quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Runaway *

ou Sobre o dia mais legal da minha vida - relato completo - Parte 1 de 398


* é, eu copiei descaradamente o esquema de títulos da Isadora. Coisa boa a gente copia. E ainda conta.


Lembre-se: você não precisa ler esses posts. [Se não estiver afim pode pular direto pros comentários e dizer: "Renata, sua linda, você realizou um sonho!" e pronto. Ou nem isso.] ²

Pode voltar aqui daqui duas semanas e pronto. Ou nem isso.


Acordei de ansiedade não eram nem 4 horas da manhã, depois de um sono agitado com sonho onde eu ouvia de fundo a música que - eu já tinha visto num provável set list divulgado - abriria o show (sonhos com trilha sonora é algo que faz parte de mim). No mesmo instante me veio o pensamento: É HOJE. Entre a escuridão e a minha total falta de sono (sempre fui criança que não dormia à noite quando o dia seguinte era especial), ponderei ainda deitada a minha saída. Possibilidade de ser assaltada caso saísse no escuro e caso saísse no claro, possibilidade de pegar ônibus cheio caso saísse no escuro e caso saísse no claro, trânsito que pegaria no caminho caso saísse no escuro e caso saísse no claro, e proporção que a fila aumentaria caso saísse no escuro e caso saísse no claro. Tentei não ser ansiosa. Tentei dormir mais um pouco. Tentei ser a pessoa serena que eu deveria ser de acordo com meus 30 anos de idade. Mas naquela madrugada eu tinha 3 anos. Resolvi levantar. Escovar bem os dentes porque de novo só dali a quase 24 horas, usar meu banheiro pela última vez (sempre fui criança que tem dor de barriga quando o dia seguinte era especial). Café pra acordar sei lá quem porque eu já estava acordada fazia tempo, rezando pra não me dar enxaqueca e esse com certeza seria o último líquido que eu tomaria nas próximas longas horas. Já sabe como é mulher né? Bebe líquido do lado do banheiro já, e apesar de eu não ser esse tipo de pessoa que vai ao banheiro vinte vezes ao dia, resolvi não arriscar. Ir ao banheiro naquele dia era o luxo que eu sabia que teria que abstrair. Com a mochila pronta desde o dia anterior (que ao invés de dormir fui ao mercado, fiz até lista de compras. Ruffles (porque eu sou uma pessoa que se come sanduíche tem enxaqueca), chiclete, coca, água, peras, revistas, palavra cruzada, caneta, capa de chuva, bolsa pequena, óculos escuros, pilhas, lenço de papel. Arrumar tudo, lavar o cabelo, passar minha calça, deixar camiseta no jeito, escolher um sutiã com boa sustentação – porque a pessoa pretendia pular horrores – meia confortável, tênis limpo, brincos, pegar máquina, dinheiro, documentos, carteira do convênio pensando que NUNCA que eu ia morrer nesse dia, mas melhor prevenir. E o ingresso, claro!), me vi pronta antes das 4:30h. Esperar amanhecer é uma dádiva. Não agradável, porém mais segura para as devidas circunstâncias. Enfiei meu ingresso na bunda. Não literalmente, mas como os políticos do Brasil mesmo. Meu ingresso valia muito mais que os meros 720 reais que paguei por ele. ‘Dinheiro’ na calcinha é o que há. Vai que justo esse dia alguém resolve me assaltar! Explicando a tática para o babybrother: por que não no tênis? Oras, porque eu transpiro no pé e depois que passasse o dia todo no lugar do ingresso teríamos somente farelo de papel. Porque não na meia? Porque eu sempre acho que as coisas escapam da meia. Meia de mulher é curta, ué! Dividi o dinheiro em todos os bolsos disponíveis, porque papis me ensinou que é assim que se faz pra prevenir o fato de ficar pelado caso ocorra um assalto. Eu sou mesmo uma pessoa precavida. Pensei em tudo. Lógico, tudo o que eu não conseguia fazer era dormir, então tive tempo pra planejar tudo de sobra.

