sábado, 23 de outubro de 2010

It's my life *

ou Sobre o dia mais legal da minha vida - relato completo - Parte 10 de 1732

Cabou a música, Richie sentou lá com sua guitarra e daí eu até esqueci a indignação por ele ter cantado uma das músicas mais famosas. Porque Jon tinha ido descansar a voz. E voltou cantando Always, a minha preferida. Daí, minha gente, meu mundo caiu. E eu lembrei de quase todas as 697 vezes que já ouvi e cantei essa música na vida. Lembrei da escola, lembrei do meu walkman, lembrei das coisas que passaram. E chorei feito criancinha. Criancinha não que criança chorando é uma coisa normal e a gente tá acostumado. Sei que adulto chorando é uma coisa horrível, a cara incha, fica vermelha, baba, funga e transpira. E eu devia estar mesmo com uma cara péssima e perigando passar mal, porque a menina que estava do meu lado me olhava assim durante o show como se eu fosse cair a qualquer momento. Não sei qual era a dela não mas eu nem perdia meu tempo pra olhar pra ela, só via de relance ela mandando beijinho para o Jon durante o show (achei bonitinho), porque eu tava ocupada chorando horrores na música da minha vida. Babybrother depois me contou que lá da arquibancada nem deu pra ouvir a voz dele nessa música, porque o estádio inteiro cantou muito mais alto. Achei legal saber disso. Deve ser a música da vida de muita gente.

Pudera. Fala que o cara é corno e tals. Enfim. O pessoal deve se identificar.

Daí eu lembrei que estava lá. Por mim, pra mim. E que estava imensamente feliz por isso. Estava feliz por não ter um namorado pra ficar no meu pé e não me deixar curtir a coisa toda. Porque a maioria deles quer ir junto e depois gruda, pega, enche, segura, reclama se você canta, quer saber porque você chora, não te deixa dançar, enche o saco se você pula, fica com ciúmes do cara que está lá cantando, arruma briga com alguém que esteja te olhando. Namorado ia só me encher o saco nessa hora. Eu tava livre. Feliz. E então quando mais alguém me perguntar, eu vou saber responder. Naquele dia, naquela noite da minha vida, eu fui 100% feliz. Eu planejei, me preparei pra isso. Pensando só em mim. Fazendo aquilo só por mim. E não precisava me preocupar se tinha alguma amiga do meu lado que não estava curtindo o show tanto assim. Nem se tinha algum parente querendo morrer e desmaiar e ir ao banheiro e passar mal e beber água ou alguma outra coisa do tipo do meu lado. Porque apesar de não parecer, eu não sou egocêntrica, sabe? Eu nunca penso só em mim. Eu estou sempre olhando para quem está comigo, querendo saber se está bem, se está feliz, se está curtindo como eu. E acabo esquecendo de mim. Acabo esquecendo que muitas vezes EU é que tenho que curtir. Eu é que tenho que desencanar dos gostos, dos pensamentos, da vida, dos piripaques dos outros. Dessa vez eu não tinha ninguém e foi a melhor coisa que eu fiz nessa vida. E eu acho mesmo que é uma das poucas e raras sensações de felicidade por mim mesma, sabe? Depois fiquei pensando. Casar é uma felicidade para a maioria das mulheres, mas a gente tem que dividir isso com o noivo, claro. O noivo tá sempre morrendo, o noivo tá sempre querendo tirar foto, o noivo tá sempre querendo vender a gravata, o noivo tá sempre querendo desmaiar no altar, o noivo tá sempre querendo ir logo pra noite de núpcias. E ter filho também é uma felicidade para a maioria das mulheres. Mas daí também a atenção é voltada para a criança, tem que cuidar, tem que fazer, tem que olhar, e ah que cuticuti que fez cocô. Todas as outras situações de felicidade da vida envolvem outras pessoas além de nós. Mas eu consegui ter um momento de felicidade só meu. Só pra mim. Só comigo, só pensando em mim. Sendo eu de verdade e sem pensar se alguém tava olhando ou me recriminando. Curioso foi saber depois que naquele momento O MUNDO INTEIRO estava pensando em mim. Gente que sabia que eu tinha ido, gente que só imaginava, gente que sabia que eu tava curtindo, gente que sabia que eu tava morrendo de emoção. Todo mundo lembrou de mim, enquanto eu não lembrei de ninguém. A vida é mesmo curiosa.


2 comentários:

  1. Ah na hora do Always foi realmente lindo. Acho que todo mundo gosta dessa música. O ser humano pode não conhecer nenhuma outra música do Bon Jovi, mas Always com certeza esse ser humano conhece! E sim, eu fui uma dessas pessoas aí que lembrou muito de você durante o show! E imaginou o quanto você deveria estar curtindo lá na frentona! Rs! Beijos

    ResponderExcluir
  2. Adorei sua reflexão sobre esse momento, Rê! Porque parei pra pensar, e esses momentos de felicidade nossa, só nossa, pura e simples, são mesmo raros. E não devia ser assim, poxa!

    ResponderExcluir