segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Sobre programas de pobre

Domingo à tarde, chuva e friozinho lá fora. Nada melhor que uma esticada no sofá e um bom programa na tv. Acontece que ontem eu avacalhei, e ao invés de bom programa, vi os da tv aberta mesmo. De vez em quando até acho divertido, confesso. O que não dá é ficar TODO domingo à tarde vendo Faustão. Se é o seu caso, melhor procurar um analista, vai por mim.

Daí que estava eu lá vendo sei lá qual canal (é tudo a mesma coisa de domingo) e aí tinha um quadro daqueles do tipo “de volta para a minha terra”. Pra quem nunca viu, trata-se de um pobre coitado qualquer, que saiu lá da água de coco e peixe na brasa do nordeste e veio tentar a vida em Sumpaulo. Mas daí que nem tudo são flores, chegou aqui e viu nosso trânsito, nossa correria, nosso vuco-vuco, nossas filas. E aí que deu uns 5 minutos de desespero e o indivíduo escreve uma carta pra qualquer um desses programas de pobre, que tem esses de volta pra minha terra/minha gente/meu cafofo/meu barraco aí da vida. E então vai lá o povo da emissora, com caminhão de mudança e tudo, prástico bolha que é uma beleza, cata você e suas tralhas e leva lá de volta pra seja lá onde for que é de sua origem. Tá. Daí eu fico aqui pensando: estava lá nos quintos dos infernos sei lá quem, pai, mãe, irmã, cunhado, sogro... naquela vida tranqüila, aquele café da tarde com pãozinho fresquinho, o café cheiroso, aquela rede maravilhosa na varanda, aquele solzinho quente..... daí de repente chega van, chega câmera, chega caminhão, chega um bando de tralha, é armário velho, é trouxa de roupa... e aí desce do carro aquele povo com aquela cara lavada dizendo “oi mãe, voltei, que saudade!”. E então, eu tenho até dó. Porque a gente vê na cara da pessoa aquele desespero. Aquela vontade de mandar de volta o indivíduo. Aquela tristeza de pensar que agora vai ter que lavar mais roupa, fazer mais comida, gastar mais dinheiro, e o corre-corre dos netos que vieram de Sumpaulo em casa. E aí lá se vai o sossego. E a tranqüilidade da rede, a calma pra comer o pãozinho quentinho. Vontade de dizer para o repórter “não, leva esse estrupício de volta que eu quero continuar aqui na minha paz!” Mas não, melhor não dizer essas coisas em frente às câmeras. Vamos engolir e vamos chorar, que dá ibope essa coisa de chorar na tv. Mas eu sempre penso que a pessoa não chora de saudade. Chora de desespero.

Em tempo: a minha mãe anda fanática por aquele programa de troca de esposas. O brasileiro. Daí que eu andei analisando, e sempre trocam alguém de São Paulo com alguém que mora em um mato/comunidade da vida. E aí que a pessoa que mora lá no mato acha um absurdo os apartamentos, a organização, os horários e a rotina do pessoal daqui. Certo, é lindo mesmo viver no meio do mato e ter um banheiro ecológico, não ter hora pra nada, cantar com os passarinhos no quintal. Mas em grandes cidades, não dá pra viver assim. E aí vem a pessoa toda hippie tentar mudar o jeito dos metódicos paulistanos, achando que somos os seres mais infelizes do mundo, mas não enxergam que aqui pra se viver, tem que ser assim. Tem que ter organização, tem que ter hora, tem que ter métodos de vida. Não gosta? Ótimo, vai morar no mato! No interior da vida. Mas eu acho que quem mora aqui gosta e entende que a vida é assim e pronto. E se não gosta e mesmo assim não muda... deve gostar pelo menos do salário que recebe, não?


PS: Parece que com o post passado eu deixei muita gente com trauma de pão com carne maluca/louca/desfiada/picadinha... perdão gente, não foi a intenção. Se eu contasse pra vocês os sonhos que tenho todos as noites, ou vocês não entrariam mais aqui, ou não dormiriam mais. Prometo selecionar melhor os sonhos pra contar... Mas falem a verdade, pão com carne maluca é bom, né não?? rs..