O dia amanheceu e eu vesti minha blusa de moletom cor de rosa por cima da camiseta comprada com tanto amor, passei uma base nas unhas (e saí assoprando e tomando o cuidado de não marcar – essa sou eu, SEMPRE) e saí com cara de quem ia fazer a coisa mais importante da vida. Cumprimentei o porteiro tentando não deixar tão aparentes meus pensamentos escritos em minha testa. Desci a rua a pé pela primeira vez, peguei o primeiro ônibus que passou, me informei se passava onde eu queria e se ia pelo caminho que eu queria. Foi a primeira vez que eu peguei ônibus desde que me mudei. Surpresa: andar de ônibus é como andar de bicicleta, a gente nunca esquece. Cheio, mesmo às 5h da manhã. Passei por toda a galera e me enfiei nos fundos, onde um moço solidário se ofereceu pra levar a minha mochila. Eu pensava que ele podia sentir por fora que ali tinha só coca cola, rufles e chiclete e imaginar ainda assim que eu estava indo fazer a coisa mais importante da minha vida, ué. Que problema tem mascar chiclete na coisa mais importante da vida?? Enquanto atravessava a única avenida de meu caminho, me lembrei de como a gripe suína ainda não existia quando eu pegava ônibus cheio todos os dias. E então eu me lembrei da Marta Suplicy que resolveu que os ônibus deveriam ter uma porta de cada lado porque inventou que corredor de ônibus no meio da avenida é mais bonito e a partir desse dia eu fiquei pra sempre esperando pra descer numa porta quando na verdade o acesso ao ponto que eu quero descer é sempre na porta que eu não escolhi.

Desci do ônibus quinze minutos depois e andei meu longo e solitário caminho de meia dúzia de quadras até o estádio. Sempre encontrando com pessoas uniformizadas e com ar de ‘lá vamos nós para mais um dia’, o que ia em total desacordo com meu pensamento ‘lá vou eu para o melhor dia da minha vida’. Caminho vazio, ninguém mais estava indo para o mesmo lugar que eu. Ninguém mais tinha mochila nas costas. Ninguém mais tinha uma linda camiseta que era o uniforme do dia escondida sorrateiramente por baixo de um moletom rosa. E enquanto meus pensamentos fervilhavam entre os detalhes da rua deserta e a minha checagem virtual pra ver se tinha levado mesmo tudo o que precisava (até parece que eu ia voltar se tivesse esquecido alguma coisa!), cheguei. Portão 18, o Pista Premium. E então quando eu vi as poucas quase 100 pessoas que estavam lá, me senti em casa. Não aquela sensação da gente se sentir à vontade na casa da vó nem nada. Me senti em casa como o patinho feio que encontra seus cisnes. Ouvindo e lendo críticas há semanas a respeito de meu gosto musical peculiar aos olhares alheios, eu precisava mesmo encontrar meus semelhantes. E estariam todos eles ali até o final do dia: 65 mil pessoas descabeladas e com camisetas do Bon Jovi. E eu pertenço a esse grupo. Ou talvez nem tanto assim.

5 comentários:

  1. Rê, sua linda, você realizou um sonho! Hahaha, brincadeira, li tudinho, você relata as coisas de um jeito leve e gostoso de ler =]
    Imagino a sua emoção, eu também sempre fui daquela criança que não dormia antes de um dia que seria ótimo, hahaha.
    Beijos

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  2. Eu, como você, também não durmo bem nas noites que antecedem grandes acontecimentos! Dá uma raiva, bem aquela noite que você quer ter um sono de princesa, para acordar com a pele boa! Enfim...
    Aguardo as próximas 398 partes dessa saga! Beijos

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  3. "Renata, sua linda, você realizou um sonho!"


    kkkkkkkkk

    Mentira, eu li. E foi bom de ler sabe, vc tem dom pra textos longos rsrsrsrs. Agora, eu sei que era teu sonho, de verdade eu sei, mas eu só consegui engasgar quando vi o preço do teu ingresso. Mas eu acho que não entendo pq não tem nenhum cantor/cantora/banda que eu tenha o sonho de conhecer, tem muitos que eu gosto e tudo, mas sonho, sonho, sonho nenhum.

    E eu sou uma pessoa chata, essa coisa de show lotado, me da coisas, um dia todo numa fila? Mais coisas ainda rsrsrs


    Mas o que importa é "Renata, sua linda, você realizou um sonho!"


    kkkk

    Beijos e que venham as outras 397 partes rs

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  4. Eu ainda não acabei de ler o post, mas interrompi a leitura para fazer um comentário porque se eu continuasse a ler, talvez aparecesse uma explicação (a qual eu não quero saber antes de fazer o comentário):
    O PÉ sua, mas a BUNDA não? É isso mesmo????

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  5. E eu acabei de ler e não teve explicação da bunda que não sua!!!!
    hehehehehhehe

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