows em uma semana e mais todos os outros de todas as bandas supimpas da face da Terra? É INJUSTO ISSO!!! Pô, esse pessoal precisava fazer um revezamento. Já viu uma vez? Agora senta lá que sou eu, que nunca vi, primeira vez no show da minha banda preferida, primeira vez na pista premium que eu nem sabia o que era isso! Daí tinha uma baiana de Salvador do meu lado contando que foi no show de Nova Iorque no mês passado e sabia que o pedestal do Jon era branco, porque ela foi lá e subiu no palco, pegou nas coisas e tal. Criatura do backstage, então. Ai que injusto. Ai que mundo cruel, ó céus, ó vida, ó azar. Por que eu não nasci filha do Silvio Santos? HEIN? Por que não ganho na mega-sena? Inferno, viu.

Não, injusto. Graças ao pai que eu tenho, tenho um trabalho que me permitiu faltar naquele dia e poder passar o dia todo na fila, como eu queria. Além de já ter podido sair durante o expediente pra comprar o ingresso antes que acabasse, quase dois meses antes. Graças ao meu pai eu tenho um trabalho que me permitiu gastar 720 reais num show. Coisa impossível pra muitas pessoas. E graças ao meu pai eu pude comprar o ingresso na pré-venda, que foi com o cartão dele, porque eu não tenho esse tal cartão Citibank. Então foi força de expressão o negócio todo do Silvio Santos. Perdoem.

Continuando, estava lá eu vendo as meninas tirando fotos de um cara no palco que – me disseram elas – era irmão do Jon. Matthew Bongiovi (senta lá, Matt!). Não achei bonito não, mas o olhar e a cor dos olhos eram realmente igualzinhos. Tive a idéia de ligar pro babybrother e saber se ele já tinha chegado. Eu, feliz da vida, devo ter gritado na orelha do coitado. Levantei meu moletom cor de rosa e, de lá do último degrau da arquibancada ele me viu aqui na grade "aquela lá levantando a blusa cor de rosa", falou pra alguém. Felizmente perto dele tinha uma mulher de rosa fluorescente, que serviu de ponto de referência pra que eu visse onde ele estava sentado. Eu, aqui no ponto mais perto do palco possível. Ele, no ponto mais longe possível. E nos encontramos mesmo assim. Tirei foto de onde ele estava sentado mas a emoção foi tanta que nem pensei em pedir pra ele tirar uma foto minha levantando a blusa, pra provar pra mim mesma depois que eu estava tão perto.

2 comentários:

  1. Ah, eu também queria ganhar na loteria pra poder ir em todos os shows legais
    =P
    Beijos

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  2. Eu também comprei minha aguinha e deixei reservada para a hora do show, porém um animal chutou o meu copinho assim que o show começou. Resultado: sede a noite toda (os vendedores só passavam vendendo cerveja!). Te confesso que tenho uma botinha com salto astronauta e que uso em todos os shows de pista! É confortável (porque é anabela) e me cresce uns 7 cm (veja bem, tenho 1,50 baby, não posso me dar ao luxo de não usar certos artifícios!!!), mas na boa, gente que fica pedidno para passar na frente é uó! Vá te catar né! Ainda bem que vc é espertona! rsrsrsrsrs!
    Tô amando os relatos do show!
    Beijos

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