:: Postado por às 09h40



[Laura] [www.culpadelaura.blogspot.com]
ahahaha... e não é que é verdade? mas sinceramente, dá pena desse povo, que vem pra cá com tantas esperanças.
15/09/2008 14:06

[lya] [http://byelisa.blogspot.com]
Eu acho que eles choram mesmo é de vergonha... pisam sempre no prato que comem e depois voltam com o rabo entre as pernas. E de mato eu sou muito boa entendedora... olha que Manaus tem 2 milhões de habitantes, mas nunca vi um povo pra ter preguiça como este! Aí querem se comparar com São Paulo, me poupe, né? O=****
15/09/2008 12:03

[Cadinho RoCo] [http://cadinhoroco.blogspot.com]
Complicadíssima esta situação dos emigrantes nordestinos e da falta de perspectiva nas cidades grandes. Mas posso dizer que daqui de Belo Horizonte tenho notícia de muita gente que latga tudo e vai para a tal "Sumpaulo", quebra a cara e volta porque não é assim. E o mesmo acontece ao contrário, quando então das cidades grandes sujeito resolve largar tudo e ir embora para o interior. Chega lá, não dá conta. Pra resumir, o que tem é muita ilusão solta por aí. Cadinho RoCo
15/09/2008 10:04

puts, acho um porre tamanho ver tv de domingo que nem fiko pra asistir, prefiro um livro, uma vez que sou uma poor girl e não tenho tv a cabo...mas nuca tinha pensado nesse ponto de vista hehehehe...deve ser mesmo chato receber a pessoa de volta...mas meio que pra dar um consolo pra pessoa que tah recebendo o fujão, os programas geralmente dão um monte de móveis e afins pra mobiliar a casa da familia, pra ver se assim pelo menos não tem que devolver o povo, sem contar que acho que esse quadro é patrocinado pelo governo do estado que tah afim de se livrar dos coitados dos caras que não se deram bem em sumpaulo...rsrrs
bjux^^
kelly fatone | Homepage | 09.20.08 - 4:51 pm

Quanto a esse assunto de tv, estou completamente por fora.
Thito | Homepage | 09.17.08 - 2:24 pm

Eu simplesmente odeio esses programas que são cheios de dramalhão mexicano e no final a pessoa se acaba de chorar. Prá quem é o felizardo tudo bem, mas pra quem tá assistindo é um porre. Odeio aquele Lata Velha do Huck por exemplo. Fica mostrando a vida do cerumano, a pobreza, o carro que não anda....é bom só pra dar um bom cochilo no sofá! Beijos
Lilica | Homepage | 09.16.08 - 2:58 pm

Faz tanto tempo que nao assisto essas coisas...
:*
Ciça. | Homepage | 09.15.08 - 9:32 pm

São Paulo é grande sim. Nebulosa, fria, caótica e tumultuada também. Um inferno na Terra! E mesmo com todos estes atributos eu não a trocaria por nenhuma outra cidade. E olha que tenho bagagem pra dizer isto, já viajei um bocado. A grande verdade é que muita gente idiota e caipira adora descer a lenha em São Paulo. Mas no fundo, ninguém pode negar a realidade: querendo ou não, ela é a cidade mais importante do país, onde as coisas realmente acontecem, em todos os aspectos. E talvez por isso mesmo, paga um preço alto por ser tão fundamental. Enfim.. gostei demais da análise crítica do programa de pobre. Comédia, né! Já passei por diversas vezes pelo canal na hora desse quadro, mas nunca parei pra acompanhar a história desgraçada da vida desgraçada daquele povo desgraçado. Desgraçado por desgraçado, prefiro o meu cunhado!
Bjo pra ti.. :D
Edgar | Homepage | 09.15.08 - 5:49 pm

É o que todo paulistano fala... a gente pode falar mal de SP, mas os outros NÃO podem! É que nem mãe, cada um fala mal da sua e pronto. Igual tb àquela propaganda do argentino, que vem concordar que o Brasil é cheio de problemas. Que é isso? São Paulo é tudibom... Bjs
Adri | Homepage | 09.15.08 - 2:31 pm

nunca tinha pensado pelo lado de quem "recebe" de volta o dito cujo. Mas sabe que deve ser isso mesmo?
hahahahahaha
muito boa!
beijocas!
Denyse | Homepage | 09.15.08 - 1:07 pm

kkkkkkkkkkk Eu penso igualzinho a vc!!! Tipo "vão parar de sentir fome em Sumpaulo e vão sentir fome lá no raio que o parta e pior dar trabalho pra quem tava passando 'menos fome'"
kkkkkkkkkkk A gente é bem igual
Sei qual o programa ai das esposas, mas nunca parei pra ver rs
beijo
Jana | Homepage | 09.15.08 - 12:53 pm

Rê, também acho que para viver em Sumpaulo, só quem entende a correria daqui e, ao menos tenta, se adpata ao ritmo louco que vivemos.
Bjitos!
*Lusinha* | Homepage | 09.15.08 - 12:13 pm

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